De acordo com as emoções vivenciadas, o ser humano vai mostrar ao meio e às pessoas ao redor como está sentindo ou enxergando os acontecimentos de vida, ou seja, as emoções estão diretamente ligadas às reações e comportamentos do indivíduo, que dificilmente consegue ter controle sobre elas, podendo assim ser levado a atitudes desejáveis ou não.
Além disso, o organismo também se altera conforme o teor das emoções, ocorrendo portanto um comportamento biológico. Por essa razão, estados emocionais como o sentimento de bem-estar constituem um fator essencial para o prognóstico de diversos quadros clínicos.
Apesar do bem-estar depender de condições materiais e sociais diversas, depende principalmente de fatores psicológicos e fisiológicos, remetendo à compreensão da integralidade do ser.
Um aumento na percepção do bem-estar psicológico gera comportamentos biologicamente vantajosos, que por sua vez atuam como fatores de proteção contra patologias. Já a redução dessa percepção torna-se fator de risco para adoecimentos devido às alterações biológicas desfavoráveis à saúde, algo que é facilmente observável pela correlação com o estresse, transtornos de ansiedade, depressão, doenças cardíacas, diabetes e outras.
Conforme estudos contemporâneos, vê-se que o trabalho em ambientes de muita pressão pode provocar situações de ansiedade ou preocupação, que podem levar por exemplo a dor no estômago, que por sua vez pode gerar ainda mais estresse, ou seja, aspectos sociais podem se aliar ou provocar problemas psíquicos, originando uma disfunção no corpo, sendo que ambos se retroalimentam.
Ocorre que a vivência da ansiedade e preocupação provoca a liberação de cortisol e adrenalina no corpo e isso faz com que haja maior produção de suco gástrico no estômago, provocando a sensibilização da camada de proteção presente no interior do órgão, causando irritações, dores ou náuseas e podendo levar o indivíduo a ter uma gastrite nervosa, por exemplo.
Verifica-se, portanto, que há uma profunda integração entre os processos emocionais, cognitivos e de homeostase, de forma que um maior entendimento sobre os efeitos de processos emocionais no corpo auxilia também na melhor compreensão das respostas fisiológicas do organismo diante das situações enfrentadas pelo indivíduo.
Esse é um conhecimento que deve favorecer não só o trabalho de terapeutas e especialistas da área de saúde, mas também a todos, porque ter a consciência de como se dão os processos emocionais e suas influências é importante também para o autocuidado.
Partindo desse contexto, apesar de o ser humano não ter o poder de controlar suas emoções e de decidir por exemplo quais hormônios vai produzir para não afetar a saúde e sim para favorecê-la, o entendimento de que o corpo recebe influência das emoções, a tomada de consciência sobre essas emoções e a busca de saber lidar com elas é algo inteligente e que deve ser cultivado em prol da saúde física e psicológica.
Diante disso, é possível elevar os níveis de autoconhecimento e agir com mais autonomia na busca de prevenir alterações biológicas desfavoráveis e promover saúde física e psicológica.
Trata-se de trazer para si o poder de criar estratégias de gerenciamento das emoções que venham a reduzir impactos emocionais, impedindo a retroalimentação e também de utilizar novas descobertas científicas para cuidar da própria saúde.
Sistema nervoso, emoções e processos de adoecimento
Sabe-se que áreas cerebrais envolvidas no controle das emoções, da cognição e outras, conectam-se com diversos circuitos nervosos que chegam aos órgãos – de forma que todo o organismo está conectado –, e através de hormônios e neurotransmissores promovem respostas fisiológicas que regulam o meio interno.
Essa regulação é feita através de ações do sistema nervoso central – SNC e sistema nervoso autônomo – SNA, sendo que esse último divide-se em sistema nervoso simpático – SNS e sistema nervoso parassimpático – SNP, que têm funções complementares, já que um corrige os excessos do outro. Portanto, se o SNS acelerar muito os movimentos peristálticos do estômago, o SNP agirá para diminuir esse trabalho, fazendo uma regularização.
Esses sistemas articulam funções emocionais, cognitivas, comportamentais e motivacionais, ou seja, abrangem os mecanismos que relacionam a forma como o ser humano interage com estímulos internos e externos; desenvolvem diversas atividades orgânicas e são considerados grandes responsáveis pela comunicação entre corpo e mente. Assim, o que o indivíduo sente ou pensa afeta a produção de hormônios e o funcionamento dos órgãos.
Interessa enxergar o alcance disso por meio de todas as suas implicações para a saúde e fazer uso desse conhecimento no dia a dia.
A manifestação das emoções através das funções corporais deve ser estudada com base em um olhar terapêutico que incentive a gestão dessas emoções. Por esse motivo, o médico alemão Dr. Ryke Geerd Hamer (1935 – 2017) fundou a nova medicina germânica, afirmando que existe íntima relação entre o início de patologias como o câncer e um conflito psicológico grave, mostrando que o corpo fala das emoções e que isso deve ser aprofundado a fim de se intervir no processo de saúde-adoecimento e ultrapassando a esfera biológico-tecnicista de forma a abordar aspectos subjetivos do cuidado com a saúde.
Diante de tais comprovações, faz-se necessário portanto criar uma nova cultura de cuidados, não só entre terapeutas e demais profissionais de saúde, mas também entre todos os indivíduos, já que o curar-se está nas mãos de quem é responsável pela emoção.
Levar pessoas a compreenderem a correlação entre sintomas e emoções, incentivando-as a buscarem a origem emocional de patologias e a debaterem as potencialidades e possibilidades disso para o processo de construção de uma nova cultura e prática de autocura é algo terapêutico, por mostrar ao indivíduo a sua integralidade e auxiliá-lo no autoconhecimento, conscientizando-o inclusive sobre sua responsabilidade e poder de intervir muito mais para a manutenção de sua saúde.
Para além disso, conforme expôs o Dr. Hamer, é preciso considerar que o sujeito pode apresentar doenças oriundas de emoções que surgiram a partir de traumas psicológicos, pois eles deixam marcas no corpo que perduram até pelo menos o momento em que o indivíduo acometido compreende a origem da patologia e busca vencê-la. E se o sujeito estiver em processo de retroalimentação, pode passar a vida com a saúde física e psicológica gravemente afetada por essas vivências.
Compreende-se então que refletir sobre as próprias emoções e buscar gerenciá-las faz parte do autocuidado e da integralidade do cuidado. Do contrário, podem ocorrer problemas graves que vão se refletir em todas as áreas de vida.
Os progressos no estudo do sistema nervoso e suas conexões com os outros órgãos corporais ou demais influências (neurociência) e a melhor compreensão sobre como o cérebro afeta funções como emoções e comportamentos (neuropsicologia) permitiram ao ser humano ter maior conhecimento sobre o papel e a dinâmica das emoções, possibilitando que agora as pessoas entendam a necessidade de geri-las, a fim de cessar processos de retroalimentação e evitar avanços patológicos. Novamente é bom que se entenda que se trata de utilizar o conhecimento científico demonstrado até aqui para beneficiar a saúde.
Autonomia em saúde
Gerenciar emoções relaciona-se com entender e avaliar os próprios sentimentos, procurando agir com maturidade e sabedoria diante deles na busca de assertar mais, raciocinar sobre as próprias emoções e avaliar e tomar decisões com base nos detalhes observados e analisados e providenciar para que a razão esteja presente no momento em que as emoções surgem.
Por meio desse exercício, o sujeito pode ter maior autocontrole diante de situações de estresse e ansiedade e de medos e preocupações, entre outras, podendo diminuir a possibilidade de adoecimentos, já que com isso poderá tomar decisões mais assertivas, enviando mensagens benéficas para o corpo e o meio e assegurando-se de que as emoções não ultrapassem limites que afetem a saúde.
Com o tempo, em um grau mais profundo, poderá raciocinar sobre se uma patologia tem origem em alguma emoção ou trauma, analisar e cessar ciclos de dor e sofrimentos, equilibrando emoções e tendo comportamentos favoráveis.
Nada disso é fácil para o ser humano, mas é importante que ele teste as fronteiras do conhecimento científico atual, da consciência de si e de suas capacidades, construindo algo a partir desse aprendizado.
Estudos mostram que indivíduos ocupados em gerir suas emoções conseguem relacionar-se melhor, estabelecer uma rotina mais saudável, fazer bom uso de seus processos emocionais ao direcionar suas energias para soluções de conflitos, eliminar sentimentos de inferioridade, descartar com mais facilidade as ideias que os perturbam, diminuir inseguranças, optar por posturas mais positivas em relação à vida, adquirir resiliência, manter motivação para o trabalho e elevar a sensação de liderar a própria vida. Relatam que a análise e o domínio das emoções os fazem sucumbir menos à ansiedade, às angústias e aos medos.
Diante disso, é possível estabelecer a relação simples de que o sujeito que gerencia suas emoções consegue alcançar suas capacidades e busca fazer o melhor por si ou, quando não se sente bem, consegue tomar decisões de melhorias apresentando resiliência. Isso é usar as novas descobertas a favor da saúde, pois considerando que essas são características importantes para o bem-estar físico e psicológico, com certeza a saúde beneficia-se como todo esse processo.
Ou seja, para além da intervenção médica e psicológica, faz sentido explorar e disseminar a ciência, implementando intervenções que conduzem pessoas a desenvolverem estratégias de controle das emoções, de forma a contribuir para os processos de autocura.
Profa. Dra. Janine Soares Camilo – Master em Microsemiótica Irídea, bacharel em Cosmetologia e Estética pela Unitri – Universidade Integrada do Triângulo e pós-graduada em Acupuntura pelo IPGU – Instituto de Pós-Graduação de Uberlândia e em Homeopatia pela Faculdade Inspirar.
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