Efeito analgésico da aromaterapia em dores agudas e crônicas

O processo de dor é uma reação orgânica em que estão envolvidos mecanismos de ação de defesa do próprio organismo, na intenção de comunicar ao indivíduo que algo não está em homeostase (equilíbrio).

Pode ser modulado tanto por neurônios eferentes como aferentes, envolvendo quase sempre a produção de citocinas e em relação íntima com a cascata de ácido araquidônico e, ainda, ser desencadeado por meio de estimulação química, física ou mecânica.8

Os quadros álgicos ou processos de dor já são considerados um problema de saúde pública mundial, o que faz com que os custos com tratamentos preventivos e profiláticos sejam crescentes.9

Em um panorama geral ao redor do mundo, é possível observar que a grande maioria dos pacientes que buscam atendimento clínico para dor são do sexo feminino, com idades superiores as da segunda ou terceira fase da vida e tendo como principal queixa dores autorrelatadas por funções ocupacionais, o que demonstra que se deve ter um olhar para a área laboral, na intenção de melhorar a qualidade de vida no ambiente de trabalho.1

Entre as principais queixas, as dores lombares ganham o topo no número de atendimentos, seguidas por dores em articulações como ombro e joelhos, além dos casos de cefaleias e de dores mais crônicas, como as decorrentes de quadros de fibromialgia.14

Aromaterapia na medicina convencional e/ou integrativa

Devido à grande quantidade de pacientes que sofrem com processos de dor, as chamadas práticas integrativas e complementares em saúde vêm ganhando espaço dentro da medicina moderna, na intenção de trazer alivio aos quadros álgicos por meio de tratamentos não farmacológicos.12-13

Dentre as práticas integrativas aplicadas com essa finalidade, inclusive no Sistema Único de Saúde (SUS), pode-se citar a aromaterapia, que consiste em uma arte milenar pautada principalmente na reorganização de desordens apresentadas pelo organismo, quer sejam abordadas de forma direta, por meio de mecanismos de ação descritos na medicina ocidental ou como desordens energéticas, descritas na medicina oriental e, em especial, na medicina tradicional chinesa.

Em ambas as abordagens, faz-se a utilização de óleos essenciais extraídos de plantas (raízes, folhas, flores, frutos e cascas de frutos) e administrados por via inalatória (mais efetiva) ou ainda por via dérmica ou oral (ingestão), sendo essa última menos utilizada, devido à ausência de estudos sobre a segurança de sua aplicação.2

Óleos essenciais para processos de dor

A partir da literatura científica, é possível observar o efeito analgésico e antinociceptivo do óleo essencial de sucupira (Pterodon polygalaeflorus Benth)4, óleo essencial de tomilho (Thymus capitatus)6 e óleo essencial de eucalipto (Eucalyptus globulus)10 em modelos animais, com estudos controlados pré-clínicos, por meio de indução de dor por mecanismos térmicos ou químicos (formalina ou ácido acético), em que os óleos essenciais apresentaram efeitos semelhantes a medicamentos opioides fortes.

Ainda, estudos clínicos conduzidos por Hekmatpou e colaboradores mostraram resultados positivos na diminuição de quadros álgicos em pacientes admitidos no setor de urgência/emergência da ala de ortopedia em um grande hospital, com a inalação de óleo essencial de laranja (Citrus sinensis), a partir da segunda hora após a intervenção.

A utilização da aromaterapia clínica é uma possibilidade dentro do ambiente hospitalar, visto que pode trazer maior conforto e segurança aos pacientes. Estudos conduzidos por Şahin e colaboradores demonstraram a diminuição do incômodo e da dor causados pela inserção do cateter em pacientes de hemodiálise, que precisam passar pelo procedimento de duas a três vezes na semana, após a inalação do óleo essencial de lavanda (Lavandula angustifolia).

Em um serviço especializado no atendimento a pessoas da terceira idade, foi identificado o efeito analgésico de blend (mistura) aromático contendo óleos essenciais de alecrim (Rosmarinus officinalis) e gengibre (Zingiber officinale), por meio de massagem e toque terapêutico nos pacientes com osteoartrite.15 Também já foi demonstrado resultado positivo da inalação do óleo essencial de lavanda (Lavandula angustifolia) em pessoas com queimaduras17

A literatura científica traz, ainda, outros diversos usos da aromaterapia, tais como no equilíbrio e estabilidade mental de pacientes idosos5, em doenças reumáticas, principalmente frente a dores articulares2, como moduladora de dor em processo de braquiterapia em câncer cervical3, na modulação de dor por estresse induzido11 e no processo de ansiedade e insônia18, entre outros.

Dessa maneira, pode-se afirmar que a aromaterapia é uma possibilidade terapêutica não farmacológica para tratamentos de dores crônicas e agudas, além de proporcionar efeitos secundários positivos nos quadros álgicos desenvolvidos.


Silvio de Almeida Junior – Biomédico e aromaterapeuta clínico, Mestre em Farmacologia (2018-2020), especialista em Acupuntuara (2020-2021) e pós-graduando em Fitoterapia (2021-2022) e Homeopatia (2021-2023), além de estar no doutorado em Promoção de Saúde (2020-2024), trabalhando com práticas integrativas.

 

 

Fontes

1 – Almeida, C. G. da S. T. G. de, Fernandes, R. de C. P. (2017). Musculoskeletal disorders in distal upper extremities among women and men: Results of a study in the industry sector. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, 42. https://doi.org/10.1590/2317-6369000125515.

2 – Barão Paixão, V. L., Freire de Carvalho, J. (2021). Essential oil therapy in rheumatic diseases: A systematic review. Complementary Therapies in Clinical Practice, 43, 101391. https://doi.org/10.1016/j.ctcp.2021.101391.

3 – Blackburn, L., Hill, C., Lindsey, A. L., Sinnott, L. T., Thompson, K., Quick, A. (2021). Effect of Foot Reflexology and Aromatherapy on Anxiety and Pain During Brachytherapy for Cervical Cancer. Oncology Nursing Forum, 48(3), 265–276. https://doi.org/10.1188/21.ONF.265-276.

4 – Coelho de Souza, A. N., dos-Santos, C. F., Lopes-Filho, L. N., Holanda, F. R., Oliveira, A. C., Gomes-Vasconcelos, Y. A., Oliveira, K. A., Ferreira da Silva, F. W., Silva Alves, K. S., Leal Cardoso, J. H. (2018). Essential oil of Pterodon polygalaeflorus Benth attenuates nociception in mice. Braz. J. Med. Biol. Res., 51(11). https://doi.org/10.1590/1414-431X20187356.

5 – Ebihara, S., Otsubo, Y., Miyagi, M. (2021). Role of physical therapists and aromatherapy for fall prevention in older people: A narrative review. Geriatrics & Gerontology International. https://doi.org/10.1111/ggi.14165.

6 – Gonçalves, J. C. R., de Meneses, D. A., de Vasconcelos, A. P., Piauilino, C. A., Almeida, F. R. de C., Napoli, E. M., Ruberto, G., de Araújo, D. A. M. (2017). Essential oil composition and antinociceptive activity of Thymus capitatus. Pharmaceutical Biology, 55(1), 782–786. https://doi.org/10.1080/13880209.2017.1279672.

7 – Hekmatpou, D., Pourandish, Y., Farahani, P. V., Parvizrad, R. (2017). The Effect of Aromatherapy with the Essential Oil of Orange on Pain and Vital Signs of Patients with Fractured Limbs Admitted to the Emergency Ward: A Randomized Clinical Trial. Indian Journal of Palliative Care, 23(4), 431–436. https://doi.org/10.4103/IJPC.IJPC_37_17.

8 – Klaumann, P. R., Wouk, A. F. P. F., Sillas, T. (2008). Patofisiologia da dor. Archives of Veterinary Science, 13(1), Article 1. https://doi.org/10.5380/avs.v13i1.11532.

9 – Kreling, M. C. G. D., Cruz, D. de A. L. M. da, Pimenta, C. A. de M. (2006). Prevalence of chronic pain in adult workers. Revista Brasileira de Enfermagem, 59, 509–513. https://doi.org/10.1590/S0034-71672006000400007.

10 – Lee, G., Park, J., Kim, M. S., Seol, G. H., Min, S. S. (2019). Analgesic effects of eucalyptus essential oil in mice. The Korean Journal of Pain, 32(2), 79–86. https://doi.org/10.3344/kjp.2019.32.2.79.

11 – Lin, P. H., Lin, Y. P., Chen, K. L., Yang, S. Y., Shih, Y. H., Wang, P. Y. (2021). Effect of aromatherapy on autonomic nervous system regulation with treadmill exercise-induced stress among adolescents. PloS One, 16(4), e0249795. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0249795.

12 – Lorenc, A., Feder, G., MacPherson, H., Little, P., Mercer, S. W., Sharp, D. (2018). Scoping review of systematic reviews of complementary medicine for musculoskeletal and mental health conditions. BMJ Open, 8(10), e020222. https://doi.org/10.1136/bmjopen-2017-020222.

13 – Lowe, D. T. (2017). Cupping therapy: An analysis of the effects of suction on skin and the possible influence on human health. Complementary Therapies in Clinical Practice, 29, 162–168. https://doi.org/10.1016/j.ctcp.2017.09.008.

14 – Malta, D. C., Oliveira, M. M. de, Andrade, S. S. C. de A., Caiaffa, W. T., Souza, M. de F. M. de, Bernal, R. T. I. (2017). Factors associated with chronic back pain in adults in Brazil. Revista de Saúde Pública, 51. https://doi.org/10.1590/S1518-8787.2017051000052.

15 – Pehlivan, S., Karadakovan, A. (2019). Effects of aromatherapy massage on pain, functional state, and quality of life in an elderly individual with knee osteoarthritis. Japan Journal of Nursing Science: JJNS, 16(4), 450–458. https://doi.org/10.1111/jjns.12254.

16 – Şahin, S., Tokgöz, B., Demir, G. (2021). Effect of Lavender Aromatherapy On Arteriovenous Fistula Puncture Pain and the Level of State and Trait Anxiety in Hemodialysis Patients: A Randomized Controlled Trial. Pain Management Nursing: Official Journal of the American Society of Pain Management Nurses. https://doi.org/10.1016/j.pmn.2021.01.009.

17 – Seyyed-Rasooli, A., Salehi, F., Mohammadpoorasl, A., Goljaryan, S., Seyyedi, Z., Thomson, B. (2016). Comparing the effects of aromatherapy massage and inhalation aromatherapy on anxiety and pain in burn patients: A single-blind randomized clinical trial. Burns: Journal of the International Society for Burn Injuries, 42(8), 1774–1780. https://doi.org/10.1016/j.burns.2016.06.014.

18 – Tang, N., Bai, H., Chen, X., Gong, J., Li, D., Sun, Z. (2020). Anticoagulant treatment is associated with decreased mortality in severe coronavirus disease 2019 patients with coagulopathy. Journal of Thrombosis and Haemostasis, 18(5), 1094–1099. https://doi.org/10.1111/jth.14817.