Uso de óleo de lavanda no tratamento complementar de câncer

A aromaterapia é uma ciência que surgiu através de estudos realizados por um químico francês, por volta de 1928, usando plantas aromáticas, por meio de óleos essenciais e vegetais para equilibrar o corpo e a mente.

Os óleos essenciais são produtos químicos extraídos de partes de plantas que possuem aroma único e propriedades químicas complexas (National Cancer Institute – NCI), 2018 – Worwood, 2016).

Podem ser inalados, ingeridos ou aplicados topicamente, sendo eliminados do corpo através da urina e respiração (Maddocks-Jennings e Wilkinson, 2004 – NCI, 2018).

O seu uso tem crescido a cada dia entre os profissionais de saúde (Gnatta e colaboradores, 2016 – Smith e Kyle, 2008).

Por meio de estudos e evidências científicas, a lavanda vem sendo utilizada em hospitais da Europa, EUA, Canadá e Brasil, como parte integrativa e complementar dos tratamentos da medicina convencional ocidental.

A lavanda é um membro da família da menta e contém acetato de linalila, linalol e cariofileno. A Lavandula angustifolia aumenta o efeito do ácido gama-aminobutírico na amígdala e tem efeitos narcótico e sedativo, semelhantes aos das benzodiazepinas (Conrad e Adams, 2012 – Fismer e Pilkington, 2012 – Maddocks-Jennings e Wilkinson, 2004). Além disso, a Lavandula hybrida possui propriedades relaxantes (Price e Price, 2011).

Na Tabela 1, são citados alguns benefícios do óleo essencial de lavanda que podem ser observados em pacientes com câncer.

Além de apresentar características antibacterianas e antifúngicas, que aumentam a cicatrização de feridas e a desintoxicação de enzimas associadas com picadas de insetos, a lavanda não tem contraindicações conhecidas e é segura para o uso (Braden e colaboradores, 2009 – Howard e Hughes, 2008 – Kritsidima e colaboradores, 2010 – Muzzarelli e colaboradores, 2006).

Tabela 1 – Benefícios do óleo essencial de lavanda. Fonte: a autora.

Aromaterapia para pacientes com câncer

Óleo de lavanda: aplicações em oncologia

Na oncologia, o papel dos óleos essenciais abrange diversos âmbitos, atuando especialmente na amenização e/ou minimização dos efeitos colaterais desencadeados pelo tratamento oncológico nos pacientes. Esses efeitos podem ser apresentados principalmente em decorrência de quimioterapia e incluem náuseas, constipação, diarreia, dor de cabeça, fadiga e dores musculares, que podem ser minimizadas pela ação dos óleos essenciais puros.

O óleo de lavanda pode ser utilizado de duas formas para pacientes oncológicos. A primeira delas é através de administração pela via cutânea, onde os óleos atravessam as camadas da pele e são absorvidos rapidamente. Dessa forma, alcançam a corrente sanguínea e agem na diminuição da ansiedade e no controle do sono. A massagem pode ser considerada nessa modalidade de administração, em que se esfrega com a ponta dos dedos a sola dos pés com o óleo (Fig. 1), após o banho, assim como nos escalda-pés.

Aromaterapia associada à massagem nos pés
Fig. 1: Pontos para realização de massagem na sola dos pés. Fonte: http://jconlineimagem.ne10.uol.com.br/imagem/infografico/normal/56330e9c60e75bfd0362f33102eaa2e1.jpg.

Outra forma de se administrar é por meio de inalação, quando as moléculas dos óleos essenciais podem atingir os pulmões, chegando à corrente sanguínea e cérebro. Nesse caso, é possível utilizar difusores de ambiente e colares aromáticos ou mesmo inalar o perfume.

Foi relatado entre os diversos pacientes que fazem uso do óleo essencial que a inalação de lavanda tem um efeito imediato, enquanto que a aplicação tópica produz efeito em 10 a 90 minutos e dura alguns dias (Worwood, 2016).

Estudos sobre os efeitos do óleo de lavanda

A lavanda é usada para relaxamento espiritual, para fins terapêuticos (construir o bem-estar físico e emocional) e para regulação de distúrbios do sono (Koulivand e colaboradores, 2013 – Kritsidima e colaboradores, 2010).

Em um estudo realizado por Franco e colaboradores (2016), 2% de óleo de lavanda foi administrado a um grupo de mulheres e óleo aromático sem odor foi administrado a outro grupo, por 10 minutos, através de uma máscara de oxigênio, antes de todas serem submetidas a uma biópsia de mama. As mulheres que inalaram óleo de lavanda relataram uma diminuição de sentimentos negativos, sendo que a aromaterapia mostrou-se eficaz na gestão da ansiedade pré-operatória.

Outro estudo mostrou que inalar quatro gotas de óleo de lavanda a 10%, por quatro semanas, melhora a qualidade do sono em mulheres com câncer.

Keshavarz Afshar e colaboradores (2015) e Kritsidima e colaboradores (2010) observaram o diagnóstico e os procedimentos realizados em um grupo de pacientes que frequentou um ambulatório clínico para atendimento odontológico, durante o período em que se submetiam a tratamento oncológico, sendo atendidos em uma sala onde foi colocado um copo de 10 ml de água com cinco gotas de óleo de lavanda. Por outro lado, observaram também os procedimentos realizados em outro grupo, em uma sala livre de odor. Ao final do estudo, descobriram que os níveis de ansiedade dos pacientes submetidos a procedimentos na sala com a aromaterapia de lavanda foram inferiores (Kritsidima e colaboradores, 2010).

Entretanto, embora o óleo de lavanda seja usado para o manejo da ansiedade e distúrbios do sono em populações, nenhum estudo até o momento relatou sua eficácia para especificamente controlar melhor a ansiedade e distúrbios do sono em pacientes submetidos à quimioterapia.

Pacientes com câncer experimentam sintomas acentuados de sua doença e decorrentes dos tratamentos, incluindo medo da morte, má qualidade de vida e relacionamentos danificados, o que pode causar uma sensação de perda de controle, ansiedade e distúrbios do sono (Chandwani e colaboradores, 2012 – Chang e Lin, 2017 – Delsigne, 2013 – Graci, 2005 – NCI, 2018 – Palesh e colaboradores, 2010 – Yaranoglu, 2015).

Os profissionais de saúde exercem papel importante no manejo farmacológico e não farmacológico da ansiedade e distúrbios do sono. Muitos tratamentos farmacológicos são usados ​​para controlar esses sintomas. Entretanto, a terapia medicamentosa está associada a efeitos colaterais, como tonturas, fadiga e desconforto. A maioria dos pacientes precisa de acompanhamento frequente durante o uso de terapia medicamentosa e, portanto, os tratamentos não farmacológicos são preferidos, incluindo-se nessa modalidade a aromaterapia (Cramer e colaboradores, 2013 – Dóro e colaboradores, 2017 – Emberly, 2008 – Firmeza e colaboradores, 2017 – Gallagher e colaboradores, 2017 – Ovayolu e colaboradores, 2014 – Zupanec e colaboradores, 2017).

Vários estudos apoiam o uso contínuo de óleo de lavanda como parte de um sistema integrado de abordagem à interferência invasiva dos procedimentos convencionais (Karadag e colaboradores, 2017 – Trambert e colaboradores, 2017), como se pode ver nos tópicos a seguir.

Massagem aliada à aromaterapia com óleo de lavanda proporcionou resultados positivos em pacientes com câncer, como mostram Ovayolu e colaboradores (2014).

Em um estudo, a ansiedade-traço foi reduzida e a qualidade do sono melhorou com o uso de óleo de lavanda. O nível médio de ansiedade observado no grupo de controle antes da quimioterapia não mudou, assim como os níveis de estado de ansiedade dos dois grupos que inalaram o óleo de lavanda associado ao óleo de melaleuca durante o tratamento quimioterápico.

Em outro estudo, foram examinados os efeitos de uma gota de óleo de Lavandula hybrida, antes da realização de procedimentos cirúrgicos, observando-se que houve redução da ansiedade nos pacientes. Outras pesquisas também encontraram relação entre a inalação de óleo de lavanda e a redução do estado de ansiedade (Koca Kutlu e colaboradores, 2008 – Kritsidima e colaboradores, 2010).

Bikmoradi e colaboradores (2015) revelaram que inalar lavanda por 20 minutos, duas vezes por semana, não produz efeito na redução da ansiedade, devendo ser aumentada a duração da aromaterapia para determinar o efeito da lavanda. Nesse estudo, os resultados não indicaram diferença significativa nos níveis de ansiedade com a inalação antes e após a quimioterapia. Porém, o tempo entre essas administrações foi curto de acordo com os protocolos de quimioterapia (mínimo de uma hora e máximo de quatro horas).

Estudos mostram que, devido a seu efeito ansiolítico e sedativo, a lavanda fornece conforto espiritual e bem-estar físico e emocional (Franco e colaboradores, 2016 – Hur e colaboradores, 2014 – Koulivand e colaboradores, 2013 – Redstone, 2015).

Ovayolu e colaboradores (2014) descobriram que a massagem aromaterápica e a aromaterapia com óleo de lavanda mantêm conforto a curto prazo e que o óleo de lavanda pode ser usado para controle de problemas psicológicos a longo prazo.

Compostos essenciais do óleo de lavanda, como linalol e acetato de linalila, são ligados a receptores no bulbo olfativo pelo odor. Surge, então, um efeito terapêutico na área onde as ações e humores, como como medo e raiva, são controlados e motivados no sistema límbico (Huang e Capdevila, 2017 – Koulivand e colaboradores, 2013 – LisBalchin e Hart, 1999 – Maddocks-Jennings e Wilkinson, 2004 – INC, 2018).

O óleo de lavanda mostra-se eficiente quando inalado diariamente por no mínimo 30 dias. Por apresentar um aroma agradável, é bem tolerado pelos pacientes durante a quimioterapia, além de auxiliar na qualidade do sono de pessoas com câncer, com base no tempo de avaliação em relação aos indivíduos que não fazem uso da aromaterapia.

Existe uma relação entre a qualidade do sono e a ansiedade. Quando o paciente com câncer começa a relaxar, ocorre uma diminuição no traço de ansiedade e sua qualidade de sono melhora de forma significativa, o que, por sua vez, reduz consequentemente a ansiedade.

Dessa forma, faz-se necessário obter maiores conhecimentos sobre técnicas de administração da lavanda, assim como sobre seus efeitos em relação a cada tipo de tumor, no tratamento e controle da ansiedade e distúrbios do sono.


Mari Uyeda – Professora Assistente da Saint Francis University, na Pensilvânia – EUA.

 

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