Uso de isoflavonas, como genisteína, para prevenir e tratar câncer de endométrio

As isoflavonas, compostos bioativos encontrados principalmente na soja e em produtos derivados, como o tofu, têm atraído considerável atenção científica por seus potenciais benefícios à saúde, especialmente no contexto de doenças hormonais e cânceres.

Entre as isoflavonas mais estudadas, destaca-se a genisteína, que possui propriedades estrogênicas e pode influenciar positivamente o metabolismo hormonal.

As isoflavonas têm uma estrutura química semelhante à do estrogênio humano, o que lhes permite ligarem-se aos receptores de estrogênio no corpo. Essa capacidade de imitar o estrogênio possibilita que as isoflavonas exerçam efeitos moduladores sobre os processos hormonais.

A genisteína, por exemplo, pode atuar tanto como agonista quanto como antagonista dos receptores de estrogênio, dependendo do contexto hormonal. Esse duplo papel pode ajudar a regular o crescimento celular no endométrio, prevenindo a proliferação anormal e a carcinogênese.

Um dos mecanismos mais importantes pelos quais as isoflavonas podem prevenir o câncer de endométrio é através da indução da apoptose ou morte celular programada.

Estudos demonstraram que a genisteína pode ativar vias de sinalização que promovem a apoptose em células cancerígenas, reduzindo assim o crescimento tumoral.

Além disso, a genisteína tem a capacidade de inibir a angiogênese, que é o processo pelo qual novos vasos sanguíneos formam-se para alimentar o tumor, limitando o suprimento de nutrientes e oxigênio para as células malignas.

Diversos estudos clínicos e epidemiológicos têm investigado a relação entre o consumo de isoflavonas e a incidência de câncer de endométrio.

Uma metanálise de estudos observacionais sugere que a ingestão de alimentos ricos em isoflavonas está associada a um risco reduzido de desenvolvimento de câncer de endométrio em mulheres pós-menopáusicas.

Essas descobertas são apoiadas por estudos em modelos animais, nos quais a suplementação com genisteína resultou em uma redução significativa na incidência e progressão de tumores endometriais.

Um estudo clínico conduzido por Xie et al. (2020) avaliou o efeito da suplementação de genisteína em mulheres com hiperplasia endometrial, que é uma condição precursora do câncer de endométrio. Os resultados mostraram que a genisteína foi eficaz na redução da espessura do endométrio e na reversão da hiperplasia, sem causar efeitos adversos significativos.

Outro estudo, realizado por Handayani et al. (2006), explorou a relação entre a ingestão de soja e a saúde endometrial, revelando que mulheres que consumiam altos níveis de isoflavonas tinham menor risco de desenvolver hiperplasia e câncer endometrial.

Além da prevenção, as isoflavonas têm demonstrado potencial terapêutico no tratamento de câncer do endométrio. A genisteína, em particular, tem sido estudada por sua capacidade de sensibilizar células cancerígenas à quimioterapia e radioterapia.

Estudos pré-clínicos sugerem que a genisteína pode aumentar a eficácia de agentes quimioterápicos como cisplatina, docetaxel e doxorrubicina, promovendo a apoptose e inibindo a proliferação celular. Esse efeito sinérgico pode melhorar significativamente os resultados clínicos em pacientes com câncer de endométrio.

Além disso, a genisteína pode exercer efeitos anti-inflamatórios e antioxidantes, que são benéficos no contexto de câncer. A inflamação crônica é um fator de risco conhecido para diversas neoplasias, incluindo o câncer de endométrio. A capacidade da genisteína de modular a resposta inflamatória pode contribuir para a redução do risco de carcinogênese e para a melhoria dos resultados terapêuticos.

Embora as evidências até o momento sejam promissoras, é importante reconhecer as limitações dos estudos existentes e a necessidade de mais pesquisas.

A maioria dos estudos disponíveis são observacionais ou pré-clínicos e há uma escassez de ensaios clínicos randomizados que confirmem os efeitos benéficos das isoflavonas em câncer de endométrio.

Além disso, a biodisponibilidade das isoflavonas pode variar entre os indivíduos, influenciando a eficácia do tratamento.

Outro aspecto a ser considerado é a dose e a duração da suplementação de isoflavonas. Estudos futuros devem explorar a dosagem ideal e o período de tratamento necessário para maximizar os benefícios e minimizar os riscos potenciais.

Também é importante investigar possíveis interações entre isoflavonas e outros medicamentos utilizados no tratamento de câncer do endométrio.

Genisteína

A genisteína é uma isoflavona, um tipo de composto bioativo encontrado principalmente em alimentos como soja e tofu.

Ao longo das últimas décadas, ela tem sido amplamente estudada por suas propriedades biológicas e seus potenciais benefícios para a saúde, especialmente no que diz respeito à prevenção e tratamento de certas doenças crônicas, como câncer, doenças cardiovasculares e osteoporose.

As principais fontes alimentares de genisteína são os produtos de soja, incluindo soja fermentada (natto), tofu, leite de soja e tempeh. Além disso, ela pode ser encontrada em menores quantidades em outras leguminosas e em suplementos dietéticos específicos.

A genisteína possui potentes propriedades antioxidantes, que ajudam a neutralizar os radicais livres e a proteger as células contra danos oxidativos. Isso é particularmente importante na prevenção de doenças crônicas, como câncer e doenças cardiovasculares, que estão associadas ao estresse oxidativo.

Possui a capacidade de inibir a atividade de várias enzimas envolvidas na sinalização celular e no crescimento tumoral. Por exemplo: ela pode inibir a tirosina quinase, uma enzima que desempenha um papel crucial na proliferação celular e na angiogênese (formação de novos vasos sanguíneos). Ao inibir essa enzima, a genisteína pode ajudar a suprimir o crescimento de células cancerígenas.

A genisteína pode promover a apoptose, ou morte celular programada, em células cancerígenas. Esse mecanismo é essencial para a eliminação de células malignas e para a prevenção da progressão do câncer.

Tem sido associada a uma ampla gama de benefícios para a saúde, muitos dos quais estão relacionados às suas propriedades estrogênicas, antioxidantes e anticancerígenas.

Um dos aspectos mais estudados da genisteína é seu potencial na prevenção e tratamento de câncer. Estudos epidemiológicos e experimentais sugerem que o consumo regular de alimentos ricos em genisteína está associado a um risco reduzido de vários tipos de câncer, incluindo câncer de mama, próstata, cólon e endométrio.

A genisteína pode ajudar a prevenir o câncer de mama ao modular a sinalização dos receptores de estrogênio e ao inibir a proliferação de células mamárias malignas. Estudos in vitro e em modelos animais têm demonstrado que a genisteína pode induzir a apoptose e suprimir a angiogênese em células de câncer de mama.

A genisteína também tem sido estudada por seus efeitos no câncer de próstata. Pesquisas sugerem que ela pode inibir o crescimento de células de câncer de próstata ao interferir nas vias de sinalização androgênica e ao promover a apoptose.

Em relação ao câncer de cólon, ela pode inibir a proliferação de células nesse tipo de câncer e reduzir a inflamação intestinal, que é um fator de risco para o desenvolvimento de neoplasias colorretais.

A genisteína tem mostrado potencial na prevenção e tratamento de câncer do endométrio. Ela pode ajudar a regular o crescimento celular no endométrio e a prevenir a proliferação anormal que pode levar ao câncer. Estudos clínicos têm mostrado que a suplementação com genisteína pode reduzir a espessura do endométrio e diminuir o risco de hiperplasia endometrial.

Pode também contribuir para a saúde cardiovascular ao melhorar o perfil lipídico, reduzir a pressão arterial e proteger contra a aterosclerose. Suas propriedades antioxidantes ajudam a prevenir a oxidação do colesterol LDL, que é um fator chave no desenvolvimento de placas ateroscleróticas. Além disso, a genisteína pode melhorar a função endotelial e reduzir a inflamação vascular.

Ela tem demonstrado efeitos positivos também na saúde óssea, especialmente em mulheres pós-menopáusicas. Pode ajudar a prevenir a osteoporose ao aumentar a densidade mineral óssea e ao reduzir a perda óssea. Estudos sugerem que a genisteína pode estimular a atividade dos osteoblastos (células formadoras de osso) e inibir a atividade dos osteoclastos (células responsáveis pela reabsorção óssea).

Pode também ter efeitos benéficos na saúde metabólica. Tem mostrado potencial na melhoria da sensibilidade à insulina e na regulação dos níveis de glicose no sangue. Esses efeitos podem ser particularmente úteis na prevenção e manejo de diabetes do tipo 2.

Além dos benefícios para a saúde, a genisteína tem diversas aplicações terapêuticas, especialmente no contexto do tratamento de doenças crônicas.

Ela tem sido estudada como um adjuvante na terapia de câncer, especialmente na quimioterapia e radioterapia. Pesquisas sugerem que a genisteína pode aumentar a eficácia dos tratamentos convencionais ao sensibilizar as células cancerígenas e promover a apoptose. No entanto, mais estudos clínicos são necessários para confirmar esses efeitos e determinar as dosagens e protocolos ideais.

A maioria dos estudos sugere que a genisteína é bem tolerada quando consumida em quantidades encontradas na dieta. No entanto, a suplementação com altas doses de genisteína pode estar associada a efeitos adversos, como distúrbios gastrointestinais, alterações hormonais e reações alérgicas.

A genisteína pode interagir com certos medicamentos, especialmente aqueles que afetam os hormônios e as enzimas hepáticas. É importante consultar um profissional de saúde antes de iniciar a suplementação de genisteína, especialmente se a pessoa estiver tomando medicamentos prescritos.

Conclusão

Em conclusão, o estudo sobre o uso de isoflavonas, como a genisteína, presentes em alimentos como soja e tofu, sugere que esses compostos podem desempenhar um papel significativo na prevenção e tratamento de câncer do endométrio.

As isoflavonas possuem propriedades antiestrogênicas e antioxidantes que podem ajudar a regular os níveis hormonais e reduzir o risco de desenvolvimento de certos tipos de câncer.

No entanto, mais pesquisas são necessárias para confirmar esses efeitos e determinar a dosagem ideal para obter os benefícios desejados.

Portanto, a incorporação moderada de alimentos ricos em isoflavonas na dieta pode ser uma estratégia promissora para a saúde das mulheres, mas deve ser feita com orientação médica adequada.


Mari Uyeda – Professora Assistente da Saint Francis University, Pensilvânia/EUA e estudante de Medicina – UNE.

Ítalo Anderson Lopes Pinheiro Clarindo – Estudante de Medicina – Universidade São Caetano.

 

Referências bibliográficas

Kim, J. H., & Kim, Y. J. (2015). Effects of genistein in combination with conjugated estrogens on endometrial hyperplasia and metabolic dysfunction in ovariectomized mice. Endocrine Journal, 62(6), 531–542. Disponível em https://doi.org/10.1507/endocrj.EJ15-0056.

Handayani, R., Rice, L., Cui, Y., Medrano, T. A., Samedi, V. G., Baker, H. V., Szabo, N. J., & Shiverick, K. T. (2006). Soy isoflavones alter expression of genes associated with cancer progression, including interleukin-8, in androgen-independent PC-3 human prostate cancer cells. The Journal of Nutrition, 136(1), 75–82. Disponível em https://doi.org/10.1093/jn/136.1.75.

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