Os oligoelementos, também conhecidos como micronutrientes ou microminerais, são um conjunto de elementos químicos inorgânicos, tais como ferro, zinco, cobalto, selênio, cobre, iodo, flúor, manganês, etc., que em quantidades mínimas são necessários para que o organismo humano possa desempenhar diversas funções metabólicas, principalmente na formação de enzimas essenciais a vários processos bioquímicos realizados pelas células.
Esses constituintes da natureza são muito importantes para o equilíbrio biológico. Sem eles, os seres humanos não existiriam. Basta citar como exemplo o papel do ferro na respiração celular.
Os macrominerais, como cálcio, cloro, sódio, fósforo, potássio, enxofre e magnésio, estão presentes em cerca de 99,98% do substrato do organismo humano e precisam ser absorvidos em quantidades maiores. Já os microminerais (oligoelementos) participam de apenas 0,02% e devem ser ingeridos em quantidades ínfimas. Mas, mesmo assim, desempenham funções indispensáveis para o metabolismo.
A principal fonte de oligoelementos é a alimentação. Entretanto, nos últimos 60 anos, tornou-se cada vez mais difícil obtê-los, devido às aplicações da química agrícola, com o uso de adubos (fertilizantes com fator NPK – nitrogênio, fósforo e potássio) que aumentam a produção, mas diminuem a qualidade dos alimentos que consumimos.
Além disso, há a questão do processo de refinamento dos produtos, como o açúcar e a farinha, que por si só já leva à sua desmineralização.
Essa perda de minerais tem ocasionado uma maior fragilidade biológica nos organismos. Os “terrenos biológicos” do corpo ficam mais sensíveis. E, com isso, uma pessoa alérgica torna-se hiperalérgica, indivíduos mais jovens passam a sofrer de artritismo, as próstatas “envelhecem” prematuramente. São inúmeros os exemplos dessa maior fragilidade.
“A doença começa no solo”
Em 1960, André Voisin, bioquímico e pesquisador francês, em seu livro Solo, Pasto, Câncer, já relacionava a interação do NPK com a deficiência de oligoelementos no organismo, demostrando quimicamente a fragilidade enzimática do corpo sem a presença desses micronutrientes como cofatores reguladores, tornando os seres humanos menos reatores aos processos de cancerização, processos degenerativos e alterações autoimunes, cada vez mais frequentes.
Voisin estava 50 anos adiantado no tempo, como mostra uma de suas frases de destaque: “a medicina e a agronomia deviam andar juntas, pois a doença começa no solo, porém um grande muro separa estas duas faculdades”.
As enzimas têm um papel fundamental na manutenção do equilíbrio orgânico e da saúde. E muitas delas são chamadas de metaloenzimas justamente porque contêm algum elemento metálico. A anidrase carbônica, por exemplo, contém zinco (Zn). A hemoglobina, que tem ferro (Fe), leva o oxigênio aos tecidos e a anidrase carbônica traz o gás carbônico para ser eliminado (respiração). Já a catalase, enzima que contém cobre (Cu), regula a formação de um radical livre (H2O2 – peróxido de hidrogênio – água oxigenada), importante para a imunidade, mas altamente cancerígeno quando em excesso. Assim como foi demonstrado por André Voisin há mais de 50 anos!
No final do século XIX, Gabriel Bertrand, outro bioquímico e pesquisador francês, também já havia comprovado que os oligoelementos, até então considerados como impurezas orgânicas, eram na verdade indispensáveis para a fisiologia vegetal e animal. Ele foi, inclusive, o criador do termo “oligoelementos”.
E na primeira metade do século XX, o Dr. Jacques Ménétrier, outro grande pesquisador, relacionou a ação dos oligoelementos com os terrenos biológicos e suas diáteses (predisposições). Com isso, ele determinou os perfis bioquímicos (alérgico, distônico, anérgico e hipoastênico) e quais elementos eram importantes para o bom funcionamento de cada terreno biológico.
É muito interessante ressaltar que é possível fazer uma analogia da tese das diáteses de Ménétrier com observações milenares sobre terrenos biológicos (temperamentos) feitas por Hipócrates (em 250 a.C.) ou Galeno (no século II).
Terrenos biológicos e medicina funcional
As conclusões fundamentadas na vasta observação clínica secular dos terrenos biológicos, também chamados de temperamentos (na Grécia e em Roma antigas), de diáteses ou de constituição, vem mais recentemente de encontro à evolução da bioquímica, da genética e da fisiologia.
De um lado, tem-se um terreno biológico reator, chamado de alérgico, em que tudo funciona com rapidez e que é mais predisposto ao desenvolvimento de alergias (pele), problemas nas mucosas (rinite, gastrite, cistite amicrobiana) e hiperemotividade. No outro extremo, tem-se um terreno biológico pouco reator, chamado pelos franceses de anergique (anérgico), com reações lentas, onde qualquer infecção pode se tornar grave (uma gripe vira pneumonia com facilidade) e com maior tendência à depressão e à presença de artritismos graves. Entre esses dois extremos existem os intermediários: o distônico, com alterações funcionais digestivas e vasculares, alterações de humor e presença de edemas e o hipoastênico ou artroinfeccioso, com alergias que tendem a infectar, porém com reações mais rápidas e artritismos mais fugazes.
Cada terreno biológico tem uma expressão bioquímica. Exemplos: alérgico – maior acidez (pH), menor resistividade (RH2) e maior condutividade (RHO) = rápido. Anérgico – maior alcalinidade (pH), maior resistividade (rHO) e menor condutividade (rH2) = lento.
Por isso, a investigação da história familiar do paciente é muito importante na consulta médica, para que se possa ter ideia dos terrenos biológicos familiares e suas predisposições.
Os oligoelementos, como reguladores de várias funções orgânicas, são utilizados em medicina funcional para os processos de catálise biológica como procedimentos terapêuticos. Para cada terreno biológico, com suas características bioquímicas próprias, suas enzimas e seus catalisadores (reguladores), existem oligoelementos (micronutrientes) adequados, que são geralmente metais ou metaloides em microdoses, mas macroimportantes para a regulagem biológica. Quando usados de forma errônea, esses micronutrientes podem provocar uma “desregulagem”, como por exemplo agravar uma alergia, bloquear a imunidade, produzir alterações de humor, etc.
Concluindo, pode-se dizer que esses minerais (oligoelementos) não devem ser utilizados sem adequada avaliação médica, pois tem ação farmacológica e também toxicidade quando mal aplicados. Não são apenas complementos nutricionais, são fármacos.
No entanto, existem complementos nutricionais ricos em oligoelementos, como algas marinhas, pólen de flores, ginseng e oleaginosas, que podem e devem ser consumidos na dieta moderna.
Dr. Luis Mario Sousa Pinto Netto – Médico naturalista, clínico geral, farmacologista, homeopata e fitoterapeuta.