Hoje em dia, os riscos de que as pessoas sofram intoxicação são bastante elevados. Sendo assim, mesmo indivíduos que optam por uma orientação de vida biológica e natural podem acabar sendo contaminados.
Esse elevado nível de intoxicação é resultado do mundo industrial, que vem desenvolvendo novos produtos, no dia a dia, que são tóxicos ou pelo menos liberam algum tipo de toxina durante o processo de sua fabricação.
As toxinas, ao serem dispersas no ambiente, espalham-se no solo, ar e água, o que facilita o seu transporte por fatores climáticos. Mesmo que exista uma baixa proporção dessas toxinas no ambiente, a bioacumulação pode criar um nível tóxico no corpo humano, que somente depois de décadas virá a manifestar uma doença ou disfunção em um órgão.
O termo homotoxicologia foi criado para designar o estudo da influência de toxinas (homotoxinas) no organismo humano. Por meio dessa ciência, estuda-se não somente os tipos de toxinas, mas também os efeitos que elas provocam no corpo, como as doenças. Através da homotoxicologia, aborda-se também o estudo dinâmico de como as características dessas doenças afetam o organismo de uma mesma pessoa ao longo dos anos.
A aproximação homotoxicológica não significa analisar a intoxicação do paciente, mas sim determinar quais atitudes devem ser tomadas por causa da intoxicação, por meio da formulação de esquemas terapêuticos.
Tipos de homotoxinas
Define-se homotoxina como qualquer substância que direta ou indiretamente causa algum dano no organismo humano. Mas a própria substância em si não é o fator mais importante. O ponto crucial é o efeito que ela produz no organismo.
Na homotoxicologia, as homotoxinas são classificadas em exógenas e endógenas.
Homotoxinas exógenas são substâncias que a partir do ambiente penetram no corpo trazendo como resultado, de forma direta ou indireta, problemas nos tecidos, órgãos ou mecanismos de regulação.
Sendo assim, mesmo pessoas que mantêm um estilo de vida saudável não estão livres dos efeitos das homotoxinas exógenas, já que não é possível controlar a quantidade de sua ingestão, pois elas estão presentes no ar (pó), nas radiações, nos gases, etc. Evitar o contato não é o bastante para não ser intoxicado, visto que grande parte dessas toxinas pode penetrar no corpo sem que a pessoa esteja consciente disso.
Algumas delas são tóxicas mesmo em pequenas dosagens. Já outras, para provocarem intoxicação, exigem altas dosagens ou a continuidade de ingestão prolongada de doses pequenas. Certas toxinas exógenas tornam-se extremamente tóxicas com a combinação de outras substâncias.
Por outro lado, as homotoxinas endógenas são criadas pelo próprio organismo. Até mesmo substâncias que estão presentes no corpo a partir de circunstâncias normais podem tornar-se tóxicas se forem acumuladas. Sendo assim, devem ser vistas como homotoxinas e vão se tornar terapeuticamente importantes quando o corpo humano não puder eliminá-las durante o processo fisiológico normal.
Claramente, ambas as classes de homotoxinas podem criar intoxicação por meio de doses tóxicas agudas ou bioacumulação de doses menores repetidas.
Definição de doença
Na homotoxicologia, uma doença não é definida apenas como a presença de sintomas clínicos, da forma como costuma ser na medicina convencional.
Para a homotoxicologia, as doenças são “expressões de mecanismos de defesa biologicamente intencionais contra homotoxinas endógenas e exógenas ou expressões do esforço do organismo para compensar o dano tóxico que ele sustenta”.
Seis maneiras de lidar com uma toxina
O corpo humano lida com homotoxinas essencialmente de seis maneiras diferentes, de acordo com a Tabela de Evolução de Doenças ou a Tabela de Seis Fases da Homotoxicose, do Dr. Hans-Heirinch Reckweng, que classificou a homotoxicose (doenças) nessa estrutura dinâmica.
Com o tempo, uma doença pode envolver diferentes fases. Desde a excreção por meio da inflamação (anterior à fase de reação) até a fase de deposição. Posteriormente, ocorre uma evolução da impregnação através da degeneração, levando à fase de desdiferenciação (anterior à fase de neoplasia). Além disso, o corpo pode pular certas fases, ou seja, a progressão ou evolução da doença pode ocorrer sem que os sintomas de todas essas fases apareçam.
A evolução da doença induz condições crônicas. E, muitas vezes, um tratamento supressor é responsável por essa evolução. Quando uma condição aguda é tratada de forma supressora, as homotoxinas podem se condensar ou se ligar à matriz extracelular. Após algum tempo, as toxinas podem interferir nos processos de regulação interativa no nível da MEC, invadir a célula ou perturbar a função celular de fora e interferir na comunicação da célula à matriz e de célula a célula, levando a doenças celulares e até genotoxicidade (câncer).
“A inflamação é um evento fisiológico que tem uma íntima relação com o processo de regeneração tecidual”, segundo Robbins – Patologia Básica. A inflamação é fundamentalmente uma resposta de caráter protetor, cujo objetivo final é liberar o organismo da causa da lesão celular.
A inflamação (que tem sinais clínicos como calor, tumor, rubor, dor e perda da função – Figura 1) deve-se à capacidade dos seres humanos de sofrer lesões e curá-las. Pois, sem as inflamações, as infecções não seriam controladas e as feridas e os órgãos lesados teriam úlceras permanentes, já que não se curariam. Frente a essa afirmação, entende-se que qualquer ação que visa à interrupção desse processo pode reproduzir efeitos indesejáveis no organismo. Portanto, a inflamação deve ser modulada ou controlada, mas não inibida, pois a configuração da cascata inflamatória é necessária para a reparação da lesão no corpo, resultando em cura.
Deve-se ressaltar que os fármacos anti-inflamatórios limitam a resposta inflamatória normal do organismo, o que pode resultar no bloqueio de mecanismos depurativos presentes na inflamação, levando à cronicidade. Isso porque a inflamação é o principal mecanismo de desintoxicação do GRS (SBP – Sistema Básico de Pischinger).
Já os medicamentos anti-homotóxicos representam um método terapêutico que ativa a capacidade de autocura do corpo e favorece a eliminação das toxinas presentes no mesmo (homotoxinas), através das vias fisiológicas de eliminação. Esses medicamentos podem restabelecer as funções normais de órgãos alterados, acelerando assim a recuperação dos pacientes com afecções agudas, e proporcionar um alívio duradouro dos sintomas, inclusive nas enfermidades crônicas e recidivantes.
Nesse caso, o fármaco ideal é aquele que aumenta os efeitos saudáveis da inflamação controlando suas sequelas prejudiciais, à medida que incrementa a capacidade do corpo para aproveitar seus efeitos benéficos de reparação. Isso porque a inflamação está estreitamente ligada à destruição, isolamento e diluição do agente lesivo, sendo esse o fator básico para a reparação. Entretanto, a regeneração do tecido lesado ocorre a partir de células parenquimatosas embrionárias, como ilustrado no diagrama abaixo (Figura 2).
É importante também destacar que a inflamação e a reparação podem ser potencialmente prejudiciais, como por exemplo em artrite reumatoide, formas alérgicas, cicatrizes deformantes e bandas fibrosas que produzem obstrução intestinal ou limitam a atividade articular. Contudo, a evolução da inflamação ocorre por resolução completa, sendo a cura por cicatrização, formação de abscesso ou progressão da inflamação crônica. Mas quando um estímulo nocivo persiste e não é possível a reparação completa, é produzida a inflamação crônica (Figura 3).
Medicina biorreguladora
A medicina biorreguladora favorece uma resposta moduladora, controlando e diminuindo a inflamação com efeito analgésico (eliminando a dor), mas sem chegar a eliminá-la. Dessa maneira, utilizam-se os benefícios dessa inflamação latente para uma recuperação e regeneração, de forma completa, dos tecidos e estruturas lesadas.
Os medicamentos usados nesse tipo de medicina dispõem de ação biorreguladora, sendo úteis e eficazes para tratar a inflamação aguda e a inflamação crônica, respectivamente, como patologias degenerativas e artrose.
Concluindo, pode-se dizer que na homotoxicologia todos esses processos, síndromes e manifestações conhecidos como doenças são a expressão da luta do organismo contra as toxinas, com a intenção de neutralizá-las e excretá-las. O corpo vencerá ou perderá essa luta. Esses processos (doenças) são sempre biológicos, isto é, processos teleológicos naturais que servem para defender o organismo contra toxinas e promover desintoxicação.
Dra. Estella Maris Koutny – Médica com especialização em alergia e imunologia pela Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP, membro da diretoria da Associação Brasileira de Medicina Integrativa e Biorregulação – ABMIB e Vice-presidente da Regional do Grande ABC da Sociedade de Pediatria de São Paulo – SPSP.