Câncer de próstata: disfunção erétil e acupuntura

O câncer de próstata é o segundo mais comum entre os homens, com incidência aproximada de 1,1 milhão de casos por ano no mundo, sendo que ¾ deles acometem indivíduos com mais de 65 anos de idade. No Brasil, esse tipo de câncer é uma das principais causas de morte entre os homens.

O tratamento padrão-ouro para o tumor localizado é a prostatectomia radical. Apesar dos benefícios, as complicações decorrentes desse procedimento podem impactar significativamente na vida do homem e incluem principalmente a disfunção erétil.

A próstata é uma glândula que só indivíduos do sexo masculino possuem, localizada na parte baixa do abdome. Situa-se logo abaixo da bexiga e à frente do reto. Envolve a porção inicial da uretra, tubo pelo qual a urina armazenada na bexiga é eliminada. Produz cerca de 70% do sêmen e representa um papel fundamental na fertilidade masculina.

Sinais e sintomas

Em fase inicial, o câncer de próstata geralmente não causa sintomas. Já, em estágio avançado pode causar alguns desconfortos, como por exemplo micção frequente (urinar a toda hora), fluxo urinário fraco ou interrompido, impotência sexual (dificuldade de ereção ou de manter a ereção), presença de sangue no líquido seminal, aumento na frequência de urinar durante a noite, fraqueza ou dormência nos pés e pernas e perda de controle da bexiga ou intestino, devido à pressão exercida pelo tumor sobre a medula espinhal.

Caso a doença esteja avançada, pode haver também dores nas costas, no quadril, nas coxas, nos ombros e em outros ossos.

Prevenção

Uma dieta rica em frutas, verduras, legumes, grãos e cereais integrais e com menos gordura, principalmente de origem animal, ajuda a diminuir o risco de desenvolvimento do câncer de próstata.

Como fatores de prevenção, os especialistas recomendam ainda a realização de atividades físicas durante pelo menos 30 minutos diários, manutenção do peso corporal adequado à altura, diminuição no consumo de álcool e eliminação do hábito de fumar.

Estágios do câncer de próstata

T0: quando não há evidência de tumor.

T1: quando há um tumor, mas ainda não foi detectado por exames.

T2: quando o tumor está em estágio primário, presente apenas na próstata.

T3: quando o tumor afeta a próstata e pode afetar também a cápsula prostática e as vesículas seminais.

T4: quando o tumor invade outras áreas, como reto, esfíncter e músculos.

N0: quando há a presença de nódulos linfáticos próximos da próstata, sem metástases.

N1: quando há a presença de nódulos linfáticos próximos da próstata, com metástases.

M0: quando há inexistência de metástases à distância.

M1: quando há a presença de metástases afastadas da próstata.

Câncer de próstata - estágios de evolução

Disfunção erétil

A disfunção erétil (DE) pode ser caracterizada como uma dificuldade ou incapacidade que o homem apresenta de iniciar e/ou manter seu pênis ereto durante o tempo suficiente para se relacionar sexualmente de forma satisfatória para o casal.

As causas para a ocorrência dessa disfunção podem ser desencadeadas por dificuldades psicológicas e problemas orgânicos de origem neurológica, hormonal, arterial ou até mesmo venosa.

Medicina tradicional chinesa

A medicina tradicional chinesa (MTC) baseia-se na observação dos fenômenos da natureza e no estudo e compreensão dos princípios que regem a harmonia nela existente.

Nessa perspectiva chinesa, o universo e o ser humano são submetidos às mesmas influências, sendo este parte integrante do universo como um todo.

Desse modo, observando-se os fenômenos que ocorrem na natureza, podem-se por analogia estendê-los à fisiologia do corpo humano, pois nele se reproduzem os mesmos fenômenos naturais.

Pela aplicação da filosofia chinesa à medicina, constata-se que a fisiologia do organismo humano também obedece a um equilíbrio dinâmico decorrente da influência de estímulos opostos e complementares.

Esse fato é observado em todos os aspectos do dinamismo do corpo, como por exemplo nos sistemas simpático (yang) e parassimpático (yin), no transporte ativo (yang) e passivo (yin), nas contraturas (yang) e no relaxamento (yin) e assim por diante.

Desse modo, a fisiologia da MTC representa o dinamismo das relações yang/yin do corpo e a saúde expressa um equilíbrio dinâmico entre esses aspectos (yang e yin).

A MTC visa a diagnosticar precocemente as alterações no equilíbrio yang/yin, sendo que a terapêutica é dirigida no sentido de restabelecer-se esse equilíbrio energético no organismo humano.

Acupuntura e disfunção erétil no câncer de próstata

 A acupuntura é um dos componentes da medicina tradicional chinesa, que contempla um conjunto de procedimentos terapêuticos que introduzem estímulos em certos pontos do corpo, anatomicamente definidos e conhecidos como pontos de acupuntura, com o objetivo de obter do organismo uma resposta à recuperação global da saúde ou à prevenção da doença.

Esse objetivo é alcançado por meio dos seguintes processos regenerativos: normalização das funções orgânicas de regulação e controle, modulação da imunidade, promoção de analgesia e harmonização das funções endócrinas, autonômicas e mentais.

A acupuntura é o recurso terapêutico da MTC mais conhecido no Ocidente, sendo o meio pelo qual, através da inserção de agulhas, efetuam-se a introdução, a mobilização, a circulação e o desbloqueio da energia, além da retirada das energias turvas (Xie Qi), classificadas como energias perversas, de forma a promover a harmonização e o fortalecimento dos órgãos, das vísceras e do corpo.

Disfunção erétil segundo a medicina tradicional chinesa

De acordo com a MTC, a disfunção erétil (DE) tem origem em duas causas: deficiência do Shen (rins) e presença de umidade-calor no sistema Pi (baço/pâncreas) – Wei (estômago).

A disfunção erétil por vazio do Shen Qi (rins) ou do tipo vazio é decorrente da deficiência do Jing Shen (quintessência energética).

A fisiopatologia da DE está relacionada diretamente ao circuito do Jing Shen. A presença de umidade-calor, ou forma plenitude, deve-se ao desregramento alimentar que lesa o Pi (baço/pâncreas) e o Wei (estômago), provocando síndrome de umidade-calor no Xia Jiao (aquecedor inferior) e acometendo o Shen (rins).

Ao nível dos rins, os sintomas mais comuns incluem: lombalgia, poliúria, nictúria, sensação de pés frios, fraqueza nas pernas e hipotrofia muscular dos membros inferiores.

A deficiência do Jin Shen, ao nível encefálico, ocasiona a hiperfunção do eixo hipotálamo-hipófise, com consequente diminuição dos hormônios gonadotróficos.

E além da disfunção erétil, manifestam-se os seguintes sintomas: sensação de peso nos membros inferiores, gosto amargo na boca, sede, urina quente e vermelho-escura e língua com revestimento espesso e gorduroso.

Existem três padrões principais para embasar o diagnóstico: (1) padrão de plenitude – umidade-calor, (2) padrão de deficiência – vazio de yang do rim e (3) padrão resultante da relação desarmônica entre dois órgãos – vazio de Qi do baço e coração.

Em relação à seleção de pontos de acupuntura para tratamento de disfunção erétil, destacam-se os seguintes: 6BP, 3VC, 2VC e 23B.

Sob a perspectiva dos padrões clínicos, destacam-se os seguintes pontos de umidade-calor: 9BP, 5F e 28E.

Ainda sob a ótica dos padrões clínicos, destacam-se os seguintes pontos do vazio de yang do rim: 4VG, 3R, 52B e 4VC e vazio de Qi do baço e coração: 15B, 20B, 12VC, 17VC e 36E.

No que se refere aos pontos sintomáticos relacionados aos sintomas mais relevantes, destacam-se os seguintes: hematúria (8BP, 5R e 6F), lombalgia (40B e 60B), zumbidos (2VB, 19ID e 21TA), tonturas (20VG), palpitações (6MC) e fezes moles (37E e 30E).

Estudo clínico

Num estudo publicado em Chinese Acupuncture and Moxibustion, em 1984, foram observados os resultados do embutimento de agulhas no ponto Sanyinjiao Ba6 (bilateral), no tratamento de 31 casos de impotência.

O método consistiu em pressionar Huiyin Rn1 com um dedo da mão esquerda e ao mesmo tempo inserir a agulha no ponto Sanyinjiao Ba6. Após obter a sensação de inserção, o terapeuta fixava a agulha com fita adesiva por três dias. Após a retirada da agulha, o paciente era instruído a repousar durante três dias.

Segundo os autores do estudo, dos 31 pacientes tratados, 28 foram curados e três não obtiveram efeito.

Participação do paciente no processo de recuperação

A disfunção erétil decorrente de câncer de próstata é um problema comum e que entrou na pauta da saúde pública, em decorrência das altas taxas de sua prevalência.

Portanto, sua gravidade ainda é corroborada. Nesse sentido, há a necessidade de investigações nessa área, por meio de estudos populacionais, com o uso de instrumentos adequados.

A prevalência e os fatores de risco dessa patologia, quando devidamente estimados em estudos, podem oferecer dados que contribuam para o desenvolvimento de condições médicas associadas à DE, bem como de ações preventivas e terapêuticas mais dirigidas, inclusive de ações alternativas como a acupuntura.

A acupuntura realiza o equilíbrio energético e oferece resultados positivos no tratamento de disfunção erétil, seja ela oriunda de câncer de próstata ou não.

Além disso, nos meios científicos, pôde-se comprovar também que atualmente essa disfunção já está amplamente discutida.

As pesquisas divulgam que existem causas físicas e psicológicas ou mesmo uma combinação de ambas que são responsáveis pela DE, tão temida pela maioria dos homens. Afinal, ela começa no homem, mas afeta, de forma indireta, todos os que partilham da vida dele.

O fato de a pessoa não saber lidar com a disfunção erétil e nem procurar tratamento resulta, frequentemente, em ausência de autoestima, prejuízo nos relacionamentos interpessoais, atividade sexual reduzida ou quase nula, depressão, alterações comportamentais de conotação negativa e separações matrimoniais.

No entanto, quando se recorre ao tratamento, verifica-se que existem várias formas e métodos para enfrentá-la e que simples medidas saudáveis, como deixar de beber até a prática de acupuntura, podem ter resultados extremamente satisfatórios.

A participação do paciente em seu processo de recuperação é fundamental e para que o mesmo se sinta motivado com o tratamento e com a sua volta às atividades sexuais normais, esse tratamento tem que ser eficiente para apresentar efeitos positivos.

Além das medidas de tratamento conservador, muitas outras propostas, como a acupuntura, têm surgido. Porém, não existe ainda um suficiente suporte de estudos científicos nesse sentido, havendo como consequência um lento crescimento nessa área.

Para tratar a DE oriunda de câncer de próstata, há necessidade de se colocar agulhas em pontos de vários e diferentes meridianos. As opções de tratamento que a acupuntura oferece são grandes. No entanto, a literatura registra que os pontos mais comumente estimulados são os seguintes: VG20, VC2, VC3, VC4, VC6, B23 e E36.

Deve-se sempre ter em mente que a acupuntura nunca deve ser usada como a única forma de terapia para pacientes com disfunção erétil oriunda de câncer de próstata, mas sim como complemento de um tratamento convencional realizado à base de medicamentos (quimioterapia), radioterapia, etc.

Na maioria dos casos, a disfunção erétil é uma desordem funcional resultante de uma desordem orgânica, cujo tratamento deve ser acompanhado de terapias alternativas como a acupuntura e até de sessões de psicoterapia, com a finalidade de ajudar o paciente para que os procedimentos tenham bons resultados terapêuticos, libertando-o inclusive do medo de falhar.

Concomitantemente, recomenda-se que os pacientes regulem a sua vida sexual e pratiquem exercícios físicos para potencializar os efeitos terapêuticos do tratamento de DE.


Mari Uyeda – Professora Assistente da Saint Francis University, na Pensilvânia – EUA.

 

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