O papel do sintoma na perspectiva das constelações familiares

Uma das grandes contribuições do pensador alemão Bert Hellinger, criador da abordagem conhecida como constelações familiares – difundida no mundo todo e que compõe atualmente o leque de medicinas integrativas incluídas no Sistema Único de Saúde (SUS), foi descobrir a existência de três dinâmicas ocultas que atuam sobre os relacionamentos humanos.

Lei do pertencimento: todos os membros de uma família têm o igual direito de pertencer a ela.

Lei do equilíbrio entre dar e tomar: as trocas devem ser equivalentes.

Lei da hierarquia: os que vieram antes – seja na família, seja em outros grupos – têm precedência sobre os que vieram depois.

Hellinger mostrou que essas “ordens” regem uma espécie de ecologia dos relacionamentos e que, se forem infringidas, podem gerar sérios conflitos, doenças e tragédias.

O caráter revolucionário de sua descoberta, entretanto, não para por aí. Ele observou que um padrão de sofrimento pode arrastar-se por gerações de forma inconsciente no sistema familiar.

Essa “visão sistêmica”, transgeracional, é um grande diferencial dessa abordagem, que consegue obter resultados assertivos nos sistemas familiares e nos indivíduos, ao ampliar o leque da percepção da origem de um sofrimento, seja emocional, mental ou até físico.

O sintoma como mensageiro

Nesse contexto, as constelações familiares não tratam uma doença e seus sintomas como vilões a serem exterminados, mas, antes, como mensageiros de algo importante que deve ser visto, aceito e integrado dentro do próprio indivíduo e de seu sistema familiar.

É comum, embora não seja uma regra, observar como determinadas doenças estão relacionadas a membros excluídos de uma família. Em mais de duas décadas, tem-se comprovado na prática que, quando essa inclusão acontece, a doença muitas vezes não precisa mais existir, uma vez que já cumpriu sua missão.

Para olhar de modo sistêmico para um problema, deve-se “abrir” o campo (onde estão “hospedadas” as informações de toda a linhagem familiar) do consultante. E é preciso observar o que nesse campo se manifesta, sem julgamentos de qualquer tipo ou diagnósticos por parte do facilitador. Simplesmente detectando as dinâmicas que alteram a “ecologia dos relacionamentos” no sistema.

A partir de então, o facilitador de constelações familiares pode conduzir a constelação familiar do consultante para retomar uma “ordem” infringida, que poderá mostrar o caminho de solução e que o deixará mais forte para seguir com plenitude seu próprio destino.


Mario Koziner – Médico psiquiatra, psicoterapeuta e professor titular da Formação em Constelações Familiares do Instituto Koziner.