Tratamento de microvasos (telangiectasias) com acupuntura sistêmica e fitoterapia

O estudo de caso apresentado neste artigo teve como objetivo observar os resultados da aplicação de acupuntura sistêmica associada a fitoterapia em paciente com varizes – microvasos (telangiectasias).

Entre os vasos superficiais, há aqueles de coloração vermelha ou arroxeada, bem finos e localizados logo abaixo da pele, chamados de telangiectasias, que não são responsáveis por causar sintomas como dor e inchaço.

Também não se transformam em varizes (embora popularmente sejam assim chamados), mas tendem a aumentar, causando enorme desconforto estético, notadamente em mulheres.

As varizes dos membros inferiores são extremamente frequentes, com grande impacto no serviço público de saúde, em termos de custos e na qualidade de vida dos cidadãos.

Se forem incluídas todas as classes clínicas das doenças venosas crônicas estabelecidas na classificação CEAP (clínica, etiológica, anatômica e patológica), a prevalência aumenta com a idade.

A maior prevalência em pessoas do sexo feminino parece não ser real, mas resultante de uma maior preocupação dessa população com aspetos estéticos.

Apesar de frequentes e de suas referências históricas serem mais antigas do que as das doenças arteriais, as varizes continuam a ser olhadas como situação banal, não recebendo a valorização necessária e nem a devida atualização de conhecimentos, em razão dos poucos estudos realizados.

No plano anatômico, as duas veias tronculares localizadas nos membros inferiores são a veia safena interna, atualmente designada como grande veia safena, e a veia safena externa, chamada de pequena veia safena. As veias colaterais encontradas no nível da coxa e da perna são denominadas de colaterais safenianas, de forma a distingui-las das colaterais sem relação com a safena, que são chamadas de colaterais não safenianas.

Varizes (microvasos) na visão da medicina ocidental

As veias das pernas, que reconduzem o sangue ao coração após terem irrigado os membros inferiores, possuem válvulas cuja finalidade é impedir o retorno do sangue aos pés pela ação da gravidade. Às vezes, essas válvulas não funcionam com eficiência e o sangue empoça nas veias, provocando deformação, inchaço e alterações na sensibilidade da pele, que caracterizam o quadro conhecido como varizes.

Apesar do fato de que qualquer veia do corpo pode ser atingida, as superficiais dos membros inferiores são as mais afetadas, principalmente em razão da postura em pé por longos períodos, durante as atividades rotineiras.

As varizes podem se desenvolver tanto no sistema venoso superficial como no profundo ou mesmo em ambos.

Julga-se como importante que elas podem ser consequência de desordens congênitas ou adquiridas, tendo influência de vários fatores de risco associados ao desenvolvimento de insuficiência venosa, com destaque para obesidade, idade, gênero, sedentarismo, estilo de vida e de trabalho, dieta, uso de hormônios e gravidez.

Na ocorrência de varizes primárias com disfunção da parede venosa, focal ou generalizada, a insuficiência das válvulas afasta suas cúspides, secundariamente a essa dilatação. Enquanto as varizes primárias originam veias superficiais, as secundárias ocorrem em veias profundas, resultando em má-formação venosa com fístulas arteriovenosas, tromboses venosas profundas, traumatismos do sistema venoso e oclusão.

Outra classificação das veias comumente utilizada divide-as em reticulares e varicosas. As veias reticulares são azuladas, subdérmicas e tortuosas, com calibre que varia entre 1 mm e 3 mm. Excluem-se, dessa classificação, veias visíveis de pessoas com pele fina e transparente. As veias varicosas são subcutâneas, dilatadas e também tortuosas, com diâmetro igual ou maior do que 3 mm, em posição ortostática, envolvendo também veias safenas, tributárias de safenas ou veias superficiais da perna não relacionadas às safenas.

Varizes na visão da medicina tradicional chinesa

A maior dificuldade para o entendimento da medicina tradicional chinesa (MTC) está nas diferenças enormes entre os padrões de pensamento ocidental e chinês. Como consequência, muitos profissionais adotam uma postura mental ocidental quando lidam com conceitos abstratos chineses ou até mesmo tentam forçar os conceitos ocidentais dentro dos conceitos chineses, o que resulta em um entendimento não adequado.

A medicina tradicional chinesa é uma ciência com princípios e fundamentos próprios, que têm como base o conceito de yin e yang – energia e matéria que não são vistas separadamente, mas sim como dois extremos de algo contínuo, opostos que se complementam e são interdependentes: nada é completamente yin e nem completamente yang, o yin é matéria e o yang é função, o yin nutre o yang e o yang protege o yin.

Para a medicina chinesa os fatores que determinam a doença estão relacionados com a origem da desarmonia que surge no organismo quando yin e yang estão em excesso ou deficiência. Sendo assim, a harmonia é o objetivo fundamental da cultura, da filosofia e da medicina chinesa. Harmonia essa que deve estabelecer-se dentro do indivíduo, entre o indivíduo e a natureza e entre o indivíduo e a sociedade.

No centro da estrutura organizacional do corpo estão os Zang Fu, que constituem a essência da medicina tradicional chinesa, formando um conjunto de conceitos que são completamente diferentes daqueles relativos aos órgãos na medicina ocidental e que não devem, portanto, ser confundidos com eles.

Os Zang apresentam características yin: são mais sólidos e internos e responsáveis pela formação, transformação, armazenamento e regulação das substâncias.

Os Fu apresentam características yang: são mais ocos e externos e responsáveis pela recepção e armazenamento de alimentos e bebidas e pela passagem e absorção dos seus produtos de transformação e excreção dos seus resíduos.

Os cinco Zang são o Xin (coração), Fei (pulmão), Pi (baço), Gan (fígado) e Shen (rim). Representam o “coração” da medicina chinesa e são mais importantes do que os seis sistemas Fu.

A compreensão adequada dos Zang Fu permite-nos entender as causas das doenças, pois cada Zang e cada Fu desempenha funções para a harmonia.

Os Zang (órgãos) responsáveis pela manutenção da circulação sanguínea são o (Pi) baço, o (Gan) fígado e o (Xin) coração.

Baço (Pi): funções e padrões de desarmonia

O baço regula a transformação e o transporte – sob sua influência, os alimentos e as bebidas são digeridos e separados em frações puras e impuras. Se as funções de transformação e transporte estiverem deficientes, as funções do Qi do baço estarão enfraquecidas e, então, poderá haver a estagnação de líquidos orgânicos (Jin Ye), sob a forma de umidade e mucosidade.

Governa o sangue – além de exercer seu papel na formação do sangue, o baço também o governa, no sentido de mantê-lo dentro dos vasos sanguíneos. Se o Qi do baço, principalmente o yang Qi, for deficiente, o sangue (Xue) não poderá ser mantido dentro dos vasos sanguíneos, causando hemorragias.

Eleva e mantém os órgãos na sua posição – se ocorrer deficiência do yang Qi, poderá haver ptose de vários órgãos, principalmente os situados na região pélvica e abdominal.

Abre-se na boca e manifesta-se nos lábios – havendo deficiência de Qi do baço, poderá ocorrer perda do paladar, que, associada ao calor, tornará os lábios descorados, secos e com rachaduras.

Responsável pelo pensamento aplicado, estudo, memorização, produção de ideias e concentração – relaciona-se com o estômago. Sua emoção é a reflexão.

Controla os músculos (carne) – se a função do baço estiver em harmonia, haverá suficiente QI (energia), sangue (Xue) e líquido orgânico (Jin Ye), que serão transportados adequadamente para as partes dos músculos, que se tornarão nutridos e firmes e para os membros superiores e inferiores, que se tornarão energizados e quentes, aptos para os movimentos. Em caso contrário, se houver deficiência, os músculos não receberão a necessária nutrição, perdendo sua tonicidade e tornando-se fracos.

Padrões de desarmonia do baço: Qi do baço deficiente, yang do baço deficiente, baço não consegue governar o sangue, invasão do baço pelo frio e umidade, acúmulo de umidade-calor no baço e mucosidade turva na cabeça, que provoca sensação de congestão torácica com palpitações, tontura, náuseas e vômitos, excesso de atividade física, alimentação com excesso de leite e seus derivados, açúcar branco e farináceos, preocupação e ansiedade.

O baço possui a função de manter os vasos sanguíneos fortes, não permitindo extravasamentos de sangue e hematomas. A força das válvulas de retorno venoso são, então, de sua responsabilidade. Quando o baço está enfraquecido, há uma inabilidade das válvulas em impulsionar o sangue para cima, o que faz com que o mesmo fique estagnado nas veias, dando origem às varizes.

Fígado (Gan): funções e padrões de desarmonia

 O fígado influencia a capacidade de planejamento da nossa vida e mantém o sentido de direção da mesma – além de harmonizar o fluxo de Qi, promove a circulação livre e fácil das matérias pelo organismo. Por isso, participa da harmonia e regularidade das funções do corpo e da mente.

Harmonia do livre fluxo de Qi – se a circulação do Qi e o fluxo das emoções são alterados, poderá haver reações inesperadas aos estímulos do ambiente, que se manifestarão pela conduta inadequada do indivíduo, envolvendo a capacidade intelectual de planejamento e a tomada de decisões.

Harmonia da digestão – se o fígado estiver em disfunção, por exemplo, havendo estagnação do Qi, as funções do baço e do estômago são invadidas, resultando em vários distúrbios digestivos.

Secreção de bile – se houver alteração no livre fluxo do Qi, a desarmonia dessa função provocará distúrbios na secreção de bile.

Harmonia da menstruação – a função de manter livre a circulação do Qi é também importante na fisiologia da menstruação. O fluxo de Qi e sangue deve ser uniforme e desobstruído.

Armazenamento do sangue – o fígado armazena e regula a quantidade de sangue em circulação a qualquer momento. Quando o corpo está em atividade, o sangue move-se para fora do fígado indo para a circulação geral. Quando em repouso, retorna ao fígado.

Harmonização dos tendões – a associação dos tendões com as funções do fígado refere-se mais ao aspecto contrátil da função do músculo. Se houver deficiência de sangue do fígado, os tendões não são adequadamente nutridos e, consequentemente, a contração estará debilitada, resultando em rigidez, tremores e espasmos.

Abre-se nos olhos e manifesta-se nas unhas – se o fígado armazena e harmoniza o sangue devidamente, as unhas tornam-se rosadas e bem formadas, caso contrário, ficam pálidas, fracas e quebradiças.

Padrões de desarmonia do fígado: depressão do Qi do fígado, sangue do fígado deficiente, fogo crescente do fígado, agitação de vento interno do fígado, umidade-calor no fígado e vesícula biliar e estagnação de frio no canal do fígado. Esses padrões podem levar à desarmonia do baço, que em deficiência não consegue realizar suas funções.

Coração (Xin): funções e padrões de desarmonia

O coração armazena a consciência – na concepção da medicina tradicional chinesa, o coração armazena a consciência e é a sua residência. De acordo com esse conceito, o coração é o órgão que controla a consciência, em vez do cérebro, como se estabelece na medicina ocidental. Se o sangue e o yin do coração estiverem deficientes, a consciência não terá residência, tornando-se agitada. Manifesta-se, então, a inquietude mental, com insônia, pensamentos confusos, memória fraca e insanidade.

Manifesta-se na face a abre-se na língua – a tez reflete o estado do coração e do sangue. Se eles estiverem abundantes, a tez estará rosada e brilhante, se estiverem deficientes, ela estará pálida e sem brilho.

Regula o sangue e os vasos sanguíneos – é importante lembrar que a concepção da medicina tradicional chinesa sobre o sangue e os vasos sanguíneos não corresponde exatamente ao conceito ocidental. A MTC preocupa-se muito pouco com a composição detalhada do sangue e vasos, dando ênfase à fisiologia e principalmente à patologia.

 Padrões de desarmonia do coração: Qi do coração deficiente, yang do coração deficiente, sangue do coração deficiente, mucosidade-frio obstruindo os orifícios do coração, mucosidade-fogo agitando o coração e fogo crescente no coração.

Existe uma relação muito íntima entre Qi e sangue e entre coração e pulmão, pois o Qi movimenta o sangue e o pulmão regula o Qi.

O coração possui a função de manter o fluxo sanguíneo dos vasos e, quando está enfraquecido, acaba diminuindo a circulação, o que faz com que o sangue pare no interior dos mesmos. Essa estagnação do sangue é um dos fatores de causa das varizes.

Relato de caso

Paciente F.C.G., de sexo feminino, com 57 anos de idade, brasileira e aposentada há 10 anos para dedicar-se aos filhos e aos cuidados do lar. Reclamando de ansiedade, palpitação e tristeza de viver para agradar aos outros. Possui um sítio onde a presença constante dos parentes do marido a incomoda. Insônia inicial e de manutenção e cansaço com pouco esforço.

Coceira nas pernas e formigamento na região com mais varizes – microvasos.

Apetite aumentado e com muita vontade de comer doce, principalmente após as refeições. Azia e queimação no estômago e eventualmente refluxo.

Apresentou como queixas principais a ansiedade e as microvarizes que acha que “dão um aspecto feio” às suas pernas, pois é muito vaidosa.

Tratamento de microvarizes com medicina chinesa
Fig. 1 – Microvasos (telangiectasias), no início do tratamento.

Diagnóstico

Pulso em corda, língua na cor rosa clara com saburra amarelada e fissura central acentuada, dentada, urina levemente amarela e sem odor e fezes às vezes pastosas.

Estresse, raiva, ressentimento, produzindo calor no fígado e perda de controle do Qi. O calor do fígado invadindo o baço que, fraco, não transforma e distribui Qi e sangue suficientes, com umidade-calor que obstrui os orifícios do coração.

Abordagem de tratamento

O tratamento começou em 21/10/2021, com sessões semanais de acupuntura sistêmica, auriculoterapia (utilizando-se cristais de quartzo e orientando-se a paciente para retirada no quarto dia) e fitoterapia chinesa (MMC).

Na acupuntura sistêmica, foram selecionados os pontos descritos a seguir.

F3 (Taichong) – ponto shu riacho, ponto yuan e ponto terra do canal do fígado, tonifica e promove o fluxo suave do Qi e associado a F8 (Ququan) – ponto mar do canal do fígado, dispersa umidade-calor do jiao inferior e nutre o sangue e o yin do fígado.

E44 (Neiting) – ponto ying nascente e ponto água canal do estômago, que associado a E41 (Jiexi) – ponto rio e ponto fogo do canal do estômago, dispersa calor do canal e do Fu estômago, harmonizando os intestinos e dispersando umidade-calor.

E36 (Zusanli) – ponto he (mar), regulariza o Qi nutritivo e defensivo, fortalece e tonifica o baço, resolve a umidade do baço e tonifica o Qi do estômago.

BA6 (Sanyinjiao) – ponto de encontro dos canais do baço, fígado e rim, tonifica o baço e estômago, elimina umidade, harmoniza o fígado e o jiao inferior, tonifica o rim e revigora o sangue.

BA2 (Dadu) – ponto ying nascente e ponto fogo do canal do baço. Os pontos ying nascente são os principais para dispersar calor e umidade-calor por excesso ou deficiência de seus respectivos Zang Fu ou canais.

BA8 (Diji) – ponto xi em fenda do canal do baço, harmoniza o baço, revigora o sangue e modera condições agudas.

BA10 (Xuehai) – utilizado para qualquer problema relacionado ao sangue, esfria o sangue e dispersa estase. Responsável pela distribuição do sangue. Faz diminuir a cor azulada, meio roxa dessa patologia (microvasos).

F13 (Zhangmen) – ponto mu do baço, excelente para harmonizar o fígado e o baço, regula o jiao médio e inferior, fortifica o baço, espalha-se no fígado e regula o Qi.

P9 (Tayuan) – ponto de influência dos vasos, indicado para tratar distúrbios dos vasos sanguíneos em geral, que acumulados com Qi fundamental deficiente causam estase de sangue.

Na auricoluterapia, foram utilizados os pontos descritos abaixo.

Shenmen – predispõe o tronco e o córtex cerebral a receber e decodificar os reflexos dos pontos que serão utilizados na sequência. Estimula no cérebro a produção de endorfinas que aliviarão as dores e o mal-estar do paciente. Estimula no cérebro condições ideais para decodificar, modular e condicionar os reflexos que serão provocados na aurícula, impedindo que ocorram desequilíbrios que possam levar a novas enfermidades.

Rim – estimula a filtragem do sangue pelos rins, libertando-os das toxinas e proporcionando melhores condições de circulação. Estimula o aumento das funções das glândulas endócrinas e provoca, em alguns casos, o aparecimento de hormônios na corrente sanguínea, mesmo que haja paralisação de algumas glândulas endócrinas. Estimula a função dos órgãos excretores, inclusive das glândulas sebáceas e sudoríparas.

Simpático – acelera e regula a atividade do sistema neurovegetativo, equilibrando as funções do simpático e do parassimpático. Ao reequilibrar o sistema nervoso autônomo, provoca um equilíbrio geral no organismo. Age nos tecidos musculares, estimulando a ação anti-inflamatória das fibras do sistema músculo-tendinoso.

Pingchuan superior – ansiedade e pontos dos vícios. Associado a problemas relacionados a tensão e compulsão.

Na fitoterapia chinesa (MMC), foram utilizados Xue Fu Zhu Yu Tang – Yi Ling Gai Cuo – Tao Ren (Persicae Semen) – Chuan Xiong (Chuanxiong Rhizoma) – Hung Hua (Carthami Flos) – Dang Gui (Angelicae sinensis Radix) – Chi Shao (Paconia Rubra Radix) – Sheng di Huang (Rehmanniae Radix) – Chai Hu (Blupeuri Radix) – He Shou Wu (Polygoni multiflori Radix) – Niu Xi (Achyranthis bedentatae Radix) – Jie Geng (Platycodi Radix) – Gan Cao ( Glycyrrhizae Radix) e Zhi Ke (Auranti Fructus).

Antes do início da quinta sessão, foi feita uma anamnese completa da paciente. Sintomas como ansiedade, tristeza de viver para agradar aos outros, insônia inicial e de manutenção e cansaço com pouco esforço tiveram uma redução significativa. Coceira nas pernas e formigamento na região com mais microvarizes, palpitações e apetite aumentado com muita vontade de comer doce, principalmente após as refeições surgiam, eventualmente, quando enfrentava momentos de ansiedade, que ocorriam somente quando parentes do marido passavam o final de semana em sua casa. As crises de azia e queimação no estômago desapareceram.

O protocolo utilizado foi, então, alterado, sendo os pontos BA2 e E44, na acupuntura sistêmica, substituídos por C7 (Shenmen) – ponto yuan, que regula e tonifica o coração, abre os orifícios do coração e acalma a mente e VG24 (Shenting), que beneficia o cérebro e acalma a mente, permitindo uma visão mais clara e segura da realidade – elimina vento na cabeça.

Os pontos de auriculoterapia foram mantidos, bem como a fórmula da fitoterapia chinesa (MMC).

A partir da nona sessão, foi suspensa a fitoterapia chinesa (MMC) e novamente incorporada ao tratamento, a partir da décima terceira sessão. Foram mantidos os protocolos da acupuntura sistêmica e da auriculoterapia.

A suspensão da fitoterapia chinesa (MMC) por 30 dias deveu-se à prudência de clicar as substâncias, não tendo ocorrido nenhuma intolerância da paciente às ervas.

Após a realização de 16 sessões, foi encerrado o tratamento, com a paciente declarando que as crises de ansiedade foram superadas. Questionada em relação ao desconforto estético, relatou estar totalmente satisfeita de ver que “não mais tinha microvarizes para se envergonhar”.

Tratamento de microvarizes com medicina tradicional chinesa
Fig. 2 – Resultados obtidos em relação aos microvasos (telangiectasias), após 16 sessões de tratamento.

A paciente também se beneficiou de fatores indiretos, como eliminação da irregularidade na evacuação e maior disposição física, tendo inclusive passado a frequentar academia.

Ressaltou ainda considerável melhora no relacionamento familiar, conseguindo manter um diálogo com o marido sobre a redução na presença frequente dos parentes, durante os finais de semana em seu sítio. Foi atendida e, com isso, passou a desfrutar melhor da companhia dele e dos filhos.

Discussão

O esgotamento consome o QI, o sangue e a energia no zhong jiao e xia jiao, acarretando fraqueza da estrutura venosa nos membros inferiores. Como consequência, ocorre estase do sangue devido à estagnação das atividades funcionais do QI, lesando os vasos sanguíneos, o que compromete a circulação de sangue, causando as varizes.

A exaustão do Qi pode gerar incapacidade do baço de manter o sangue fluindo dentro dos vasos, pois na medicina tradicional chinesa ele é o órgão responsável por manter o sangue nos vasos. Se o baço estiver deficiente para executar essa função, o sangue escapa, sendo esse um dos fatores que produz microvarizes.

A deficiência de Qi do baço é responsável por sintomas, hematomas sem razão aparente, microvarizes, cansaço, fadiga e sensação de peso nas pernas e no corpo.

Conclusão

O tratamento com acupuntura sistêmica associada a auriculoterapia e fitoterapia chinesa revelou-se eficiente. Eliminaram-se os sintomas iniciais relatados, mostrando que os fundamentos da medicina chinesa, ao priorizarem a importância de regular o organismo e suas funções, podem evitar procedimentos cirúrgicos e/ou ingestão de medicamentos, contribuindo saudavelmente para uma melhoria na qualidade de vida da paciente.

Contudo, são necessários mais estudos, com um número maior de pacientes envolvidos, para que se possa corroborar a eficácia dessa abordagem terapêutica no tratamento das varizes – microvasos (telangiectasias).


Neyval Costa Reis – Acupunturista e praticante de Medicina Chinesa.

 

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