Dentre os sentimentos que o ser humano experimenta, a culpa é um dos mais complexos, porque pode impactar profundamente a saúde emocional, o bem-estar geral e os comportamentos, podendo ter um efeito paralisante na vida do indivíduo.
Segundo o psiquiatra e psicoterapeuta suíço Carl Gustav Jung (1875 – 1961), trata-se de uma emoção experimentada quando o sujeito sente que algo em suas atitudes o afasta de Deus ou então do próprio self. Baseando-se naquilo que lhe foi transmitido por seus pais ou pela coletividade, sente culpa pelos desvios em relação aos padrões de comportamentos estabelecidos pela sociedade, ou seja, percebe-se emaranhado em conflitos de dever que o dividem e sente-se inaceitável como se estivesse cometendo um crime.
De acordo com o médico neurologista e psicanalista Sigmund Freud (1856 – 1939), a sociedade atua exercendo uma influência estranha sobre seus membros, de forma que a pessoa sente-se desamparada e com medo de perder o amor dos demais na medida em que pratica algo compreendido como uma atividade do mal. Diante disso, a pessoa busca retomar a autoridade sobre si mesma (SUPEREU) sob a forma de uma autopunição que origina a culpa. E essa autoridade, mesmo sem motivos, fica à espreita esperando novos “tropeços” do EU para perpetrar seu domínio.
As mensagens enviadas pela sociedade têm muito poder sobre seus membros. Os padrões socioculturais podem ditar o que é considerado certo ou errado e quando o indivíduo não consegue atendê-los pode sentir-se culpado.
Além disso, a forma como a pessoa interpreta essas mensagens sociais também pesa no surgimento do sentimento de culpa, de modo que a perspectiva interna também ajuda a criar a resposta ao estímulo.
Lembrando que, devido a seus valores, história de vida, crenças, vivências e até perfil demográfico, cada indivíduo é único nas suas interpretações. Dessa forma, um mesmo fato pode gerar um sentimento de culpa em uma pessoa e em outra não.
Na medida em que esse sentimento permanece relembrando-o constantemente da razão pela qual se sente assim, o indivíduo pode experimentar a necessidade de punição, sendo que desse modo a culpa torna-se algo que impulsiona vários tipos de autossabotagem.
Ao falar sobre esse processo de se autossabotar, Freud descreveu como a forma mais importante de masoquismo aquela de origem moral, que muitas vezes se expressa de modo inconsciente, pois a pessoa não percebe que se penaliza e tem inclusive prazer nisso, porque sente que está errada ou que está praticando algum crime.
Culpa e depressão
Nem sempre o sujeito tem consciência de que é um sentimento de culpa que o atormenta.
Cita-se, como exemplo, o caso de uma jovem com depressão crônica, que foi atendida pela autora deste artigo. Para ela, o motivo de sua depressão era indeterminado. Durante o tratamento realizado em sessões de decodificação biológica de traumas (DBT), a motivação por de trás de seu quadro clínico foi sendo revelada.
Quando era criança, ela gostava de pentear os lindos cabelos da mãe, que no entanto os perdeu durante o tratamento de um câncer. Na época, a cliente viu o pai comentar com o irmão mais velho que não tinha mais dinheiro para os tratamentos da esposa e que por isso precisaria deixar de pagar a escola particular dos filhos. Porém, a mãe morreu antes mesmo que a menina deixasse a escola particular para estudar em uma que fosse pública.
Daí para frente, a menina/cliente iniciou uma fase de arrancar os cabelos sempre que percebia uma lentidão nas decisões do pai. Depois, quando adolescente, ouviu do irmão que seus cabelos eram lindos como os da mãe. Diante disso, passou a modificá-los, fazendo cortes rebeldes, como moicanos e raspagens, e tingimentos com cores que surpreendiam, para que dessa forma pudesse, em sua opinião, chocar as pessoas com sua aparência.
Além disso, após frequentar o primeiro ano do ensino médio não quis mais estudar, alegando que seu futuro profissional era ser mendiga.
Somente após anos sofrendo de depressão e diante da morte do pai, é que resolveu buscar ajuda profissional.
Com a aplicação da decodificação biológica de traumas (DBT), abordagem terapêutica que envolve os princípios e leis da nova medicina germânica, criada pelo médico alemão Ryke Geerd Hamer (1935 – 2017), assim como da técnica de micropuntura por micropressão no microssistema do pé (MMMP), que permite o acesso ao sistema nervoso central (SNC), objetivando estimular processos de autocura e auxiliar na resolução de conflitos físicos e emocionais, a cliente começou a apresentar mudanças de entendimento com relação à sua situação.
Por meio de sinais importantes deixados nos pés e com a atuação sobre os órgãos ali representados de acordo com os princípios da medicina tradicional chinesa, foi possível detectar e reconhecer as origens dessas autossabotagens e de outras perpetradas durante anos pela cliente, que jamais suspeitou do sentimento de culpa que havia ficado pela situação em que a mãe veio a falecer.
Também não suspeitava que toda essa complexidade de sentimentos poderia lhe causar os demais problemas de saúde apresentados no decorrer de sua vida, incluindo a depressão crônica.
Mediante a realização das sessões e a partir desses entendimentos que lhe permitiram finalmente externar sua dor, reconhecer suas influências e tratar a depressão com conhecimento de causa, estimulando o próprio organismo a desfazer bloqueios e buscando a homeostase orgânica e psicológica, foi possível incentivar, entre outras coisas, sua autoestima e seu progresso (inclusive financeiro), para que ela possa então empreender sua vida dando continuidade à sua trajetória de forma mais suave e psicologicamente saudável.
Culpa e autoempreendimento
Há pessoas que apesar de suas capacidades e oportunidades para viver uma vida financeira cada vez mais promissora sentem-se culpadas pela ausência do mesmo progresso na vida de familiares e amigos ou pela desigualdade social em geral, o que pode levá-las a limitar suas conquistas mesmo que inconscientemente.
A culpa pode surgir de fontes internas ou externas, por algo que a pessoa fez ou também por aquilo que pensa que deveria ter feito e não fez, quando ela adquire algo importante para si e que o outro não tem condições financeiras para adquirir ou quando toma decisões que lhe trarão mais sucesso e dinheiro, entre outras. Sente-se portanto responsável por situações vivenciadas por outros e sobre as quais não tem controle.
A culpa surge então como resposta ao sentimento de responsabilidade da pessoa por alguma falta, erro ou prejuízo causado a outrem, o que é naturalmente humano e sadiamente adaptativo quando associada à empatia e à consciência social, ajudando o indivíduo a alinhar-se com seus princípios e valores e levando-o, por exemplo, a efetuar um pedido de desculpas, uma reparação ou doações.
Mas, quando a reação é desproporcional, a culpa torna-se completamente inapropriada e desadaptativa, levando a problemas sérios de autopunição, autossabotagem, desaprovação e baixa autoestima, pois nesse caso está ligada a sentimentos de vergonha e medos.
Por esse motivo, aqueles que se sentem culpados por ter sucesso em seus empreendimentos e por progredirem financeiramente, enquanto outros não o fazem, precisam ficar atentos a esse sentimento e a possíveis hábitos ou procedimentos atormentadores, que podem inviabilizar por exemplo o sucesso em outros setores de vida, porque isso pode estar acontecendo impulsivamente na tentativa de sentir-se melhor através de punições inconscientes.
Culpa adaptativa vs. culpa desadaptativa
Como vimos, a culpa é uma emoção complexa que pode produzir um aprisionamento psicológico, devido a induzir medos, ansiedade, tristeza, depressão, autossabotagens em diversos níveis, etc.
Sendo de natureza multidimensional, pode estar relacionada a experiências pessoais e culturais, originando-se dos mais variados tipos de vivências internas e externas.
Nesse sentido, é importante aprender a fazer distinção entre a culpa adaptativa e a desadaptativa, já que essa última pode impedir que o ser humano avance em direção a seus objetivos e revele o melhor de si.
Esse seria, portanto, o primeiro passo a ser dado no manejo dessa emoção. No entanto, como foi dito, nem sempre o indivíduo consegue ter consciência do sentimento de culpa e suas razões, sendo essa descoberta e conscientização algo essencial para vencer e suplantar o problema, pois diante dessas percepções é possível buscar a melhor linha de tratamento e formas de administrar as situações, cessando com as autossabotagens.
A pessoa que sente a culpa desadaptativa pode ainda sem querer incentivar no corpo a superprodução de substâncias como o cortisol, aumentando as chances de desenvolver doenças como diabetes, depressão, hipertensão arterial, fadiga crônica, e alterações do ciclo menstrual e de intensificar ansiedades, ganho de peso, problemas gástricos e comprometimento do sistema cardiovascular, entre outros, sendo que cada um dessas condições é capaz de trazer uma série de outras complicações para a saúde mental e física.
Tudo isso pode ser tratado através da decodificação biológica de traumas (DBT), pois com o acesso ao sistema nervoso central e aos pontos reflexos dos órgãos do corpo humano é possível auxiliar na melhora de cada um desses aspectos, já que a técnica tem entre seus princípios o da integralidade do ser humano.
Verifica-se, portanto, que as pessoas fazem escolhas para as quais não encontram explicações e vivem situações complexas que elas mesmas criaram, influenciadas por sentimentos como o de culpa, os quais podem impedir que elas empreendam suas vidas realizando-se, sendo assim importante que busquem orientação e ajuda profissional.
Profa. Dra. Janine Soares Camilo – Ph.D. em Medicina Tradicional Indígena (Naturopatia e Homeopatia) pela Erich Fromm University, bacharel em Psicologia pela Fatra – Faculdade do Trabalho, master em Microsemiótica Irídea, bacharel em Cosmetologia e Estética pela Unitri – Universidade Integrada do Triângulo e pós-graduada em Acupuntura pelo IPGU – Instituto de Pós-Graduação de Uberlândia e em Homeopatia pela Faculdade Inspirar.
Referências bibliográficas
Costa, Carlos Alberto Ribeiro. A metapsicologia da autopunição: revisitando ‘os criminosos por sentimento de culpa’. Cadernos de psicanálise, Rio de Janeiro, v. 37, n. 33, p. 85-104, 2015. Disponível em http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1413-62952015000200005&script=sci_arttext. Acesso em 14 de jul. 2024.
Camilo, Janine Soares. Decodificação Biológica de Traumas. Revista Medicina Integrativa. Disponível em https://revistamedicinaintegrativa.com/decodificacao-biologica-de-traumas/. Acesso em 14 de jul. 2024.
Camilo, Janine Soares. Sistema Nervoso e Sua Relação Com as Emoções: Maiores chances de autocura. Revista Medicina Integrativa. Disponível em https://revistamedicinaintegrativa.com/sistema-nervoso-e-sua-relacao-com-as-emocoes-maiores-chances-de-autocura/. Acesso em 14 de jul. 2024.
Perera, Sylvia Brinton. O Complexo do Bode Expiatório: um estudo sobre a mitologia da sombra e da culpa. 2ª ed. São Paulo: Editora Cultrix, 2022. Trad. Júlio Fischer. Disponível em https://books.google.com.br/books?hl=pt-BR&lr=lang_pt&id=256oEAAAQBAJ&oi=fnd&pg=PA5&dq=A+culpa+%C3%A9+uma+emo%C3%A7%C3%A3o+complexa&ots=mIQO2Xmi11&sig=0GbUSqd12IeN6uf5IsxCJ38fq90#v=onepage&q&f=false. Acesso em 15 de jul. 2024.
Siqueira, Fídias Gomes. Da Culpa em Freud à Responsabilidade em Lacan: Paradigmas para uma articulação entre psicanálise e criminologia. Psicologia em Revista, Belo Horizonte, v. 21, n. 1, p. 141 – 157, 2015. Disponível em https://periodicos.pucminas.br/index.php/psicologiaemrevista/article/view/P.1678-9523.2015V21N1P141/8858. Acesso em 14 de jul. 2024.
Sociedade Brasileira de Hipnose (SBH). Culpa: Como identificar, compreender e superar este sentimento. Disponível em https://www.hipnose.com.br/blog/saúde-mental/autoajuda/culpa/?utm_source=google&utm_medium=g&utm_campaign=20662833055&utm_term=_&utm_content=___677172786908&gad_source=1&gclid=Cj0KCQjwv7O0BhDwARIsAC0sjWPclxgE3zlYU6GOc1UYY1PgACrCGnPAMOVQ5rxluk3tsJsB_CqiHiEaAgaaEALw_wcB. Acesso em 15 de jul. 2024.