O laser, considerado a menina dos olhos dos físicos desde sua criação em 1917 por Einstein, pode hoje ser designado também como a menina dos olhos dos terapeutas integrativos.
Mas foi apenas em 1960, a partir das descrições teóricas elaboradas pelo célebre físico alemão, que uma nova forma de emissão de luz foi criada, no Instituto de Física da Universidade de Graz, na Áustria.
Suas bases teóricas tão bem estabelecidas por Einstein prosseguiram até os dias atuais e permitiram assim que a aplicabilidade clínica desse recurso, que foi identificado como a grande tecnologia da década de 1980, seguisse um caminho crescente, baseado em evidências científicas que alicerçam a confiabilidade e assertividade de sua utilização nos tratamentos.
Muitos estudos em modelos animais, relatos de casos, pesquisa fundamental e estudos clínicos sobre a laserpuntura ou laseracupuntura foram realizados principalmente na China, Áustria e URSS, resultando, durante seus primeiros 40 anos de uso, em milhares de artigos científicos publicados em diferentes idiomas, que analisam os seus potenciais benefícios.
Mas, antes de prosseguir com a ideia de utilização do laser em medicina integrativa, temos que nos apropriar de informações importantes acerca desse incrível recurso. Está curioso? Então, vamos lá.
Características do laser e sua ação no organismo humano
Há inúmeras formas de energia no Universo. Dentre elas, podemos citar como exemplo o Qi (ou Chi), que é a energia vital circulante pelos meridianos, ou seja, canais de energia do organismo descritos pela medicina tradicional chinesa, em sua relação com a fisiologia, a patologia e principalmente as emoções.
Há também o prana, que significa “sopro de vida”, outra fonte de energia universal que circunda o cosmo e é adquirida pela nossa respiração.
Já o laser é um exemplo de fonte de energia luminosa.
Todas essas energias disponíveis possuem um objetivo comum de atender às solicitações fisiológicas e circunstancialmente patológicas do corpo humano.
As células humanas geram energia para o organismo através de uma simples mas potente organela, conhecida como mitocôndria, que tem a função essencial de produzir ATP (adenosina trifosfato,), principal molécula do corpo carreadora de energia química, ou seja, responsável pelo transporte de energia para as células.
Há uma variabilidade de mitocôndrias no organismo humano que atende às peculiaridades dos diferentes sistemas muscular, nervoso, etc., sendo que elas são encontradas em maior escala em células muito ativas.
Por que estamos aqui enfatizando a mitocôndria e sua produção de energia? Porque o laser atua diretamente nessa fonte inesgotável que garante a liberação de energia de acordo com o tecido biológico-alvo e o objetivo clínico a ser alcançado. Ou seja, a energia emitida pelo laser é absorvida pelos tecidos e células, interferindo diretamente no metabolismo celular por via de ativação da cadeia respiratória.
É necessário conhecer o laser em sua potencialidade, já que ele possui características peculiares como fonte de energia ofertada a um determinado tecido capaz de provocar alterações físicas e biológicas.
A primeira característica a ser citada é a monocromaticidade, que significa que o laser possui apenas uma cor, a qual é dada pelo comprimento da onda que ao colidir com a retina dos olhos é interpretada como uma só cor.
A segunda é a colimação, que tem por finalidade manter os fótons paralelos, aumentando a potência da emissão de luz num único ponto sem reflexão.
Por fim, a terceira é a coerência, que indica que o laser possui um mesmo comprimento de onda e em perfeito encaixe pelo tempo e direção.
Tais características do laser otimizam sua aplicabilidade, pois determinam a capacidade de propagação da luz com a menor perda de suas propriedades. Isso significa dizer que haverá mais e melhor absorção tecidual, transmissão assegurada e ausência de reflexão.
O laser age sobre o organismo humano desencadeando reações químicas, produzindo energia pela ativação direta do metabolismo celular e para isso é necessário que haja um receptor dessa luz, desses fótons. Esses fotorreceptores são conhecidos como cromóforos.
Há vários tipos de cromóforos correspondentes a cada tipo de tecido biológico. Um cromóforo importantíssimo é o citocromo c oxidase, situado dentro das cristas mitocondriais. Ele absorve a luz, produz ATP, óxido nítrico e oxigênio e, consequentemente, altera o metabolismo celular. Quanto maior a produção de ATP, menor a presença de fadiga, entre outras consequências.
Os citocromos c oxidase são células fotorreceptoras que identificam e interpretam os feixes de luz laser monocromáticos com comprimento de onda vermelho e infravermelho.
Importante ratificar que o laser traz inúmeros benefícios, pois desencadeia a ativação e produção de ATP, a proliferação de fibras colágenas, a formação de enzimas específicas, a estimulação da drenagem linfática, a angiogênese e o aumento da síntese de DNA e de proteínas.
A ampla aplicabilidade terapêutica do laser é observada nas várias áreas da saúde e suas subáreas, compreendendo desde as cirurgias ortognáticas e as disfunções temporomandibulares, que apresentam muitas evidências científicas, até em cicatrização de feridas, fadiga muscular, lesões tendíneas, etc.
A utilização terapêutica do laser é caracterizada pela sua baixa potência com capacidade bioestimuladora, ou seja, seu efeito biomodulador (provocando mudanças químicas e físicas no tecido biológico-alvo pelos fótons) e não ionizante.
Portanto, o laser é um recurso fototerapêutico representativo da fotobiomodulação, que pode ser definida precisamente como uma nova tecnologia não termal, utilizada para ativar e/ou potencializar o metabolismo celular na vigência de luz.
Fotobiomodulação e conceitos da medicina tradicional chinesa
A laserpuntura, ou seja, a utilização de laser terapêutico nos pontos de acupuntura, surgiu na década de 1970, apresentando como principais vantagens as características de ser uma técnica indolor e incapaz de causar infecção, pois não é invasiva, sendo de fácil e curto tempo de aplicação.
Além disso, é um recurso ideal para pacientes que demonstram fobia com o uso de agulhas e para idosos e crianças.
Por conta de todas essas citações e do seu uso crescente é que a pesquisa acerca de sua comprobabilidade neurofisiológica e de seus efeitos sobre o sistema nervoso central e periférico tem sido desenvolvida com o uso de ressonância magnética funcional. Recentemente, comprovou-se que a utilização do laser causa alterações nos padrões de ondas cerebrais por ressonância magnética quando os acupuntos são estimulados.
Diferentemente da laserterapia, a laserpuntura prioriza as bases da medicina tradicional chinesa como ponto de partida para as diretrizes e metas de tratamento, ou seja, os objetivos são voltados para a tonificação da energia ou a dispersão da energia que circula no corpo.
Trata-se da aplicação de laser em pontos com funções energéticas específicas e não com base na fisiopatologia da doença, uma vez que a medicina tradicional chinesa tem um olhar mais holístico, mais amplo do ser humano, levando em consideração a relação entre as energias complementares e opostas yin e yang, os cinco elementos, a constituição energética individual e outros aspectos dessa ideologia milenar na construção de sua intervenção terapêutica.
Dessa forma, a laserpuntura trata diferentes doenças e condições físicas e emocionais pelos desequilíbrios energéticos diagnosticados e com a vantagem de ser uma técnica indolor, não invasiva, de fácil e rápida aplicação e ainda muito bem aceita pelo público-alvo.
Ressalte-se que o importante na sua utilização é o conhecimento prévio das características técnicas do laser sob a ótica da fotobiomodulação, pois devido ao potencial risco de lesões, o uso do laser requer precauções de segurança, como a utilização de óculos de proteção e a adoção de protocolos padronizados para sua aplicação. E, evidentemente, o conhecimento das bases da medicina tradicional chinesa, para a obtenção de um resultado assertivo e promissor de saúde e bem-estar.
Prof. Dr. André Gomes – Bacharel em Fisioterapia pela Universidade Nove de Julho, com pós-graduação lato sensu em Acupuntura – Medicina Tradicional Chinesa (Ceata) e Treinamento na WFAS – China.
Profa. Me Dra. Andréa Fernanda Leal – Bacharel em Fisioterapia (Uniban) e em Educação Física (Faculdades Integradas de Guarulhos), doutoranda pelo Departamento de Cardiologia da Unifesp e mestre em Ciências da Saúde (FMABC), com pós-graduação lato sensu em Acupuntura (Faculdade Mário Schenberg, com apoio do Ceata). Especialista em Fisioterapia Respiratória Pediátrica e Neonatal (Faculdade de Medicina da USP – Hospital das Clínicas), em Fisioterapia Pediátrica (Universidade Cidade de São Paulo) e em Fisioterapia Neurológica (Universidade Cidade de São Paulo).
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