A ansiedade é definida como “a antecipação apreensiva de perigo ou infortúnio futuro acompanhada por um sentimento de disforia ou sintomas somáticos de tensão. O foco do perigo previsto pode ser interno ou externo”.
No entanto, o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (ou DSM-IV) afirma que é melhor descrita como uma coleção de condições, sendo elas: ataques de pânico, agorafobia ± história de transtorno de pânico, transtorno de pânico ± agorafobia, fobia específica, fobia social, transtorno obsessivo compulsivo (TOC), transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), transtorno de estresse agudo, distúrbio de ansiedade generalizada, transtorno de ansiedade devido a uma condição médica, transtorno de ansiedade induzido por substâncias e transtorno de ansiedade sem outra especificação.
Há também sugestões de que a sintomatologia associada aos transtornos de ansiedade deve ser compreendida no contexto da formação cultural do paciente.
Outros vão mais longe, sugerindo que variações biológicas e genéticas entre grupos étnicos, incluindo aquelas diretamente envolvidas na estrutura e função do cérebro, podem resultar em variações nas condições psiquiátricas e, portanto, nos tratamentos desses indivíduos.
Estima-se que a ansiedade seja responsável por incapacitar 1% da população que é afetada por TOC e por ataques de pânico. No Reino Unido, a ansiedade afetou 16,8/100 habitantes, em 2004.
Na China, Japão e Coreia, é prática comum tratar condições emocionais, psicológicas e espirituais, incluindo ansiedade, estresse, depressão e insônia, com acupuntura da medicina tradicional chinesa (MTC).
Essa abordagem de gestão, assim como o uso da MTC como um todo, foi identificada como uma tendência crescente no mundo ocidental, com alguns relatórios sugerindo que indivíduos com condições psiquiátricas são mais propensos a usarem a MTC do que aqueles sem histórico médico psiquiátrico. Apesar dessa tendência, ainda não há evidências que sugiram que a adesão à MTC seja superior à do manejo convencional.
Há uma tensão contínua entre a abordagem ocidental e a abordagem da MTC com acupuntura. A metodologia da MTC tem uma história que remonta há mais de 3.000 anos, mas devido às suas técnicas e terminologias de avaliação consideradas como “antiquadas” para a medicina convencional e suas “noções pré-científicas”, ela foi modificada através da medicina baseada em evidências e da pesquisa no estilo ocidental moderno entre muitos profissionais de saúde que aprenderam a utilizar a acupuntura como complemento à sua formação.
A acupuntura ocidental, sustentada pela anatomia, pela neurofisiologia e por um modelo médico ortodoxo, é o paradigma utilizado por muitos profissionais de saúde devido à sua crescente base de evidências, relativa relação custo-efetividade e facilidade de uso. O fato de sua base de evidências científicas estar aumentando é algo reconhecido há mais de uma década.
Especificações do tratamento
Pesquisas mostram que a ênfase dos tratamentos de ansiedade deve ser direcionada para o cérebro, com pontos de acupuntura locais na cabeça. Pontos como GV20, R3, “área emocional” e “Zona 1 dos pontos de acupuntura abdominais de Sun” são frequentemente selecionados para ajudar em “maus funcionamentos do cérebro”.
Enquanto a literatura ocidental dá grande ênfase à pesquisa de grupos de controle, randomização, análise estatística, etc., e muito raramente oferece uma opinião especializada fora de um artigo editorial, a literatura oriental dá maior ênfase ao conhecimento e à experiência de seus especialistas em campos específicos. Seria razoável sugerir que essa diferença é cultural, já que o Oriente tem uma tradição de escolas de artes marciais, etc., com um mestre ensinando seu estilo particular.
O debate sobre a dosagem do tratamento também é uma questão muito controversa no Oriente, com o excesso e o subtratamento reconhecidos como potencialmente capazes de piorar a condição do paciente, embora atualmente não haja acordo quanto à dosagem correta do tratamento. Isso também é sugerido como sendo uma área que precisa desesperadamente de um grande empreendimento de pesquisa para melhorar a padronização e fornecer tratamento ideal.
A qualidade das pesquisas relativas ao uso da acupuntura no tratamento de transtornos de ansiedade varia muito. Os resultados são quase universalmente positivos, mas também há uma qualidade quase universalmente baixa dos relatórios da metodologia.
Essa questão é destacada no que diz respeito aos relatos da frequência, duração, localização do ponto, consistência do tratamento, etc., e resulta em muitos estudos que de outra forma seriam uma excelente fonte de informação sendo reduzidos a outro lugar para “obter a essência” do uso de acupuntura no tratamento de problemas de ansiedade.
Há também uma camada adicional de complexidade associada ao fato de que está comprovado que a acupuntura por si só induz dor e ansiedade em alguns pacientes.
Perguntas como: o que define o ponto correto a utilizar para uma determinada condição, qual é o número de pontos (e portanto de agulhas) a utilizar, qual dever ser a quantidade de sessões por semana, que número de sessões constitui um episódio de tratamento e, por fim, qual a duração do tratamento de acupuntura? Esses detalhes são fundamentais para determinar “a técnica ideal de acupuntura”.
A Tabela 1 mostra o número de pontos utilizados = 19, sessões por semana = 15, número de sessões = 19 e duração da sessão = 16.
É possível observar pela tabela que os pontos mais utilizados são PC6, PC7, R3, VG20 e Yintang. Vale ressaltar que apenas PC6 e PC7 foram utilizados em estudos com animais. Em relação ao número de pontos a serem usados, pode-se ter como base a quantidade de três pontos a cada sessão. Recomenda-se de uma a três sessões semanais, sendo que quantidades de sessões acima desse número não mostram uma melhora significativa nos casos de ansiedade.
É importante ressaltar que o ideal é que se façam 10 sessões, sendo necessárias de uma a três sessões por semana. Se for preciso, aplica-se novamente o mesmo esquema de tratamento, com 10 sessões, sendo de uma a três sessão por semana. Cada sessão dura em média 30 minutos, sendo que sessões com mais de 40 minutos não proporcionam melhora significante no estado de ansiedade do paciente.
Com isso concluímos que a acupuntura para o tratamento de transtornos de ansiedade tem eficácia se aplicada em pontos na cabeça do paciente, de uma a três vezes por semana e em sessões com duração de 30 minutos.
Mari Uyeda – Professora Assistente da Saint Francis University, Pensilvânia/EUA e estudante de Medicna – UNE.
Gabriel Maluf – Estudante de Medicina – UNE.
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