Iridologia e diabetes

A iridologia pode ser uma grande aliada em se tratando de prevenção de doenças, porém a literatura em torno do assunto é escassa.

Embora ocorra um crescente aumento na procura pelos atendimentos com práticas integrativas e complementares de saúde, é preciso cautela e investimento em pesquisa, na formação e no treinamento.  

A iridologia é um método propedêutico que permite conhecer, em um dado momento, órgãos debilitados no organismo e seus estágios evolutivos. O objetivo desse método é detectar distúrbios em evolução e intervir precocemente para evitar o adoecimento. Ela não faz diagnóstico, tão somente aponta os órgãos de choque do organismo e, assim, a sua predisposição em adoecer. Em hipótese alguma a iridologia substitui exames subsidiários.

A íris é um microssistema, completamente formado aos seis anos de idade e nela estão contidas as informações sobre o indivíduo, o que permite ao profissional que utiliza a iridologia a realização de uma abordagem profilática e terapêutica por meio da pré-diagnose.

O sinal do pâncreas e a cruz de Andréas são dois sinais na íris que os profissionais que usam a iridologia afirmam sugerir predisposição para o diabetes.

O crescimento das doenças crônico-degenerativas, como por exemplo do diabetes mellitus, deve-se – em parte – ao rápido envelhecimento da população mundial.

Essa patologia de ação múltipla é considerada um dos principais problemas de saúde pública no mundo, devido à sua alta prevalência e elevada taxa de mortalidade e morbidade. O diabetes tipo 2 é responsável por mais de 85% dos casos de diabetes e caracteriza-se por dois defeitos metabólicos: a resistência à insulina e a baixa secreção do hormônio. Tem componente genético, mas está atrelado à obesidade, ao sedentarismo e a fatores ambientais como a urbanização, a industrialização, o aumento da expectativa de vida e as doenças associadas, tais como problemas cardíacos, hipertensão e aumento do colesterol.

Sinal do pâncreas

O sinal do pâncreas indica que o pâncreas é um órgão de choque, ou seja, aquele que nasceu debilitado no organismo e que, frente a estímulos nocivos, pode vir a adoecer. Ao identificar o pâncreas como um órgão de choque pode-se afirmar apenas que ele tem maior debilidade e predisposição em adoecer. Não é possível assegurar se a doença que poderá se desenvolver será pancreatite, tumor ou diabetes. Porém, de todas as doenças do pâncreas, o diabetes mellitus é a que tem a maior frequência. No mapa condensado da iridologia (Figura 1), o pâncreas está localizado na íris direita às sete horas (comparando-se a íris a um relógio).

Sinal do pâncreas
Figura 1 – Mapa condensado da iridologia e sinal do pâncreas. Fonte: Battello CF. Iridologia e irisdiagnose: o que os olhos podem revelar. Ed. Ground; 2009.

Cruz de Andréas

O outro sinal é a cruz de Andréas (Figura 2), estudada pela iridologia alemã, que refere que esse sinal indica especificamente predisposição para diabetes mellitus. A cruz de Andréas pode ser visualizada em ambos os olhos em forma de quatro lacunas (aberturas das fibras) dispostas a 10, 20, 40 e 50 minutos, comparando-se a íris com o relógio. Essas lacunas também significam tecidos menos densos e débeis, predispostos a adoecer.

Cruz de Andréas
Figura 2 – Cruz de Andréas. Fonte: Battello CF. Iridiologia total. Ed. Ground; 1996.

Pesquisas científicas

Para confirmar as informações dos iridologistas sobre iridologia e diabetes foram realizadas três pesquisas com grau de profundeza gradativo.

A primeira teve como objetivo verificar a prevalência de sinais iridológicos, como o sinal do pâncreas e cruz de Andréas. Participaram da pesquisa 97 indivíduos com idade superior a 30 anos e portadores de diabetes mellitus. Após análise de suas íris, verificou-se que a prevalência ajustada do sinal do pâncreas e a da cruz de Andréas foram, respectivamente, de 98% e 89%. Houve associações significativas (p<0,001) entre os três fatores de risco para diabetes (obesidade, sedentarismo e hereditariedade) com ambos os sinais estudados – Estudo 1: A prevalência de sinais iridológicos em indivíduos com diabetes mellitus, publicado em 2008 pela própria autora deste artigo e por Maria Júlia Paes da Silva, Professora Titular do Departamento de Enfermagem Médico-Cirúrgica da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo/USP e Eutália Aparecida Cândido de Araújo, Doutora em Saúde Pública pela USP e Assessora em Métodos Quantitativos da Escola de Enfermagem da USP.

Na sequência, outra pesquisa foi realizada com o objetivo de verificar a prevalência desses sinais em indivíduos com e sem diabetes mellitus e sua herdabilidade. A coleta de dados ocorreu entre 2010 e 2011, com a participação de 410 indivíduos com idade superior a 30 anos. Pessoas com diabetes apresentaram maior prevalência dos sinais iridológicos estudados. O teste t de Student apontou diferença estatisticamente significativa na prevalência desses sinais entre pacientes com e sem diabetes e entre indivíduos com e sem antecedentes familiares para a doença. O chi-quadrado demonstrou que possuir ambos os sinais aumenta a chance de ter diabetes e que somente o sinal do pâncreas não é suficiente para o desenvolvimento da doença – Estudo 2: Avaliação do risco para diabetes pela análise da íris: uma possibilidade, realizado pela autora e por Maria J. P. da Silva e Celso Fernandes Battello, médico e mestre em homeopatia pela Faculdade de Ciências de São Paulo e Instituto Brasileiro de Estudos Homeopáticos.

Na terceira pesquisa, foi investigado o sinal  específico para diabetes mellitus – a cruz de Andréas – por um período mais longo, em um estudo longitudinal com o objetivo de comparar o desenvolvimento do diabetes mellitus e da intolerância a glicose em pessoas sem a doença, com e sem o sinal da cruz de Andréas na íris em um período de quatro anos, por meio do acompanhamento dos registros nos prontuários dos indivíduos sem diabetes que fizeram parte do banco de dados das pesquisas anteriores.

A amostra foi composta de 108 indivíduos, sendo 54 de cada grupo. A coleta de dados foi realizada em quatro momentos diferentes a cada cinco meses, sendo que a primeira foi feita no dia da adesão, por meio de uma entrevista para  preenchimento da ficha clínica, consulta ao prontuário e fotografia da íris. A cada busca no prontuário foram anotados os dados da última consulta: diagnósticos médicos, resultados de exames de glicemia e/ou hemoglobina glicada, colesterol total e frações, bem como pressão arterial – Estudo 3: O sinal da cruz de Andréas na íris e o diabetes mellitus: um estudo longitudinal, realizado pela autora e por Maria J. P. da Silva.

Ao final da investigação, 13 indivíduos (28,2%) do grupo com o sinal foram diagnosticados com diabetes mellitus e 13 (28,2%) com síndrome metabólica e 26  (56,5%) indivíduos apresentaram dois ou mais episódios de intolerância a glicose, demonstrados por exames laboratoriais. Já no grupo sem o sinal, ao final da investigação, dois (4,4%) indivíduos foram diagnosticados com diabetes mellitus e três (6,7%) com síndrome metabólica e em 11 (24,5%) foram registrados dois ou mais episódios de intolerância a glicose. Os testes estatísticos mostraram que a diferença entre os grupos foi estatisticamente significativa no desenvolvimento do diabetes mellitus, da intolerância a glicose e da síndrome metabólica (p=0,002, 0,004 e 0,007), confirmando a observação dos iridologistas e os estudos anteriores efetuados pelas autoras desta pesquisa.

Detecção precoce e prevenção

A importância da iridologia ao mostrar precocemente a predisposição para uma doença é fortalecida com as novas ciências que estão sendo desenvolvidas, como é o caso da epigenética e da nutrigenômica, que estudam como a mudança no estilo de vida e de hábito alimentar pode modificar a expressão do gene e regular processos biológicos.

Chama a atenção que os indivíduos que desenvolveram diabetes e tinham prescrição de medicamentos e dietas continuavam apresentando, em sua maioria, taxas de glicemia altas. Isso reforça a necessidade de se fazer alguma coisa diferente, pois somente a prescrição de medicamentos e a orientação de dietas não estão sendo suficientes.

A proposta da iridologia em detectar precocemente a predisposição para o diabetes mellitus parece muito interessante por permitir o início dos ajustes no comportamento alimentar e em relação à atividade física em idades tenras, facilitando a manutenção de hábitos adequados para evitar o desenvolvimento da doença e suas graves complicações.


Léia Fortes Salles – Enfermeira, especialista em irisdiagnose, terapia floral e medicina integrativa, com mestrado e doutorado em Ciências pela Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (EEUSP) e pós-doutorado pela EEUSP. Membro do grupo de pesquisa da EEUSP “Estudos em Práticas Integrativas e Complementares na Saúde”, coordenadora de pesquisa da Blossom – Educação em Terapia Floral e organizadora do livro Enfermagem e as Práticas Complementares em Saúde, da editora Yendis.