Estado meditativo, respiração e qualidade de vida

A correria do dia a dia faz com que respiremos mal e errado. Mas o que é respirar certo? E que diferença isso pode trazer para a nossa vida?

O corpo pode sobreviver a várias restrições, mas a respiração é primordial a todos os órgãos e o cérebro é o motor para esse funcionamento harmônico.

É pela respiração que as funções vitais são estabilizadas levando o organismo à homeostasia, que é o funcionamento harmônico e equilibrado dos elementos fisiológicos e consequentemente do metabolismo corporal.

Todos já ouviram falar em hormônios e sua influência no humor, por exemplo. Não caberia aqui uma explicação minuciosa da fisiologia, porém a respiração caminha pelo corpo transportando esses hormônios que proporcionam bem-estar, sono, tranquilidade, através da respiração. E é nesse ponto que o entendimento de uma boa respiração é possível.

Da mesma forma que a respiração leva hormônios que dão sensação de calma, conduz também a adrenalina, por exemplo, que é necessária e vital, mas que em condições inadequadas causará estresse em vários níveis, alguns deles nocivos à saúde.

O ser humano nasce respirando normalmente e com o tempo desaprende a fazê-lo. Pode-se observar que todo bebê respira elevando a barriguinha. Mas com o tempo isso vai se perdendo.

Por todos os motivos sociais e familiares de adequação de comportamento, acontecem várias formas de repressão psicológica e corporal, muitas evidentemente necessárias ao convívio em sociedade, mas que acabam por interferir na capacidade respiratória.

Isso ocorre porque quando se está com medo respira-se de uma forma, quando se está dormindo respira-se de outra e quando se está alegre e descontraído, de outra ainda diferente.

A meditação e outras práticas de autoconhecimento e autorrelaxamento estão aí com toda a força no propósito de resgatar essa capacidade sensorial e essencial do ser humano.

Na prática meditativa, ao contrário do que se acreditou aqui no ocidente por várias décadas, não se para de pensar! É através de uma respiração calma e focada que se pode conseguir entrar em estado meditativo e permanecer nele pelo tempo que se almeja.

Respiração diafragmática

A respiração diafragmática, ou respiração de raiz, leva com maior eficiência ao estado meditativo, pois proporciona uma condição de calma.

Para saber se a respiração está adequada, perceba se está alta, ou seja, se ela sai de cima do peito e vem para a região do abdome, sendo que, colocando-se a mão sobre a barriga, percebe-se o movimento do abdome levantando ao inspirar e diminuindo de volume ao expirar. Sempre pelo nariz.

Meditação e respiração

Respiração, observação e foco

Mesmo com a grande variedade de tipos de meditação disponibilizados em sites e escolas de ioga, todos eles possuem esses pontos em comum: respiração, foco e postura.

Numa prática meditativa, independentemente da técnica usada, o principal objetivo é a auto-observação. Parece algo normal, básico, porém se lembrarmos quantas vezes durante o dia estamos focados em nós mesmos, chegaremos talvez a uma conclusão frustrante!

E o que a meditação tem a ver com respiração, observação de si mesmo e foco?! Tudo. Trata-se de uma técnica milenar, que por muitas décadas ficou esquecida no mundo ocidental e que de alguns anos para cá ressurgiu com muita força, certamente porque as pessoas não estão mais suportando tantas cobranças externas de atitudes comportamentais das quais não é possível dar conta sem adoecer, especialmente em nível psicológico.

A grande quantidade de pessoas buscando cura em consultórios de psiquiatria e psicologia deixa evidente essa carência de autoconhecimento, autorrespeito e amorosidade.

É evidente que numa situação de estresse importante, patológico, o acompanhamento médico é indispensável. Porém, a meditação está em evidência nas práticas complementares para uma melhor qualidade de vida, sendo inclusive bastante recomendada por médicos e psicólogos.

É importante ressaltar que ela funciona não apenas para quem já está doente, mas para quem procura não adoecer.

Várias pesquisas de instituições de renome nacional e internacional foram feitas e existem comprovações científicas da eficácia da meditação na diminuição do estresse através de um melhor funcionamento fisiológico e cognitivo (ver artigos da série Meditação e credibilidade).

A prática regular da meditação, que inclui melhor prática da respiração, trará um metabolismo mais coerente e adequado à saúde, proporcionando maior produção de endorfinas, hormônios de ação analgésica que geram bem-estar.

Dessa forma, a qualidade de vida será beneficiada através de um sono mais reparador, por exemplo, e da regularização da pressão arterial e da menor sensação de dores em geral, pois com o corpo e a mente relaxados as dores naturalmente diminuem. Além disso, haverá uma grande sensação de amorosidade interior, já que será possível parar e olhar para si, ainda que por apenas 15 minutos diários. Lembre-se – o dia tem 24 horas!

E o principal: o estado meditativo decorrente da prática, quando feito regularmente por pelo menos 15 minutos ao dia, traz ao cérebro uma nova capacidade cognitiva que se fixa e os benefícios também. Assim, o meditador aprende a não se perder com manifestações externas, pois além da respiração que traz calma e da postura que o faz permanecer fisicamente pronto a meditar, tem também o foco que permite o olhar interior e aprendizado. Com isso, as manifestações externas não o perturbarão mais como antes.

No dia a dia, todo esse aprendizado poderá ser incorporado, permitindo assim uma performance muito melhor diante de situações estressantes e desafiadoras.


Valéria Nunes de Oliveira – Pós-graduada em docência e prática da meditação pela USCS – Universidade Municipal de São Caetano do Sul. Autora da monografia Meditação e Credibilidade: estudos científicos.