Acupuntura e o reconhecimento da Organização Mundial de Saúde

Reconhecendo o crescente interesse pela acupuntura, a Organização Mundial de Saúde (OMS) realizou um simpósio sobre essa modalidade terapêutica, em junho de 1979, em Beijing, na China.

Foram convidados para o evento profissionais que praticavam acupuntura em diversos países, com o objetivo de identificar as condições de saúde que poderiam beneficiar-se da aplicação dessa modalidade terapêutica.

Os participantes elaboraram uma lista com 43 doenças que seriam adequadas. No entanto, surgiram vários questionamentos sobre sua credibilidade, porque essa lista de indicações não se baseava em ensaios clínicos formais conduzidos de maneira científica rigorosa.

Em 1996, um relatório, em rascunho, a respeito da prática clínica da acupuntura foi revisado em consulta da Organização Mundial de Saúde, em Cervia, na Itália, quando foi recomendado que a OMS se concentrasse em dados provenientes de ensaios clínicos controlados, incluindo a “acupuntura placebo”.

Decidiu-se que “a maneira mais prática de avaliar o efeito terapêutico da acupuntura é compará-la com terapias convencionais por meio de estudos controlados e randomizados ou estudos de grupo, desde que as condições das doenças antes do tratamento sejam comparáveis entre os grupos”.

Nesse relatório, foi analisada a eficácia da acupuntura, assim como das técnicas de moxabustão, ventosa, sangria, eletroacupuntura, acupuntura a laser, shiatsu/tuiná e acupressura, em comparação com o tratamento convencional, em 147 doenças, sintomas e condições de saúde (Acupuncture: review and analysis of reports on controlled clinical trials).

Um desafio que ficou evidente “é que o efeito terapêutico da acupuntura depende da proficiência do acupunturista, o que pode explicar as disparidades nos resultados relatados por diferentes profissionais, mesmo quando metodologicamente sólidos”.

Eficácia e mecanismos terapêuticos

Estudos sobre os mecanismos terapêuticos indicaram como a acupuntura funciona: “a acupuntura demonstrou induzir analgesia, proteger o corpo contra infecções e regular funções fisiológicas”.

E os “efeitos terapêuticos são alcançados por meio de ações regulatórias sobre diversos sistemas, sendo a acupuntura particularmente útil em distúrbios funcionais”.

No relatório, foram apontados quatro tópicos principais relatados a seguir.

1 – A acupuntura foi comprovadamente eficaz em 28 doenças, sintomas ou condições de saúde.

São eles: reações adversas à radioterapia e/ou quimioterapia, rinite alérgica (incluindo febre do feno), cólica biliar, depressão (incluindo neurose depressiva e depressão pós-AVC), disenteria bacilar aguda, dismenorreia primária, epigastralgia aguda (em úlcera péptica, gastrite aguda e crônica e espasmo gástrico), dor facial (incluindo distúrbios craniomandibulares), dor de cabeça, hipertensão essencial, hipotensão primária, indução do parto, dor no joelho, leucopenia, lombalgia, correção da má posição do feto, enjoo matinal, náusea e vômito, dor no pescoço, dor odontológica (incluindo dor dental e disfunção temporomandibular), periartrite do ombro, dor pós-operatória, cólica renal, artrite reumatoide, ciática, entorse, apoplexia e cotovelo de tenista.

2 – Em 60 doenças, sintomas ou condições de saúde, a acupuntura teve seus efeitos terapêuticos demonstrados, mas para os quais são necessárias mais evidências.

São eles: dor abdominal (de gastroenterite aguda ou devido ao espasmo gastrointestinal), acne vulgaris, dependência do álcool e desintoxicação, paralisia de Bell, asma brônquica, dor oncológica, neurose cardíaca, colecistite crônica com exacerbação aguda, colelitíase, síndrome de estresse competitivo, lesões cranioencefálicas fechadas, diabetes mellitus não insulino-dependente, dor de ouvido, febre hemorrágica epidêmica, epistaxe simples (sem doença generalizada ou local), dor ocular devido à injeção subconjuntival, infertilidade feminina, espasmo facial, síndrome uretral feminina, fibromialgia e fascite, perturbação gastrocinética, artrite gotosa, estado de portador do vírus de hepatite B, herpes zoster, hiperlipidemia, hipogonadismo, insônia, dor do parto, deficiência na lactação, disfunção sexual masculina não-orgânica, doença de Ménière, neuralgia pós-herpética, neurodermatite, obesidade, dependência de ópio, cocaína e heroína, osteoartrite, dor associada a exame endoscópico, dor na tromboangeíte obliterante, síndrome do ovário policístico, convalescença pós-operatória, síndrome pré-menstrual, prostatite crônica, prurido, síndrome de Raynaud primária, infecção urinária recorrente, distrofia simpática reflexa, retenção urinária traumática, esquizofrenia, sialorreia induzida por drogas, síndrome de Sjögren, dor de garganta (incluindo amigdalite), dor na coluna aguda, torcicolo, disfunção da articulação temporomandibular, síndrome de Tietze, dependência de tabaco, síndrome de Tourette, colite ulcerativa crônica, urolitíase, demência vascular e coqueluche.

3 – Em nove doenças, sintomas ou condições de saúde, existem apenas ensaios controlados individuais relatando alguns efeitos terapêuticos, mas para os quais vale a pena tentar a aplicação da acupuntura devido à dificuldade de tratamento convencional.

São eles: cloasma, daltonismo, surdez, síndrome do intestino irritável, bexiga neurogênica por lesão medular, doença cardíaca pulmonar crônica e obstrução das vias aéreas pequenas.

4 – Em sete doenças, sintomas ou condições de saúde, a acupuntura pode ser tentada, desde que o profissional tenha conhecimento médico moderno e especializado e equipamentos de monitoramento adequados.

São eles: dispneia na doença pulmonar obstrutiva crônica, coma, convulsões infantis, doença arterial coronariana (angina pectoris), diarreia em lactentes e crianças pequenas, encefalite viral infantil (estágio avançado) e paralisia bulbar progressiva e pseudobulbar.

Finalmente, convém ressaltar que o alcance da acupuntura não se limita a essas 147 doenças avaliadas.

Na China, profissionais acupunturistas consideram antiéticos esses procedimentos de avaliação utilizados para se produzir um estudo científico, pois já estão convencidos da eficácia da acupuntura com base nos mais de 2.500 anos de prática, o que faz com que esse seja considerado como o maior experimento clínico da humanidade.


Neyval Costa Reis – Terapeuta e acupunturista – Medicina Chinesa.