Plataforma vibratória: dispositivo para gerar exercício a ser usado em intervenção clínica

A atividade física é fundamental para que uma pessoa viva com qualidade de vida está relacionada com uma série de consequências desejáveis para a saúde física, mental e emocional.

Considerando a saúde física, a atividade física regular é essencial para prevenir e ajudar no controle de doenças não transmissíveis, como doenças cardíacas, hipertensão, diabetes do tipo 2 e alguns tipos de cânceres. É importante salientar que essas doenças são responsáveis por quase três quartos das mortes em todo o mundo.

Além disso, a atividade física também é benéfica para a saúde mental e emocional, podendo reduzir os sintomas de depressão e ansiedade e melhorar o pensamento, a aprendizagem, a qualidade do sono e o bem-estar geral.

A prática de atividade física contribui também para que a pessoa atinja e mantenha sua massa corporal dentro dos padrões aceitáveis para favorecer a saúde do corpo(1,2).

Em 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou as “Diretrizes da OMS para atividade física e comportamento sedentário”, mostrando e indicando a relevância que a atividade física tem para pessoas de 5 a 65 anos, isto é, desde crianças até idosos.

É salientado que as pessoas em condições médicas crônicas e/ou com deficiências, assim como mulheres grávidas e no pós-parto, devem tentar seguir essas recomendações da OMS sempre que possível e se forem capazes de praticar a atividade física sem comprometer a saúde.

Nesse documento são sugeridos diversos tipos de exercícios, desde leve a vigorosa intensidade. Também são estimuladas ações simples, como subir e descer uma escada ao invés de usar um elevador. É indicado ainda que as pessoas reduzam o tempo de tela, isto é, diminuam o tempo em que ficam sentadas ou mesmo deitadas para assistir televisão ou até acessando o celular ou outro dispositivo com tela, como o computador(1,3).

Um problema que surge para a realização de atividade física é, em muitos casos, a falta de motivação para a prática de exercícios, como nas pessoas com obesidade que se cansam mais facilmente ou por pessoas idosas com o medo de cair.

Além disso, as pessoas com limitações físicas, em muitas situações, não conseguem fazer o deslocamento necessário para a execução do exercício devido às sequelas de uma determinada doença, como por exemplo aquelas que tiveram acidente vascular cerebral ou paralisia cerebral. Mais ainda, as pessoas com doença pulmonar obstrutiva crônica podem ter receio de exacerbação da dispneia e as com osteoartrite de joelho sentem dor, têm limitações articulares e têm instabilidade postural(4).

Modalidade alternativa de ação para ter os benefícios da prática de atividade física: exercício de vibração de corpo inteiro

Considerando todas as condições que desestimulam, limitam ou impedem a realização de atividades físicas por diversos grupo de pessoas, por motivos diversos, existe a necessidade da oferta de modalidades alternativas de exercícios.

Assim, nesse contexto, o exercício de vibração de corpo inteiro (EVCI), ao longo dos anos, vem tendo cada vez mais aceitação para o manejo de indivíduos com diferentes comprometimentos clínicos e de diferentes idades, treinados e não treinados.

O EVCI é gerado em um indivíduo quando a vibração mecânica produzida em uma plataforma vibratória é transmitida para a pessoa que está em contato com a base da referida plataforma na terapia vibratória sistêmica (TVS).

É pertinente lembrar que a vibração mecânica é um agente físico caracterizado por parâmetros biomecânicos, como frequência, deslocamento pico-a-pico e intensidade, sendo que o deslocamento pico-a-pico é o dobro da amplitude e não deve ser confundido na elaboração de um protocolo de EVCI.

A frequência da vibração mecânica é expressa em Hertz (Hz), correspondendo ao número de ciclos por segundo. O deslocamento pico-a-pico, que é a distância perpendicular entre o pico máximo e o pico mínimo, é expresso em milímetros (mm). A intensidade da vibração mecânica, caracterizada pela aceleração de pico, depende da frequência e do deslocamento pico-a-pico e é expressa em múltiplos da aceleração da gravidade.

É importante ressaltar que o EVCI também pode ser realizado por pessoas saudáveis, treinadas ou não, que podem ser beneficiadas com essa modalidade de exercício para treinamento.

A escolha da frequência e do deslocamento pico-a-pico irá depender do objetivo clínico a ser atingido(5,6).

A terapia vibratória sistêmica e seus efeitos

 A terapia vibratória sistêmica pode promover uma série de efeitos desejáveis para a saúde do indivíduo, de maneira análoga a outros tipos de exercícios.

Várias publicações sobre o tema estão disponíveis nos diversos bancos de dados da literatura científica. Para que este artigo não fique muito extenso, o leitor está convidado a usar o termo em inglês “whole-body vibration”, tradução de “vibração de corpo inteiro” em qualquer banco de dados para acessar publicações, não somente relacionadas aos efeitos, mas também aos complexos mecanismos de associação relacionados à terapia vibratória sistêmica(6-11).

Vários tipos de plataforma vibratória, de diferentes fabricantes, têm sido disponibilizados comercialmente para intervenções de tratamento e/ou de treinamento.

Mas, de modo geral, podem ser observados dois tipos principais considerando-se o deslocamento da base. Isso é de elevada importância na definição de um protocolo de EVCI e não pode ser negligenciado, pois o posicionamento da pessoa na base da plataforma vibratória é um dos parâmetros a ser definido, como será visto mais adiante.

Mas nesse momento é necessário alertar que, antes do indivíduo ser exposto à vibração mecânica na terapia vibratória sistêmica, uma anamnese deverá ser realizada, para que sejam evitadas consequências que podem ser desastrosas clinicamente para o indivíduo(5).

Um dos tipos de plataforma vibratória é o de deslocamento alternado da base da referida plataforma, no qual enquanto um lado sobe, o outro desce, como se fosse uma gangorra. Nesse tipo, cada local de posicionamento do pé na base irá corresponder a um deslocamento pico-a-pico e, por conseguinte, a intensidades diferentes.

No outro tipo de plataforma vibratória, a base sobe e desce verticalmente. Esse movimento da base pode ser sincrônico como característica da referida plataforma ou pode ser devido à força resultante de deslocamentos da base em três planos: ântero-posterior, látero-lateral e de cima para baixo. Nesse caso, independentemente da posição do pé, a vibração mecânica terá sempre o mesmo deslocamento pico-a-pico(5,6).

Posicionamentos da pessoa na base da plataforma vibratória

Além dos parâmetros biomecânicos da vibração mecânica e do tipo de plataforma vibratória, outros pontos precisam ser considerados.

Um deles já foi salientado, que é a posição da pessoa na base da plataforma e que depende do tipo da plataforma. Porém, apesar de ser algo simples, é muito importante, caso o indivíduo esteja em pé, que o mesmo mantenha-se com os joelhos flexionados, em semiagachamento, como mostrado na Figura 1.

Se essa determinação não for respeitada, a vibração mecânica será transmitida intensamente até a cabeça e, em consequência, a cabeça irá vibrar muito. Isso pode ter como consequência o aparecimento de efeitos adversos, como enjoo, dor de cabeça e vômito, o que irá desestimular a continuidade com a intervenção, seja para finalidade de tratamento ou treinamento.

Adicionalmente, o indivíduo em pé pode ser orientado em permanecer nessa posição estática ou, com a continuidade da terapia vibratória sistêmica, pode ser solicitado, de uma forma dinâmica, que ele se movimente aumentado e diminuindo o agachamento, mas sempre respeitando o limite de não realizar a extensão do joelho para não balançar demasiadamente a cabeça(5,6).

Plataforma vibratória para idosos e portadores de deficiência
Fig. 1 – Pessoa em pé na base da plataforma vibratória, com os joelhos flexionados. Fonte: arquivo dos autores.

Além da opção de ficar em pé na base da plataforma vibratória, para as pessoas que não podem adotar essa postura, como nos casos de obesidade, de sequelas de acidente vascular cerebral ou de idosos, existe a possibilidade da posição mostrada na Figura 2.

Como pode ser visto, a pessoa está sentada em uma cadeira auxiliar, que pode ser inclusive uma cadeira de rodas, posicionada à frente da plataforma vibratória, com os pés apoiados na base da referida plataforma(5).

Fig. 2 – Pessoa sentada em cadeira auxiliar, com os pés apoiados na base da plataforma vibratória. Fonte: arquivo dos autores.

Além do que já foi descrito anteriormente, outros parâmetros devem ser definidos na elaboração de um protocolo de terapia vibratória sistêmica e que estão relacionados com o objetivo clínico a ser alcançado para cada paciente.

Todos esses parâmetros devem seguir as orientações do “Reporting Guidelines for Whole-Body Vibration Studies in Humans, Animals and Cell Cultures: a Consensus Statement from an International Group of Experts”(5).

Outros parâmetros a serem considerados em um protocolo de terapia vibratória sistêmica

Na definição do protocolo de terapia vibratória sistêmica, a pessoa que será exposta à vibração mecânica deverá estar descalça, pois o calçado, independentemente de qual seja o seu material, irá contribuir para atenuar a quantidade de vibração mecânica gerada na plataforma vibratória a que o indivíduo estaria submetido. Porém, isso ficaria a critério do profissional que está aplicando a técnica, pois alguns pacientes podem precisar usar meias.

Na terapia vibratória sistêmica, em uma sessão, o indivíduo não deve ficar exposto à vibração mecânica (tempo de trabalho) por períodos demasiadamente longos, sendo que as condições clínicas e a idade devem ser consideradas. Esse tempo pode variar de alguns segundos até poucos minutos. O período total da sessão pode até ser longo, de 20 a 30 minutos, mas sempre intercalando-se entre os tempos de trabalho, tempos de repousos.

A periodicidade semanal das sessões deve ser ajustada, considerando o objetivo clínico da intervenção, os fatores econômicos e a distância entre o local de atendimento e o local da intervenção. Como atividade física, o EVCI poderia, de modo geral, até ser feito diariamente, mas os fatores citados inviabilizam a intervenção com maior periodicidade semanal. O número de sessões, assim como o número de semanas da TVS, vai depender do objetivo clínico a ser alcançado.

Os efeitos da terapia vibratória sistêmica podem ser percebidos e quantificados imediatamente (efeitos imediatos) ou levarem alguns meses para serem quantificados (efeitos cumulativos).

É importante salientar que existem efeitos da TVS que são alcançados rapidamente, como por exemplo a diminuição do nível de dor e o aumento da flexão articular, como a flexão anterior do tronco. Já efeitos na melhora da densidade mineral óssea e da qualidade de vida são alcançados em tempos mais longos(6-11).

Como efeitos adversos da TVS têm sido descritos, é necessário que a anamnese seja realizada com critério, verificando se a pessoa é hipertensa, se foi submetida a alguma cirurgia recente, se tem marca-passo, se é portadora de diabetes e se tem lesão de pele.

Apesar de não existir ocorrência de efeito adverso em grávidas, deve-se evitar expor essas mulheres à vibração mecânica(5).

Conclusão

Embora a terapia vibratória sistêmica possa trazer relevantes benefícios para diferentes populações devido à sua aparente simplicidade e efetividade, é necessária cautela no uso dessa intervenção.


Mario Bernardo-Filho – Professor Titular aposentado e pesquisador da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, gestor do Instituto Saúde.com Ltda, biomédico, fisioterapeuta e acupunturista.

Rejane Mattos Bernardo – Coordenadora científica do Instituto Saúde.com Ltda e psicóloga.

 

Referências bibliográficas

1 – https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/337001/9789240014886-por.pdf. Acesso em 20 de junho de 2024.

2 – Strain T, Flaxman S, Guthold R, Semenova E, Cowan M, Riley LM, Bull FC, Stevens GA, Country Data Author Group. National, regional, and global trends in insufficient physical activity among adults from 2000 to 2022: a pooled analysis of 507 population-based surveys with 5·7 million participants. Lancet Glob Health. 2024 Jun 25:S2214-109X(24)00150-5. Doi: 10.1016/S2214-109X(24)00150-5.

3 – Ord AS, Eldridge AH, Netz DR, Kuschel SG, Holland J, Long T, Dumas C, Glover C, Schools M, Stephens R, Magnante AT, Sautter SW. Physical Activity and Neuropsychological Functioning in Older Adults. Gerontol Geriatr Med. 2024 Jun 20;10:23337214241262924. Doi: 10.1177/23337214241262924.

4 – Kanavaki AM, Rushton A, Efstathiou N, Alrushud A, Klocke R, Abhishek A, Duda JL. Barriers and facilitators of physical activity in knee and hip osteoarthritis: a systematic review of qualitative evidence. BMJ Open. 2017 Dec 26;7(12):e017042. Doi: 10.1136/bmjopen-2017-017042.

5 – van Heuvelen MJG, Rittweger J, Judex S, Sañudo B, Seixas A, Fuermaier ABM, Tucha O, Nyakas C, Marín PJ, Taiar R, Stark C, Schoenau E, Sá-Caputo DDC, Bernardo-Filho M, van der Zee EA. Reporting Guidelines for Whole-Body Vibration Studies in Humans, Animals and Cell Cultures: A Consensus Statement from an International Group of Experts. Biology (Basel). 2021 Sep 27;10(10):965. Doi: 10.3390/biology10100965.

6 – Rittweger J. Vibration as an exercise modality: how it may work, and what its potential might be. Eur J Appl Physiol. 2010 Mar;108(5):877-904. Doi: 10.1007/s00421-009-1303-3.

7 – Sá-Caputo DC, Taiar R, Boyer FC, Rapin A, Bernardo-Filho M. Editorial: The physiological effects of vibration therapy in health and disease. Front Physiol. 2024 Feb 27;15:1381145. Doi: 10.3389/fphys.2024.1381145.

8 – Reis-Silva A, Coelho-Oliveira AC, Moura-Fernandes MC, Bruno Bessa MO, Batouli-Santos D, Bernardo-Filho M, de Sá-Caputo DDC. Evidence of whole-body vibration exercises on body composition changes in older individuals: a systematic review and meta-analysis. Front Physiol. 2023 Nov 2;14:1202613. Doi: 10.3389/fphys.2023.1202613.

9 – Gonçalves de Oliveira R, Coutinho HMEL, Martins MNM, Bernardo-Filho M, de Sá-Caputo DDC, Campos de Oliveira L, Taiar R. Impacts of Whole-Body Vibration on Muscle Strength, Power, and Endurance in Older Adults: A Systematic Review and Meta-Analysis. J Clin Med. 2023 Jul 3;12(13):4467. Doi: 10.3390/jcm12134467.

10 – Guedes-Aguiar EO, Taiar R, Paineiras-Domingos LL, Monteiro-Oliveira BB, da Cunha de Sá-Caputo D, Bernardo-Filho M. Effects of a Single Session of Systemic Vibratory Therapy on Flexibility, Perception of Exertion and Handgrip Strength in Chronic Obstructive Pulmonary Disease Individuals: A Quasi-Experimental Clinical Trial. J Clin Med. 2023 May 1;12(9):3241. Doi: 10.3390/jcm12093241.