Musicoterapia e AudioMusicoTens: princípios e desenvolvimento

Neste segundo artigo da série sobre musicoterapia e AudioMusicoTens®, serão explorados os princípios e desenvolvimento desse método. Nos artigos anteriores, foram abordados os aspectos qualitativos e quantitativos – “Musicoterapia e audição musical: uma reflexão sobre ouvir música” e “Musicoterapia e AudioMusicoTens: o ambiente sonoro e a interface do som como indicadores de qualidade de vida”.

O AudioMusicoTens® é um método de atuação em musicoterapia desenvolvido pelo autor deste artigo. É baseado em experiências musicais, para gerenciamento da ansiedade e qualidade de vida, a partir da musicoterapia e eletroestimulação.

É composto essencialmente por um programa personalizado de audição musical, em que os estímulos musicais são criteriosamente selecionados. Assim, o programa é desenvolvido e customizado para o perfil do indivíduo, associando a aplicação da Transcutaneous Electrical Nerve Stimulation (estimulação elétrica nervosa transcutânea), mais conhecida como eletroestimulação ou pela sigla TENS.

O programa ampara-se em 29 anos de experiência clínica e investigação, com o objetivo de prevenir e tratar a ansiedade e o estresse e estimular a abstração e consequente ganho cognitivo, bem como facilitar os processos de tomada de decisão e promover equilíbrio mental e físico.

O ponto de partida para o desenvolvimento do método foi a vontade de contribuir para o manejo do estresse, que é considerado como uma das maiores causas indiretas de mortalidade no mundo moderno, responsável por diversas patologias de ordem psicossomática, com evidentes sintomatologias orgânicas. Em busca de novas técnicas para tratar, prevenir e controlar o estresse, a fim de melhorar de forma global a qualidade de vida, busquei princípios que permitem uma abordagem não invasiva, através de respostas específicas que nosso cérebro efetua mediante alguns estímulos, dentre eles, o som. Com base nesses princípios norteadores, descritos a seguir, desenvolvi o AudioMusicoTens®.

Princípios norteadores

Ondas cerebrais

Em 1929, aconteceu a classificação das ondas cerebrais, medidas por microvolt por segundo ou ciclos por segundo. Essa classificação tem por base a relação entre a atividade elétrica do cérebro, monitorada pela eletroencefalografia (EEG), e os estados de consciência e/ou atividades e comportamentos mentais no ser humano. Para representar as ondas cerebrais adotam-se letras gregas.

Musicoterapia - classificação das ondas cerebrais em ciclos por segundo
Classificação das ondas cerebrais

Resposta induzida por frequência

A resposta induzida por frequência é um fenômeno que evidencia a modificação das ondas cerebrais, frente a estímulos exteriores, dentre eles o som e a música. Certas áreas do cérebro humano tendem a adotar o mesmo padrão de frequência do estímulo externo, bem como a seguir suas variações, se essas forem lentas e progressivas, respeitado um tempo mínimo de exposição ao estímulo.

Essa estimulação evidencia-se predominantemente no hemisfério direito, promovendo uma tendência de equilíbrio da atividade cerebral dos dois hemisférios, que é o princípio da sincronização hemisférica, a qual induz a um rebaixamento natural da frequência da atividade hemisférica esquerda, de ondas beta para ondas alfa.

Acústica

A acústica refere-se ao som como fenômeno vibratório e suas características: intensidade (decibéis), frequência (hertz), timbre (harmônicos) e duração (tempo). Está relacionada ao comportamento acústico das ondas sonoras nos ambientes, como reflexão, absorção, comprimento de onda e interferência de ondas.

Silêncio e sensibilidade da audição

Nesse tópico, leva-se em consideração a percepção do silêncio e suas relações com a subjetividade, pensamentos/psiquismo e saúde auditiva. Exemplo: a audição humana responde diferentemente à sensibilidade de tons médios, entre 500 hz e 4.000 hz. Tons abaixo ou acima dessas frequências são percebidos com volume mais baixo. Isso vale para intensidade normal do som (60-80 db). À medida que o volume aumenta, aumenta a sensibilidade dos tons baixos e altos. Temos aqui uma diferenciação das experiências da linguagem verbal e da linguagem musical.

Eletroestimulação Nervosa Transcutânea (TENS)

A Eletroestimulação Nervosa Transcutânea (TENS) é um método eficaz para se conseguir um relaxamento fisiológico, racional e não invasivo, de áreas específicas da musculatura. Promove analgesia e relaxamento muscular, estimula o organismo a liberar endorfinas e encefalinas, bem como facilita a eliminação das toxinas musculares, nutrindo melhor as células, estimulando a circulação sanguínea.

Desenvolvimento

Com base nesses princípios norteadores e meus conhecimentos como musicoterapeuta, desenvolvi uma forma de trabalhar que inicialmente foi aplicada às necessidades relacionadas ao estresse. Depois, a experiência mostrou-me que poderia expandir sua aplicabilidade.

Uma sessão de AudioMusicoTens® caracteriza-se pela aplicação do TENS, com o objetivo de relaxamento muscular, associada à audição musical orientada pela musicoterapia, para a sensibilização do paciente frente ao som enquanto fenômeno vibratório, de forma a promover um treinamento auditivo sensível e aguçar a qualidade de audição da pessoa.

O processo inicia-se com uma anamnese que inclui o levantamento do histórico musical do cliente e seu perfil, segue despertando para os benefícios da alfagenia (ondas alfa) através da resposta induzida por frequência e reforça a importância do relaxamento.

Podem-se observar como resultados, além da diminuição dos níveis de estresse, o aumento da resistência física, das defesas imunológicas e do bem-estar físico e mental, e melhoria na memória, capacidade de concentração, criatividade, confiança, otimismo e poder de decisão.

Um aspecto que considero importante ressaltar é o efeito residual das sessões. Esse aspecto deve ser levado em consideração para que se possa estabelecer um programa com um número de sessões que, na média, ofereça ao cliente a possibilidade de sentir alguma mudança significativa. A tendência é de se perceber um resultado interessante de forma bastante rápida, com a realização de poucas sessões, mas o efeito residual é fugaz nessa situação. Pude observar que 10 sessões, sendo oito sessões semanais acrescidas de duas sessões quinzenais, em média, proporcionam resultados na percepção do cliente, com um efeito residual mais duradouro. No primeiro programa de intervenção, ao final da décima sessão, o próprio cliente, em sua autonomia, discute a necessidade ou não de continuidade juntamente com o musicoterapeuta.

Para finalizar, quero ressaltar que o AudioMusicoTens® é dinâmico, como não poderia deixar de ser, por se tratar de uma relação terapêutica ou mesmo de sensibilzação humana. Constantemente, o método é retroalimentado com meus estudos, minha experiência em relação a cada cliente e minha visão e perspectiva de mundo e de vida.

A música é portadora de uma universalidade raramente encontrada em um estímulo. Quando utilizada criteriosamente, seu potencial de mobilização pode ser intensificado, tornando a audição musical uma experiência diferenciada com um poder transformador inestimável. Assim, um salto de qualidade é alcançado ao expandir a função de entretenimento para uma função terapêutica.


Raul Jaime Brabo – Possui graduação em Musicoterapia e mestrado em Administração (gestão de pessoas) pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul – USCS. Tem experiência na área de prevenção e tratamento de estresse, com ênfase em método próprio de musicoterapia denominado AudioMusicoTens. Foi professor e coordenador da Faculdade de Musicoterapia da FMU – Faculdades Metropolitanas Unidas, durante 18 anos e professor convidado em cursos de pós-graduação e cursos livres na Universidade Metodista, Universidade São Marcos, PUC, Fefisa e Unisantanna. Como músico, fundou e atua no grupo “Les Folies”, especializado em gaita de fole e outros instrumentos medievais.