A síndrome do ovário policístico (SOP) é uma doença endócrina complexa, que acomete em torno de 6% a 10% da população feminina em idade fértil.
Na abordagem do problema por meio das práticas integrativas, busca-se avaliar o quadro da paciente de forma integral, o que exige uma observação completa sobre os aspectos físicos, emocionais e mentais da mulher.
A mulher, o universo feminino e seus hormônios
O organismo feminino é regido por um sistema único de comunicação hormonal sem igual na natureza. Seus ciclos e seus instantes fazem dela uma máquina com engrenagens que devem estar sempre em compasso. Quando uma dessas engrenagens falha ou não se movimenta no momento correto, afeta todo o sistema, de forma orgânica, seja em aspectos físicos, emocionais ou mentais.
As alterações hormonais afetam não só órgãos físicos, mas também diretamente os acionamentos neurológicos, principalmente no que diz respeito à neurotransmissão. Por isso é comum o relato, até mesmo na antiguidade, da relação entre menstruação e humor.
Recentes descobertas sobre a plasticidade do cérebro verificaram que o que fazemos (pensamentos e ações) pode estimular diferentes hormônios do corpo, criando comandos específicos para acionar o sistema como um todo.
O ciclo menstrual
A duração do ciclo menstrual varia muito de mulher para mulher, podendo ser de 23 a 35 dias. O início do ciclo deve ser anotado a partir do primeiro sangramento.
O sangramento dura entre três e sete dias e normalmente as queixas maiores de desconforto estão nos dois a três primeiros dias, por conta das contrações geradas no útero para liberação do endométrio (revestimento).
O organismo feminino produz alguns hormônios para controlar cada fase do seu ciclo menstrual.
Na metade do ciclo, isto é, se o ciclo considerado tiver 28 dias, no 14º dia, possivelmente a ovulação estará ocorrendo, o que indica a potencialidade feminina materna de geração de vida.
Após a ovulação, o organismo começa a produzir outro hormônio, a progesterona. Nesse período, muitas pacientes relatam alterações físicas (edemas e dor, entre outras) e alterações emocionais (aspectos relacionados ao humor, tais como irritabilidade, choro e nervosismo), relacionando-as como um quadro de incômodos e baixa produtividade, indicando sinais e sintomas conhecidos como tensão pré-menstrual (TPM).
A menstruação indica amadurecimento físico e psíquico nas meninas na fase da puberdade (primeira menstruação – menarca), observação e entendimento do organismo e suas respostas nas diferentes fases hormonais e identificação/percepção da fertilidade.
Já se cogita que é possível, pela observação de uma mulher por meio do mapeamento de seu ciclo menstrual, a verificação e prevenção de certos estados de desequilíbrio e com isso atuar de forma terapêutica.
A atuação das práticas integrativas na saúde da mulher
Observa-se, nos últimos tempos, uma busca pelas pacientes por técnicas que as visualizem de forma integral, tais como a homeopatia, a medicina tradicional chinesa e a medicina ayurveda, entre outras. Principalmente por conta dessas técnicas vincularem as emoções às manifestações físicas e, além disso, tratarem o indivíduo de forma integral e particular, sem uso de protocolos já formalizados e buscando a causa efetiva da dor, ou seja, tratando a paciente e não a doença.
A ação terapêutica das práticas integrativas de saúde na força vital da paciente faz com que o fator causal se autorregule pelo mecanismo de ação e reação, onde o instrumento terapêutico, quer seja aplicado por via medicamentosa ou por atuação mecânica, aciona o efeito semelhante orgânico, fazendo um despertar indireto do sistema imunológico pela ação da imunidade adquirida e imunidade adaptativa.
O processo de atendimento terapêutico, sempre perceptivo e técnico, acolhe a paciente analisando suas queixas e possibilitando a identificação de fatores causais que desencadeiam os processos de adoecimento, sejam eles físicos, emocionais e/ou mentais.
A mulher atual, seu desempenho e sua performance
As mulheres são as que mais buscam cuidado terapêutico, e por isso propiciaram o conhecimento do universo feminino pelos profissionais de saúde.
Na busca pelo sucesso profissional, além das atividades familiares, elas fizeram com que se procurasse alívio às dores para uma melhor performance, mas muitas vezes deixando de lado a ciclicidade, tão necessária e saudável para as mulheres.
Culturalmente, foi colocado que as fases das mulheres são pontos negativos a elas, tentando por meios diversos a quebra dessa ciclicidade, trazendo-as para a estabilidade, tão contrária à sua natureza essencial.
A partir disso, surgem a cada dia mais e mais doenças relacionadas a esse universo, que fazem com que a tão sonhada performance não ocorra e ainda trazem danos no decorrer dos tempos, seja nos momentos de períodos férteis, seja na menopausa e até mesmo no despertar hormonal das meninas.
No ambiente doméstico e profissional, muitas ações masculinas são aplicadas no dia a dia das mulheres, o que estimula hormônios masculinos, gerando por consequência desequilíbrios hormonais facilmente detectáveis em seu ciclo. A adequação ao equilíbrio traz mais harmonia. Ao desenvolver o “lado masculino” da mulher se faz necessária a busca em outra área da vida de ações femininas, para trazer um equilíbrio saudável. Atualmente, é comum ouvir-se a expressão “ela é o homem da casa”.
Não existe mais a regra: homem provedor, mulher dona de casa e cuidadora. A necessidade da mulher hoje, em geral, é atingir a realização emocional e profissional, entre outras. Não basta só ser esposa e mãe, elas querem mais… O que gera novos desejos e sonhos e, por vezes, novas carências e frustrações.
Síndrome dos ovários policísticos (SOP)
Os ovários fazem parte do sistema reprodutor da mulher e têm seu funcionamento condicionado pela liberação dos hormônios da hipófise. Esses hormônios agem sobre os ovários promovendo os ciclos da menstruação e a ovulação.
As mulheres possuem um ovário de cada lado do útero. Eles medem aproximadamente, em uma mulher adulta, 3,5 cm de comprimento, 2 cm de largura e 1 cm de espessura, ficando suspensos e ligados às tubas uterinas.
Os ovários são responsáveis pela produção de óvulos (uma mulher produz até 400 óvulos durante sua vida) e pela produção de hormônios sexuais femininos.
A síndrome dos ovários policísticos (SOP) é uma doença endócrina complexa, que tem como elementos principais o hiperandrogenismo e anovulação crônica.
É caracterizada pela presença de vários cistos, normalmente preenchidos por líquidos, que se desenvolvem a partir do corpo lúteo que não se degenera ou a partir de um folículo que não se rompe por completo.
Em 2006, a Androgen Excess Society definiu três critérios para o diagnóstico da SOP: excesso de andrógenos, como testosterona (hiperandrogenismo), crescimento indesejado de pelos no rosto, no peito e nas costas, disfunção ovariana com falta de liberação de óvulo durante um ciclo menstrual (anovulação) e/ou ovários policísticos.
A SOP tem classificação estatística internacional de doenças e problemas relacionados à saúde (CID-10): Excesso de estrógeno, Síndrome dos ovários policísticos, Hirsutismo.
Algumas mulheres com SOP apresentam amenorreia prolongada associada a atrofia endometrial e elevação nos níveis de hormônio luteinizante (LH) e na frequência e amplitude dos pulsos de LH. Em muitas delas, observam-se anormalidades no eixo reprodutivo hipotálamo-hipofisário. Podem apresentar infertilidade, mas a ocorrência de ovulações esparsas é bem documentada e pode levar a gestações. A resistência à insulina e hiperinsulinemia também são descritas, o que favorece o desenvolvimento da síndrome metabólica, que ocorre em 40% das pacientes que apresentam SOP, elevando assim em até sete vezes o risco de doença cardiovascular. Pelo menos 50% das pacientes com SOP são obesas.
Importante ressaltar que apenas o achado ultrassonográfico de microcistos na periferia dos ovários não significa que a SOP esteja instalada.
Atendimento multidisciplinar
Apesar da condição biológica, a SOP não é apenas um problema físico, mas também psicossocial, interferindo e comprometendo a qualidade de vida das mulheres que a apresentam. Existem vários estudos que relacionam os sintomas da SOP com redução na qualidade de vida relativa à saúde.
A interferência direta na aparência física das mulheres, a obesidade e os sintomas decorrentes do hiperandrogenismo (hirsutismo e acne) podem desencadear distúrbios psicológicos, como depressão, diminuição na satisfação sexual e problemas relacionados com a identidade feminina (por conta da irregularidade menstrual e infertilidade).
Por isso, o acompanhamento do diagnóstico médico é essencial nesse caso, inclusive para indicação da equipe multidisciplinar, que deve incluir em seu quadro médico não só o ginecologista, mas também o endocrinologista, cardiologista, farmacêutico e nutricionista, entre outros.
Tratamentos
Os tratamentos alopáticos baseiam-se no quadro sintomático da paciente, bem como na prevenção e controle das alterações metabólicas e na redução de riscos cardiovasculares, quando houver. O uso de anticoncepcionais orais é bastante usual, para atuar nas irregularidades menstruais. Normalmente, o tratamento é contínuo.
Já nas práticas integrativas, há uma análise do quadro integral da paciente, o que exige uma observação completa sobre os aspectos físicos, emocionais e mentais, com individualização, na busca do que é singular, especifico e rotineiro, bem como avaliação dos caracteres hereditários. A partir de então, deve-se elaborar um plano terapêutico para cada paciente, determinando ações e manobras para a equipe multidisciplinar.
Em psicossomática, alguns estudiosos relacionam os ovários à capacidade criativa da mulher, à adaptabilidade e à fluidez de ideias e ações.
Existe um padrão de pensamento nas mulheres acometidas pela SOP: apresentam dificuldade de colocar em prática suas ideias e possuem muito medo de errar, lembrando-se de seus fracassos do passado e preocupando-se com resultados do futuro.
Oferecer um atendimento integral, eficaz, ouvinte e acolhedor é essencial para encontrar e compreender as causas que desencadearam a doença e suas consequências.
Entender as relações que se estabelecem às condições intrínsecas da SOP e buscar recursos internos e externos para que se possa mudar os focos desencadeadores trará a possibilidade de melhor qualidade de vida, mudança de comportamento e nova adequação de estilo de vida e percepção.
Dra. Ana Macedo – Farmacêutica, com formação em farmácia clínica e ênfase em prescrição farmacêutica e especialista e docente em homeopatia, com formação em homeopatia clássica pela Universidade Federal de Viçosa e formação internacional pela International Academy of Classical Homeopathy (Grécia).