Disfunção erétil: sintomas e abordagens da medicina ocidental e tradicional chinesa

A disfunção erétil (DE) é uma condição que afeta milhões de homens em todo o mundo, comprometendo não apenas a saúde física, mas também a autoestima, os relacionamentos e o bem-estar emocional.

Embora frequentemente visto como um assunto isolado, esse pode ser um sinal de condições mais complexas. A importância do seu diagnóstico e tratamento adequado vai além da melhora da função sexual: é restaurar a confiança e a qualidade de vida dos pacientes.

O tratamento pode ser abordado de maneira integrativa, unindo os avanços da medicina ocidental com as práticas milenares da medicina tradicional chinesa (MTC).

Enquanto a primeira atua de maneira direta, a outra busca o equilíbrio energético do corpo não tratando apenas os sintomas. Compreender as diferentes abordagens e sua interação é essencial para resultados mais eficazes e duradouros.

Aqui, exploraremos os principais sinais e sintomas da DE e mostraremos como a integração dessas práticas pode oferecer um tratamento mais completo e personalizado. Afinal, a saúde sexual é um reflexo da saúde integral do homem e abordagens que tratam corpo e mente em harmonia são fundamentais para o sucesso terapêutico.

Sinais e sintomas da disfunção erétil

Os sinais e sintomas da disfunção erétil podem variar em intensidade e impacto, sendo essencial abordá-los com sensibilidade e compreensão.

1 – Dificuldade em obter uma ereção: o sinal mais evidente da DE é a dificuldade em iniciar uma ereção. O homem pode ter problemas para conseguir uma ereção firme o suficiente para a penetração sexual. Esse sintoma pode ser ocasional ou persistente. A persistência é geralmente definida como dificuldade que ocorre em pelo menos 25% das tentativas de relação sexual ao longo de um período (Miller, 2018).

2 – Manutenção da ereção: outro sintoma muito comum é a dificuldade em manter a ereção adequada durante o ato sexual. O homem pode conseguir uma ereção inicialmente, mas ela pode se perder antes ou durante a penetração. Isso pode causar frustração e afetar a confiança do indivíduo na sua capacidade sexual (Sayer et al., 2021).

3 – Redução do desejo sexual: em alguns casos, a disfunção erétil pode estar associada a uma redução no desejo sexual. Embora a DE e a diminuição da libido sejam condições distintas, elas podem se sobrepor, especialmente quando a DE afeta a autoimagem e a confiança sexual do homem (Laumann et al., 2005).

4 – Desempenho sexual insatisfatório: a falta de uma ereção adequada pode levar a um desempenho sexual insatisfatório, o que pode impactar negativamente a qualidade de vida e o relacionamento. Isso pode manifestar-se em sentimentos de inadequação e baixa autoestima (Kaufman et al., 2003).

5 – Impacto emocional e psicológico: a DE frequentemente está associada a efeitos emocionais e psicológicos significativos, como ansiedade, depressão e estresse. A preocupação constante com a capacidade sexual pode gerar um ciclo vicioso, exacerbando a disfunção (Eisenberg et al., 2012).

É crucial considerar que a disfunção erétil pode ser um indicador de condições subjacentes mais sérias, como doenças cardiovasculares ou diabetes.

Abordagens da disfunção erétil na medicina ocidental

A medicina ocidental compreende a disfunção erétil como um problema multifatorial e multifacetado, com causas orgânicas e psicogênicas. As principais causas são abordadas nos tópicos a seguir.

Principais causas orgânicas

Doenças cardiovasculares: as doenças cardiovasculares são uma das causas orgânicas mais comuns de DE. Condições como hipertensão, aterosclerose e insuficiência cardíaca podem comprometer o fluxo sanguíneo para o pênis, dificultando a obtenção e manutenção de uma ereção. Estudos mostram que a disfunção erétil pode ser um sinal precoce de problemas cardiovasculares subjacentes, como infarto do miocárdio ou acidente vascular cerebral (Eisenberg et al., 2012). A avaliação e o tratamento das condições cardiovasculares podem melhorar significativamente a função erétil.

Diabetes mellitus: o diabetes mellitus é uma causa importante de DE, especialmente em homens com controle glicêmico inadequado. O diabetes pode levar a neuropatia diabética, afetando os nervos que controlam a ereção, e causar alterações nos vasos sanguíneos, comprometendo o fluxo sanguíneo para o pênis. A gestão adequada do diabetes, através de controle glicêmico rigoroso e tratamento das complicações associadas, é crucial para o manejo da disfunção erétil (Miller, 2018).

Distúrbios hormonais: desequilíbrios hormonais, particularmente baixos níveis de testosterona, podem contribuir para a DE. A testosterona desempenha um papel fundamental na libido e na função erétil. A avaliação dos níveis hormonais é uma parte essencial do diagnóstico para identificar deficiências hormonais que podem ser tratadas com terapia de reposição hormonal, se apropriado (Kaufman et al., 2003).

Doenças neurológicas: condições neurológicas como esclerose múltipla e doença de Parkinson podem afetar a função erétil ao prejudicar a comunicação entre o cérebro e os nervos do pênis. A abordagem terapêutica pode incluir tratamentos direcionados à condição neurológica subjacente e a consideração de dispositivos de ereção ou medicamentos que possam ajudar a superar as dificuldades associadas à função nervosa comprometida (Sayer et al., 2021).

Principais causas fisiológicas

Disfunção endotelial: a disfunção endotelial, condição em que o endotélio dos vasos sanguíneos não funciona adequadamente, pode levar a uma vasodilatação inadequada e, consequentemente, à disfunção erétil. Essa condição está frequentemente associada a fatores de risco como diabetes e hipertensão e pode ser tratada com medicamentos que melhoram a função endotelial, além de abordagens para controlar os fatores de risco subjacentes (Eisenberg et al., 2012).

Medicamentos e substâncias: muitos medicamentos podem causar disfunção erétil como efeito colateral, incluindo anti-hipertensivos, antidepressivos e medicamentos para o tratamento de doenças psiquiátricas. A revisão dos medicamentos em uso e a discussão com o médico sobre alternativas podem ajudar a gerenciar essa causa fisiológica da disfunção erétil. Além disso, o abuso de substâncias como álcool e drogas recreativas também pode contribuir para a DE (Miller, 2018).

Principais causas psicológicas

Ansiedade e estresse: o estresse e a ansiedade são causas psicológicas significativas de disfunção erétil. O estresse, seja relacionado ao trabalho, à vida pessoal ou ao desempenho sexual, pode levar a uma redução na libido e na capacidade de obter ou manter uma ereção. A abordagem para esses casos pode incluir terapia cognitivo-comportamental (TCC), para ajudar o paciente a desenvolver estratégias para gerenciar o estresse e a ansiedade, além de técnicas de relaxamento e mindfulness (Eisenberg et al., 2012).

Depressão: a depressão é frequentemente associada à DE, com sintomas como a perda de interesse em atividades que antes eram prazerosas, incluindo a atividade sexual. O tratamento da disfunção erétil nesse contexto geralmente envolve a abordagem da depressão através de terapia psicológica e, quando necessário, medicação antidepressiva. A melhoria dos sintomas depressivos pode levar a uma melhora na função erétil (Kaufman et al., 2003).

Problemas relacionais: problemas no relacionamento, como conflitos de casal e falta de comunicação, podem impactar a função erétil. A terapia de casal pode ser uma abordagem eficaz para resolver questões relacionais que estão contribuindo para a DE. Trabalhar juntos com um terapeuta pode ajudar a melhorar a intimidade e a comunicação, o que pode ter um efeito positivo na função sexual (Sayer et al., 2021).

Abordagens da disfunção erétil na medicina tradicional chinesa

A abordagem da medicina tradicional chinesa (MTC) para a disfunção erétil (DE) é abrangente, envolvendo uma compreensão profunda das causas orgânicas, fisiológicas e psicológicas.

A MTC vê o corpo humano como um sistema integrado, onde o equilíbrio energético e a harmonia entre os órgãos são fundamentais para a saúde sexual e o bem-estar geral.

A disfunção erétil, segundo essa perspectiva, não é tratada apenas como um problema físico, mas como uma manifestação de desequilíbrios internos, exigindo uma abordagem que considera tanto o corpo quanto a mente.

Principais causas orgânicas e fisiológicas

Deficiência de Qi do rim: na MTC, o rim é visto como a fonte principal da energia vital (Qi) e do Jing (essência vital), que governam o sistema reprodutivo. A disfunção erétil frequentemente está associada a uma deficiência do Qi do rim, que pode ser resultado de envelhecimento, excesso de trabalho, estresse crônico ou práticas sexuais excessivas. Essa condição pode levar à falta de desejo sexual, ereções fracas ou inconstantes e ejaculação precoce, em associação a sintomas como frio nas extremidades, dor lombar e fraqueza geral.

Estagnação de Qi do fígado: o fígado é responsável pela livre circulação do Qi e do sangue pelo corpo. O estresse emocional e a raiva podem causar uma estagnação do Qi do fígado, levando à ansiedade, à tensão e ao bloqueio da circulação sanguínea para o pênis, de forma a impactar a função erétil e manifestando-se como irritabilidade e dor abdominal.

Umidade e fleuma acumulada: uma dieta inadequada, rica em alimentos gordurosos e frios, pode causar acúmulo de umidade e fleuma no corpo, afetando o baço e o estômago. Esse acúmulo impede a circulação suave do Qi e do sangue, contribuindo para a diminuição da função sexual.

Deficiência de sangue do coração: o coração, na MTC, está relacionado ao controle do sangue e à mente (Shen). Uma deficiência de sangue do coração pode resultar em sintomas como palpitações, ansiedade e dificuldades para manter uma ereção, especialmente se houver um componente emocional significativo associado. Essa condição é caracterizada por fraqueza, palidez e cansaço.

Principais causas psicológicas e emocionais

A medicina tradicional chinesa reconhece que os fatores emocionais desempenham um papel crucial na disfunção erétil. O impacto de emoções como estresse, ansiedade, medo e frustração pode levar ao bloqueio do Qi nos meridianos, afetando a função sexual. A interação entre a mente (Shen) e o corpo é uma consideração central.

Estresse e ansiedade: estão frequentemente associados à estagnação do Qi do fígado. A incapacidade de relaxar e as preocupações excessivas podem interferir no desempenho sexual, levando a um ciclo vicioso de ansiedade e disfunção erétil.

Medo e deficiência de Qi do rim: medo crônico ou traumas emocionais podem enfraquecer o Qi do rim, resultando em perda de confiança e problemas de ereção. Essa relação é frequentemente explorada em tratamentos que visam fortalecer o rim e acalmar a mente.

A medicina tradicional chinesa oferece uma abordagem holística e personalizada para o tratamento da disfunção erétil, enfocando a restauração do equilíbrio do corpo e da mente. Ao tratar as causas subjacentes, sejam elas orgânicas, fisiológicas ou psicológicas, a MTC busca não apenas resolver os sintomas, mas também melhorar a qualidade de vida do paciente de maneira duradoura.

Integração de abordagens

Entender as múltiplas facetas da disfunção erétil é crucial para um tratamento bem-sucedido. A integração de diagnósticos precisos e abordagens terapêuticas direcionadas pode proporcionar uma melhora significativa na qualidade de vida dos pacientes. Por exemplo: inibidores da PDE5 podem ser combinados com acupuntura e fitoterapia para tratar os sintomas agudos e as causas subjacentes da DE.

Essa abordagem integrada não só amplia as opções terapêuticas, mas também promove um cuidado centrado no paciente, considerando suas necessidades individuais e preferências culturais.

Estudos recentes têm explorado a eficácia de técnicas como acupuntura, fitoterapia chinesa e práticas mente-corpo (como Qigong e tai chi chuan) na melhora da função erétil.

A abordagem da MTC envolve uma compreensão profunda dos sistemas energéticos do corpo e suas interações com os órgãos, com foco na harmonização do Qi (energia vital) e do sangue, essenciais para uma função sexual saudável.

A medicina ocidental tradicionalmente aborda a DE com terapias farmacológicas, como os inibidores da fosfodiesterase-5 (ex.: Viagra, Cialis), terapias hormonais, dispositivos de vácuo e intervenções psicoterapêuticas.

No entanto, a integração com abordagens da MTC oferece uma estratégia complementar que pode melhorar a resposta ao tratamento convencional e reduzir a dependência de medicamentos, como complemento à farmacoterapia, promover a melhoria da saúde mental e a redução do estresse e propiciar a personalização do tratamento.

A medicina ocidental fornece intervenções rápidas e eficazes, enquanto a medicina tradicional chinesa oferece uma perspectiva holística que aborda os desequilíbrios subjacentes.

A integração dessas abordagens, combinando intervenções farmacológicas e terapias holísticas, proporciona uma estratégia abrangente que pode resultar em tratamentos mais eficazes e personalizados, melhorando a saúde e a qualidade de vida dos pacientes com disfunção erétil, reduzindo efeitos colaterais e proporcionando um cuidado centrado.

Conclusão

A integração das abordagens da medicina tradicional chinesa com a medicina ocidental representa um avanço significativo no tratamento da disfunção erétil e já tem mostrado resultados significativos, proporcionando aos pacientes uma gama mais ampla de opções terapêuticas.

A combinação de tratamentos pode não apenas melhorar a eficácia, mas também abordar aspectos que muitas vezes são negligenciados, como o bem-estar emocional e a qualidade de vida.

Os pacientes devem sempre buscar orientação de profissionais qualificados em ambas as áreas para garantir que o tratamento seja seguro e eficaz. A medicina integrativa, ao unir o melhor da ciência moderna com os conhecimentos milenares da MTC, oferece uma oportunidade única para reequilibrar o corpo e a mente, promovendo uma recuperação mais completa e duradoura.

A integração das abordagens deve ser cuidadosamente planejada, considerando as particularidades de cada paciente para que seja possível encontrar um tratamento seguro e eficaz, promovendo uma cura que respeita a complexidade do ser humano, considerando o corpo, a mente e o espírito.

Portanto, uma avaliação médica e terapêutica detalhada é essencial para o tratamento adequado. Se alguém estiver experimentando esses sintomas, procurar a orientação de um profissional de saúde qualificado é o primeiro passo para um diagnóstico e tratamento eficazes.


Alberto Pereira de Lima Vianna – Biomédico, acupunturista e estudante de Medicina – UNE.

Gabriel Maluf – Estudante de Medicina – UNE.

Mari Uyeda – Professora Assistente da Saint Francis University, Pensilvânia/EUA e estudante de Medicina – UNE.

Maria Graziela de Fátima Alvarez Kenupp – Biomédica e estudante de Medicina – UNE.

 

Referências bibliográficas

Bivalacqua, T. J., Usta, M. F., & Koksal, I. T. (2005). The Management of Erectile Dysfunction: An Update. *Therapeutic Advances in Urology*, 1(4), 219-240.

Burnett, A. L., & Nehra, A. (2016). Erectile Dysfunction: Diagnosis and Treatment. *Journal of Sexual Medicine*, 13(4), 628-641.

Chen, J., & Zhang, J. (2019). Traditional Chinese Medicine for Erectile Dysfunction: A Review. *Asian Journal of Andrology*, 21(1), 58-67.

Eisenberg, M. L., & Li, S. (2012). “Psychological Factors in Erectile Dysfunction: The Role of Stress and Anxiety”. The Journal of Sexual Medicine. Disponível em The Journal of Sexual Medicine.

Kaufman, J. S., & Chang, J. C. (2003). “Impact of Erectile Dysfunction on Quality of Life”. BJU International. Disponível em BJU International.

Lan, C., Chen, S. Y., Lai, J. S., & Wong, M. K. (2013). Tai Chi Chuan in medicine and health promotion. Evidence-Based Complementary and Alternative Medicine, 2013, 502131.

Laumann, E. O., Paik, A., & Rosen, R. C. (2005). “Sexual dysfunction among adult men and women: Prevalence and risk factors”. Journal of the American Medical Association. Disponível em JAMA Network.

Lee, M. S., Shin, B. C., & Ernst, E. (2009). Acupuncture for treating erectile dysfunction: a systematic review. BJU International, 104(3), 366-370.

Lee, S. W., & Paick, J. S. (2014). Efficacy of Acupuncture for Treating Erectile Dysfunction: A Systematic Review. *Asian Journal of Andrology*, 16(1), 131-139.

Mao, J. J., Xie, S. X., & Bowman, M. A. (2010). Acupuncture therapy for management of hyperactive sympathetic function in patients with hypertension. Frontiers in Physiology, 8, 57.

Miller, M. (2018). “Erectile Dysfunction: Diagnosis and Management”. American Family Physician. Disponível em American Family Physician.

Sayer, M., Alnwick, D., & Mulhall, J. (2021). “The Diagnostic Evaluation of Erectile Dysfunction”. Journal of Urology. Disponível em Journal of Urology.

Shindel, A. W., & Chen, J. (2012). Complementary and Integrative Approaches to the Management of Erectile Dysfunction. *Journal of Sexual Medicine*, 9(11), 2912-2929.

Zhang, R., & Lao, L. (2016). Acupuncture: Review and Analysis of Reports on Controlled Clinical Trials. *World Health Organization*.

Zhang, Z. B., & Yang, Q. Y. (2014). The efficacy of herbal medicine for the treatment of erectile dysfunction: A systematic review and meta-analysis. Journal of Ethnopharmacology, 152(3), 523-532.