Arquitetura hospitalar inclusiva à neurodiversidade

O presente artigo aborda a temática da inclusão em ambientes hospitalares, com foco nas demandas específicas de crianças neurodivergentes.

A análise central, fundamentada em uma revisão bibliográfica abrangente, explorou tanto o impacto das condições neurodivergentes na experiência hospitalar quanto as estratégias de design inclusivo formuladas para atender qualitativamente esse grupo.

Foram selecionados estudos de caso específicos de projetos hospitalares inclusivos para ilustrar a aplicação prática dessas estratégias.

A pesquisa resultou na proposição de diretrizes para a implementação de design inclusivo em espaços de saúde pediátrica, destacando a importância da clareza, previsibilidade e controle do ambiente para pacientes neurodivergentes e suas famílias.

Essas diretrizes visam orientar arquitetos, designers e profissionais de saúde na criação de ambientes que promovam uma experiência positiva e inclusiva para essa população.

Além disso, o artigo aborda o potencial de inovações tecnológicas, como aplicativos móveis e terapias alternativas, para aprimorar ainda mais a experiência dos pacientes neurodivergentes.

No contexto de estudos futuros, enfatiza-se a importância da avaliação do impacto prático das diretrizes propostas e sua adaptação a diferentes contextos de cuidados de saúde pediátrica.

O compromisso contínuo com a pesquisa e o desenvolvimento é considerado essencial para a evolução das abordagens de design inclusivo, assegurando que esses ambientes atendam de forma eficaz e compassiva às variadas necessidades da população neurodivergente.

Introdução

A dor decorrente de procedimentos médicos pode constituir uma parte impactante da experiência de crianças em ambientes de saúde (Trottier et al., 2019).

Procedimentos dolorosos são frequentes entre crianças em hospitais e espaços ambulatoriais (Stevens et al., 2011). Tornam-se necessários para prevenção e tratamento de doenças, como diagnósticos, vacinação, coleta de sangue e procedimentos cirúrgicos menores. Entretanto, além de causarem ansiedade e incômodo local, podem gerar episódios de valência emocional negativa tanto para as crianças quanto para seus pais e colaboradores (Dewan et al., 2023).

Visando promover conforto e reduzir a dor, torna-se crucial que profissionais de saúde considerem as variadas necessidades de crianças e adolescentes, incluindo aqueles que fazem parte da neurodiversidade.

No contexto hospitalar, é imperativo reconhecer a diversidade de condições neurológicas, representada entre 15% a 20% dos casos neurodivergentes, de acordo com o Centers for Disease Control and Prevention – CDCP (2022).

Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), Transtorno do Espectro Autista (TEA), dispraxia e dislexia são exemplos dessas condições, que podem manifestar-se de formas variadas, resultando em sensibilidades sensoriais que vão desde a hipossensibilidade à hipersensibilidade (Doyle et al., 2020).

Crianças neurodivergentes frequentemente enfrentam desafios de saúde adicionais, o que eleva as chances de frequentarem instalações médicas. Por exemplo: crianças autistas podem apresentar distúrbios gastrointestinais e problemas crônicos de sono, além de enfrentarem riscos elevados de ansiedade e depressão, especialmente durante a pandemia.

Em vista disso, para criar ambientes de saúde verdadeiramente inclusivos, estratégias de design eficazes devem concentrar-se na oferta de opções, na redução de estímulos sensoriais e na simplificação da experiência de cuidados médicos. Isso inclui garantir clareza visual, previsibilidade, orientação fácil e acesso à natureza.

Permitir que as crianças exerçam mais controle sobre seu ambiente, por exemplo, apresenta-se como uma solução plausível para minimizar o estresse durante visitas médicas. Isso pode ser alcançado através do controle dos níveis de iluminação, eliminação de dispositivos e equipamentos ruidosos, fornecimento de controles individuais de temperatura e criação de espaços terapêuticos calmantes com opções de mobilidade e conforto.

O design físico, juntamente com estratégias operacionais e tecnológicas inovadoras, desempenha um papel crucial na criação de experiências qualitativas para pacientes neurodivergentes e suas famílias na pediatria médica. Isso envolve o uso de aplicativos móveis, guias de navegação espacial, passeios virtuais e redução de interações interpessoais quando necessário.

Promovendo espaços mais coesos, permeáveis, flexíveis e adaptados às diversas necessidades de pacientes em ambientes de cuidados de saúde pediátricos, a arquitetura inclusiva não apenas beneficia crianças neurodivergentes, mas também todos os participantes do meio construído.

Neurodiversidade: conceito e tipologias

O conceito de “neurodiversidade”, cunhado em 1999 pela socióloga australiana Judy Singer, refere-se às diversas maneiras pelas quais o cérebro humano conecta-se, resultando em habilidades, necessidades e capacidades singulares (Armstrong, 2011).

Essas diferenças podem manifestar-se em alterações na dinâmica social, no funcionamento cognitivo, nas habilidades motoras, na atenção, nos estímulos sensoriais, na fala, na linguagem e no aprendizado, variando de acordo com o grau ou a tipologia.

Desde sua criação, o conceito de neurodiversidade foi concebido para ser análogo ao de biodiversidade, não definindo um subgrupo específico de indivíduos, mas reconhecendo as inúmeras variações do cérebro humano.

Conforme observado por Feinstein (2018), o termo evoluiu para classificar os indivíduos como neurodivergentes ou neurotípicos. Os neurotípicos são aqueles que exibem os padrões típicos de pensamento e comportamento humanos esperados pela sociedade, enquanto os neurodivergentes são aqueles que se desviam desse grupo, conforme representado na Figura 1.

Neurodiversidade em hospitais
Fig. 1 – Composição do grupo da “neurodiversidade” e subgrupos, “neurotípicos” e “neurodivergentes”. Fonte: arquivos do autor (2023).

A neurodiversidade também inclui desafios neurológicos resultantes de modificações cerebrais ou outras causas mediadas pelo ambiente externo. Mesmo entre os considerados neurotípicos, um em cada quatro deles experimentará um problema de saúde mental, como depressão ou estresse, em algum momento da vida (CDCP, 2022).

Devido aos casos de subdiagnósticos realizados diariamente, o CDCP (2022) estima que mais de 50% da sociedade desconhece essa diferenciação neurológica, o que compromete o respeito e a convivência integrada de todos os neurodiversos.

Diretores hospitalares progressistas norte-americanos, por exemplo, estão começando a reconhecer que integrar a neurodiversidade pode fornecer uma enorme vantagem no tratamento médico, fomentando acolhimento e experiências qualitativas na unidade de saúde, além de propiciar um menor período de internação e diminuição de gastos com analgésicos.

Propostas como essa podem ser visualizadas nas instalações do Thompson Autism and Neurodevelopmental Center at CHOC e do Medical University of South Carolina Shawn Jenkins Children’s Hospital.

Pontua-se que movimentos como esses estão levando a uma série de políticas, programas e procedimentos mais inclusivos, embora esse reconhecimento esteja só começando a influenciar a arquitetura hospitalar.

Ansiedade, estresse e depressão na rede hospitalar

Em 2022, foi publicado o relatório Covid-19 Health Care Workers Study (Heroes), mostrando que entre 14,7% e 22% dos trabalhadores de saúde entrevistados nesse ano apresentaram sintomas que levaram à suspeita de um episódio depressivo, enquanto 5% a 15% dos trabalhadores disseram que pensaram em cometer suicídio.

O estudo mostrou ainda que, em alguns países, apenas ⅓ dos colaboradores realizam tratamento psicológico, além de trabalharem em instalações hospitalares carentes de infraestrutura inclusiva aos diversos públicos que acolhem (OPAS, 2022).

Ademais, em 2021, foi calculado que cerca de 36% dos jovens no Brasil apresentaram sintomas de depressão e ansiedade durante a pandemia. O estudo foi conduzido pela Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), com cerca de 6.000 jovens entre 5 a 17 anos (Polanczyk, 2021).

Conforme a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), a depressão é uma das principais causas de doença e incapacidade entre adolescentes, enquanto o suicídio é a terceira principal causa de morte entre adolescentes de 15 a 19 anos.

As consequências de não abordar as condições de saúde mental dos adolescentes estendem-se à idade adulta, prejudicando a saúde física e mental e limitando futuras oportunidades. A promoção do cuidado à saúde mental, juntamente com a prevenção de transtornos neuropsicológicos, é fundamental para auxiliar adolescentes a prosperarem e evoluírem socialmente (OPAS, 2022).

Dessa maneira, considerar uma arquitetura inclusiva poderia fomentar melhorias no acolhimento, no tratamento e no respeito à saúde biológica, psicológica e social tanto dos pacientes quanto dos profissionais de saúde e demais colaboradores da unidade hospitalar.

Nesse contexto, o design baseado em evidências (EDB), mais especificamente a neurociência aplicada à arquitetura, apresenta-se como uma ferramenta de projeto promissora para um ambiente hospitalar inclusivo e salutogênico para os usuários.

Metodologia

A pesquisa conduzida neste artigo caracteriza-se por um estudo exploratório, composto por: (1) revisão bibliográfica, abrangendo autores como Neumann et al. (2021), Aiochio e Queiroz (2020) e Magda Mostafa (2010), relacionando-os aos ambientes hospitalares e (2) análise de dois estudos de caso específicos de projetos hospitalares inclusivos: Thompson Autism and Neurodevelopmental Center at CHOC e Medical University of South Carolina Shawn Jenkins Children’s Hospital, que consideram as necessidades de crianças neurodivergentes, bem como as estratégias de design operacional contempladas nas instalações.

Objetiva-se, portanto, a proposição de diretrizes práticas para a aplicação de princípios de design inclusivo em ambientes de saúde pediátrica, com foco em promover a clareza, previsibilidade e controle do ambiente para pacientes neurodivergentes e suas famílias.

Neuroarquitetura aplicada ao ambiente hospitalar inclusivo

Conforme Moser (1998), o espaço físico exerce influência sobre o comportamento e o desenvolvimento de indivíduos com peculiaridades cognitivas, como crianças com TDAH. Nesse contexto, o ambiente hospitalar deve ser projetado para gerar valências emocionais qualitativas e contribuir para o envolvimento experiencial pacífico dessas crianças no espaço hospitalar.

Para alcançar esse objetivo, é fundamental compreender o impacto do ambiente construído no processamento sensorial no contexto da neurodiversidade. Os dois tópicos a seguir enfatizam a arquitetura multissensorial e suas adaptações no contexto de centros terapêuticos.

O objetivo é desenvolver estratégias de design apropriadas e baseadas em evidências para o público-alvo, incluindo pacientes, familiares e profissionais de saúde envolvidos.

Percepção sensorial e interpretação do ambiente construído

O ambiente construído para crianças neurodiversas deve ser projetado para atender às múltiplas necessidades sensoriais. Conforme Mostardeiro (2019) destaca, a percepção sensorial é um dos aspectos mais afetados em indivíduos com condições neurológicas diversas.

Em Designing for Autism Spectrum Disorders, Ângela Bourne e outros autores destacam que “as pessoas que vivem com neurodiversidade têm níveis variados de sensibilidade ao seu entorno, conhecidos como hipersensibilidade e hipossensibilidade, e esses padrões de sensibilidade estão relacionados aos cinco sentidos: audição, visão, tato, olfato e paladar” (Bourne et al., 2016, p. 4).

Nesse aspecto, as diferenças no processamento sensorial, frequentemente presentes na neurodiversidade, como descrito por Grandin et al. (2015), significam que esses indivíduos interpretam estímulos ambientais de maneira diferente, mesmo que seus sentidos funcionem normalmente. Essa modificação no processamento sensorial pode levar a sintomas como confusão mental, estresse e desconforto.

Crianças neurodiversas possuem diferentes maneiras de interpretar informações sensoriais do ambiente externo em comparação com as ditas neurotípicas – aquelas com desenvolvimento neurológico socialmente reconhecido como regular.

Gaines et al. (2016) definem a integração sensorial como um processo neurofisiológico complexo que ocorre no sistema nervoso central, permitindo que o cérebro organize e interprete as informações sensoriais provenientes do ambiente e do próprio corpo.

Esse processo é fundamental para a compreensão e resposta adequada aos estímulos sensoriais, contribuindo para o desenvolvimento e a adaptação do organismo ao ambiente. Basicamente, pode ser compreendido em cinco etapas, descritas a seguir.

1 – Captação sensorial: as informações sensoriais são recebidas através dos órgãos dos sentidos, como olhos, ouvidos, pele, nariz e boca. Cada órgão sensorial é especializado em detectar um tipo específico de estímulo, como luz, som, toque, odor e sabor.

2 – Transmissão neural: após a captação sensorial, as informações são convertidas em sinais elétricos pelos neurônios sensoriais (células nervosas). Esses sinais percorrem os nervos periféricos em direção ao sistema nervoso central (cérebro e medula espinhal).

3 – Processamento central: no cérebro, as informações sensoriais são processadas em áreas específicas correspondentes a cada sentido. Durante esse processamento, as diferentes informações sensoriais são comparadas, contrastadas e integradas para formar uma percepção unificada do ambiente.

4 – Integração multissensorial: envolve a combinação de informações sensoriais de diferentes modalidades (por exemplo: visão, audição e tato), para criar uma representação coerente do ambiente. Essa integração permite que o cérebro reconheça padrões, faça associações e compreenda a complexidade do ambiente circundante.

5 – Resposta motora: com base nas informações sensoriais integradas, o cérebro formula uma resposta apropriada. Essa resposta pode se manifestar através de movimentos musculares, ajustes posturais ou outras reações motoras – Gaines et al. (2016).

A integração sensorial é crucial para a realização de atividades diárias, como coordenação motora, equilíbrio, percepção espacial e interação social, conforme mostra a Figura 2.

Em alguns casos, indivíduos podem apresentar dificuldades na integração sensorial, o que leva a condições conhecidas como transtornos do processamento sensorial (TPS), nos quais a resposta às sensações do ambiente é atípica.

Neurodiversidade e percepção sensorial
Fig. 2 – Integração sensorial ao combinar estímulos sensoriais presentes no ambiente construído. 1 – O mundo exterior (ambiente) interage com o mundo interior (corpo, SNC) através dos receptores sensoriais. 2 – Os nervos periféricos levam os dados para a medula espinhal. 3 – A informação vai então para o cérebro através dos tratos nervosos presentes na medula espinhal. 4 – Nível equilibrado de informações sensoriais processadas. 5 – Alto nível de excitação: informações sensoriais supérfluas passam pelo “filtro” cerebral, causando excitação, confusão e distração. 6 – Baixo nível de excitação: informações sensoriais insuficientes são processadas no cérebro, causando distração, atrasos e acidentes. Fonte: arquivos do autor (2023).

O déficit de integração sensorial em pessoas neurodivergentes pode se manifestar como hipersensibilidade ou hipossensibilidade, ou seja, uma resposta excessiva ou insuficiente a estímulos sensoriais, respectivamente.

Uma criança, por exemplo, pode ter uma sensibilidade aumentada ao som (mesmo o ruído mais leve pode ser perturbador), ao mesmo tempo em que possui um olfato menos sensível (apenas odores fortes são perceptíveis).

Consequentemente, Neumann et al. (2021), Aiochio e Queiroz (2020) e Mostafa (2010) descrevem algumas reações prováveis que indivíduos com neurodiversidade podem experimentar com relação ao processamento sensorial (Tabela 1).

Arquitetura hospitalar inclusiva
Tabela 1 – Diferenças entre a percepção sensorial hipersensível e hipossensível. Fonte: adaptado de Neumann et al. (2021), Aiochio e Queiroz (2020) e Mostafa (2010).

Assim, explorar os sentidos de maneira cuidadosa e organizada é uma forma de auxiliar qualitativamente na jornada experiencial e na inclusão de crianças neurodivergentes por meio da arquitetura multissensorial (Aiochio e Queiroz, 2020 e Mostafa, 2010).

A estética, a funcionalidade e os aspectos sensoriais devem ser alinhados adequadamente para criar um ambiente confortável e acolhedor para o público com neurodiversidade, facilitando interações agradáveis no centro hospitalar entre pacientes, acompanhantes, profissionais de saúde e demais colaboradores.

Neuroarquitetura e a configuração do ambiente hospitalar

Os desafios mais comuns em ambientes hospitalares concentram-se no processamento sensorial de cada usuário, ou seja, dependem da forma como o sistema nervoso central gerencia as informações recebidas dos órgãos sensoriais, como os estímulos visual, auditivo, tátil, gustativo, olfativo, proprioceptivo e vestibular (Machado et al., 2017).

Pacientes neurodiversos geralmente podem ser super ou pouco estimulados por fatores em seu ambiente, como iluminação, som, textura, cheiros, temperatura, qualidade do ar ou sensação geral de segurança. Qualquer abordagem abrangente para projetar em prol da neurodiversidade deve considerar cuidadosamente determinados aspectos sensoriais durante a jornada dos pacientes no espaço terapêutico e, especialmente, na unidade pediátrica (Ozel et al., 2020).

Dessa forma, a neuroarquitetura aplicada ao projeto hospitalar possibilita a formatação de estratégias espaciais capazes de propiciar a inclusão das diferentes condições neurológicas que se manifestam no ambiente de saúde.

Uma maneira eficaz de permitir usos diversificados no local de espera ou de atendimento clínico é por meio da sensação de controle e autonomia, possibilitada pelas escolhas espaciais (Bury et al., 2020). A possibilidade da escolha permite que tanto pacientes neurodivergentes quanto neurotípicos administrem de forma eficaz e segura suas próprias necessidades, com independência e autonomia.

Espaços versáteis que oferecem uma variedade de escolhas tornam as diferenças aparentes, promovendo o respeito e a integração. Esses ambientes também permitem mudanças individuais e operacionais, possibilitando uma organização espacial do quarto do paciente, por exemplo, durante sua internação ou tratamento terapêutico, conforme mostra a Figura 3.

Neurodiversidade em ambientes hospitalares
Fig. 3 – No Hospital Infantil Shawn Jenkins, os quartos dos pacientes foram inspirados nas casas de praia locais, com piso de madeira, tapetes e móveis simples. Eles são projetados para incentivar as crianças a decorarem os seus próprios espaços, com superfícies pintadas, prateleiras e escrivaninhas.

Conhecimentos de neuroarquitetura aplicáveis às unidades hospitalares

A seguir, foram destacados alguns dos conhecimentos neurocientíficos aplicados à arquitetura, que podem ser introduzidos no planejamento de projetos para unidades hospitalares.

A partir desses conhecimentos, foram relacionadas as seguintes variáveis ambientais: wayfinding e organização espacial, referenciais espaciais, qualidade acústica, conforto térmico, grau de estimulação e iluminação (Rosqvist et al., 2020).

Wayfinding e organização espacial

O termo “wayfinding” refere-se ao processo de orientação e navegação em ambientes construídos. Um eficiente projeto de wayfinding não apenas deve ser intuitivo, mas também incorporar no espaço construído um design que estimule a curiosidade, recompense a exploração e proporcione a satisfação da descoberta (Rosqvist et al., 2020 e Feinstein, 2018).

Essa abordagem visa proporcionar melhores garantias de que tanto visitantes quanto ocupantes regulares possam compreender sua localização e encontrar facilmente o caminho que desejam.

Contudo, é crucial reconhecer que crianças neurodivergentes, como aquelas com TDAH e TEA, tendem a sentir-se mais seguras em ambientes que oferecem repetição, previsibilidade e limites claros. Nesse contexto, a importância de uma ordem espacial legível torna-se ainda mais evidente quando incorporada ao design do meio construído.

A seguir, são citadas as estratégias pontuais de wayfinding.

1 – Desenvolver espaços memoráveis que empregam um ritmo de elementos comuns para estabelecer uma sensação reconfortante de ordem, auxiliando os sistemas de posicionamento inatos do cérebro (O’Malley et al., 2022). Simultaneamente, o projeto deve evitar a repetição confusa de espaços ou características idênticas.

2 – Elementos marcantes e pontos focais, como uma escada ou obra de arte, pontos de vista, como um mezanino, e linhas de visão claras, incluindo vistas para o exterior, podem orientar os usuários do edifício, como mostra a Figura 4.

Neurodiversidade em hospitais
Fig. 4 – A sala sensorial do Hospital Infantil Shawn Jenkins é destinada aos neurodivergentes, com diversificados estímulos táteis presentes na parede, composta por brinquedos e tonalidades de cores. Fonte: perkinswill.com (2022).

3 – Variações significativas na iluminação para cada ambiente podem ser benéficas, visto que as pessoas naturalmente se dirigem para espaços mais iluminados (Figura 5). Além disso, estratégias como o uso cuidadoso de materiais, cores e sinalização podem ser consideradas (Edelstein, 2005).

Neurodiversidade em hospitais
Fig. 5 – No Hospital Infantil Shawn Jenkins, a vista para o lobby principal foi fundamental para a equipe de design criar um espaço calmo e reduzir os estresses ambientais em todo o interior, além de propiciar iluminação natural que varia ao longo do dia. Fonte: perkinswill.com (2022).

4 – Em ambientes complexos, a sinalização clara e consistente é imprescindível, especialmente para pessoas neurodivergentes. Mensagens concisas, tipografia simples (sem serifa) e uma hierarquia informacional bem definida podem reduzir a sobrecarga visual.

5 – Por fim, direções consistentes com mensagens redundantes em cores, números e palavras oferecem assistência multimodal a toda a variedade de usuários do edifício, à medida que cada um se dirige para seu destino, conforme está representado na Figura 6.

Neurodiversidade em ambientes pediátricos
Fig. 6 – No Hospital Infantil Shawn Jenkins, os setores de atendimento são divididos por cores destacadas em paredes e placas espalhadas pelos corredores. Fonte: perkinswill.com (2022).

Oportunidade espacial de escolha

Ambientes hospitalares que oferecem uma variedade de configurações proporcionam aos usuários a escolha do espaço mais adequado para suas tarefas. Espaços compartilhados e abertos facilitam a socialização, enquanto espaços menores e fechados oferecem uma sensação de refúgio e acolhimento individual.

Sem um gerenciamento adequado do espaço, o acúmulo sensorial de alertas sonoros e visuais juntamente com o ruído proveniente de diálogos entre as pessoas e de movimento dos transeuntes contribuem para a formação de uma atmosfera estressante para a maioria dos usuários. Kaplan (1996) denominou essa alta demanda de atenção cognitiva como fadiga mental.

Nesse contexto, quando a atenção dos pacientes diminui devido ao excesso de informações sensoriais presentes no ambiente construído, eles tendem a enfrentar maior dificuldade em lidar com situações ansiolíticas e estressantes.

Diversos estudos destacam que a restauração da atenção cognitiva pode ser promovida por meio de recursos diretos ou indiretos da natureza, como vistas para o meio externo, parques, jardins e percursos arborizados (Albuquerque et al., 2016 e Horn, 2016). Esse processo de restauração é conhecido como Teoria do Restauro da Atenção (Kaplan, 1996).

Ao explorar ambientes restauradores, em neurociência e psicologia ambiental, torna-se evidente que eles consistem em uma combinação de aspectos sensoriais relacionados à biofilia, ou seja, à necessidade inata do ser humano de estar em contato com a natureza.

Propõe-se que o contato adequado com recursos naturais seja capaz de promover experiências qualitativas nas esferas cognitiva, comportamental, emocional e social (Gressler, 2013). Nas Figuras 7, 8 e 9, o jardim restaurador localizado no terraço do Boston Children’s Hospital, denominado Longwood Rooftop Healing Garden, destaca-se como um exemplo interessante no contexto hospitalar.

Neurodiversidade em atendimento pediátrico
Fig. 7 – Visualiza-se a oportunidade de escolha entre o isolamento e a socialização para crianças no jardim sensorial presente no terraço do Boston Children’s Hospital – Longwood Rooftop Healing Garden. Fonte: Chi-athenaeum.org (2019).

 

Atendimento hospitalar para neurodivergentes
Fig. 8 – Vista aérea do jardim sensorial presente no terraço do Boston Children’s Hospital – Longwood Rooftop Healing Garden. Fonte: Chi-athenaeum.org (2019).

 

Neurodiversidade em saúde
Fig. 9 – A acessibilidade passa a ser uma condição intrínseca da arquitetura inclusiva à neurodiversidade, como pode ser visto no jardim sensorial presente no terraço do Boston Children’s Hospital – Longwood Rooftop Healing Garden. Fonte: Chi-athenaeum.org (2019).

A disponibilidade de alguns espaços equipados com tecnologia e a designação de outras áreas como zonas livres de tecnologia oferecem opções adicionais para aprimorar a experiência dos usuários no ambiente hospitalar. Além de possibilitar momentos de pausa e reflexão, esses espaços proporcionam alívio aos diversos estímulos externos presentes nos corredores do hospital, como demonstrado na Figura 10. Essas escolhas também permitem que as pessoas encontrem um nível confortável de exposição e interação social (Horn, 2016).

Neurodivergentes em ambiente hospitalar
Fig. 10 – Sala de Meditação presente no Hospital Infantil Shawn Jenkins. Fonte: perkinswill.com (2022).

Qualidade acústica

Os sons cotidianos presentes em ambientes hospitalares tradicionais não só podem dificultar o foco dos colaboradores, mas também contribuir para a extensão da internação e/ou tratamento dos pacientes. Isso ocorre devido ao aumento nos níveis de ansiedade e estresse dos pacientes, desencadeado pelo excesso de ruído (Dokmanic et al., 2013).

Nesse contexto, a ausência de tratamento acústico no ambiente construído faz com que pequenos ruídos tornem-se ensurdecedores para os usuários especialmente sensíveis ou propensos à distração, como aqueles com TEA e TDAH (Honeybourne, 2019 e Tadeu et al., 2011).

Segundo Emar, Smith e Coats (2022), um projeto acústico eficaz para o local de trabalho deve oferecer uma variedade de configurações auditivas que se adequem a diversas atividades, posicionando-se de maneira apropriada em cada zona de trabalho.

Além disso, o projeto acústico pode contemplar a integração de sistemas de mascaramento de som ou ruído branco, visando a melhorar o conforto, como exemplificado na Figura 11.

Neurodivergentes - atendimento em hospitais pediátricos
Fig. 11 – O CHOC – Children’s Hospital of Orange County fornece ambientes de refúgio nos corredores. Espaços assim podem possibilitar conforto acústico, a fim de melhorar os estímulos estressores do ambiente hospitalar. Fonte: healthcaresnapshots.com (2020).

Conforto térmico

Juntamente com a acústica, o conforto térmico é consistentemente identificado em pesquisas no local de trabalho como um dos principais contribuintes para o desconforto, deterioração e repercussões negativas no tratamento dos pacientes.

Como resultado, a ausência de conforto térmico reflete-se em períodos prolongados de internação para os pacientes (Heerwagen et al., 2011 e Sundell el al, 2011).

O conforto térmico é uma variável que pode ser influenciada por fatores pessoais, como vestimenta, nível de atividade e metabolismo, além de fatores neurológicos. Uma solução para essa diversidade é a disponibilização de controles de temperatura individuais, como janelas operáveis ou difusores de ar, permitindo que pacientes e colaboradores ajustem o ambiente térmico de acordo com suas necessidades pessoais (Kapp, 2007; Frankenhauser, 1986).

Estimativas sugerem que o uso de controles individuais de temperatura pode levar a aumentos de produtividade de até 7%, dependendo da natureza do tratamento do paciente ou da tarefa executada pelo profissional de saúde (Heerwagen et al., 2011 e Sundell el al, 2011).

Outros elementos de um design térmico eficiente para o local de trabalho incluem o controle dos ganhos solares em espaços perimetrais, evitando o superaquecimento das áreas próximas às janelas e a melhoria no desempenho do revestimento externo do edifício, para garantir um condicionamento uniforme em todo o espaço.

Além disso, a criação de áreas termicamente variadas, como átrios com ventilação natural ou pátios externos, oferece às pessoas a opção de escolher um local que atenda às suas preferências térmicas, como exemplificado na Figura 12.

Adaptação de ambiente hospitalar para neurodivergentes
Fig. 12 – O Texas Children’s Hospital’s oferece um sistema térmico eficiente no equilíbrio entre as temperaturas centrais e periféricas. Fonte: cannondesign.com (2019).

Iluminação

De maneira abrangente, diversos estudos, incluindo o de Boubekri et al. (2014, p.14), evidenciam que “indivíduos que trabalham em ambientes ensolarados têm um sono melhor e experimentam mais momentos de alegria do que aqueles que passam o dia em escritórios mal iluminados”. Além de promover melhorias na qualidade do sono, tais ambientes também desempenham um papel fundamental na redução de problemas físicos e mentais.

Kellert e Calabrese (2015) afirmam que a percepção das mudanças na iluminação natural ao longo do dia pode ser alcançada por meio do contraste entre luz e sombra (Figura 13). Eles argumentam que esse movimento de transição de luz frequentemente influencia as emoções dos usuários no ambiente construído.

Considerando essa conexão emocional, a luz solar pode ser incorporada através de elementos como grandes janelas, claraboias, áreas externas, vistas para o exterior, janelas com abertura (Kellert, 2012), varandas, decks, terraços, jardins (Huiberts, 2015), paredes de vidro e clerestórios (De Paiva, 2021).

Adaptação de ambientes hospitalares para neurodivergentes
Fig. 13 – Área externa destinada à equipe de saúde no Hospital Infantil Shawn Jenkins. Fonte: perkinswill.com (2022).

A iluminação oferece uma oportunidade significativa para o design inclusivo fazer a diferença. Observa-se que as luminárias fluorescentes, devido à cintilação de luz e zumbido, apresentam efeitos distrativos perceptíveis apenas pelos neurodivergentes. Portanto, a substituição por iluminação de LED de qualidade pode ter um impacto promissor (Kapp, 2020 e Joye, 2007).

Pesquisas realizadas na Universidade de Toronto sugerem que níveis intensos de luz podem amplificar valências emocionais, tanto positivas quanto negativas, e que atenuar o brilho das luzes pode resultar em decisões mais racionais (Kapp, 2020).

Outros estudos indicam que ajustar a cor e a intensidade da iluminação elétrica ao longo do dia, para imitar as mudanças diurnas da natureza, pode ajudar a reduzir o estresse.

Esses benefícios provavelmente afetam de maneira positiva tanto os pacientes neurodivergentes quanto os neurotípicos, especialmente durante a internação em quartos hospitalares (Largo-Wight et al., 2011).

Nos padrões de design, sistemas de iluminação oferecem orientações sobre a luz natural nos locais de trabalho, como o “tunable white”, que simula a intensidade e a temperatura de cor da iluminação natural em ambientes internos (Figura 14).

No que diz respeito à iluminação elétrica, observou-se que uma iluminação hospitalar mal projetada pode intensificar a percepção de dor durante a internação dos pacientes (Peccin, 2002).

Nessa perspectiva, especialmente em estudos de pós-ocupação, a temperatura, a acústica e a iluminação são consistentemente classificadas como os fatores mais estressantes no ambiente construído (O’Malley et al., 2022).

Neurodiversidade em ambientes hospitalares
Fig. 14 – Utilização do sistema tunable white nas acomodações hospitalares dos pacientes e nos corredores hospitalares. Fonte: adaptado de lumicenteriluminacao.com.br (2020).

Em última análise, a capacidade da equipe hospitalar de adaptar a iluminação de acordo com as preferências dos pacientes, em momentos específicos, pode resultar em maior eficiência no tratamento medicamentoso e aliviar o estresse e o esgotamento mental dos pacientes e familiares, como ilustrado na Figura 15 (Maslin, 2022).

No caso dos funcionários, como a equipe de saúde, a implementação de sistemas luminotécnicos mais eficientes pode contribuir para o aumento da produtividade e do bem-estar no local de trabalho (Edelstein, 2005).

Neurodiversidade em atendimento hospitalar pediátrico
Fig. 15 – Utilização de mecanismos tecnológicos que adequam as variáveis de temperatura, acústica e iluminação, no quarto de paciente internado no Hospital Infantil Shawn Jenkins. Fonte: perkinswill.com (2022).

Grau de estimulação

Quando se trata da adaptação dos ambientes hospitalares para atender à diversidade neurológica, é essencial considerar uma das características distintas em pessoas neurodivergentes: a hipossensibilidade ou hipersensibilidade às experiências sensoriais específicas.

Como discutido por Neumann et al. (2021), Aiochio e Queiroz (2020) e Mostafa (2010), indivíduos neurodivergentes, como aqueles com TEA, apresentam reações variadas no processamento sensorial, categorizadas como interações hipossensíveis ou hipersensíveis, conforme detalhado na Tabela 1.

Para pacientes neurodivergentes com condições neurológicas específicas relacionadas ao processamento sensorial, a presença de estímulos visuais, auditivos e olfativos pode comprometer a eficácia do tratamento hospitalar, podendo gerar irritabilidade, em casos de hipersensibilidade. Por outro lado, a falta de estímulos ambientais pode ser um problema para outros, resultando na incapacidade de se concentrarem harmoniosamente no ambiente, devido à hipossensibilidade (Maslin, 2022).

Dessa forma, é essencial incorporar opções que permitam aos pacientes controlar ou escolher o nível de estimulação sensorial ao seu redor como parte fundamental do design inclusivo.

Estratégias como fornecer oportunidades de escolha aos pacientes tornam-se válidas para aprimorar a estadia de cada indivíduo no ambiente hospitalar, conforme destacado por Maslin (2022).

Medidas eficazes incluem a minimização da confusão visual e a criação de zonas silenciosas e isentas de tecnologia, assim como a integração de espaços de descanso e alívio em áreas de circulação, como confirmado por Horn (2016).

A escolha de cores é um aspecto importante a ser considerado. Tons de azul e verde tendem a acalmar e tranquilizar, enquanto cores como amarelo, laranja e vermelho têm propensão a estimular e elevar o estado de alerta. Cores dissonantes ou conflitantes, que podem ser ignoradas por indivíduos neurotípicos, têm o potencial de perturbar profundamente pessoas com sensibilidade aumentada (Bury et al., 2020).

Padrões e texturas também desempenham um papel significativo na estimulação sensorial. A utilização de padrões previsíveis, simetria ou fractais pode auxiliar os neurodivergentes a compreender, gerenciar e avaliar suas condições cognitivas (Armstrong, 2011 e Mandelbrot, 1975).

Além disso, a escolha de padrões orgânicos e a incorporação de irregularidade e complexidade podem despertar o interesse de outras pessoas na interação com o espaço. Assim como os padrões, as texturas têm o poder de aumentar ou diminuir a intensidade da estimulação no ambiente (Bury et al., 2020).

Como indicado por Ben-Alon et al. (2019), materiais naturais costumam ser mais compreensíveis e calmantes para a neurodiversidade em comparação com suas contrapartes sintéticas.

Em resumo, os princípios do design biofílico, fundamentais na neuroarquitetura, demonstram impactos significativos e benéficos na qualidade de saúde dos funcionários do hospital e na recuperação de pacientes, independentemente de serem neurotípicos ou neurodivergentes, como ilustrado na Figura 16.

Neurodiversidade em atendimento pediátrico
Fig. 16 – Design biofílico aplicado à sala de ressonância magnética no ambiente hospitalar pediátrico, do Hospital Infantil Shawn Jenkins. Fonte: perkinswill.com (2022).

Discussões

A discussão sobre o design inclusivo em ambientes hospitalares, com foco na neurodiversidade, reflete uma crescente conscientização sobre a importância de atender às necessidades de indivíduos neurodivergentes.

A experiência de pacientes neurodivergentes é significativamente afetada por estímulos sensoriais, sendo alguns hipersensíveis e outros hipossensíveis. Essa população, especialmente crianças, tende a frequentar mais facilmente instalações de saúde mediante distúrbios gastrointestinais, insônia ou episódios de epilepsia. Além disso, questões de saúde mental, como ansiedade e depressão, também são prevalentes nesse grupo, especialmente após a pandemia, que agravou ainda mais essas preocupações.

Ao projetar o ambiente hospitalar com o objetivo de ser inclusivo para todos, é crucial fornecer uma variedade de opções para permitir que os usuários encontrem um espaço que atenda às suas necessidades específicas para a tarefa desejada (O’Haire, 2017).

Todos os aspectos do espaço – cor, iluminação, materialidade, elementos no campo de visão e estímulos sensoriais – precisam ser projetados com propósito e intenção, conforme foi discutido anteriormente.

Para abordar de forma eficaz as necessidades do público neurodivergente, o design inclusivo é essencial, começando pela priorização da clareza, repetição, previsibilidade e controle sobre o ambiente por parte dos pacientes. Isso envolve a criação de espaços com pouca estimulação sensorial, como iluminação ajustável e a eliminação de dispositivos ruidosos e equipamentos automáticos.

Estratégias de design que proporcionam controle sobre o ambiente, como o uso de cores consistentes e navegação intuitiva, são fundamentais para criar uma atmosfera tranquila e segura para os pacientes.

Além do design físico, estratégias operacionais e tecnológicas, como o uso de aplicativos móveis e terapias alternativas, desempenham um papel importante na melhoria da experiência do paciente neurodivergente. A minimização de interações interpessoais e a incorporação de tecnologia de informações de saúde podem reduzir a ansiedade e proporcionar uma plataforma para a comunicação por escrito, tornando a experiência mais confortável.

Um exemplo interessante da aplicação de tecnologias no ambiente hospitalar foi implementado no Thompson Autism and Neurodevelopmental Center at CHOC, localizado no lobby da nova Bill Holmes Tower, que abriga o show interativo “Turtle Talk with Crush”, doado pela Walt Disney Imagineering (Figura 17). A tecnologia possibilita interações dos pacientes internados com personagens do filme “Procurando Nemo”, por meio de realidade virtual (CHOC, 2020).

Neurodiversidade - adaptação de ambientes hospitalares
Fig. 17 – Parceria infantil do CHOC com o Disneyland Resort, contribuindo para a recuperação dos pacientes na ala pediátrica do hospital. Fonte: choc.org (2021).

Conclusão

A partir da análise detalhada sobre a aplicação da neuroarquitetura nos ambientes hospitalares pediátricos, evidencia-se que a consideração das necessidades neurodiversas é fundamental para o design inclusivo e eficaz nesses espaços.

Os desafios sensoriais enfrentados por esse público podem ser significativos, afetando sua experiência de tratamento e recuperação. Dessa forma, o design de ambientes hospitalares deve buscar proporcionar espaços que promovam bem-estar, respeito e segurança para todos os pacientes, independentemente de suas condições neurológicas.

Um dos principais norteadores de estratégia deste estudo é a importância da escolha e controle do ambiente por parte dos pacientes. Ambientes hospitalares que oferecem opções de configuração e personalização permitem que os indivíduos neurodivergentes gerenciem melhor suas próprias necessidades, reduzindo o estresse e promovendo uma sensação de autonomia.

Além disso, a atenção dada à qualidade acústica, ao conforto térmico, à iluminação e ao grau de estimulação é essencial para o planejamento de ambientes que sejam eficazes na promoção da recuperação e no alívio do estresse.

Outro ponto importante é a compreensão da relação entre o ambiente construído e o bem-estar emocional e cognitivo dos pacientes. O uso de elementos naturais, como luz natural, vistas para o exterior e materiais naturais, demonstrou ter impactos positivos na saúde mental e no conforto dos pacientes.

Além disso, o controle da iluminação e a consideração das preferências individuais em relação à estimulação sensorial podem melhorar significativamente a experiência no ambiente hospitalar.

Em última análise, este estudo ressalta a necessidade de uma abordagem interdisciplinar na concepção de espaços hospitalares. A colaboração entre profissionais de neurociência, arquitetura, design de interiores e saúde é fundamental para criar ambientes que atendam às necessidades diversificadas dos pacientes.

O design inclusivo não se limita apenas ao aspecto físico do ambiente, mas também inclui considerações operacionais e tecnológicas para melhorar a experiência do paciente.

Levando em consideração o contexto em que a saúde e o bem-estar de pacientes, visitantes, colaboradores e profissionais de saúde são trabalhados e conquistados de maneira holística, o design de ambientes hospitalares voltado para a neurodiversidade destaca-se como crucial para uma abordagem abrangente e compassiva no tratamento e recuperação de cada indivíduo.

O conhecimento da neurociência, quando aplicado de maneira responsável nos projetos de arquitetura, é capaz de fomentar ambientes verdadeiramente inclusivos e benéficos para todos os pacientes.

Embora não haja uma solução única para o design de espaços clínicos de pediatria, a incorporação contínua dessas estratégias de design inclusivo pode beneficiar os pacientes de forma abrangente, promovendo assim um ambiente flexível, seguro, previsível e acolhedor.

Pesquisas futuras e avaliações práticas dessas estratégias são essenciais para adaptar o design às variadas necessidades da população neurodiversa, assegurando uma experiência de qualidade para a maioria dos usuários.

O comprometimento com o design inclusivo no ambiente de saúde é fundamental para promover o bem-estar e o tratamento qualitativo da população neurodiversa em constante evolução.


Ciro Férrer Herbster Albuquerque – Mestrando em Arquitetura, Urbanismo e Design, na Universidade Federal do Ceará (UFC), graduado em Arquitetura e Urbanismo, pela Universidade de Fortaleza (UNIFOR) e pós-graduado em NeuroArquitetura, Gerontologia e Geriatria Aplicada e em Neurociência aplicada à Aprendizagem.

 

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