O reiki constitui um sistema de cura através da imposição das mãos, que é utilizado para o tratamento não somente do corpo físico, atuando também nos corpos sutis etéreo, mental, emocional e espiritual, trazendo benefícios e agindo profundamente não apenas nos sintomas, mas na causa dos distúrbios.(1)
Trata-se de um tipo de terapia oferecida a indivíduos tanto em situação de saúde quanto de doença, uma vez que aumenta a energia vital e fortalece o sistema imunológico.(2)
A palavra japonesa rei-ki compõe-se de duas sílabas: rei, que descreve o aspecto cósmico, universal, a energia, e ki, que significa a força vital fundamental que flui e pulsa em todos os seres vivos em formação individual. Representa um método de cura simples que permite absorver mais energia vital, potencializando e equilibrando a energia do ser humano.
A imposição das mãos pelo reikiano direciona a energia de cura para o corpo do receptor, que flui de forma vigorosa. O doador de reiki serve como canal para transmitir a energia vital universal. Assim, nenhuma energia pessoal é absorvida ou drenada do doador, que é simultaneamente, após cada sessão de reiki, recarregado e fortalecido.(3)
A força vital transmitida por esse método abrange todo o sistema de glândulas endócrinas e órgãos do corpo, energizando o ser humano em vários níveis ao mesmo tempo: no nível físico, pelo calor das mãos, no nível mental, pelos pensamentos ou símbolos do reiki, no nível emocional, pelo amor que flui com a aplicação e no nível energético, pela presença da pessoa iniciada nessa terapia e pela própria energia reiki.(4)
O método possui caráter preventivo e harmonizador, agindo sempre na causa dos problemas, uma vez que trata o físico, o psíquico, o mental e o espiritual, com resultados concretos em casos de ansiedade, dores, estresse, depressão, insônia, medo, insegurança e pânico, assim como em órgãos, tecidos e sistemas orgânicos, cuidando do ser de forma integral.(2)
Hoje, o conceito de dor mundialmente utilizado é o da Associação Internacional de Estudos da Dor (IASP), que caracteriza a mesma como uma experiência sensorial e emocional desagradável, decorrente de lesão real ou potencial dos tecidos do organismo do indivíduo.
Trata-se de uma manifestação basicamente subjetiva, sendo que sua apreciação varia de pessoa para pessoa.(5)
Quando a dor manifesta-se por um período maior do que seis meses, ela é caracterizada e definida como dor crônica, determinando altos custos ao sistema de saúde e afetando vários segmentos sociais e econômicos.(6)
A população idosa torna-se mais suscetível ao desenvolvimento de dor crônica uma vez que está mais exposta a traumatismos, infecções e doenças crônico-degenerativas, responsáveis por esse tipo de dor.
Cerca de 85% dos idosos com mais de 65 anos apresenta pelo menos um problema de saúde que predisponha à dor. Essa é considerada frequente em cerca de 32% a 34% dos idosos, ocasional em 20% a 25%, aguda em 6% a 7% e crônica em 48% a 55% deles.(7)
Nesse contexto, acredita-se que a prática de reiki como terapia complementar possa contribuir como método de cuidado baseado na prevenção, no alívio dos sintomas e na cura das dores do tipo crônicas.
A fim de garantir a integralidade na atenção à saúde, o Ministério da Saúde criou, no ano de 2006, a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) no Sistema Único de Saúde, cuja implementação envolve justificativas de natureza política, técnica, econômica, social e cultural.
Essa política atende à necessidade de se conhecer, apoiar, incorporar e implementar experiências que vêm sendo desenvolvidas na rede pública de muitos municípios e estados brasileiros, entre as quais se destacam aquelas no âmbito da medicina tradicional chinesa/acupuntura, homeopatia, fitoterapia, medicina antroposófica e termalismo-crenoterapia.(8)
Os profissionais que trabalham com as práticas integrativas e complementares em saúde (PICS) estimulam o sujeito a encontrar seu bem-estar e equilíbrio, uma vez que compreendem que o corpo, assim como a natureza, tem capacidade própria de procurar esse equilíbrio do bem-estar e dessa forma melhorar a qualidade de vida.(9)
Um estudo realizado na Inglaterra teve por objetivo investigar se a terapia complementar de reiki possuía algum efeito sobre a função do sistema nervoso autônomo dos receptores.
Participaram da pesquisa 45 sujeitos, designados de forma aleatória em três grupos: sem tratamento, com tratamento de reiki aplicado por praticante experiente e placebo por uma pessoa sem nenhum conhecimento de reiki e que imitava o tratamento tradicional.
A frequência cardíaca, o tônus cardíaco vagal, a pressão arterial, a sensibilidade cardíaca para barorreflexo e a atividade respiratória foram monitorados.
Os resultados indicaram que a frequência cardíaca e a pressão arterial diastólica diminuíram significativamente no grupo de reiki em comparação com os dois outros grupos (placebo e controle), indicando que a terapia apresenta algum efeito sobre o sistema nervoso autônomo.(10)
Outro estudo relevante objetivou avaliar os resultados da aplicação de reiki em pacientes voluntários de um centro de oncologia médica. Os dados qualitativos foram obtidos a partir de respostas escritas às perguntas feitas após cada sessão da terapia.
Os resultados indicaram uma diminuição de mais de 50% do sofrimento caracterizado pela ansiedade, depressão, dor e fadiga. Os voluntários relataram que gostariam de continuar usando o reiki, pois obtiveram relaxamento e sentiram bem-estar espiritual.(11)
As publicações de pesquisas sobre a temática do reiki, associadas às experiências vivenciadas com as atividades de práticas supervisionadas durante Curso de Graduação em Enfermagem, despertaram o interesse pela realização do estudo aqui relatado.
Além disso, a ideia de trabalhar com o reiki alicerça-se à vida de uma das autoras da pesquisa, que durante anos buscou conhecer essa forma de tratamento complementar.
Em experiências prévias vivenciadas empiricamente pela referida autora, verificou-se que os indivíduos referem bem-estar e diminuição do estresse durante e após a aplicação do reiki, relatando ainda alívio de dores agudas e crônicas.
Dessa forma, despertou o interesse em aprofundar as discussões acerca da temática, uma vez que o cuidado de enfermagem precisa estar intimamente ligado ao conhecimento científico e, portanto, participar ativamente da construção desse conhecimento.
Nesse sentido, a pesquisa teve como objetivo identificar e analisar os benefícios vivenciados por idosos com dor crônica não oncológica após a aplicação de reiki.
Metodologia
Trata-se de uma pesquisa de caráter qualitativo(12), exploratória e observacional. Os sujeitos foram 10 idosos residentes em dois municípios da região norte do Estado do Rio Grande do Sul.
Utilizou-se uma amostra aleatória simples. Os critérios de inclusão respeitados para o estudo foram: possuir dor crônica do tipo não oncológica no ato da pesquisa, ser integrante dos grupos de idosos, ter idade igual ou superior a 60 anos, saber ler e escrever, comprometer-se em participar voluntariamente de cinco sessões de reiki e, conjuntamente, responder a uma entrevista.
Como critério de exclusão considerou-se incapacidade física e intelectual para responder aos questionários aplicados.
Inicialmente, o projeto foi apresentado aos integrantes dos grupos de idosos, a fim de saber quantas pessoas enquadravam-se nos critérios de inclusão e tinham interesse em participar da pesquisa.
Com a finalidade de manter o anonimato dos participantes, estes foram identificados por mantras (Om, Lam, Ram, Yan, Kam, Vam, Ham, Aum, Klim e Gam).
As sessões de reiki foram aplicadas individualmente em cinco dias consecutivos por uma acadêmica de enfermagem reikiana.
Cada sessão teve duração de uma hora, com a utilização de quatorze posições de imposição das mãos, sendo quatro na cabeça, quatro tóraco-abdominais, quatro na região costal e duas nos membros inferiores. As posições foram as mesmas em todas as sessões e para todos os sujeitos.
Foram utilizados espaços físicos próprios dos encontros de rotina dos grupos de idosos, porém em sala restrita.
Além das sessões de reiki, utilizou-se como instrumento de coleta de dados a entrevista semiestruturada contendo questões abertas e fechadas. As questões fechadas foram referentes à caracterização sociodemográfica dos sujeitos e as abertas eram direcionadas à temática do reiki, possibilitando que o entrevistado estivesse mais à vontade na hora de responder às indagações.
Os dados foram gravados e, posteriormente, transcritos na íntegra. A coleta concretizou-se entre os meses de julho a agosto de 2012, nos locais de encontro dos grupos de idosos. A entrevista foi aplicada antes da primeira e após a quinta sessão de reiki.
Para a verificação da intensidade da dor foi utilizada a escala verbal, em que o paciente quantifica a experiência dolorosa utilizando frases que representam diferentes intensidades de dor, como nenhuma dor, dor leve, dor moderada, dor forte, dor insuportável e pior dor possível, válidas e confiáveis na mensuração da experiência dolorosa em idosos(13). A escala foi aplicada antes da primeira e após as cinco sessões de reiki.
A fim de ordenar as avaliações com os participantes, criou-se um roteiro de observações com seis itens a serem analisados e anotados em um diário de campo: sentiu-se à vontade para deitar-se na maca, respiração, movimentação, a partir de que posição começou a relaxar, sentiu sono e/ou dormiu, sentiu vibrações diferentes em certas regiões do corpo e aparência geral após a sessão. Nesse diário, foram registradas as observações realizadas em cada sessão de reiki.
A análise de conteúdo seguiu três etapas, segundo Bardin: 1) pré-análise, 2) exploração do material e 3) tratamento dos resultados, inferência e interpretações.(14)
Portanto, para efetuar cada uma das etapas da metodologia supracitada, realizou-se, num primeiro momento, um retorno ao objetivo do estudo, a fim de sistematizar os conceitos iniciais da pesquisa.
Em seguida, foi realizada a leitura cuidadosa do material a ser analisado, em que se realizou a escuta de cada uma das entrevistas gravadas em áudio, impregnando-se do seu conteúdo.
Posteriormente, as entrevistas foram integralmente transcritas em um documento criado no programa Microsoft Office Word 2010.
O passo seguinte tratou da exploração do material. Nessa etapa, procurou-se por palavras ou expressões significativas que surgiram nas transcrições e que, por isso, constituíram e categorizaram o corpus.
Para valorizar e assegurar uma condução ética durante todo o processo da pesquisa, o projeto foi registrado no Gabinete de Projetos/UFSM, sob o nº 031219.
Os dados foram coletados após a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da UFSM, com CAAE (Certificado de Apresentação para Apreciação Ética) de nº 01461812.8.0000.5346 e mediante a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) pelos participantes.
Apoiou-se nas orientações e disposições da Resolução nº 196/96(15), do Ministério da Saúde, que descrevem as diretrizes e normas que regulamentam os processos investigativos envolvendo seres humanos, sendo atendidas as recomendações em todas as fases da pesquisa.
Resultados e discussão
Participaram da pesquisa 10 idosos com queixas de dor crônica não oncológica, sendo cinco do sexo masculino e cinco do sexo feminino. Seis participantes possuíam idade entre 60 e 70 anos e quatro entre 70 e 80 anos.
Quanto à profissão, nove sujeitos relataram ser agricultores e uma pessoa, do lar. Todos possuíam grau de escolaridade entre a 2ª e 6ª série do ensino fundamental.
Entre os participantes, seis eram naturais de municípios localizados na região norte, dois da região noroeste e dois da região central do Rio Grande do Sul. A religião predominante foi católica (nove sujeitos), seguida pela evangélica (um sujeito).
Após a quinta sessão de reiki, dois sujeitos referiram nenhuma dor, sete sujeitos referiram dor leve e um sujeito referiu dor forte. Dessa forma, observou-se que, entre os entrevistados, a maioria apresentou algum tipo de melhora após as sessões.
Quatro sujeitos que referiam dor moderada na coluna vertebral, região lombossacral e articulações, antes das sessões de reiki, passaram a referir dor leve. Uma pessoa com dor moderada localizada na coluna vertebral e região lombossacral relatou nenhuma dor. Dois sujeitos que referiam dor forte na região lombossacral e nos joelhos passaram a relatar dor leve. Um que possuía dor forte na região escapular e lombossacral referiu nenhuma dor. Outro que referia dor insuportável nas articulações e na coluna vertebral relatou dor leve e apenas um sujeito que referiu dor na coluna vertebral, região lombar e articulações não evidenciou melhora, afirmando que antes das sessões possuía dores fortes e que estas continuaram manifestando-se como fortes. Cabe ressaltar que esse participante, paralelamente às sessões de reiki, estava sendo submetido a sessões de fisioterapia motora, o que pode ter influenciado nos resultados.
A partir da análise qualitativa dos discursos emergiram duas categorias temáticas: a terapia de reiki no alívio da dor crônica e a prática de reiki como ferramenta de cuidado, proporcionando bem-estar físico e psicológico.
Terapia de reiki no alívio da dor crônica – essa categoria foi identificada e relatada ao se observar que a maioria dos pesquisados referiram melhora significativa da dor crônica, alguns desde a segunda sessão de reiki, como se pode verificar no depoimento a seguir.
“As dores melhoraram bastante. A dor nas pernas melhorou bastante, está moderada. Não tenho muita dor de cabeça mais. A dor nas pernas melhorou bastante e a dor nas costas melhorou, pois quando eu levantava tinha aquela dor que não dava para aguentar.” – Lam.
Evidencia-se que atualmente cada vez mais indivíduos são acometidos por problemas relacionados à saúde. Muitos desses problemas são acompanhados por dor e, em significativa parcela deles, a dor crônica é a principal queixa do indivíduo, fato que pode interferir de modo acentuado na qualidade de vida dos idosos.(7)
O envelhecimento populacional tem contribuído para a prevalência de doenças crônicas e incapacitantes nesse público, levando à limitação funcional e diminuindo a autonomia do sujeito.
A dor crônica é um dos problemas mais importantes, pois dificulta consideravelmente a autonomia do idoso na execução de suas funções diárias, afetando sua qualidade de vida.(16)
Antes da primeira sessão, os sujeitos apresentaram queixas de dores nas articulações, coluna vertebral, região lombossacral e joelhos, além de sinais e sintomas de ansiedade, estresse, nervosismo, insônia e dificuldades na execução de atividades cotidianas.
Cabe destacar que esses sinais e sintomas são frequentes na população idosa e, na maioria das vezes, estão associados a transtornos depressivos e a doenças orgânicas.
Após a realização das cinco sessões de reiki, os sujeitos demonstraram verbalmente alívio das dores, bom padrão de sono, facilidade na execução das tarefas do dia a dia, melhora nos níveis de estresse e ansiedade, mudança nos processos de pensamento e bom humor.
Muitos estudos foram feitos na prática para mostrar os resultados obtidos com a aplicação de reiki, entre eles a avaliação da impostação de mãos sobre camundongos, observando parâmetros hematológicos e imunológicos.
Os resultados dessa pesquisa demonstraram que nos animais que receberam a impostação de mãos houve uma diminuição significativa do número de plaquetas, elevação do número de monócitos na leucometria específica e elevação da atividade citotóxica de células não aderentes com atividade das células natural-killers e células matadoras ativadas por linfocinas. Os grupos de controle e placebo não mostraram qualquer alteração.
Os resultados encontrados levaram a concluir que há uma alteração fisiológica decorrente da impostação de mãos e que existe a necessidade de continuidade nos estudos considerando essas evidências.(17)
Outro estudo relevante objetivou investigar os efeitos imediatos na imunoglobulina A salivar (IgAs), na atividade de α-amilase e na pressão arterial em enfermeiras que sofrem da síndrome de burnout, tendo sido realizado um ensaio clínico randomizado, duplo-cego, placebo e controlado, com desenho cruzado.
Participaram do estudo 18 enfermeiras (com idade entre 34 e 56 anos), com síndrome de burnout.
As participantes receberam tratamento com reiki ou reiki falso, de acordo com a ordem estabelecida, através da randomização em dois dias distintos.
O estudo demonstrou uma relação significativa entre o momento da intervenção e a pressão arterial diastólica, evidenciando que uma sessão de reiki de 30 minutos pode melhorar de forma imediata a resposta de IgAs e da pressão arterial diastólica em enfermeiras com síndrome de burnout.(18)
Não foram encontrados estudos específicos referentes ao alívio da dor crônica após aplicação de reiki. Nesse contexto, o estudo aqui relatado atenta para a importância do uso de reiki no alívio da dor crônica, como terapia complementar que, além de prevenir e equilibrar o organismo, melhora consideravelmente a qualidade de vida dos idosos.
Boa parte dos idosos referiu utilizar medicamentos analgésicos rotineiramente, sendo que, durante os cinco dias em que receberam as sessões de reiki, houve relatos de que não foi necessário fazer uso de tais medicações: “eu me senti bem melhor. Sempre estava tomando remédios, esses analgésicos, não é antibiótico. Eu tomo de noite e no outro dia já começa a dor. Depois que você começou a fazer isso aí (reiki), não tomei mais e senti meus nervos mais desatados.” – Om.
Dessa forma, pode-se afirmar, com base nos relatos, a melhoria na qualidade de vida da população idosa submetida a essa prática de cuidado, uma vez que o reiki mostrou-se curativo e harmonizador, agindo na causa do problema, aliviando as dores e fazendo com que os sujeitos ficassem mais tranquilos, equilibrando corpo, mente e espírito e diminuindo inclusive a ingestão de medicamentos alopáticos.
A origem de um problema crônico forma-se no nível da mente e do espírito ao longo do tempo, antes de revelar-se como problema físico. Quando uma pessoa começa a ter reumatismo aos cinquenta anos, as causas mentais e espirituais desse desequilíbrio já estavam se formando há muito tempo, por atitudes e reações emocionais. Os sintomas da doença representam um sinal de como a mente e o espírito nos alertam sobre os problemas em um nível superior.(19)
Foi possível observar as expressões de dor dos sujeitos ao deitarem na maca e nas primeiras posições da cabeça até o segundo dia de submissão ao cuidado. No entanto, após a terceira e/ou quarta posição da cabeça e ao término das sessões, observou-se que não apresentavam dificuldades em movimentar-se para levantar da maca e demonstravam boa aparência geral.
Um estudo anterior realizado com 20 sujeitos teve por objetivo avaliar os efeitos do reiki no tratamento de idosos com queixas de dor, depressão e/ou ansiedade. Foram constatadas diferenças significativas entre os grupos experimentais e de tratamento em termos de medidas de dor, depressão e ansiedade, não sendo observadas alterações na frequência cardíaca e pressão arterial.
Os sujeitos referiram relaxamento, sintomas físicos melhorados, humor, bem-estar, curiosidade e desejo de aprender mais, além de maior autocuidado e respostas sensoriais e cognitivas para reiki.(20)
Sugere-se que a utilização de terapias alternativas seja incorporada pelos profissionais de equipes de saúde, dentre eles o enfermeiro, os quais deverão contribuir para o correto uso de recursos terapêuticos, oferecendo um cuidado capaz de abordar outros aspectos além do biológico.
Poderão ainda buscar resultados para além dos paradigmas positivistas, estimulando a autonomia do paciente na preservação de sua saúde e auxiliando no enfrentamento da cura ou manutenção da saúde dos indivíduos sob seus cuidados.(21)
Prática de reiki como ferramenta de cuidado: bem-estar físico e psicológico
A maioria dos entrevistados que relatavam sentir ansiedade, nervosismo e estresse antes das sessões de reiki referiu que após as sessões houve melhora significativa desses sintomas, como se pode constatar no depoimento a seguir.
“Parece que os nervos ficaram mais certos, porque em casa antes de fazer isso aí (reiki), eu estava muito nervosa, com vontade de sair. E de dia ficava em casa sozinha. Me dava vontade só de estar comendo, dava vontade de atacar a geladeira e comer tudo o que tinha (risos). Às vezes começava a chorar, sozinha e nervosa, com dor. Agora não, depois desses dias, essa semana não deu isso, nessa semana não me fez nada disso, fiquei boa.” – Aum.
O reiki é energia de luz que não se esgota. Cura naturalmente através do toque humano, restabelecendo o equilíbrio do corpo, da mente e das emoções. É um método integral de cura energética que tem um grande significado para a vida, pois a doença e as emoções negativas se unem e curar a doença também significa curar as emoções que a acompanham. A energia reiki dirige-se para onde a cura é necessária, cuidando do ser de forma integral.(22)
O método transfere energia do doador (o canal de reiki) para o receptor, trabalhando em diferentes níveis. Equilibra harmoniosamente todos os aspectos do receptor, de acordo com suas necessidades e desejos pessoais.
Equilibra os órgãos e glândulas e suas funções corporais, libera bloqueios e emoções reprimidas, promove a cura natural do ser, adapta-se às necessidades naturais do receptor, amplia a consciência pessoal, facilita os estados meditativos, promove relaxameto, reduz o estresse, estimula a criatividade, potencializa a energia vital, aguça a intuição, trata os sintomas e as causas das doenças, cura holisticamente, fortalece o sistema imunológico, alivia a dor e libera toxinas.(2)
As queixas de nervosismo, estresse e ansiedade são comuns na população de idosos, principalmente quando sentem dor contínua. Nesse contexto, atenta-se para a introdução de práticas complementares, com a finalidade de melhorar a qualidade de vida dessa parcela da população, visto que obtiveram melhora significativa da dor e, consequentemente, referiram melhora da ansiedade, do nervosismo e do estresse.
Assim, percebe-se que após a aplicação de terapia complementar por meio de reiki, os sujeitos apresentaram melhora expressiva, em especial nos aspectos relacionados às dores crônicas e à saúde mental.
Observou-se que a totalidade dos entrevistados afirmou que indicaria essa terapia para outros sujeitos, em função do bem-estar que sentiram, e que fariam novamente se tivessem oportunidade, como está evidenciado na fala a seguir.
“Deu um alívio, parece assim que não tem aquela, tipo depressão, mas não é, é ansiedade, então aquilo já não tem, melhorou cem por cento. Acho que se toca de fazer a gente faz de novo. Se tiver outra oportunidade, que você encaminhe para gente, quero até fazer de novo, mais tarde.” – Gam.
No caráter observatório, pode-se constatar que a maioria dos idosos atingiu certo grau de relaxamento corporal após a quarta posição da cabeça, pois para os reikianos as posições são em número de 14, sendo quatro posições na cabeça, quatro posições na frente, quatro nas costas e duas nos pés. A aplicação inicia-se sempre na cabeça, onde as mãos são colocadas em pontos estratégicos relacionados aos chacras.
O fato pode ser observado pela movimentação e respiração. Alguns queriam expor sentimentos vivenciados no dia a dia, durante a aplicação. Relatavam sentir vibrações no corpo, nas regiões onde sentiam mais dor. Afirmavam que as mãos da reikiana vibravam.
Após a segunda sessão de reiki, os sujeitos estavam mais à vontade e pôde-se observar a melhora pela aparência mais serena e tranquila.
Não foram observadas e nem relatadas modificações entre a quarta e a quinta sessão de reiki e, dessa forma, afirma-se que quatro sessões da terapia foram suficientes para o alívio e/ou melhoria das queixas de dor crônica.
Oito dos 10 sujeitos dormiram por algum tempo durante as sessões e todos referiram sonolência. Ao término de cada sessão, a aparência dos sujeitos era de serenidade, observada pela calma e tranquilidade que transpareciam.
Estudo(17) prévio avaliou se a terapia de reiki poderia produzir alterações psicofisiológicas em idosos com sintomas de estresse. Em um grupo de voluntários que receberam reiki e em um grupo que recebeu um tratamento placebo, mensuraram-se respostas psicológicas como níveis de estresse, ansiedade, depressão, percepções de tensão, bem-estar e qualidade de vida, além de respostas fisiológicas como temperatura periférica, tensão muscular e condutância elétrica da pele.
O conjunto de resultados obtidos sugeriu que a terapêutica de reiki produziu alterações psicofisiológicas em idosos, compatíveis com uma redução significativa de estresse.
A aplicação da energia chamada reiki é um método que se adapta aos novos paradigmas que emergem na área de saúde e que incluem consciência, corpo, mente e, principalmente, a prevenção.
Em pesquisas anteriores que objetivaram identificar os sentimentos vivenciados por profissionais de enfermagem que atuavam em uma UTI, após aplicação de reiki, os resultados mostraram-se satisfatórios, demonstrando que os profissionais submetidos a essa prática terapêutica relataram que ela contribuiu para o equilíbrio das necessidades físicas, mentais, emocionais e espirituais, levando a uma relação harmoniosa entre o ser humano e seu meio, além de promover o autoconhecimento.(23)
Com base nessa percepção, entende-se que a mudança da realidade atual depende da formação acadêmica ou de o profissional buscar novas formas de tratamento, de maneira natural, a fim de contribuir para a melhoria da saúde dos indivíduos.
Torna-se essencial que o enfermeiro, enquanto membro da equipe de saúde, trabalhe na perspectiva da integralidade, respeitando as diferenças e o contexto social de cada paciente.(21)
Para isso, é necessário incluir, na formação dos enfermeiros, conhecimentos sobre práticas complementares de saúde, uma vez que esses profissionais possuem sustentação e amparo legal para o desenvolvimento das terapias alternativas e complementares (TACs), garantidos pela Resolução nº 197 do Cofen, de 19 de março de 1997.(24)
O mesmo Conselho Federal de Enfermagem define as TACs como “práticas oriundas, em sua maioria, de culturas orientais, onde são exercidas ou executadas por práticos treinados sistematicamente e repassadas de geração em geração, não estando vinculadas a qualquer categoria profissional”.(24)
A busca por profissionais cada vez mais qualificados conduz a maiores investimentos em capacitação dos trabalhadores da saúde e define a importância de um modelo de política de formação/capacitação e educação em saúde para os recursos humanos.(25)
As capacitações na área de saúde devem ser consideradas estratégicas, podendo constituir-se num espaço concreto de construção de competência técnica, política e ética para o fortalecimento dos recursos humanos.
Nesse contexto, torna-se essencial citar a Política Nacional de Educação Permanente em Saúde (EPS), criada pelo Ministério da Saúde, em 2004. A EPS propõe que a transformação das práticas profissionais deve estar baseada na reflexão crítica, em espaços coletivos e em rodas de discussão, a partir da problematização da realidade do trabalho, identificando as necessidades de capacitação.(26)
É indispensável a constituição de propostas educativas para a manutenção de um sistema, pois há a possibilidade de transcender para formas diferentes de saber e fazer, em conformidade com o momento social, histórico, econômico e político de promoção dos sujeitos e cidadãos conscientes de que seus compromissos profissionais, pessoais e sociais possam ser efetivados de forma integrativa.(27)
Dessa forma, atenta-se para a necessidade de buscar estratégias para capacitar os profissionais de enfermagem, a fim de que essas práticas transformem-se em rotina daqueles que trabalham com o ser humano nas diversas etapas de seu desenvolvimento.
Conclusão
De modo geral, após a aplicação de reiki os participantes da pesquisa referiram ativação de sua energia, remetendo a esta o alívio de suas dores, assim como relaxamento corporal e diminuição da ansiedade.
Em conclusão, logo após as cinco sessões de reiki foi possível perceber, através dos relatos dos sujeitos, melhora significativa nas queixas de dores crônicas, além da contribuição para o equilíbrio das necessidades físicas, mentais, emocionais e espirituais dos idosos.
Por interagir com a população e com pacientes, o enfermeiro tem o papel de oferecer alternativas para complementar o seu tratamento que estejam ao alcance do público-alvo, promovendo a prevenção de doenças e a promoção da saúde e visando à prestação de um cuidado holístico, de forma natural, e com respeito às crenças, valores, realidade local da população e individualidade de cada ser humano.
A utilização de práticas complementares em saúde representa um meio de demonstrar autonomia profissional em todas as formas de atuação, possibilitando a agregação de conhecimentos sobre as situações culturais, econômicas e biopsicossociais em que se encontra o sujeito cuidado.
Em se tratando de idosos, as práticas complementares podem garantir maior convivência social, melhora na autoestima e incentivo para a realização das atividades cotidianas, aspectos que no contexto de vida desses sujeitos, na maioria das vezes, tornam-se esquecidos.
Vera Lucia Freitag – Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), no Rio Grande do Sul.
Indiara Sartori Dalmolin – Residente do Programa de Residência Integrada Multiprofissional em Saúde da Família, da Universidade Federal de Santa Catarina.
Marcio Rossato Badke – Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da UFPel e professor assistente da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), no Rio Grande do Sul.
Andressa de Andrade – Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde, da Universidade Federal do Rio Grande e professora assistente da UFSM, no Rio Grande do Sul.
Nota: baseado no artigo Benefícios do reiki em população idosa com dor crônica, publicado em Texto e Contexto – Enfermagem – 23 (4): 1032-40 – out-dez/2014 (https://doi.org/10.1590/0104-07072014001850013).
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