A história de Lucia Helena – “Em 1974, engravidei pela primeira vez e, depois de uma cesárea violenta para minha alma, para meu corpo e para minha maternidade e vínculo com minha filha, afirmei: não volto nunca mais a um hospital.
A opinião médica estabelecia um prazo de três anos para a ‘possibilidade remota’ de um parto natural, após uma cesariana.
Orientada pelo sensei Tomio Kikuchi, na área de medicina oriental, e apoiada pelo obstetra Dr. Francisco José Vieira, precursor do parto natural e domiciliar em Brasília e da utilização da acupuntura no Centro-Oeste, desenvolvi uma forma de cuidar-me e preparar-me para uma próxima gestação e parto.
Uni ginástica psicofísica, natação, natureza, alimentação macrobiótica, yoga e muito foco em criar as condições para que o próximo parto fosse natural, domiciliar e muito, muito humanizado.
Parir em casa, com suporte e condições supersaudáveis, foi marcante, intenso e profundamente transformador. Foram muitas inspirações e, acompanhada por Selma Marga, vivenciei a experiência de estar num grupo de movimento e apoio a mulheres grávidas, na minha segunda gestação e, nele, fiz a descoberta de um trabalho para me dedicar pessoal e profissionalmente.
Dois fortes e lindos partos domiciliares depois, voltei ao Planalto Central um mês antes da chegada da quarta pessoa recebida pela luz terrena através de mim, no hospital, com parto natural.
A quinta criança veio com a mãe de cócoras, também no hospital, num parto rápido, claro e novamente profundo.
E a sexta e derradeira, em uma cesárea o mais humanizada possível e quase emergencial. Essa criança bem-vinda trouxe-me a extensão da gratidão por toda essa ciência médica existir frente à real necessidade.
Durante esse tempo (1982-2009), realizei atendimentos em grupos de yoga para o parto natural e em oficinas do corpo gestante e dei supervisão a algumas doulas.
Seguindo a jornada, veio o trabalho de atendimento individual, de duplas ou de trios de grávidas, na visão preventiva que fui amadurecendo a partir de 1993, quando conheci a core energetics, de John Pierrakos”.
Psicoterapia reichiana: couraça e estratégias de defesa
Segundo Wilhelm Reich, fundador da psicoterapia corporal, “só as crianças valem a pena. É necessário recuar até o protoplasma não afetado”(1). Com base nessa perspectiva, parte de seu trabalho final passou a ser tentar promover a prevenção da neurose através de medidas que incidiam sobre o processo gestacional e o parto.
Para que eu e você, leitor, possamos continuar juntos nesse caminho, vou definir, de forma simples, os conceitos reichianos de couraça, segmentos corporais, estrutura e estratégia de defesa do caráter.
Inicialmente, a couraça muscular de caráter é constituída por ocorrências na musculatura voluntária do corpo. Depois, torna-se também couraça ou parede emocional, até atingir formas mentais, como crenças impressas desde a memória celular até a sutil substância da alma.
A couraça pode ser dividida em contrações musculares temporárias ou naturais e/ou contrações musculares permanentes ou crônicas. As primeiras manifestam-se em qualquer animal vivo quando ameaçado, mas são deixadas de lado quando a ameaça desaparece. As outras são oriundas da mesma fonte, mas frente à continuidade das ameaças ficam sempre ativas e tornam-se crônicas, passando a reagir a perigos permanentes, interpretados como tal internamente, e não mais a perigos externos.
Desse modo, desde sua origem até anos mais tarde, a criança consegue reter seus desejos naturais e conforma-se com os moldes que determinam pertencimento/sobrevivência. O processo de encouraçamento é automantenedor, porque os pais encouraçados criam filhos com couraça.
Segundo Reich, a couraça organiza-se em anéis de contração, na ordem cefalocaudal e ao longo das etapas do desenvolvimento. São sete anéis (também chamados de segmentos): ocular, oral, cervical, peitoral, diafragmático, abdominal e pélvico. É nesses segmentos da couraça que nossas neuroses manifestam-se. A grande maioria de nós tem algum tipo de comprometimento em um ou mais anéis.
O bloqueio do primeiro anel, o ocular (cabeça – nariz, ouvido e olhos), dá-se a partir de estresse da mãe, oriundo de sua angústia pessoal e do ambiente externo, com reflexo intrauterino, durante a gestação e no trabalho de parto. O registro negativo segue na chegada e acolhimento do bebê até os três primeiros meses de vida. Tal bloqueio caracteriza-se pelo medo de aniquilação e prejudica a interpretação da realidade. As intervenções propostas no trabalho realizado durante a gestação convocam-nos para uma compreensão maior da amplitude do atendimento à mulher grávida e seu bebê em formação, incluindo o período pós-parto, no trimestre seguinte, com contato e vínculo.
Reich também focalizou grande parte de seu interesse nos dias mais prematuros da vida da criança e nos seus primeiros contatos com a mãe, estendendo o período da formação do caráter até antes daquele que Freud nominou de oral, incluindo toda a gestação e o parto. São os primeiros 100 dias de exterogestação, que vamos analisar mais adiante.
O momento do desenvolvimento infantil em que um impulso vital é frustrado torna-se fator decisivo na determinação do tipo de defesa do caráter. Todas as funções orgânicas têm mecanismos psicológicos equivalentes e correspondentes. Quando o impulso é reprimido muito cedo e de modo persistente, o desenvolvimento do caráter vai ser caracterizado por fortes defesas contra o impulso, determinando a estrutura dessas defesas.
A divisão das estruturas deu-se historicamente e pelo desenvolvimento psicológico em cinco tipos: esquizoide, oral, masoquista, psicopata e rígido.
Core energetics: energia e consciência
Como aluno, cliente e posteriormente colaborador de W. Reich, John Pierrakos deu continuidade ao estudo da circulação da energia e formulou, na core energetics, uma nova maneira de perceber as estruturas e de entendê-las também como estratégias de defesa.
A partir de seus estudos e pesquisas, acrescentou uma dimensão cósmica, vinda das inspiradas palestras de sua esposa, Eva Pierrakos.
John Pierrakos observou objetivamente energia e consciência circulando na pessoa humana, em sua jornada da alma, como as duas grandes dimensões que representam a realidade.
Entendeu que o modo de bloquear o fluxo da energia e organizar a defesa apontava-nos em cinco direções mais adequadas que as categorias sistematizadas anteriormente. Assim, na core energetics, consideram-se os seguintes cinco tipos de estrutura/estratégia: fragmentada, subcarregada, sobrecarregada, deslocamento e rigidez.
Pierrakos convocou-nos para a atenção na individualidade e na presença da essência em cada ser humano, do embrião ao idoso. E para a aceitação. “O padrão defensivo não define a pessoa. É a essência que a define”.
Atenção primária à mãe e ao bebê na gestação, no parto e no pós-parto
Desde a fecundação, inúmeros fatores mantêm a simbiótica relação da mãe gerando e da nova pessoa sendo gerada, desde a biomecânica e cinesiologia até os fenômenos emocionais, mentais e da consciência.
Quando a conexão mãe-bebê é impedida por qualquer resistência, seja ela expressa na forma de dúvida, culpa, sensação de não merecimento ou temor das exigências da vida e, também, por desequilíbrios bioquímicos, alimentares e de saúde em geral, ou mesmo por agressões ambientais, ativa-se uma área de conflito no indivíduo que está sendo gerado. Nessa fase, existir ainda é um processo frágil, sendo que o bebê pode efetivamente ser afetado de maneira radical até em sua sobrevivência. As defesas são, então, intensamente ativadas e atingem o fluxo da vida na direção de chegar a esse plano.
Na core energetics, considera-se que os conflitos gerados por seja qual for o impedimento (desde ressonâncias emocionais e biológicas até efeitos químicos de medicamentos), como são sentidos no útero por um organismo ainda imaturo para leitura, compreensão e organização dos fenômenos, podem ficar gravados como experiências de um útero hostil, num mundo de vísceras e instintos.
A alma desse ser humano poderá reagir fragmentando-se em duas direções opostas: partes que gostariam de voltar a um plano imaterial, de onde se originam e outras partes que seguem o impulso da vida, da gestação, da geração. O caráter que se molda em defesa, estrutura e estratégia fragmentada, é chamado de esquizoide.
A sensação de perigo, oriunda da hostilidade gravada no contato uterino, pode levar a criança e, na sequência, a pessoa jovem e adulta a sentir assim: se eu expressar minha necessidade de estar próxima de alguém, minha existência entra em perigo. Só posso existir se não tiver necessidade de intimidade, de contato. Portanto, ela tenta permanecer em isolamento.
Vivemos num mundo que está implementando profundos isolamentos dentro de uma amplitude tecnológica de contato impressionante. Todo trabalho de prevenção e cuidado com os traumas é bem-vindo, possível e necessário.
Sabe-se que a ontogênese repete a filogênese e que o ser que está sendo gestado, desde o embrião, percorre as diferentes fases que as espécies percorreram ao longo da evolução. Essa memória pode ser curada dos traumas inconscientes e abrir o campo para o contato curador do calor, do cheiro, da voz e da luz que pode se transmitir da mãe para o novo ser, desde o protoplasma não atingido.
O objetivo é trabalhar com gestantes como um caminho para enraizar o processo de encarnação da criança, prevenir a formação da estrutura de defesa fragmentada e ajudar a entrega da mãe ao fluxo do feminino pulsando involuntariamente.
Antecedentes históricos
Em relação ao trauma do nascimento, Freud foi o primeiro, na psicologia, a chamar a atenção para a possibilidade de que o parto pudesse ser protótipo e fonte de todas as ansiedades futuras.
Otto Rank via no trauma do nascimento a causa básica responsável pelo fato de ser a separação a mais penosa e assustadora experiência humana. Ele relacionava a ansiedade com a separação do útero materno como se fosse a separação de uma situação paradisíaca, de gratificação incondicional e livre de esforços.
Stanislav Grof trouxe-nos a dinâmica das matrizes perinatais e suas bases biológicas que refletem o nível perinatal do inconsciente. A mãe pode ser educada durante a gestação para desenvolver o contato com seu eu interior e um diálogo constante com o bebê e seu mundo.
A dilatação do colo do útero e a gradual propulsão do feto para fora podem resultar numa luta enorme pela sobrevivência, em grandes pressões mecânicas e, muitas vezes, num alto grau de hipóxia e sufocamento. A entrega da mãe pode transformar essa luta num prazer de forte abraço e trabalho conjunto. A criança nasce e, depois de cortado o cordão umbilical, completa-se a separação da mãe. Essa experiência pode ser instantânea e impiedosa, especialmente se não houver a compreensão humanizada do parto e a mãe não estiver preparada para a entrega à inteira realidade do momento, seja ele qual for – entrega ao seu interior, aceitação. O apego, instinto construtor da segurança, pode ser rompido, fragmentado e imprimir ruptura no campo de energia da relação unitária e dual da mãe e de quem acabou de chegar.
O nascimento evoca as raízes mais profundas. A mulher tem necessidade de contato mais aprofundado com suas raízes, o que pode acontecer se estiver conectada com a escuta de seu cérebro instintivo e preparada para a entrega ao seu fluxo natural, aceitando a realidade que vai se apresentando, passo a passo no seu parto.
Reich disse que o choque do nascimento pode ser bastante negativo. A sequência pode ser afastar a criança da mãe, como acontece em muitas organizações hospitalares, desde o tempo dele até hoje, infelizmente. Com frequência existe a possibilidade do bebê procurar encontrar algum calor e, quando chega na mãe, ela não estar disponível.
O que pode acontecer frequentemente com a mulher ocidental, orientada para o mundo externo, longe de seu eu interior? A dificuldade de entrega ao fluxo da vida pode estar presente. A preparação para a intensidade da experiência pode ter sido idealizada e a realidade traz impacto e reação emocional inesperada para ela, com sentimentos conflitantes, como mostra Laura Gutman, no livro A maternidade e o encontro com a própria sombra. É bastante comum que os mecanismos de defesa sejam ativados. “E, então, que faz a criança? Como responde a isso? Como é que tem de responder a isso bioenergeticamente?… Aqui, o ‘não’ se desenvolve, o grande ‘não’ da humanidade e ainda se perguntam por que o mundo está numa grande confusão”, afirma Reich(1).
Na visão de Pierrakos, soma-se uma perspectiva espiritual a esse campo de investigação. A estrutura de defesa de caráter passa a ser vista também como padrão de distorção do campo de energia, resultante de nossas crenças e experiências de toda a jornada da alma. A realidade e o campo de energia dos pais correspondem à necessidade da alma, do que precisamos curar. Esses fatores encontram-se na concepção: a alma, o espírito e o protoplasma não atingido, recém-fecundado – a família, o tempo e a história.
Útero: o mar da vida
Leboyer lançou seu olhar sobre o processo vivido pelo bebê no parto e propôs o método Nascer Sorrindo, um trabalho pioneiro em direção a humanizar o nascimento. Anos após, revisando sua abordagem, perguntou-se: “e as mães?” E então escreveu “Se me contassem o parto”(4), matéria médica em forma de grande poema, onde a pélvis é sempre mostrada, pelo seu ângulo, como um coração.
A experiência que a mãe tem na gestação é fundamental como primeiro contato do ser humano que está chegando. Grande parte do trabalho é trazer para ela a experiência da entrega ao livre fluxo da pulsação energética. Preparar mulheres grávidas, em todos os aspectos da personalidade, no corpo físico, nas emoções, na mente, na vontade e na espiritualidade, pode apresentar-se como um caminho de prevenção da formação da estrutura de defesa fragmentada no bebê e ajudar a mãe a entregar-se a si mesma, curando feridas e bloqueios, acessíveis graças ao especial estado de alterações hormonais, emocionais, mentais e espirituais da gestação.
Quando, no início da gestação, a mulher passa por grandes alterações hormonais, vivencia um processo tão intenso que tende a recolher sua energia e consciência das trocas e investimentos exteriores para o útero – o mar da vida, como chamam os chineses.
Esse retorno é tão profundo que tem conexões simbólicas e arquetípicas com o processo de sua própria concepção e gestação – algo como voltar ao ponto das feridas narcísicas. Essa natural e única oportunidade sensibiliza-a enormemente, sendo que a dimensão das experiências de vida tem uma intensidade sem limites nesse período.
Vivemos uma cultura contemporânea que valoriza especialmente a ação externa e a energia ativa. A delicadeza de tudo que transforma a mulher nesse momento é vista como fragilidade. A necessidade de recolhimento, muito frequentemente, não tem suporte nem legitimidade para permitir o afastar-se do cotidiano com reconhecimento de um estado inicial e especial. A mulher fica exposta e com muito sono. Sono esse que a conduz ao mesmo universo da alma que está chegando, onde se realizam alguns dos primeiros laços. Sono que a aproxima da encarnação do novo ser. Dar permissão à mãe para o sono, para que durma o mais que possa, nutrindo o seu corpo emocional e mental, informando a importância desse momento, é um ponto fundamental no primeiro trimestre da gestação.
Nesse período, também é muito importante o trabalho de visualização criativa, sendo que a física quântica colabora com a confirmação científica de que o observador modifica a experiência observada. A visualização de cores e imagens centra-se no coração da mãe e do feto. Sugere-se a imersão da mãe numa grande bolha azul, recriando um útero da Grande Mãe, onde ela é conduzida a um relaxamento neuromuscular profundo e regenerador.
A yoga, os florais, a acupuntura e as medicinas vibracionais têm contribuições especiais para esse período, visto que toda intensidade física, emocional e mental que está acontecendo repercute sobre o fluxo da circulação fetal.
Exterogestação: a gestação prolongada
O feto percebe os sons como vibrações, de uma maneira gratificante ou frustrante – é o contato inicial com a realidade materna. Ele nota alterações nos batimentos cardíacos da mãe e na ressonância de sua voz e a repercussão dessas percepções sobre a circulação fetal pode levar à criação dos primeiros mecanismos de defesa de tipo energético, bloqueando o primeiro segmento/anel ocular.
Toda a pressão e riscos pelos quais o feto passa e a falta de preparo e consciência de uma certa parcela das mães, além do afastamento cultural, corporal, emocional e mental da pulsação instintiva do feminino, faz com que o parto e o nascimento sejam, em uma considerável parte das vezes, vividos como um trauma, que causa disfunção no primeiro segmento reichiano, o ocular.
Esse primeiro segmento tem, precisamente no nascimento, a função de possibilitar ao bebê tomar contato com o mundo exterior, graças aos olhos, nariz e ouvidos.
Atualmente, sabe-se da importância desse período pós-parto, que agora é chamado de exterogestação.
O Dr. Antonio Pires, médico pediatra, que se dedica ao estudo do desenvolvimento infantil e realiza orientações individuais ou de grupos de mulheres e casais grávidos, apresenta-nos uma visão profunda sobre os primeiros cem dias do bebê.
“A teoria da exterogestação, proposta pelo antropólogo Ashley Montagu, diz que os três primeiros meses de vida extrauterina do bebê são uma continuação da gravidez. É algo como dizer que os bebês humanos precisariam de uma gestação mais prolongada. Conceitualmente o termo exterogestação descreve um período gestacional de três meses, realizado fora do útero após o parto do bebê. Esse período de transição é essencial para que o bebê humano adapte-se completamente à vida extrauterina, permitindo seu pleno desenvolvimento. A passagem da vida intra para a vida extrauterina é um momento de muito estresse e insegurança para a criança. O entendimento do desenvolvimento bioevolutivo e psicoafetivo do indivíduo como uma continuidade iniciada na gestação e que seguirá pela vida deve nortear a forma como acolhemos o bebê desde o início, com consciência, presença, respeitando os tempos próprios desse ser tão capaz e ainda tão dependente e exercitando nossa capacidade de observação, como cuidadores, para atender suas necessidades de forma assertiva, amorosa, respeitosa e, sobretudo, sem interferir no seu ritmo próprio. O foco na formação do vínculo, no apego e na importância da exterogestação serão fundamentais na qualidade do maternar e do paternar e a preparação dos cuidadores primários e substitutos deve ser feita durante ou, se possível, antes da gestação, para garantir o melhor resultado.”
Método Educação para o Parto
Educação para o Parto é o método que Lucia Helena desenvolveu durante a prática de 25 anos de trabalho como educadora de parto e supervisora de doulas, treze dos quais dentro da ótica da core energetics, sob a força, luz e inspiração de John Pierrakos.
O trabalho pode ser feito individualmente ou em grupos, sendo que a estrutura principal do método segue as etapas descritas a seguir, presentes durante os primeiros três trimestres da gestação.
1 – Exercícios de core energetics – importância do enraizamento da mãe para o processo de encarnação. Em pé, a gestante realiza basicamente exercícios de carga e descarga, com fortalecimento muscular das pernas e das coxas, liberação do segmento cervical e movimentos pélvicos. Deitada, trabalha torção da coluna, balanço e abertura pélvica, em especial a borboleta, que é um exercício de vibração involuntária, feito de barriga para cima e com as pernas dobradas e os pés no chão. Abrindo-se e fechando-se os joelhos, como asas de borboleta em câmera lenta, chega-se a uma vibração suave e profunda, quanto mais a entrega vai acontecendo. A prática desse exercício permite a liberação do estresse e de traumas registrados na memória celular da mãe, desde de sua própria concepção, gestação e parto. Promove a familiarização da gestante com a parassimpaticotonia (entrega ao movimento involuntário), condição fundamental para o livre curso do parto.
2 – Estudo de temas relativos à gestação, parto e pós-parto, incluindo anatomia, fisiologia, alimentação, terapia de florais e automassagem.
3 – Respiração e exercícios de expulsão. A respiração é profundamente trabalhada como fio da energia e consciência na gestação, no trabalho do parto e na vida.
4 – Processos psicocorporais de atenção ao estado emocional e mental da gestante, quando for o caso.
5 – Relaxamento, cromoterapia e visualização criativa, incluindo yoga e meditação. A visualização criativa permite a experiência da energia e consciência das escolhas no processo de encarnação e da importância do estado emocional da mãe em relação ao processo de formação da criança. Aspectos positivos e negativos são experimentados como contrastes e possibilidades de transformação – educação para a vida.
O método Educação para o Parto acompanha as gestantes e seus parceiros, com a realização também de reuniões dos casais com pais mais experientes. Aponta para a importância do estabelecimento precoce do vínculo pai-feto, acompanhando a evolução da paternidade desde as décadas finais do século XX. E cuida presencialmente do pós-parto – da exterogestação, com suporte emocional, orientação para amamentação, escuta e formação de círculo de apoio para o casal.
Consciência e autorresponsabilidade
Marcela Flueti, mãe, parteira, naturóloga e psicoterapeuta corporal em core energetics, traz, a seguir, um pouco de sua atualização e experiência prática com os processos psicoemocionais da gestação, do parto e do pós-parto.
“No meu trabalho como parteira e psicoterapeuta corporal, realizo atividades em grupo e individuais, além de formar profissionais (doulas, parteiras, enfermeiras, médicos) para acompanharem o parto através de uma visão respeitosa diante da vida. Nos trabalhos individuais, além dos pré-natais baseados na visão da partería, realizo atendimentos terapêuticos na abordagem da core energetics, os quais são realizados durante a gestação, pós-parto ou em qualquer momento do puerpério.
Nas rodas de gestantes trabalhamos através da informação, modelos de assistência ao parto, fisiologia e anatomia do trabalho de parto, sexualidade e parto, aspectos emocionais da gestação e do parto, técnicas de amamentação e cuidados pós-parto para mãe e bebê.
Fazemos rodas de pós-parto, momentos de trocas oportunizando uma rede de suporte e apoio. Trazemos temas sobre parentalidade e seus reflexos no novo formato de vida, incluindo emoções, sexualidade, autocuidado.
E também fazemos grupos de movimento baseados na psicoterapia corporal core energetics onde o corpo existe como ferramenta para o contato com os aspectos emocionais e estruturais da vida de gestante. Para os pais, o grupo movimenta a consciência, a partir do lugar de pai que experiencia através do corpo, além da mente e da emoção.
É visível como uma gestante que se preparou nesse nível de abertura e contato, consegue vivenciar esse momento tão expansivo que é o parto como uma continuidade de um processo de aprofundamento em si mesma, e não como um fato isolado da experiência.
Observo que gestantes/famílias, que têm a oportunidade de trilhar esse caminho, recebem o presente de estarem vivenciando todos esses processos com mais consciência (corporal, emocional, mental e espiritual) e autorresponsabilidade, o que naturalmente inclui mais realidade, amor e respeito tanto para mãe/pai quanto para o bebê”.
Ser humano ecológico
“Para a core energetics, cuidar da mãe, do pai e fundamentalmente das crianças, garantindo que sejam concebidas e nutridas com o máximo possível de amor e saúde, é assegurar um mundo com mais qualidade de vida e melhor em energia e consciência”, afirma Lucia Helena. “Com a educação para o parto podemos estar plantando economia nos sistemas de saúde e incentivo ao plano evolucionário dos seres humanos, sementes que podem contribuir para diminuir a dualidade entre o eu e os outros, de forma a que possamos colher redução da separatividade. Como já disse Michel Odent, ‘o instinto reencontrado como gênese do ser humano ecológico’”.
Lucia Helena Alencastro – Psicoterapeuta corporal, diretora da Rede Brasil Core Energetics – curso livre de terapia holística, orientadora educacional (UnB), especialista em Educação e Gestão ambiental (CDS/UnB), conselheira espiritual (NY Region Pathwork, USA), mãe de seis filhas e avó de nove netas. Certificada em TRE, terapia reichiana, constelação familiar sistêmica e terapia de florais.
Dr. Antônio Pires – Médico pediatra e criador do Pequenos e Plenos, programa de troca de sabedorias, orientações e informações sobre os primeiros 1.000 dias da criança. Trabalhou em UTI neonatal e pediátrica e, nos últimos quinze anos, dedica-se ao estudo do desenvolvimento infantil e à realização de orientação individual ou de grupos de mulheres e casais grávidos, com foco na formação de uma melhor consciência para a criação de filhos com acolhimento, respeito, confiança e autonomia.
Marcela Flueti – Naturóloga, especialista em Medicina Tradicional Chinesa, psicoterapeuta corporal, conselheira espiritual (NY Region Pathwork, USA), integrante da equipe Ama Nascer de assistência ao parto e representante do Brasil na Alianza Latino Americana de Parteras. Foi aprendiz de parteiras tradicionais (como as Mbyá-Guarani de SC) e profissionais por 10 anos e é mãe de dois filhos nascidos em casa. Atuou como doula em Campinas/SP, Goiânia/GO e Florianópolis/SC.
Fontes
1 – ALBERTINI, Paulo. Reich. História das idéias e formulação para a educação. São Paulo: Ágora, 1994.
2 – GROF, Stanislav. Além do Cérebro: Nascimento, Morte e Transcendência em Psicoterapia. São Paulo: McGraw-Hill Brasil, 1987.
3 – GUTMAN, Laura. A maternidade e o encontro com a própria sombra. Rio de Janeiro: Best Seller, 2016.
4 – LEBOYER, Frédérick. Se me contassem o parto. São Paulo: Ground, 1998. Nascer sorrindo. São Paulo: Brasiliense, 1974.
5 – ODENT, Michel. Gênese do homem ecológico. Mudar a vida, mudar o nascimento. O instinto reencontrado. São Paulo: TAO Editorial, 1981.
6 – PIERRAKOS, John. Energética da Essência (Core Energetics). Desenvolvendo a capacidade de Amar e Curar. São Paulo: Pensamento, 1987.
7 – RANK, Otto. O trauma do nascimento. São Paulo: Edipro, 2016.
8 – KIKUCHI, T. Moxabustão. Filosofia da medicina oriental. Tratamento aplicado. São Paulo: Musso, 1982.