Paciente “não aterrado”. Médicos que conhecem e aplicam algumas opções de práticas integrativas e complementares já sabem o sentido dessa expressão.
Estar em sintonia com a terra (tanto a terra-chão quanto a Terra-planeta) é considerado um fator de saúde de acordo com a medicina holística.
Mas por quê?
Dr. James L. Oschman, da Nature’s Own Research Association, em New Hampshire, Estados Unidos, é um dos pesquisadores que buscam esclarecer essa questão com base científica.
Enquanto muitos aceitam essa realidade da conexão entre a saúde humana e as forças energéticas da natureza de forma intuitiva e com embasamento na filosofia e/ou nos resultados empíricos obtidos com a aplicação de terapias alternativas, o Dr. Oschman vai além e empenha-se em realizar estudos científicos que comprovam e explicam como e por que isso é uma verdade.
Desconectando-se da Terra
“A vida humana evoluiu em contato direto com a superfície da Terra. Até algumas gerações atrás, os humanos andavam e dormiam diretamente no solo”, afirma o Dr. Oschman, no editorial “Our Place in Nature: Reconnecting with the Earth for Better Sleep”, publicado no Journal of Alternative and Complementary Medicine. “Sendo assim, o campo elétrico da Terra espalhava-se sobre a superfície da pele e em todo o sistema respiratório e trato gastrointestinal (que são condutores elétricos). Hoje, usamos sapatos isolantes que impedem esse contato elétrico. Além disso, vivemos, trabalhamos e dormimos em ambientes que são eletricamente desconectados da terra. Raramente, se alguma vez, estamos expostos à voltagem natural que é exclusiva do nosso planeta”.
Ao mesmo tempo em que passava a usar sapatos e viver em edifícios, a humanidade começou também a desenvolver uma série de aparelhos elétricos ou eletroeletrônicos.
Os campos eletromagnéticos associados a esses equipamentos podem produzir uma série de interferências nos tecidos orgânicos que, por serem condutores de energia, funcionam como “antenas”.
Muitos profissionais da área médica vêm demonstrando uma crescente preocupação com os possíveis efeitos biológicos produzidos no corpo humano em função das fiações elétricas, telefones celulares e demais dispositivos eletroeletrônicos, a ponto de já se reconhecer a existência de uma síndrome de sensibilidade eletromagnética.
Earthing vs. grounding
Embora isso seja imperceptível para as pessoas, a Terra é um grande condutor esférico eletrizado negativamente.
Isso acontece devido à ação dos ventos solares que entram na magnetosfera, ventos ionosféricos e relâmpagos das tempestades, que criam uma corrente contínua de milhares de amperes que transfere carga positiva para a atmosfera superior e carga negativa para a superfície da Terra.
Sendo assim, a superfície terrestre constitui-se em uma fonte abundante de elétrons livres.
“Quando os humanos estão em contato direto com a terra (descalços), elétrons livres são conduzidos para a superfície da pele e para o interior do organismo através das membranas mucosas dos sistemas digestivo e respiratório”, explica o Dr. Oschman no artigo “The effect of earthing (grounding) on human physiology”, publicado por European Biology & Bioelectromagnetics. “O corpo é assim mantido no mesmo potencial elétrico da Terra. Esse tem sido o ambiente bioelétrico natural do corpo humano e de outros organismos ao longo da maior parte da história evolutiva”.Essa condição natural de contato com a superfície terrestre é que o Dr. Oschman chama de “earthing” em contraponto a “grounding”, que é o aterramento de aparelhos elétricos.
O conceito de aterramento é bastante conhecido no que se refere à segurança no uso de equipamentos elétricos. Toda vez que uma estrutura metálica (chuveiro, máquina de lavar, computador, etc.) é ligada à Terra, o seu potencial elétrico se anula, protegendo o ser humano contra os perigos de um choque ou descarga elétrica.
Mas o que acontece com as pessoas? Já que o corpo humano é também condutor de eletricidade, devido à multiplicidade de compostos químicos existentes em sua estrutura, surge a questão: “aterrar” (earthing) o organismo traz benefícios para a saúde? Ou em sentido contrário: a falta de aterramento (causada pela falta de contato direto com a terra) pode provocar distúrbios no bom funcionamento do corpo?
Foi isso que o Dr. Oschman se propôs a comprovar, num estudo realizado em conjunto com os Drs. Gaétan Chevalier e Kazuhito Mori do California Institute For Human Science, Graduate School & Research Center, na Califórnia, Estados Unidos.
Diminuindo a voltagem
Para a realização desse estudo, o Dr. Oschman e colegas tomaram como referência uma pesquisa anterior elaborada pelo Dr. Maurice Ghaly e Dale Teplitz, em que foram demonstrados os efeitos biológicos do aterramento do corpo humano durante o sono (“The biologic effects of grounding the human body during sleep as measured by cortisol levels and subjective reporting of sleep, pain and stress”, publicado no Journal of Alternative and Complementary Medicine.
Quando uma pessoa está em pé ou dormindo dentro de um edifício, seu corpo não aterrado torna-se eletrificado pela eletricidade ambiente e pelos campos eletromagnéticos.
A pesquisa de Ghaly e Teplitz mostrou que conectar essa pessoa à terra reduz imediatamente a eletrificação.
Nesse estudo, 12 pessoas, após terem seus corpos conectados a uma fonte natural de elétrons durante o sono, apresentaram uma diminuição de voltagem de em média 467 vezes (de 3,27 volts quando não aterradas para 0,007 volts durante o aterramento), o que resultou em regularização dos níveis de cortisol e redução das disfunções de sono, da dor e do estresse.
Medindo os parâmetros
Utilizando o mesmo princípio de intervenção elétrica, o Dr. Oschmam e colegas efetuaram um novo estudo sobre como o aterramento (earthing) pode afetar as propriedades elétricas e fisiológicas do corpo humano, assim como influenciar o próprio processo de medição eletrofisiológica.
Para tanto, escolheram como parâmetros de medição o EEG (eletroencefalograma), que registra mudanças na dinâmica de grandes populações neuronais no córtex cerebral e responde de forma rápida e significativa a estímulos ambientais, a EMG (eletromiografia de superfície), que mede de forma sensível a atividade dos músculos subjacentes e a tensão passiva dos músculos em repouso, a fotopletismografia (BVP – blood volume pulse), que é uma medida relativa do fluxo sanguíneo periférico que tem sido relacionada ao equilíbrio simpático/parassimpático, e a frequência cardíaca.
Participaram do estudo 58 indivíduos adultos saudáveis, sendo 30 do grupo de controle.
O earthing foi realizado com a colocação de adesivos condutivos na sola de cada pé dos participantes, enquanto ficavam recostados em uma cadeira reclinável e com recomendação para que permanecessem relaxados e evitassem movimentos durante os períodos de medição.
Um cabo de aterramento saía ao ar livre e chegava até uma haste fixada na terra.
Interruptores colocados a cerca de 1,22 m dos indivíduos analisados e controlados por um assistente completavam ou interrompiam a conexão de aterramento para os sujeitos do grupo experimental e de controle, respectivamente.
Todo o sistema foi cuidadosamente dimensionado de forma a garantir que as variações registradas eram de fato resultantes do aterramento do organismo, sem interferências dos dispositivos e dos próprios equipamentos usados durante o estudo.
Foi utilizado um sistema de biofeedback para gravação dos parâmetros eletrofisiológicos e fisiológicos, durante os períodos em que os indivíduos estavam aterrados ou não aterrados.
Mudança instantânea
Os resultados do estudo efetuado pelo Dr. Oschman e colegas ampliaram as conclusões da pesquisa anterior sobre os efeitos do aterramento (earthing) na fisiologia humana.Durante os períodos de aterramento, cerca de metade dos indivíduos do grupo experimental mostrou uma mudança abrupta, quase instantânea, nas medições do EEG gravado a partir do hemisfério esquerdo, mas não do hemisfério direito.Isso pode indicar que o aterramento tem influência nos aspectos racionais e parassimpáticos do funcionamento cerebral controlados pelo hemisfério esquerdo, mas não nos processos intuitivos e nas atividades simpáticas reguladas pelo hemisfério direito.A mesma modificação súbita foi observada na EMG do músculo trapézio superior tanto do lado direito quanto esquerdo. Houve também uma variação significativa no potencial de ação muscular.
A medida do tônus do músculo trapézio correlaciona-se ao estresse geral.
Sendo assim, as variações na medição (aumentos abruptos em alguns indivíduos ou decréscimos abruptos em outros) indicam que o aterramento conduz à normalização ou balanceamento do equilíbrio simpático/parassimpático, da tensão muscular e dos parâmetros de estresse relacionados. Os indivíduos estressados ou “carregados simpaticamente” mostraram sinais de relaxamento, enquanto aqueles com ativação parassimpática excessiva foram estimulados, exibindo maior tensão em sua musculatura.
O earthing também provocou redução nas medições da fotopletismografia em 19 de 22 indivíduos do grupo experimental em comparação com 8 do grupo de controle, sendo interessante observar que a variação do volume sanguíneo é uma medida fisiológica direta e não eletrofisiológica, o que contribui para assegurar a validade dos resultados e demonstrar que eles não sofreram interferências da aparelhagem ou artefatos utilizados.Já, a frequência cardíaca não foi afetada. Earthing e sensibilidade eletromagnética A combinação dos resultados dos dois estudos citados permite traçar um panorama dos efeitos sistêmicos do earthing.
Essas pesquisas mostraram que as tensões elétricas induzidas no organismo humano podem ser reduzidas por meio de uma técnica simples de aterramento, com melhorias imediatas e duradouras nas disfunções de sono, dor e estresse, mudança no equilíbrio autonômico e ajuste na tensão muscular em direção a um nível ótimo.
Nas publicações indicadas no início, o Dr. Oschman chama a atenção para o fato de que todos os processos fisiológicos do corpo humano têm um aspecto elétrico, seja em nível molecular, celular, dos tecidos ou órgãos.
Contudo, a grande maioria dos estudos sobre os correlatos bioelétricos e biomagnéticos dos processos fisiológicos foram realizados com indivíduos não aterrados. Portanto, não se sabe até que ponto os resultados dessas pesquisas podem ter sido influenciados por essa falta de aterramento.
Ele ressalta que essa é uma questão que interessa principalmente aos pesquisadores que estão se dedicando a um tema ainda bastante controverso: o de saber até que ponto os equipamentos que usamos na vida atual, como os telefones celulares, por exemplo, interferem na saúde humana.
“Trata-se de uma abordagem diferente sobre os efeitos dos campos eletromagnéticos ambientais sobre a saúde, uma vez que não estamos à procura de condições prejudiciais, mas sim olhando para as melhorias na saúde que podem ser alcançadas quando as influências ambientais são mitigadas”.
Por Jurema Luzia Cannataro – Jornalista com especialização na produção de conteúdo sobre bem-estar e saúde.