Oncologia integrativa é um ramo da medicina integrativa que usa práticas alternativas e complementares baseadas em evidências de forma integrada com a medicina convencional, a partir da aplicação de cinco categorias de medicinas alternativas e complementares, no acompanhamento dos tratamentos convencionais como quimioterapia, cirurgia, radioterapia e terapia molecular.
As cinco categorias de práticas alternativas e complementares usadas em oncologia integrativas são as seguintes:
Práticas baseadas na biologia: vitaminas, remédios à base de ervas e outros suplementos dietéticos.
Técnicas mente-corpo: yoga, meditação, visualização, artes expressivas (arteterapia, musicoterapia, dança).
Práticas de manipulação corporal: reflexologia, massagem, exercícios.
Terapias energéticas: reiki, toque terapêutico, qigong.
Sistemas médicos tradicionais: medicina tradicional chinesa e medicina ayurvédica.
Implantação em centros de pesquisa e hospitais
Em 1998, foi criado o Office of Cancer Complementary and Alternative Medicine (OCCAM), para coordenar as atividades do National Cancer Institute (NCI) na área das medicinas alternativas e complementares.
O termo integrative oncology foi usado pela primeira vez pelo Dr. Robert Wittes, diretor da unidade de tratamento e diagnóstico do câncer, do NCI, em 2000.
Pouco tempo depois, em 2003, foi fundada a Society for Integrative Oncology (SIO), reunindo um grupo de profissionais, pesquisadores e docentes dessa modalidade, e lançado o periódico indexado Journal of the Society for Integrative Oncology.
E a partir de 2004 começaram a ser publicados estudos no banco de dados PubMed-MEDLINE, usando o termo integrative oncology.
Fatores como o rápido envelhecimento da população norte-americana e a expansão da indústria do bem-estar impulsionaram uma demanda pelas medicinas alternativas e complementares e, em 2009, sete centros de pesquisa oncológicos ofereciam um programa integrativo, entre eles, o MD Anderson Cancer Center, Dana Farber Cancer Institute, Johns Hopkins University, Memorial Sloan-Kettering Cancer Center, University of California – San Francisco (UCSF), University of California – Los Angeles (UCLA) e a Mayo Clinic. Atualmente, 36 serviços de saúde e clínicas nos Estados Unidos atuam com base na oncologia integrativa, oferecendo algum tipo ou um conjunto de terapias integrativas.
Recentemente, cinco hospitais que são referências para o tratamento do câncer no Brasil abriram também uma ala de medicina integrativa dentro da oncologia. São eles: Albert Einstein, Oswaldo Cruz, Sírio Libanês, Instituto Nacional de Câncer (INCA) e Instituto de Tratamento do Câncer Infantil (ITACI) da Universidade de São Paulo (USP).
Indicações complementares ao tratamento
A oncologia avançou no mundo melhorando a sobrevida dos pacientes, ou seja, conseguindo com que sobrevivam à doença, não apenas com a quimioterapia mas também transplante e outras técnicas. O que não melhorou foi a qualidade de vida durante o tratamento e as sequelas. O paciente com câncer sofre muito com o tratamento alopático. É nessa lacuna que as práticas integrativas e complementares em saúde (PICs) podem contribuir.
Meditação, yoga, musicoterapia, terapias externas (aplicação de óleo, compressas para dor), antroposofia, fitoterápicos, como Viscum album, que é usado por 27% dos pacientes com câncer na Alemanha, são as práticas integrativas mais indicadas. Sabe-se que o Viscum, medicamento natural, aumenta a tolerância do corpo ao quimioterápico, evitando que haja uma queda comum de leucócitos no nono dia da quimioterapia. Dessa forma, o paciente consegue terminar o ciclo sem falha. Além disso, esse fitoterápico é usado para reduzir tumores.
Os principais motivos que estimulam o paciente e/ou familiares a procurarem a medicina integrativa são os listados a seguir.
Auxílio no tratamento dos efeitos colaterais aos tratamentos de câncer, como náuseas, dores e fadiga. Exemplo: utilização de eletroacupuntura para diminuir as náuseas no período de pós-quimioterapia.
Obtenção de conforto e alívio das aflições decorrentes do tratamento e consequente estresse. Exemplo: prática de atividade com foco na respiração, levando à diminuição da ansiedade antes de realizar um exame de controle.
Sensação de estar fazendo “algo mais” por si mesmo. Exemplo: importância da alimentação na sensação de melhora da fadiga durante o tratamento.
Tentativa de conseguir o melhor para o tratamento e a cura do câncer. Exemplo: capacidade inata de autorrecuperação e cura. As práticas e orientações complementares ao tratamento serão determinantes na promoção dessa capacidade.
Muitos pacientes relatam que buscam na medicina integrativa formas de reduzir os efeitos colaterais da medicação usada durante o tratamento, aumentar a sensação de bem-estar e a qualidade de vida e minimizar sentimentos negativos, como medo, estresse, depressão e ansiedade. Dessa maneira, a junção da medicina integrativa com a medicina convencional contribui para melhorar a qualidade de vida e aumentar a sensação de bem-estar desses pacientes.
Segurança, eficácia e impactos sobre a vida geral dos pacientes
Com relação aos protocolos de aplicação das terapias complementares no campo da oncologia, a discussão sobre a segurança e a eficácia dessas terapias gira em torno do quadro conceitual elaborado em 2002, no qual constam quatro opções a serem consideradas pelos profissionais de saúde: terapias cuja evidência respalda tanto a segurança quanto a eficácia, terapias cuja evidência respalda a segurança, mas cuja eficácia é inconclusiva, terapias cuja evidência respalda a eficácia, mas cuja segurança é inconclusiva e terapias cuja evidência indica risco sério ou ineficácia.
Na escolha da aplicação das terapias complementares, as três primeiras opções são toleradas, encorajadas e monitoradas pelas equipes multiprofissionais de saúde, enquanto a última é descartada.
As práticas complementares usadas no caso de câncer não podem se limitar apenas a questões de eficácia e segurança, mas devem incluir seu impacto sobre o sofrimento, o pensar, sentir, criar e querer do paciente.
A medicina convencional diversas vezes usa métodos muito invasivos nos tratamentos oncológicos, o que contradiz os quatro princípios gerais da ética biomédica: beneficência (obrigação de buscar o bem-estar do paciente), não maleficência (evitar danos), respeito pela autonomia e justiça, e os contrasta com a ampliação proposta no relatório de 2005 sobre medicina alternativa e complementar do Institute of Medicine (IOM). Nesse relatório, a beneficência passa a incluir o acesso à melhor informação sobre a eficácia das terapias complementares, a não maleficência inclui a proteção e também o respeito pelos saberes culturais divergentes, criando um ambiente emocionalmente seguro para a discussão das terapias complementares e o respeito pela autonomia inclui a opção do consumidor. E foram ainda incluídos dois outros princípios: o reconhecimento do pluralismo na saúde, que admite diversas interpretações sobre a saúde e a cura e, finalmente, a responsabilização pública.
No Brasil, a oncologia integrativa poderia ser introduzida como uma extensão das Políticas Nacionais de Práticas Integrativas e Complementares e de Plantas Medicinais e Fitoterápicos, que dão legitimidade à aplicação das práticas. Ambas as políticas devem ser entendidas como continuidade do processo de implantação do SUS (Sistema Único de Saúde) que favorece a integralidade da atenção à saúde.
Porém, as práticas integrativas e complementares (PICs) têm ocorrido na rede pública estadual e municipal de forma desigual e descontinuada, sem o devido registro e fornecimento adequado de insumos ou ações de acompanhamento e avaliação.
Outra aplicação para a oncologia integrativa é no Programa Nacional de Assistência à Dor e Cuidados Paliativos (Portaria GM/MS nº 19, de 3 de janeiro de 2002), cujos objetivos são, entre outros, articular iniciativas governamentais e não governamentais voltadas para a atenção/assistência aos pacientes com dor e que requeiram cuidados paliativos.
Fabian Friedrich – Farmacêutico-bioquímico, especialista, mestre, doutor e pesquisador em Biologia Molecular, Prefeitura Municipal em Blumenau/SC.
Mari Uyeda – Mestre em Ciências da Saúde, nutricionista e professora do Departamento de Ciências da Saúde da Pós-graduação da Universidade Nove de Julho.