Disfunção erétil e sua definição: um diálogo entre a medicina ocidental e a medicina tradicional chinesa

A disfunção erétil (DE) é uma condição que afeta milhões de homens em todo o mundo, caracterizada pela incapacidade persistente de obter ou manter uma ereção suficiente para uma relação sexual satisfatória.

É muito comum esse problema apresentar impactos significativos na qualidade de vida e no bem-estar emocional e social dos indivíduos afetados.

Enquanto a medicina ocidental e a medicina tradicional chinesa (MTC) abordam a DE de formas distintas, a combinação de ambas as abordagens pode oferecer entendimentos para soluções mais abrangentes e eficazes.

A disfunção erétil à luz da medicina ocidental

 Na medicina ocidental, a disfunção erétil é geralmente entendida a partir de uma perspectiva fisiológica e psicológica. As causas podem ser orgânicas e psicogênicas ou mesmo uma combinação de ambas. Entre as causas orgânicas, destacam-se as principais citadas a seguir.

Vasculares: aterosclerose e doenças vasculares periféricas podem diminuir o fluxo sanguíneo para o pênis.

Neurológicas: lesões ou doenças que afetam os nervos, como a esclerose múltipla e a neuropatia diabética.

Endócrinas: distúrbios hormonais, como baixos níveis de testosterona.

Medicamentosas: certos medicamentos, incluindo antidepressivos e anti-hipertensivos, podem causar DE.

A abordagem terapêutica ocidental inclui medicamentos orais (como inibidores da fosfodiesterase tipo 5), terapia de reposição hormonal e intervenções cirúrgicas, além de aconselhamento psicológico para tratar fatores psicogênicos.

Abordagem da medicina tradicional chinesa

 A medicina tradicional chinesa vê a disfunção erétil como um desequilíbrio entre o yin e o yang, bem como um distúrbio no fluxo de Qi (energia vital) e Xue (sangue).

Ela ainda identifica várias causas principais para a DE, incluindo deficiência de Qi, estagnação de Qi, deficiência de yang dos rins e estagnação de Xue.

Cada um desses desequilíbrios tem suas próprias manifestações clínicas e requer diferentes abordagens terapêuticas.

Deficiência de yang dos rins: caracterizada por sintomas como frio nas extremidades, dor lombar e cansaço, trata-se com ervas como Epimedium (Yin Yang Huo) e Cistanche (Rou Cong Rong), que aquecem e tonificam o yang.

Estagnação de Qi do fígado: associada a estresse emocional e frustração, trata-se com técnicas de acupuntura e ervas como Bupleurum (Chai Hu) e Cyperus (Xiang Fu) que movem o Qi.

Deficiência de Qi e Xue: caracterizada por fraqueza geral e palidez, trata-se com ervas que tonificam o Qi e nutrem o sangue, como Ginseng (Ren Shen) e Angelica sinensis (Dang Gui).

Evidências científicas da eficácia da MTC na disfunção erétil

Diversos estudos científicos têm explorado a eficácia da medicina tradicional chinesa no tratamento da disfunção erétil. Uma revisão sistemática publicada no Journal of Sexual Medicine analisou vários ensaios clínicos randomizados e encontrou que a acupuntura e a fitoterapia chinesa mostraram-se eficazes na melhoria dos sintomas da DE, especialmente em pacientes que não responderam bem aos tratamentos-padrão ocidentais.

Outro estudo publicado no Asian Journal of Andrology demonstrou que a combinação de acupuntura e ervas medicinais chinesas foi mais eficaz na melhoria da função erétil e na qualidade de vida dos pacientes, sendo comparada ao uso isolado de medicamentos ocidentais.

Integração de abordagens ocidentais e tradicionais chinesas

A integração das abordagens ocidentais e tradicionais chinesas pode oferecer uma estratégia terapêutica mais completa e personalizada para pacientes com disfunção erétil. Por exemplo: um paciente pode ser tratado com medicamentos inibidores da fosfodiesterase tipo 5 para obtenção rápida de alívio dos sintomas apresentados, enquanto a MTC pode ser utilizada para tratar desequilíbrios subjacentes de longo prazo, melhorando a saúde geral e prevenindo a recorrência da DE.

Além disso, a acupuntura e a fitoterapia podem ser usadas para mitigar os efeitos colaterais dos medicamentos ocidentais, como a disfunção sexual induzida por antidepressivos.

Essa abordagem integrada não só amplia o leque de opções terapêuticas, mas também promove um cuidado centrado no paciente, levando em consideração suas necessidades individuais e preferências culturais.

Conclusão

 A disfunção erétil é uma condição multifatorial que pode ser abordada eficazmente através da integração da medicina ocidental e da medicina tradicional chinesa.

Enquanto a medicina ocidental tende a oferecer intervenções rápidas e eficazes, a MTC proporciona uma abordagem integrativa que trata as causas subjacentes e visa a promover o equilíbrio geral do corpo.

A pesquisa científica continua a apoiar a eficácia dessa abordagem combinada, oferecendo esperança e soluções mais abrangentes para pacientes que sofrem desse mal ao redor do mundo.


Alberto Pereira de Lima Vianna – Biomédico, acupunturista e estudante de Medicina – UNE.

Gabriel Maluf – Estudante de Medicina – UNE.

Mari Uyeda – Professora Assistente da Saint Francis University, Pensilvânia/EUA e estudante de Medicina – UNE.

Maria Graziela de Fátima Alvarez Kenupp – Biomédica e estudante de Medicina – UNE.

 

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