O câncer é a segunda maior causa de morte de mulheres no mundo. Câncer ginecológico é todo tumor maligno que venha a atingir um órgão do sistema reprodutor feminino.
Existem cinco tipos de câncer ginecológico: câncer de endométrio, ovário, colo do útero, vagina e vulva.
De acordo com estatísticas recentes, 21.000 mulheres são diagnosticadas com um desses cinco tipos de câncer, anualmente, em países desenvolvidos como o Reino Unido. Mas esse número passa a ser maior se falarmos em países em desenvolvimento como o Brasil, por exemplo.
Colo do útero
São considerados fatores de risco de câncer no colo uterino a condição sexual e a condição socioeconômica. Início precoce da vida sexual, maternidade precoce, grande número de filhos e promiscuidade sexual com múltiplos parceiros são os principais fatores de risco englobados na condição sexual. A condição social está representada pelo baixo nível socioeconômico, que conduz à reduzida situação de higiene corporal e principalmente à higiene genital inadequada. A baixa condição social pode também ser responsável pelo aspecto sexual, porque a pobreza e a falta de informação por vezes se constituem em fatores determinantes das condições sexuais apresentadas.
A falta de higiene genital da mulher – acrescida da falta de higiene genital dos múltiplos parceiros – é responsável pelo aumento do número de processos inflamatórios, especialmente por vírus, atualmente considerados como um importante fator de risco para câncer do colo.
Endométrio
Quanto ao endométrio, que é a mucosa que reveste a cavidade interna do útero, a prevenção não é possível. Entretanto, o diagnóstico precoce é essencial para a cura da paciente. O câncer de endométrio ocupa, nos países desenvolvidos, o primeiro lugar entre as diversas localizações genitais do câncer. No Brasil, ele está situado em quarto lugar entre as localizações genitais.
Tem ocorrido um aumento gradativo do número de pacientes portadoras desse tipo de câncer nos últimos anos, devido à elevação da expectativa de vida, visto que o câncer do endométrio é um câncer da mulher idosa, e também em razão do aumento significativo do uso prolongado e indiscriminado dos hormônios estrogênicos para o tratamento do climatério e da menopausa. O câncer do endométrio vem sempre acompanhado pela hipertensão, diabetes e obesidade, que também são fatores de risco.
Ovário
O câncer do ovário não pode ser considerado como pouco frequente. Nos Estados Unidos, ocupa o terceiro lugar, atrás do de mama e do de endométrio. É o câncer que apresenta o menor índice de cura entre os que atingem as regiões genitais, pois a localização profunda dos ovários na pélvis feminina impede o diagnóstico precoce, sendo a sua detecção possível apenas quando o tumor já é de grande tamanho, com extensa invasão.
A utilização contínua e prolongada de pílulas anticoncepcionais tem um efeito protetor para o ovário e quanto maior for o período de uso, menor será a incidência de câncer nesse órgão.
Vulva
Os tumores malignos na vulva são considerados pouco frequentes. O câncer de vulva é uma doença da mulher idosa, pois sua grande incidência ocorre depois da menopausa.
A vulva apresenta, assim como o colo do útero, lesões consideradas pré-malignas. São lesões brancas, avermelhadas ou cinzentas, sendo as brancas (em maior número) conhecidas como distrofia vulvar crônica, que tem como sintoma principal um prurido intenso, de longa duração e de tratamento difícil, e que, com o coçar constante, leva ao surgimento de ulcerações. Somente 10% dessas lesões podem chegar a evoluir para um câncer de vulva.
Vagina
A causa exata da maior parte dos cânceres de vagina é desconhecida. Mas pesquisadores descobriram que normalmente estão associados a uma série de condições, como idade, uso de medicamentos e presença de HPV, entre outras.
Pesquisas mostram que as células normais produzem substâncias denominadas genes supressores de tumor para evitar um crescimento rápido e que se tornem cancerígenas. Os vírus do papiloma humano (HPV), tipos 16 e 18, produzem duas proteínas (E6 e E7) que podem interferir no funcionamento desses genes supressores.
Acupuntura
A acupuntura é uma das técnicas de tratamento da milenar medicina tradicional chinesa (MTC), em que se utilizam como ferramenta agulhas metálicas que são aplicadas na pele dos pacientes, em pontos estratégicos (pontos de acupuntura), com o objetivo de melhorar a função dos órgãos, vísceras e glândulas, diminuir ou eliminar a dor e trazer equilíbrio nas emoções. A aplicação dessa prática vem crescendo nos últimos 20 anos, inclusive para tratamento de mulheres com câncer ginecológico. Foi descrita pelos chineses há 5.000 anos e ficou por muito tempo renegada, no mundo ocidental, pela dificuldade de compreensão da escrita chinesa e de se entender o seu mecanismo de ação. Mas o fato de a acupuntura ter apresentado um grande desempenho no alívio da dor aguda e da dor crônica fez com que ela não ficasse esquecida para sempre.
Com o avanço da medicina e das diferentes especialidades paralelas, como a bioquímica, foram detectados os neurotransmissores, como a serotonina, a B-endorfina, a dinorfina e muitas outras substâncias, o que tornou possível a descoberta de que a acupuntura pode diminuir ou acabar com a dor por liberar essas substâncias analgésicas endógenas. Às vezes, a acupuntura pode curar, em uma única sessão, dores que atormentavam a vida de pacientes que vinham sofrendo por horas, dias, meses ou anos.
Novas pesquisas apontam para a efetividade dessa técnica em sintomatologias como náuseas e vômitos, edema, inapetência e anemia, fadiga, xerostomia (boca seca), mucosites (ulcerações orais), linfedema, insônia, soluços, ondas de calor, ansiedade e depressão decorrentes de quimioterapia (QT) e/ou radioterapia (RT) em câncer ginecológico, como também nos efeitos colaterais decorrentes da QT/RT como tratamento convencional em carcinomas diversos.
Fadiga: é considerada a queixa mais frequente e para a qual mais faltam opções no tratamento convencional. O paciente sente-se exaurido física e mentalmente, sem obter melhora com o repouso. Essa condição deve-se ao próprio câncer ou ao seu tratamento. Precisam ser excluídas as comorbidades que se relacionam com o quadro, como anemia, descompensação cardíaca e infecções oportunistas. Descartadas as justificativas orgânicas, deve-se direcionar para o reequilíbrio energético dos pacientes, com pontos como VC-17, VC-12, VC-6 e E-36, que são muito importantes quando a fadiga está associada à deficiência de Qi.
Como é frequente nesses pacientes a associação com a deficiência de Xue, quando assim diagnosticado, pontos com grande benefício são o BP-10, B-17, BP-6, VB-39 e IG-16.
Quanto ao envolvimento dos vasos maravilhosos, também conhecidos como meridianos curiosos, a fadiga relaciona-se com o Yin Qiao Mai. A deficiência energética desse meridiano (por onde circula calor orgânico proveniente do Shen-rins) traz como consequência a deficiência desse calor ao encéfalo pela via do B-1. Pontuar R-6 e seu acoplado P-7, além de outros diversos benefícios, contempla o equilíbrio desse sistema energético.
Importante destacar também o papel do Shen-rins como grande fornalha energética do nosso corpo. Pesquisar a presença de deficiência de Yin ou de Yang do Shen-rins e primar por sua tonificação.
Alguns pontos que foram citados como utilizados nos estudos são o R-2, R-3, BP-6, F-4, VC-4, VC-6, E-36, P-9 e TA-6.
Náuseas e vômitos: muitos estudos consolidaram o uso da acupuntura como tratamento para a náusea aguda. Dessa forma, sessões de acupuntura dentro das primeiras vinte e quatro horas da quimioterapia e/ou radioterapia seriam bem indicadas. Os pontos que mais se destacam são o CS-6 e E-36, sendo ainda citado o uso de F-3 e IG-4. Também são importantes para o quadro referido o VC-12, VC-15 e BP-4.
Xerostomia: estudos apontam melhora significativa após a sessão de acupuntura para a xerostomia induzida pela radioterapia. Há os que notifiquem melhoria no fluxo salivar e na qualidade de vida. Dentro da mesma ideia, para o tratamento da mucosite orofaríngea deve-se destacar a importância do Yang Ming sobre a face e os benefícios do IG-1.
Dores: ocorrem como complicação direta da neoplasia (no caso, por exemplo, de mieloma múltiplo) ou como efeitos colaterais do tratamento (tais como neuropatia, mialgia e artralgia).
Estudos já evidenciaram os seguintes aspectos em favor da acupuntura: redução da intensidade da dor, obtenção de analgesia de forma mais rápida do que com o uso de opioides e maior persistência do efeito analgésico. Inclusive, há estudos que demonstram efeitos positivos da acupuntura sobre as dores articulares secundárias a inibidores de aromatase, com duas sessões por semana.
Quanto ao tratamento da dor, é importante o uso de microssistemas além da circulação dos meridianos acometidos. O ponto TA-16 merece destaque também, pois, como parte dos meridianos distintos, está envolvido na atuação do quadro emocional frente à dor relatada.
Linfedema: há estudos que mostram efeitos positivos da acupuntura em linfedemas decorrentes das mastectomias com esvaziamento axilar. Outros demonstram melhora da sensação do peso sem efetiva redução volumétrica. Para o tratamento, é importante checar a correção energética necessária do Pi e utilizar pontos de drenagem como o BP-9 e VC-9.
Anorexia: pode-se obter algum benefício com a acupuntura auricular. É preciso checar a correção energética necessária do Pi. Há também o uso de VC-12 com quatro agulhas equidistantes ao redor na forma de cruz (técnica da flor de ameixeira).
Na visão da medicina tradicional chinesa, cada desequilíbrio energético pode ter diversas causas e pode ser potencializado por deficiências e excessos particulares ao indivíduo tratado.
A quimioterapia atuaria como um grande calor perverso, queimando todas as células que se replicam no corpo, como as da mucosa e da medula óssea, por exemplo. Isso se encaixa na ideia de que os efeitos colaterais da QT/RT podem se intensificar com a sucessão dos ciclos de tratamento. Pontos de dispersar calor, como IG-4, IG-11 e VG-14, e pontos tings são recursos valiosos. Vale ressaltar que raramente esses pacientes têm condições de sangria dos tings.
Como o agente perverso foi inoculado diretamente no sangue e circula por ele, a ideia de refrescar o Xue reforçaria a visão protetora e, para isso, seriam usados os pontos BP-10, B-17 e B-40.
Quanto aos vasos maravilhosos, Yin Qiao Mai (R-6) e Ren Mai (P-7) sempre serão úteis, pois há acometimento generalizado sobre o organismo. O meridiano Chong Mai (BP-4) e seu acoplado Yin Wei Mai (CS-6) também são importantes, pois se relacionam com o trato gastrointestinal, que é alvo de destaque nos efeitos colaterais da QT/RT.
No caso do raciocínio terapêutico envolvendo os meridianos distintos, CS-1 deve ser lembrado, pois está relacionado tanto à gênese quanto à manutenção das células neoplásicas. Deve-se acrescentar outros pontos de acordo com a emoção que se destaca na história do paciente.
Existe ainda o benefício de pontos que visam a acalmar e clarear a mente (como Yintang).
Tonificar o paciente depois de retirar o Xie Qi, com o menor número de agulhas possível, é sempre um desafio. Usar VC-12 com VC-4 intencionando atingir a Raiz do Qi pós-Celestial e a Raiz do Qi pré-Celestial, respectivamente, é uma possibilidade. Outro ponto que se destaca é o BP-6, pois tem ação simultânea sobre o Pi, o Shen-rins e o Gan.
Técnicas complementares
A medicina tradicional chinesa (MTC) apresenta ainda outras técnicas complementares, como ventosa, moxabustão, auriculopuntura, massagem (Tui-na), automassagem, eletroacupuntura, laseracupuntura, tai-chi-chuan, Ti-kun, fitoterapia, meditação, hidroterapia, técnicas respiratórias e terapia das flores.
Tanto a acupuntura como todas essas técnicas complementares podem auxiliar muito o paciente acometido de câncer.
Estudos mais recentes têm comprovado que a acupuntura pode ajudar a modular o sistema imunológico, de modo semelhante ao efeito do Interferon.
Outros trabalhos têm demonstrado o auxílio aos pacientes com câncer para diminuir ou acabar com a dor, diminuir ou acabar com os efeitos colaterais indesejáveis da QT/RT, como náusea, vômito, diarreia, desidratação e, quando mais complicado, distúrbios hidroeletrolíticos, diminuir o linfedema, melhorar a imunidade, melhorar a disposição e o ânimo e aumentar a alegria de viver.
A proposta de utilizar a acupuntura e outras técnicas da MTC no tratamento do paciente com câncer é de servir como um complemento ao tratamento convencional.
Mari Uyeda – Mestre em Ciências da Saúde, nutricionista e professora do Departamento de Ciências da Saúde da Pós-graduação da Universidade Nove de Julho.
Fabian Friedrich – Farmacêutico-bioquímico, especialista, mestre, doutor e pesquisador em Biologia Molecular, Prefeitura Municipal em Blumenau/SC.