Óleos essenciais: vias de ação, contra-indicações e efeitos adversos

Os óleos essenciais utilizados em aromaterapia atuam sobre o organismo humano por meio de três principais vias de ação: fisiológica, psicológica e energético-vibracional.

Fisiológica – os óleos essenciais são ricos em substâncias químicas que possuem ação antibiótica, anti-inflamatória, analgésica, antitumoral, etc.

Nesse aspecto, as substâncias químicas presentes nos óleos essenciais interagem com os sistemas fisiológicos, não apenas do ser humano, como também de animais, plantas e outros seres vivos.

Psicológica – as substâncias químicas dos óleos essenciais, ao serem inaladas, conseguem penetrar na barreira hematoencefálica, estrutura que tem como função impedir ou dificultar que determinadas substâncias, como compostos tóxicos, anticorpos, fatores de coagulação, etc., passem do sangue para o sistema nervoso central.

Por serem capazes de ultrapassar essa barreira, os óleos essenciais conseguem atingir diretamente o sistema límbico do cérebro, responsável pelas emoções, e assim equilibrá-las.

Nesse caso, a mudança psicológica é influenciada também pela memória olfativa que a pessoa carrega. Um exemplo interessante disso aconteceu durante um curso ministrado pelo autor deste artigo, quando ele mostrou o óleo essencial de rosas para um determinado grupo de alunas e uma delas se mostrou visivelmente incomodada com o cheiro. As demais alunas interrogaram: mas como é possível alguém não gostar do aroma de rosas? Pouco tempo depois, ela se lembrou de um episódio ocorrido em sua infância, em que seu irmão mais novo morreu quando ela o deixou cair do colo. O caixão do pequeno bebê estava repleto desse tipo de flores.

Energético-vibracional – pesquisas realizadas pelo Dr. Bruce Tainio, em 1992, demonstraram que os óleos essenciais possuem uma vibração intrínseca que corresponde à vibração original da planta de onde foi extraído quando ela estava viva.

Dessa forma, os óleos essenciais são capazes de interagir com o sistema energético humano, aumentando sua frequência e diminuindo a susceptibilidade a doenças.

Sistemas orgânicos e óleos essenciais

A seguir, é apresentada uma listagem dos sistemas orgânicos humanos, com indicação dos principais óleos essenciais que atuam sobre cada um deles.

Sistema cardiovascular: laranja e cipreste.

Sistema digestivo: hortelã-pimenta, gengibre, capim-limão e funcho.

Sistema límbico (emoções): gerânio, lavanda, rosa, bergamota e camomilas.

Sistema reprodutor e sistema endócrino: alecrim, hortelã-pimenta, sálvia esclareia, ylang ylang, tea tree, orégano, manjericão e canela.

Sistema imunológico e sistema linfático: orégano, tea tree, alecrim, cravo, olíbano, cipreste e sândalo.

Sistema muscular: bétula doce, wintergreen, hortelã-pimenta e pindaíba.

Sistema nervoso: hortelã-pimenta, manjericão, lavanda, limão, grapefruit e olíbano.

Sistema respiratório: eucalipto, hortelã-pimenta, abeto-de-douglas, abeto prata, espruce canadense, ravensara, niaouli, cajeput e breu branco.

Sistema esquelético: wintergreen, bétula doce, cipreste, junípero, cedro do Atlas, cedro do Himalaia e tea tree.

Sistema cutâneo: lavanda, gerânio, rosas, tea tree, copaíba, sucupira, espruce, vetiver, ylang ylang, mirra, néroli e limão.

Óleos essenciais: contraindicações e efeitos adversos

A toxicologia é a área de estudo que se preocupa em determinar os efeitos deletérios de substâncias externas (xenobióticas) em organismos vivos.

A toxicidade pode se manifestar local ou sistemicamente de diferentes maneiras. Ela envolve a disrupção reversível ou irreversível de processos metabólicos normais, o que pode resultar num risco à vida das células e à sua capacidade de regeneração.

De acordo com Paracelso (1493-1531), todas as substâncias são potencialmente tóxicas, sendo que sua toxicidade está relacionada à dosagem administrada.

No entanto, cientistas atuais classificam a toxicocinética e a toxicodinâmica em relação aos seguintes fatores: dose e concentração aplicada, rota de administração, modo de administração, bioavaliabilidade e mecanismo de toxicidade.

No caso da aromaterapia, a quantidade de efeitos adversos decorrentes da administração de óleos essenciais em seres humanos depende dos seguintes fatores: toxicidade inerente ao óleo essencial, número de pessoas expostas a ele e grau de exposição (concentração do óleo essencial e tempo de exposição).

O método mais aceito para determinação da toxicidade letal de uma substância é o DL50, que corresponde à dosagem necessária para matar 50% dos animais testados.

Esse número é calculado de acordo com o peso corporal, sendo expresso em miligrama por quilo corporal (mg/kg). Para se ter uma ideia, o LD50 da aspirina é de 200 mg/kg, o que significa que apenas 24 comprimidos de 500 mg seriam suficientes para matar um adulto.

Em contrapartida, o LD50 do óleo essencial de tea tree é de 1.900 mg/kg, para uma pessoa de 60 kg, o que equivale a ingerir 115 ml de óleo essencial, o que ninguém faz em sã consciência.

Ainda assim, envenenamento por ingestão acidental de grande quantidade de óleo essencial é o efeito adverso mais frequente, seguido de alergias na pele. As alergias na pele são aparentemente mais frequentes, mas apenas a Suécia possui um bom sistema de feedback sobre isso.

Virtualmente, todos os casos de envenenamento com óleos essenciais são decorrentes da ingestão acidental de quantidades muito maiores do que as usadas terapeuticamente.

Reações adversas: primeiros socorros

Os tópicos a seguir descrevem as diretrizes de primeiros socorros a serem adotadas em casos de surgimento de reações adversas após a exposição a óleos essenciais por diferentes rotas.

Ingestão – não se deve induzir o vômito, pois substâncias químicas dermocáusticas podem danificar as mucosas, havendo também o risco da passagem do óleo essencial para os pulmões durante o vômito.

Se a pessoa estiver consciente e não convulsionando, deve-se enxaguar sua boca com água em abundância e ligar imediatamente para o centro de toxicologia mais próximo. Para verificar qual o centro mais próximo, pode-se ligar para a Sociedade Brasileira de Toxicologia (11) 3031-1857.

Se a pessoa estiver convulsionando e inconsciente não se deve dar nada a ela pela boca. É preciso assegurar-se de que ela está respirando e levá-la imediatamente para um hospital.

Inalação – é preciso levar a pessoa para tomar ar fresco e respirar profundamente. Se ela não estiver conseguindo respirar, deve-se fazer respiração boca a boca.

Contato com os olhos – deve-se lavar os olhos com água corrente por pelo menos 15 minutos. Se a pessoa estiver usando lentes de contato, é preciso lavar os olhos com a lente durante os primeiros cinco minutos, retirando-a a seguir e prosseguindo com a lavagem dos olhos com água corrente.

É preciso evitar que a pessoa fique com os olhos fechados, ajudando a abri-los com os dedos. Se a irritação persistir, deve-se procurar um oftalmologista.

Contato com a pele – deve-se retirar qualquer roupa contaminada, lavando-se a pele gentilmente com água e sabão por pelo menos 10 minutos. A seguir, é preciso expor a pele ao ar ou a um ventilador, mas não ao sol diretamente, para acelerar a evaporação do óleo essencial. Aplica-se então um pouco de óleo vegetal em um pano de algodão e com ele remove-se o óleo essencial remanescente na pele.

Se a inflamação persistir, o uso de anti-histamínicos pode ser aconselhável. Nesse caso, deve-se procurar orientação médica.

Diretrizes de segurança

Nos tópicos a seguir, são apresentadas algumas diretrizes de segurança para uso de óleos essenciais em diferentes contextos.

Uso em crianças – a grande maioria dos acidentes envolvem crianças de um a três anos de idade, sendo que as estatísticas mostram que aproximadamente 75% dos casos de envenenamento ocorridos nos Estados Unidos referem-se a crianças abaixo de seis anos. Por isso, é preciso ficar alerta e deixar sempre os frascos contendo óleos essenciais em lugares altos e inacessíveis a crianças.

Além disso, atenção extra precisa ser dada à aplicação de óleos essenciais em crianças abaixo de dois anos. Óleos essenciais ricos em 1,8 cineol ou mentol podem causar incômodos respiratórios em crianças e não devem ser aplicados diretamente próximos ao seu rosto.

Os óleos essenciais de bétula doce e wintergreen não devem nunca ser administrados a crianças abaixo de dois anos, pelo risco de desenvolvimento da síndrome de Reye em decorrência da presença de salicilato de metila.

Uso de óleos essenciais em crianças
Tabela de dosagens para utilização de óleos essenciais na pele de crianças. Fonte: Tisserand, página 47.

Uso durante a gravidez – o aromaterapeuta precisa zelar pela qualidade do óleo essencial a ser utilizado em mulheres grávidas, selecionando apenas aqueles que são 100% naturais, puros e completos e solicitando que a empresa fornecedora apresente as análises de pureza (cromatografias).

Alguns óleos essenciais são contra-indicados para uso durante a gestação devido à presença de certas moléculas, principalmente aqueles ricos em moléculas do grupo fenol, como os de orégano (Origanum vulgare) e tomilho quimiotipo timol (Thymus vulgaris).

Os ricos em cetonas também são contra-indicados, como é o caso da tuia-maçã (Thuja occidentalis) e da sálvia dalmaciana (Salvia officinalis), ricas em tuiona, por serem moléculas neurotóxicas e potencialmente abortivas.

Em razão de sua natureza química, as moléculas presentes nos óleos essenciais atravessam a barreira placentária e podem atingir o feto. A quantidade de moléculas que consegue atravessar a pele da mãe (via dérmica) e ainda chegar na placenta é pequena, se o OE for diluído corretamente. Essas moléculas em baixas concentrações podem ser extremamente benéficas, não havendo relação documentada entre utilização de óleo essencial na gravidez e danos ao feto.

A recomendação de diluição é de 1% ou menos para todas as aplicações dérmicas (massagem ou compressa). No banho, não devem ser utilizadas mais do que cinco gotas.

Mulheres grávidas têm uma maior ativação do hormônio melanina, o que faz com que sua pele queime mais facilmente no sol forte. Sendo assim, não é permitido o uso de óleos essenciais cítricos extraídos por prensagem, devido à presença das furanocumarinas.

Durante a gravidez, a gestante pode apresentar alergia a determinadas substâncias que ela não apresentava antes. Por isso, é sempre prudente testar os óleos essenciais a serem utilizados na pele fina da parte anterior do braço. Observa-se então, durante dez minutos, se há reação alérgica e só depois o OE pode ser aplicado em uma massagem completa.

Menos de 1% da dose utilizada pela mãe passa para o leite materno, o que sugere que não há nenhum efeito adverso, exceto se o OE for ingerido em grandes quantidades.

Uso em casos de endometriose e câncer – é sugerido que óleos essenciais ricos na substância chamada de trans-anetol, por causa de sua possível ação estrogênica, devem ser evitados para pessoas com endometriose ou câncer com envolvimento do estrógeno (câncer de útero e alguns casos de câncer de mama).

Os principais óleos essenciais a serem evitados nessas situações são os de anis estrelado, funcho-doce e erva-doce.

Uso em casos de hipertensão (pressão alta) e hipotensão (pressão baixa) – os óleos essenciais que devem ser evitados em situações de hipertensão são os de alecrim da horta quimiotipo cânfora e lavanda dentata.

Já, em casos de hipotensão, deve evitar a utilização dos OEs de lavanda francesa, ylang ylang, sálvia esclareia, rosas e jasmim.

Entretanto, não existem evidências conclusivas que demonstrem que esses óleos essenciais pioram esses desequilíbrios a longo prazo.

Uso em peles com alergia – peles com alergia ou doentes têm uma sensibilidade maior e por isso, nessas situações, os óleos essenciais devem ser utilizados em concentrações menores do que as usuais. Em caso de dúvida, recomenda-se utilizar no máximo 2% de concentração de óleos essenciais.

Uso em casos de doenças renais – deve-se evitar a utilização dos óleos essenciais de wintergreen, bétula doce, junípero sabina e sassafrás.

Uso em casos de albinismo – deve-se evitar a aplicação de óleos essenciais fotossensibilizadores, que contêm furanocumarinas. Exemplos: laranja, limão, bergamota, angélica (raízes) e arruda.

Uso em casos de epilepsia – alguns óleos essenciais usados oralmente podem causar convulsões em pacientes vulneráveis. Pacientes epilépticos sob uso de medicação supressora não são mais vulneráveis do que pacientes não epilépticos. Já, epilépticos sem uso de medicação estão no grupo de maior risco, assim como pessoas que não sabem que têm a doença ou crianças e adolescentes.

Uso em casos de distúrbios do fígado – devem ser evitados os óleos essenciais ricos em tuiona, timol e carvacrol.

Uso em casos de asma – é contra-indicada a inalação direta por pessoas asmáticas ou por qualquer pessoa que relata sentir falta de ar ao inalar perfumes e fragrâncias. Deve-se usar no máximo 1% de concentração para esses indivíduos.

Uso em conjunto com diuréticos – por causa de sua ação antidiurética, o óleo essencial de anis estrelado pode interagir com medicamentos diuréticos, se for usado internamente.

Aplicação nos ouvidos – óleos essenciais não devem ser utilizados puros nos ouvidos, mas sim com a ajuda de um algodão para uma inserção parcial.

Dirigir ou operar equipamentos após massagem – é contra-indicado dirigir e/ou operar equipamentos pesados imediatamente após receber uma massagem com determinados óleos essenciais, como lavanda ou sálvia esclareia.

Algumas pessoas podem sentir-se significativamente alteradas ou desorientadas após a massagem. Na maior parte dos casos, esse efeito é passageiro.


André Ferraz – Psicólogo, aromaterapeuta e professor e diretor da Viver de Aromas.