Osteopatia no tratamento das sinusites

No tratamento osteopático da sinusite, a aproximação terapêutica baseia-se na premissa de que o complexo nasossinusal, que engloba as fossas nasais e os seios paranasais, está integrado ao organismo em geral. Portanto, o tratamento local da sinusite não pode ser separado de um tratamento geral.

A osteopatia é uma prática terapêutica em que se adota sempre uma abordagem integral no cuidado em saúde, utilizando-se várias técnicas manuais, entre elas a da manipulação do sistema musculoesquelético (ossos, músculos e articulações), para auxiliar no tratamento das doenças.

O que é sinusite

Sinusite é a inflamação da mucosa dos seios que reveste a cavidade perinasal. Entre os seus sinais e sintomas mais comuns estão a produção de muco nasal espesso, nariz entupido, dor na face, dor de cabeça, febre, diminuição do olfato, garganta inflamada e tosse.

Classificação

Duração

Quanto ao tempo de duração, a sinusite pode ser classificada em aguda (duração inferior a quatro semanas), subaguda (duração entre quatro a 12 semanas), crônica (duração superior a 12 semanas) e aguda recorrente (três ou mais episódios por ano, com período de duração menor do que duas semanas).

Etiologia

No que se refere ao critério etiológico, é classificada como sinusite aguda, sinusite crônica e sinusite fúngica alérgica.

A sinusite aguda, em pacientes imunocompetentes, é quase sempre viral. Exemplos: rinovírus e influenza. Uma pequena porcentagem desses pacientes desenvolve uma infecção bacteriana secundária por estreptococos, pneumococos, haemophilus influenzae, stafilococos ou moraxella catarralis. Ocasionalmente, um abcesso dentário periapical de um dente maxilar pode se espalhar para os seios sobrepostos. Infecções agudas adquiridas em hospitais apresentam caraterísticas bacterianas, geralmente por staphylococus aureus, pseudômona aeruginosa ou klebsiella pneumoniae.

Alguns fatores como alergias crônicas e anomalias estruturais produzem uma inflamação da mucosa nasal, caracterizada por obstrução crônica dos óstios sinusais, que altera a drenagem e a oxigenação, contribuindo para alteração do transporte mucociliar. Além disso, a sinusite crônica é caracterizada por alterações histopatológicas com remodelamento ósseo. O processo inflamatório está envolvido na estimulação da atividade osteoblástica e osteoclástica. As infecções bacterianas e fúngicas são alguns dos demais fatores que interagem com o organismo nos quadros de sinusite crônica. Exemplos de infecção bacteriana: microrganismo anaeróbio orofaríngeo e infecção polimicrobiana. Exemplos de infecção fúngica: pseudallescheria e aspergillus.

Já, a sinusite fúngica alérgica é uma forma de sinusite crônica caracterizada por congestão nasal difusa, com presença de pólipos e secreção nasal viscosa, de caráter mais imunológico do que infeccioso. Apresenta reação alérgica devido ao aparecimento de fungos na mucosa, frequentemente, o aspergillus.

Cavidade nasal

Com relação à cavidade nasal afetada, a sinusite classifica-se como maxilar, frontal/etmoidal e esfenoidal.

Sinusite maxilar é a inflamação ou infecção da mucosa do seio maxilar. Tem origem odontogênica. Exemplos: cárie, doença periodontal, cisto odontogênico e iatrogenia.

Sinusite maxilar

Já a inflamação ou infecção da mucosa do seio frontal e/ou etmoidal apresenta-se, na maioria dos casos, a partir da sinusite maxilar ou por um processo de gripe. Caracteriza-se por dor em arco supraciliar, com quadro de febre, secreção purulenta e cefaleia tensional dolorosa na zona frontal.

Osteopatia e sinusite
Sinusite frontal
Osteopatia e sinusite
Sinusite etmoidal

A inflamação ou infecção dos esfenoides, por sua vez, é desencadeada a partir da sinusite frontal ou etmoidal. É caracterizada por cefaleia na zona occipital, catarro nasofaríngeo e secreção purulenta no corneto superior e na fenda olfativa.

Sinusite - tratamento integrativo
Sinusite esfenoidal

Infecciosa, alérgica ou traumática

A sinusite infecciosa (viral ou bacteriana) corresponde à inflamação dos seios nasais, causando sintomas como excesso de secreção nasal e coriza frequente. Geralmente esse tipo de sinusite é precedida por gripes, resfriados ou crises alérgicas, que deixam as mucosas nasais mais sensíveis à entrada e à proliferação de bactérias. O diagnóstico pode ser feito por meio de exames de imagem que identificam a inflamação dos seios nasais e por meio de exames microbiológicos feitos com amostra da secreção.

A sinusite alérgica é uma inflamação dos seios nasais causada por uma alergia a algum agente externo. Alimentos e ácaros podem ser o gatilho para um quadro de sinusite alérgica. Os sintomas mais frequentes são as dores de cabeça, mau hálito e congestão nasal.

A sinusite traumática é causada por diferença de pressão (barotrauma). Os exemplos mais comuns de situações em que ocorre sinusite traumática são voo e mergulho. Apresenta um quadro inflamatório decorrente da lesão da mucosa com acúmulo de sangue nos seios. Os sintomas causados são dor maxilar e pouca obstrução nasal. Esses fatores combinados podem levar a um quadro de sinusite bacteriana subsequente.

Semiologia e diagnóstico

No que se refere à semiologia e diagnóstico, observa-se que os sintomas da sinusite são inespecíficos, sendo que suas características assemelham-se a de qualquer rinite infecciosa.

Os sintomas mais frequentes são dor facial de localização variável, correlacionada com a área do seio infectado (com exceção da sinusite esfenoidal, na qual tem-se como sintoma a cefaleia temporoparietal), obstrução nasal com rinorreia mucopurulenta e descida de muco pela parte posterior. Em alguns casos existem moléstias sistêmicas, febre e dores osteomusculares.

A sintomatologia é determinada pela ocupação de muco no seio: sensação de pressão local, dor facial relacionada aos ramos V1 e V2 do nervo trigêmeo, derramamento de pus (fétido), mau cheiro no nariz e queda de muco no interior da faringe, o que pode ser responsável por faringite, bronquite e tosse forte.
Tanto nos casos agudos e subagudos quanto crônicos, os sintomas são semelhantes, embora sua intensidade varie. As sinusites são sintomáticas na fase aguda e discretas em casos crônicos. Os sintomas podem ser resumidos em obstrução nasal, rinorreia, anosmia, cefaleia e febre.

O diagnóstico da sinusite é feito com dados prévios específicos do seio nasal acometido ou generalizados nas pansinusites.

No que se refere ao diagnóstico de sinusite infantil, é preciso levar em consideração que germes dentários podem ocupar os espaços maxilares até sua invasão em um seio sinusal. Os catarros, comuns em crianças pequenas, com frequência também ocupam os seios nasais. Por esse motivo, deve-se evitar a valorização exagerada de um quadro de sinusite infantil, pois ao ser solucionado o episódio de catarro, resolve-se o defeito de drenagem sinusal.

Outra situação que requer atenção especial é a da presença de problemas dentários, principalmente os da arcada superior e em particular do segundo pré-molar e molares, que podem ser causa de sinusite maxilar odontogênica. Devem ser solucionados tanto o problema sinusal quanto o problema dentário.

Barotraumatismos, em casos de predisposição loco regional devido a uma mudança súbita de pressão (viagem de avião, mergulho), podem gerar uma repentina mudança de pressão no seio, provocando intensa dor e às vezes exsudação não séptica, quadro conhecido como seio “ex vacuo”.

No exame físico, a palpação orienta sobre a existência de dor no canto naso-orbitário, forame infraorbital ou supraorbital, o que leva à suspeição de sinusite anterior: dor à percussão dos seios e drenagem mucopurulenta a partir do meato médio.

A maneira mais eficiente de se realizar um diagnóstico apropriado de sinusite é por meio de rinoscopia mediante observação rígida, já que esse exame permite a visualização direta dos óstios. A endoscopia é realizada após vasoconstrição local e permite avaliar a inflamação da mucosa e presença de secreções, assim como os fatores anatômicos que podem influenciar na patologia estudada (desvio de septo, hipertrofia de cornetos, pólipos, má formação, etc.).

Além disso, podem ser utilizados exames complementares de imagem, tais como o de raios X, com os sinais significativos de níveis hidroaéreos, opacidade total de um seio e engrossamento da mucosa maior do que 3 mm (devendo-se ter cuidado para diferenciar de um processo alérgico). A tomografia é um exame imprescindível quando há suspeita de sinusite crônica ou de uma complicação. Em corte coronal, permite visualizar o complexo ostiomeatal. Usualmente não requer meio de contraste, o que se reserva para o estudo de possíveis neoplasias. Já a ressonância magnética não é um exame particularmente útil para o diagnóstico de sinusite.

Deve-se deixar passar de quatro a seis semanas após um processo agudo antes de solicitar um exame de controle.

Tratamento osteopático

No que diz respeito ao tratamento osteopático da sinusite, devem-se ter como objetivos a mobilidade, drenagem, facilitação harmônica dos influxos do sistema nervoso autônomo, o potencial elástico dos tecidos, a nutrição sanguínea, a defesa imunitária e a homeostase. O tratamento é dirigido particularmente às afecções crônicas do nariz e dos seios.

Consiste em liberar as fixações do tórax e coluna cervicotorácica, já que as correlações osteopáticas atuam sobre o sistema nervoso autônomo, repercutindo no complexo nasossinusal. Outra abordagem é buscar a drenagem venosa na zona do pescoço e da cintura escapular, por sua relação à distância com o complexo nasossinusal.

Já o tratamento local do complexo nasossinusal tem como metas facilitar a circulação arteriovenolinfática e alcançar a ventilação das cavidades infiltradas. Inclui: drenagem dos seios nasais e liberação dos ossos relacionados (frontal, ossos próprios do nariz, etmoide, esfenoide, maxilar e malar), drenagem do plexo pterigóideo, drenagem facial venolinfática e liberação da pirâmide nasal.

Outro aspecto essencial do tratamento é a estimulação do sistema de defesa do organismo (indissociável do tratamento da rinite e sinusite). Nesse sentido, um dos pontos fundamentais é a estimulação do fígado, considerado como a glândula mais importante do corpo. Possui função exócrina (bile) e endócrina e assegura o metabolismo dos lipídeos, glicídios, protídeos e a depuração do sangue venoso portal. O fígado tem um papel fundamental na manutenção da homeostase.

Deve-se também aplicar o tratamento estimulador do baço. Pertencendo à família dos órgãos linfoides, o baço tem seu papel na depuração sanguínea, armazenamento e liberação do sangue concentrado em glóbulos, extração do ferro da hemoglobina e, sobretudo, na produção dos linfócitos e anticorpos.

A abordagem integral inclui ainda tratamento para estimular o timo e drenagem do canal torácico.

Reflexoterapia

Em associação às técnicas manuais de osteopatia está a simpático-terapia, que consiste em uma reflexoterapia que estimula todo o organismo a partir de áreas localizadas nas cavidades nasais.

Como é conhecido, todos os órgãos dos sentidos possuem cartografias gerais chamadas somatotopias. Existe a somatotopia da orelha, da sola do pé, etc. A do nariz (nasoterapia) permite estimular a área que corresponde ao órgão a partir de estímulos próximos a gânglios simpáticos cranianos.

As passagens nasais são ricas em fibras nervosas: 1. sistema central, 2. sistema neurovegetativo, grande produtor simpático de serotonina e 3. sistema ortossimpático vertebral, que vai para todos os órgãos e para os elementos da periferia (pele, músculos e vasos) para estimulá-los.

As áreas a serem tratadas são os pontos espalhados sobre as três conchas nasais: superior, para doenças de origem nervosa; média, para doenças de origem respiratória e circulatória e inferior, para doenças metabólicas de reprodução, assimilação e eliminação.

Reflexoterapia

Para a aplicação da técnica, utiliza-se um swab estéril de coleta (cotonete), com óleo vegetal, associado ou não a óleos essenciais. O método consiste em estimular, com o swab, pontos reflexos do sintoma a ser tratado, que penetram nas duas cavidades nasais, até atingir as áreas interessadas.

Essa terapia é indolor e, às vezes, provoca um leve lacrimejamento. O relaxamento é imediato, com uma sensação de sonolência. As reações secundárias refletem-se nas 24 horas seguintes e são comumente caracterizadas por sono, relaxamento e aumento da secreção nasal com eliminação de catarro.


Izabelle Defaveri – Especialista em osteopatia, pela Escuela de Osteopatía de Madrid, traumato-ortopedia e terapia manual pela UCP, homeopatia pela UFV e terapia ortomolecular pela ABT.

Leonardo Barreiros – Especialista em osteopatia pela Escuela de Osteopatía de Madrid, anatomia pela UNESA, posturologia e podoposturologia e consultor em aromaterapia.