A medicina integrativa tem como alguns de seus pressupostos fundamentais a interdisciplinaridade na aplicação das diversas práticas de saúde e o fato dos pacientes passarem a ocupar uma posição mais ativa em seus próprios processos terapêuticos, com poder de escolha e decisão.
Diante desse novo modelo de medicina, o processo de mediação pode ter um papel fundamental no esclarecimento das informações, na difusão do conhecimento e na acomodação das necessidades, interesses e desejos dos diversos agentes (pacientes, médicos e demais profissionais de saúde) envolvidos nas relações, de forma a obter os melhores resultados na promoção e manutenção da saúde integral.
Nesse sentido, pode-se definir mediação como o processo orientado e desenvolvido por profissional devidamente capacitado e habilitado a oferecer às partes envolvidas oportunidades e espaços adequados para o diálogo e a troca de conhecimentos e informações, de forma a que se possa alcançar soluções de consenso, de modo cooperativo e construtivo.
A mediação pode, portanto, ser um mecanismo auxiliar na nova forma de interação entre médico, paciente e demais profissionais da área de saúde holística e natural, que emerge dos conceitos e princípios básicos da medicina integrativa.
Abordagem integrada e multidisciplinar
O termo medicina integrativa surgiu no final da década de 1990, para definir uma abordagem terapêutica integrada do ser humano em sua essência corpo-mente, de forma a promover a saúde e tratar as doenças já presentes.
Diferentemente do modelo da medicina baseada em evidências, ora praticada na maior parte do mundo, a medicina integrativa utiliza as medicinas ancestrais que acompanham a humanidade desde sempre com sucesso, sendo um dos motivos da preservação da espécie humana.
Ou seja, ao contrário da medicina convencional, que é nova e surgiu por influência de grandes interesses econômicos e altos lucros (provenientes da indústria farmacêutica, com medicamentos de origem petroquímica e, portanto, patenteáveis), a medicina integrativa consiste em uma abordagem holística, utilizando-se de recursos como medicamentos naturais que não podem ser patenteados, além de enfocar a promoção da saúde e a qualidade de vida de modo interdisciplinar.
Em síntese: a medicina integrativa tem uma lógica contrária a da medicina baseada em evidências que “trata a doença”.
É certo que uma doença bem tratada pode sarar, mas se não houver a identificação de sua causa, seguramente o organismo continuará predisposto a recaídas ou a desenvolver novas patologias.
Todos os procedimentos abrangidos pela medicina integrativa só são possíveis de serem aplicados porque o médico responsável pelo atendimento do paciente acaba trabalhando multidisciplinarmente com profissionais especializados de diferentes segmentos, como nutricionistas, psicólogos, agentes de saúde, terapeutas, terapeutas ocupacionais e mediadores.
Nesse contexto, o mediador pode atuar como intermediário nas questões sociais e de comportamento, na comunicação e linguagem, nas atividades e/ou tratamento e nas práticas correlacionadas a outros profissionais de saúde, para que o tratamento integrativo do paciente possa ser efetivamente realizado.
Toda possibilidade de cura para determinado diagnóstico do paciente passa a ser considerada, desde que os profissionais da área consigam trabalhar de maneira conjunta, com o auxílio do mediador.
Uma forma ampla, diversificada e interativa de se fazer medicina
Com a mudança no perfil dos pacientes, que atualmente estão muito mais informados sobre as possibilidades proporcionadas por uma abordagem integrativa para o seu cuidado, e com o auxílio da mediação, é cada vez mais comum a busca por terapias complementares que oferecem alívio ao corpo, à mente e ao espírito.
Nesse sentido, a mediação toma corpo e adentra a sociedade dando segurança e qualidade nas ações interpessoais, dentro das instituições do segmento de medicina e saúde.
Segundo Gomes e Varela (2016), o processo de mediação se dá através da inter-relação de dispositivos técnicos, humanos, ambientais e semiológicos que permitem o compartilhamento e a construção do conhecimento com os profissionais de saúde.
Por isso, há autores que defendem que, ao se discutir a mediação das informações técnicas, não basta considerar apenas as estratégicas e técnicas de comunicação, mas é também importante levar em conta o perfil do paciente (e receptor das informações), seu contexto de vida e seus valores culturais, éticos e comportamentais, dentre outros.
Gomes e Varela afirmam, portanto, que “a mediação e as práticas médicas dar-se-ão através da inter-relação de dispositivos técnicos, humanos, ambientais e semiológicos que permitem o compartilhamento e a construção do conhecimento. Ao se discutir a mediação da informação, há de se considerar os vários mecanismos e estratégias de comunicação que visam atingir não apenas o receptor das informações, mas também desenvolver valores culturais, específicos, éticos e estéticos. A maneira como essa informação é oferecida e captada é de vital interesse para a socialização da informação médica”.
Ou seja, não basta atender o paciente sem ouvi-lo. A medicina integral tem outros princípios e a forma como a informação é oferecida e compartilhada é de vital interesse para a socialização entre médicos e pacientes.
Por fim, é possível afirmar que o mundo simbólico nasce da mediação da informação na área da medicina: possibilidades de interlocução entre os saberes científico, profissional e sociocultural, trazendo novas perspectivas e uma forma de fazer medicina de forma ampla, diversificada, interativa e integrativa, em que médico e paciente integram-se mutuamente em busca da saúde.
Como disse Thomas Edison, “o médico do futuro não dará remédios, mas encorajará os pacientes a se interessarem pelos cuidados com o corpo humano, pela alimentação e pela causa e prevenção da doença”.
Dra. Angela Soraia Anselmo da Silva – Bacharel em Direito, juíza arbitral, mediadora, conciliadora e negociadora, CEO na Câmara Arbitral Asas Mediações, Conciliações e Arbitragens, bacharel, mestre e doutoranda em Mediação, Conciliação e Arbitragem pela IESS – Curitiba, pedagoga, educadora, psicopedagoga, consteladora sistêmica empresarial, organizacional e familiar e especialista em comunicação não violenta.
Dr. Francesco Demetrio João Passa – Médico, clínico geral e psiquiatra.