Desde que meu filho Arthur nasceu, “dor de barriga” era o principal acontecimento em casa. Ainda recém-nascido, ele “fazia cocô” a cada quatro dias. Era aquele sufoco! Noites sem dormir, crises de choro. Pela medicina tradicional, ele “não tinha nada”. Muda alimentação, faz massagem, aplica acupuntura, floral, terapias energéticas.
Na tentativa de ajudar, entrei numa especialização em acupuntura e fiz vários outros cursos. Acabei virando terapeuta por tabela. Ele melhorava um pouco, mas, de repente, acordava aos gritos. Eu usava tudo o que sabia. Entre choros e cansaço, recorrer aos estudos não era tão simples assim.
Quando Arthur estava com dois anos de idade, num determinado dia, por volta de uma hora da manhã, resolvi simplesmente abrir meu coração e estar na presença total, sem pensar. E, nesse estado pleno de presença e amor, uma música, que eu nunca tinha ouvido, surgiu na minha cabeça. Comecei a cantar. Imagens passaram a surgir, minha mão começou a massageá-lo, surgiram orientações sobre óleos essenciais e movimentos. Em alguns minutos, ele estava calmo.
Foi como se eu estivesse recebendo uma receita de ações para aquele momento, para ajudar o Arthur. Não vieram com explicações racionais. Muitas delas eu nem conhecia, mas aceitei sem questionar.
No fundo, eu sabia que intuição de mãe é poderosa. No entanto, como bióloga e mestre em bioquímica, não me contentava com explicações energéticas ou exclusivamente psicológicas. Buscava entender como acontecia essa “conexão invisível” com o corpo.
As peças começaram a se encaixar
Essa e muitas outras experiências de “simplesmente saber”, “do nada”, “sem explicação”, impulsionaram-me a estudar os processos fisiológicos das percepções intuitivas. Fatos como, por exemplo, pensar em alguém e logo depois o telefone tocar e ser a pessoa em que se estava pensando ou ter um insight de rever um trabalho sem motivo aparente e descobrir que havia algo importante para corrigir nele.
Nessa época, meu esposo, especialista em psicologia analítica e arteterapia, estava fundando o projeto Jung na Prática e acabei mergulhando nos estudos de Carl Gustav Jung sobre a psique humana.
Em seu livro A Natureza da Psique, Jung diz que ”a intuição é uma capacidade de acessar, um insight. Decorre de um processo inconsciente; é uma percepção, uma apreensão, um entendimento da situação, de maneira não racional. Tudo pode ser objeto dessa percepção, coisas internas ou externas e suas relações”.
Segundo Jung, somos constituídos de uma parte consciente e outra inconsciente. O consciente é a capacidade de refletir, sonhar, fazer planos, analisar o passado e projetar o futuro. Já o inconsciente ocupa-se em perceber quem passa ao lado ou ouvir os sons externos enquanto se está focado numa leitura, por exemplo. É onde estão guardados nossos aprendizados da infância, gerando as programações biológicas e de comportamento.
Jung diz que nosso inconsciente está ligado ao que chamou de inconsciente coletivo, onde estão armazenados conhecimentos da humanidade ou arquétipos.
As peças começavam a se encaixar. A intuição seria um processo inconsciente em que haveria um receptor que poderia “ler ou acessar essas informações”. Agora faltava a conexão com o corpo.
Entrei em “modo pesquisadora” e comecei minha busca. Encontrei James L. Oschman, professor da Energy Medicine University. Trocamos alguns e-mails e fui introduzida aos estudos biofísicos do coração e do metabolismo informacional.
Com base nesses estudos, entendi que o corpo humano tem uma fisiologia toda organizada para emitir e receber informações não perceptíveis pelos cinco sentidos. São alguns pontos essenciais desses estudos que descrevo a seguir.
Natureza vibracional do corpo e fluxo de informações
As células emitem, recebem, processam e respondem à informação a partir de ambientes internos e externos ao organismo. Abaixo, estão destacados três sistemas/processos que comprovam essa afirmação.
Sistema bioinformacional – o corpo humano possui complexos sistemas de comunicação. Há o sistema neural, que traz impulsos nervosos do cérebro para o corpo, mas existe também um outro, o bioinformacional, que é uma rede proteica que conecta todas as células do organismo.
Chamado de matriz viva, o sistema bioinformacional consiste de proteínas de membrana que conectam o interior da célula com a matriz extracelular, transmitindo informações de forma muito mais rápida e eficiente do que o sistema neural.
Ressonância celular – as frequências emitidas por qualquer molécula individual do corpo podem conter informação sistêmica ou coletiva, em praticamente todos os processos que ocorrem no interior do organismo, como esclarece James Oschman.
“Cada célula tem uma série de dispositivos receptores localizados na superfície externa de sua membrana que agem como antenas, captando sinais complementares do ambiente”, afirma o Dr. Bruce Lipton, biólogo norte-americano. Esses sinais entram e saem das células, acionando o metabolismo intracelular, como também transmitindo essa informação para outras células.
Captação de fótons pelas células – já se sabe que o corpo humano emite biofótons. E estudos sobre as propriedades ópticas da córnea observaram que a estrutura receptora de luz é helicoidal.
O corpo emite e transporta biofótons entre as células e as proteínas de membranas responsáveis por essa recepção são do tipo alfa-helicoidal de formato semelhante à estrutura de recepção da córnea. Os estudos realizados nessa área trazem a hipótese de que essas proteínas são “tubos de luz” que facilitam a entrada de mensagens fotônicas nas células.
As células do organismo humano, portanto, captam e emitem informações por ressonância, por fotos. As perguntas que surgem são: essas informações poderiam ser percebidas e interpretadas? O inconsciente estaria no corpo?
O coração como antena
Estudos sobre o coração demonstram que ele é o nosso maior centro intuitivo! O coração é o centro eletromagnético do corpo e emana cinco mil vezes mais eletromagnetismo do que o cérebro e seis vezes mais eletricidade, gerando um campo eletromagnético de até três metros de tamanho ao redor do corpo!
“Cerca de 60% a 65% de suas células são neurais, exatamente como as dos neurônios cerebrais. Esse complexo neuronal é gerador de uma inteligência própria, particular, que proporciona um saber intuitivo, direto, que constitui parte essencial da nossa inteligência global”, afirma Lew Childre Jr., autor norte-americano e fundador do HeartMath Institute.
Estudos observaram que o coração e o cérebro recebem informações sobre um evento antes dele acontecer. No entanto, como esclarece Oschman, o coração recebe essas informações alguns segundos antes do que o cérebro.
Se as células contêm receptores, como foi visto acima, por que o coração receberia antes as informações? Verificou-se que ele é formado por um tecido único, em formato de espiral, com as mesmas características geométricas de uma antena captadora de campo escalar.
O coração é nossa maior antena! Além de captar, ele emite e também harmoniza a vibração de todo o corpo através das ondas formadas pelas suas batidas.
Foi observada também uma via direta de informação do coração para o cérebro, demostrando que o cérebro é subordinado às ordens do coração. Porém, como afirmam Childre e Howard Martin, no livro A Solução Heartmath, “se o coração enviar um claro sinal, intuitivo, com a sensação de ‘não faça isso’, o cérebro pode resistir vigorosamente, exigindo saber: por quê? Como? Quando? Tamanha persistência acaba por interromper o sinal do coração”.
Essa insistência do cérebro pode representar o estado do pensar ativo constante, buscando as respostas exclusivamente na razão.
Einstein tem uma famosa frase sobre isso: “Penso noventa e nove vezes e nada descubro. Deixo de pensar, mergulho em profundo silêncio – e eis que a verdade me é revelada.”
Já se sabe que, em estado de relaxamento, com frequências cerebrais mais baixas (alfa ou teta), nossa percepção amplia-se. Nessa condição, o coração pode fazer seu papel e harmonizar o sistema. E o cérebro, então, abre-se ao seu comando.
Naquelas madrugadas em que eu me entregava ao meu filho, as informações surgiam. Meu corpo e meu coração estavam inteiramente para aquele momento. Era como se eu estivesse num estado de ressonância.
Penney Peirce, treinadora intuitiva que trabalhou com cientista e para o governo norte-americano, descreve suas experiências intuitivas como um estado de “entrar em sintonia” com uma pessoa ou objeto.
Ressonância, vibrações e inconsciente
O modelo de transmissão molecular de informação descrito acima sugere que o corpo pode se comportar como um “hardware”, como se ele fosse as peças do computador. Assim, o organismo seria como o sistema físico das informações energéticas e psíquicas.
Candance Pert, neurocientista e farmacologista norte-americana, em seu livro Conexão Mente Corpo Espírito, afirma que “o inconsciente está no corpo”.
Joe Dispenza, neurocientista, mostra claramente a influência das ondas eletromagnéticas de pensamento na atividade celular. Um estado emocional elevado muda a conformação de proteínas.
Considero a intuição a via de percepção e interpretação dessas informações recebidas. Uma sabedoria que surge quando a mente encontra-se em abertura para receber as informações.
Não é à toa que a palavra intuição vem do latim intuere, formada pela junção “in” (dentro) e “tuere” (olhar para). Dessa forma, intuição seria a habilidade de olhar para dentro. Ou seja, quando saímos da perspectiva de observação exterior, passando para a perspectiva de perceber estados vibratórios, impulsionados pelo coração.
A biointuição
Desses estudos, surgiu a biointuição, um sistema de técnicas que utilizo para favorecer as percepções e refinar a habilidade intuitiva.
Baseia-se na integração de campos do cérebro e coração, identificando os códigos vibratórios do corpo quando nos colocamos em fluxo e nos abrimos para sentir.
Essa trajetória levou-me a entender que existe sabedoria biológica por trás da intuição. Ela vem mostrar que a intuição é real, parte de todos nós. É uma habilidade que temos e pode ser vivenciada e acurada.
Acredito que estamos nos encaminhando para um tempo em que nossa intuição “falará” cada vez mais alto, porque ela já existe como capacidade inerente a todos nós. A ciência já está percebendo isso. Cada vez mais, nasce dentro das pessoas um chamado para aprender a confiar em si mesmas, na sua verdade.
Venho trilhando essa jornada como um chamado interno, do coração. E convido-o a experimentar essa fascinante aventura.
Bia C. Rossi – Mestre em Bioquímica, bióloga, terapeuta, mãe, fundadora da Biointuição e cofundadora do Jung na Prática.