A disfunção erétil (DE) é uma doença comum do sistema reprodutor masculino, que afeta seriamente a qualidade de vida dos pacientes e de suas parceiras.
Atualmente, a DE é considerada uma doença sócio-psicológica-fisiológica com etiologia complexa e vários métodos de tratamento (Cheng, Su, Luo, Zhang e Jiao, 2023).
O diagnóstico da disfunção erétil envolve uma abordagem multifacetada que inclui a avaliação médica, psicológica e física do paciente (Debasis, Ann, Bhimrao e Sonia, 2020).
Histórico clínico
- Histórico médico: avaliação de condições médicas preexistentes, como diabetes, hipertensão, doenças cardiovasculares e uso de medicamentos.
- Histórico sexual: discussão sobre a função sexual, frequência e qualidade das ereções e satisfação sexual (Cheng, Su, Luo, Zhang e Jiao, 2023).
Exame físico
- Exame genital: avaliação dos órgãos genitais para detectar anormalidades físicas (Debasis, Ann, Bhimrao e Sonia, 2020).
- Exame cardiovascular: verificação da saúde cardiovascular, já que a disfunção erétil pode ser um indicador precoce de doenças cardíacas (Cohan e Korenman, 2001).
Exames laboratoriais
- Análises de sangue: avaliação dos níveis hormonais, incluindo testosterona, glicemia e perfil lipídico (Cohan e Korenman, 2001).
- Testes de função renal e hepática: para descartar doenças que possam contribuir para a disfunção erétil (Cohan e Korenman, 2001).
Os testes laboratoriais iniciais incluem os de ureia, creatinina, glicemia de jejum, colesterol LDL e HDL e triglicerídios. Esses exames servem para a identificação e quantificação dos fatores de risco.
Também fazem parte desses testes iniciais os de testosterona total e pela manhã, para saber se o nível está baixo ou baixo-normal, albumina e SHBG, prolactina e hormônio luteinizante – LH (Cheng, Su, Luo, Zhang e Jiao, 2023). O nível sérico de testosterona é importante, pois valores baixos devem ser corrigidos. A prolactina elevada pode não só estar relacionada com a DE como também com a libido diminuída.
Outros testes hormonais ficam relegados a um segundo plano, sendo indicados em casos específicos (Beckman, Abu-Lebdeh e Mynderse, 2006).
A avaliação para diabetes oculto, dislipidemias, hiperprolactinemia, doenças tireóideas e síndrome de Cushing deve ser realizada com base em suspeita clínica (Debasis, Ann, Bhimrao e Sonia, 2020).
Testes específicos
- Teste de ereção noturna: avaliação das ereções durante o sono, para determinar se a causa da DE é psicológica ou física (Dey e Shepherd, 2002).
- Ultrassonografia peniana: exame de imagem para avaliar o fluxo sanguíneo no pênis (Dey e Shepherd, 2002).
Atualmente, a ultrassonografia com doppler, realizada após a aplicação de injeção intracavernosa de um fármaco vasodilatador, como uma mistura de prostaglandina E1, papaverina, e fentolamina (disponível como um produto de combinação), é mais frequentemente utilizada para avaliar a vasculatura peniana (Beckman, Abu-Lebdeh e Mynderse, 2006).
Os valores normais incluem uma velocidade de pico do fluxo sistólico > 25 cm/segundo e um índice de resistência > 0,8. O índice de resistência é a diferença entre a velocidade de pico sistólica e a velocidade diastólica final divididas pela velocidade de pico sistólica (Dey e Shepherd, 2002).
Raramente, para alguns pacientes nos quais a cirurgia de revascularização peniana é considerada após um trauma pélvico, pode-se fazer arteriografia pélvica, cavernosografia por infusão dinâmica e cavernosometria.
Ocorrem vários episódios eréteis durante o sono em homens saudáveis (Ellsworth e Kirshenbaum, 2008). Esses eventos eréteis, medidos por monitores noturnos de tumescência peniana, podem ajudar a diferenciar a etiologia orgânica e psicogênica da disfunção erétil. Seu uso atual, porém, é principalmente efetuado em ambientes médico-legais (Ellsworth e Kirshenbaum, 2008).
Avaliação psicológica
A entrevista psicológica consiste na identificação de fatores psicológicos, como estresse, ansiedade e depressão, que possam contribuir para a disfunção erétil (Beckman, Abu-Lebdeh e Mynderse, 2006).
A avaliação deve incluir história de utilização de drogas (inclusive de drogas prescritas e produtos fitoterápicos) e abuso de álcool, cirurgia e trauma pélvicos, tabagismo, hipertensão, diabetes e aterosclerose e sintomas de doenças vasculares, hormonais, neurológicas e psicológicas (Singh, Devasia, Gnanaraj e Chacko, 2005).
Deve-se explorar a satisfação com as relações sexuais, incluindo a avaliação da interação do parceiro e disfunção sexual da parceira, como por exemplo atrofia vulvovaginal, dispareunia e depressão (Singh, Devasia, Gnanaraj Chacko, 2005).
É fundamental pesquisar depressão, que nem sempre pode estar aparente. Para tanto, pode ser utilizada a escala de depressão de Beck ou, em homens idosos, a escala de depressão geriátrica de Yesavage (Singh, Devasia, Gnanaraj e Chacko, 2005).
O exame focaliza os sinais genitais e extragenitais de doenças hormonais, neurológicas e vasculares. Os genitais são examinados para pesquisa de anomalias, sinais de hipogonadismo e placas ou faixas fibrosas (doença de Peyronie). Baixo tônus retal, sensibilidade do períneo diminuída ou reflexos bulbocavernosos anormais podem indicar disfunção neurológica. A diminuição dos pulsos periféricos sugere disfunção vascular (Wang, Wu, Xiang, Xiao e Hu, 2023).
Deve-se suspeitar de causas psicológicas em homens jovens saudáveis com início abrupto de disfunção erétil, em particular se esse início estiver associado a um acontecimento emocional específico ou se a disfunção ocorrer apenas em determinadas ocasiões. A história de DE com melhora espontânea também sugere origem psicológica (DE psicogênica).
Homens com disfunção erétil psicogênica habitualmente apresentam ereções noturnas normais e ereções ao despertar, ao passo que os homens com DE orgânica geralmente não as apresentam.
Teste TEFI
O teste de ereção fármaco-induzido (TEFI), que é a administração de drogas no interior dos corpos cavernosos com o intuito de relaxar a musculatura peniana e dos vasos sanguíneos, representa o estado hemodinâmico peniano durante uma resposta erétil (Xiong, Zhang, Zhang, Wu, Qin e Yuan, 2023).
O resultado positivo, definido como uma ereção rígida que permite o coito, significa que não existe doença vascular significativa. Um teste negativo pode não ter muito significado, pois muitos fatores locais e circunstanciais podem ter contribuído para o resultado, como frio, estresse, etc.
Quando o TEFI é realizado de forma associada à estimulação visual sexual (vídeo erótico) e automanipulação da genitália e monitorado pelo RigiScanÒ (Dacomed, Minneapolis, Minnesotta), obtêm-se resultados mais objetivos e fidedignos.
Pode-se perceber que, quando os dados são captados em tempo real, essa metodologia permite uma maior aproximação da realidade sexual do indivíduo. Trata-se de um exame de exceção, utilizado eventualmente em alguns casos (Xiong, Zhang, Zhang, Wu, Qin e Yuan, 2023).
Diagnóstico na medicina chinesa
Na medicina tradicional chinesa (MTC), o diagnóstico da disfunção erétil é abordado de maneira holística, considerando o equilíbrio energético do corpo.
A MTC vê a DE como um desequilíbrio entre o yin e o yang, bem como um distúrbio no fluxo de Qi – energia vital e Xue – sangue (Cheng, Su, Luo, Zhang e Jiao, 2023).
Principais métodos de diagnóstico na MTC
Anamnese detalhada: histórico de saúde, com avaliação de condições médicas preexistentes e histórico de saúde geral.
Sintomas: discussão sobre os sintomas específicos da DE, tais como dificuldade em obter ou manter uma ereção e outros sintomas associados, como fadiga, frio nas extremidades e dor lombar (Cheng, Su, Luo, Zhang e Jiao, 2023).
Diagnóstico observacional
Língua: exame da língua para identificar sinais de desequilíbrio energético, como mudanças na cor, forma e revestimento.
Pulso: palpação do pulso para avaliar a qualidade do fluxo de Qi e Xue (Cheng, Su, Luo, Zhang e Jiao, 2023).
Diagnóstico diferencial
Deficiência de yang dos rins: caracterizada por sintomas como frio nas extremidades, dor lombar e cansaço. Tratada com ervas que aquecem e tonificam o yang, como Epimedium (Yin Yang Huo) e Cistanche (Rou Cong Rong) – (Cheng, Su, Luo, Zhang e Jiao, 2023).
Estagnação de Qi do fígado: associada a estresse emocional e frustração. Tratada com técnicas de acupuntura e ervas como Bupleurum (Chai Hu) e Cyperus (Xiang Fu), que movem o Qi1.
Deficiência de Qi e Xue: caracterizada por fraqueza geral e palidez. Tratada com ervas que tonificam o Qi e nutrem o sangue, como Ginseng (Ren Shen) e Angelica sinensis (Dang Gui).
A MTC oferece uma abordagem integrada e personalizada, focando não apenas nos sintomas, mas também nas causas subjacentes e no bem-estar geral do paciente (Cheng, Su, Luo, Zhang e Jiao, 2023).
Alberto Pereira de Lima Vianna – Biomédico, acupunturista e estudante de Medicina – UNE.
Gabriel Maluf – Estudante de Medicina – UNE.
Mari Uyeda – Professora Assistente da Saint Francis University, Pensilvânia/EUA e estudante de Medicina – UNE.
Maria Graziela de Fátima Alvarez Kenupp – Biomédica e estudante de Medicina – UNE.
Referências bibliográficas
Beckman, T. J., Abu-Lebdeh, H. S., & Mynderse, L. A. (2006). Evaluation and medical management of erectile dysfunction. Mayo Clinic Proceedings, 81(3), 385–390. Disponível em https://doi.org/10.4065/81.3.385.
Cheng, H. Y., Su, L., Luo, C. L., Zhang, S. Z., & Jiao, Y. Z. (2023). Zhonghua nan ke xue – National Journal of Andrology, 29(8), 746–750.
Cohan, P., & Korenman, S. G. (2001). Erectile dysfunction. The Journal of Clinical Endocrinology and Metabolism, 86(6), 2391–2394. Disponível em https://doi.org/10.1210/jcem.86.6.7576.
Debasis, B., Ann, S. P., Bhimrao, F. S., & Sonia, M. (2020). Erectile Dysfunction: A Review on Prevalence, Perceptions, Diagnosis and Management in India. The Journal of the Association of Physicians of India, 68(11), 57–6.
Dey, J., & Shepherd, M. D. (2002). Evaluation and treatment of erectile dysfunction in men with diabetes mellitus. Mayo Clinic Proceedings, 77(3), 276–282. Disponível em https://doi.org/10.4065/77.3.276.
Ellsworth, P., & Kirshenbaum, E. M. (2008). Current concepts in the evaluation and management of erectile dysfunction. Urologic Nursing, 28(5), 357–369.
Singh, J. C., Devasia, A., Gnanaraj, L., & Chacko, K. N. (2005). Erectile dysfunction. The National Medical Journal of India, 18(3), 139–143.
Wang, C. M., Wu, B. R., Xiang, P., Xiao, J., & Hu, X. C. (2023). Management of male erectile dysfunction: From the past to the future. Frontiers in Endocrinology, 14, 1148834. Disponível em https://doi.org/10.3389/fendo.2023.1148834.
Xiong, Y., Zhang, Y., Zhang, F., Wu, C., Qin, F., & Yuan, J. (2023). Applications of artificial intelligence in the diagnosis and prediction of erectile dysfunction: a narrative review. International Journal of Impotence Research, 35(2), 95–102. Disponível em https://doi.org/10.1038/s41443-022-00528-w.