Tratamento de osteoartrite com Boswellia serrata

A osteoartrite (OA) é uma doença inflamatória das articulações que se caracteriza pela degradação da cartilagem articular. Envolve todo o tecido da articulação, o que eventualmente leva a degeneração, fibrose, fratura, defeito e dano em toda a superfície articular.

Estudos epidemiológicos mostram que atualmente existem 355 milhões de pessoas com artrite em todo o mundo, sendo essa a doença incapacitante número um no planeta. Na China continental, em 2015, havia 120 milhões de pessoas com artrite, o que representa uma taxa de incidência de cerca de 13%. Dentre esse percentual, o maior número de casos era referente à osteoartrite.

A terapia de pacientes com osteoartrite no joelho baseia-se principalmente em tratamento individualizado e com gradiente dimensionado de acordo com a condição e gravidade da doença.

Os medicamentos mais utilizados para a dor provocada por osteoartrite são os anti-inflamatórios não esteroides (AINE) e os inibidores específicos da ciclo-oxigenase II (COX-2). No entanto, esses medicamentos podem ser caros e causar sangramento no estômago e não conseguem reparar cartilagens ou tratar danos subcondrais. Portanto, devido à alta incidência de eventos adversos relacionados ao uso de AINEs, há uma necessidade urgente de se buscar uma alternativa mais segura e eficaz para o tratamento da osteoartrite.

Extratos de Boswellia e suas aplicações

A Boswellia serrata é uma árvore de moderado a grande porte, com ramificação, que cresce em regiões montanhosas e secas da Índia, África do Norte e Oriente Médio.

O óleo de goma-resina dessa árvore é extraído a partir de uma incisão feita no tronco, sendo então armazenado em cestas de bambu que são especialmente confeccionadas para remover o teor em óleo, deixando a resina solidificada. Após o processamento, a goma-resina é classificada de acordo com o seu sabor, cor, forma e tamanho.

Os extratos de goma-resina de Boswellia serrata têm sido tradicionalmente usados em medicina popular, durante séculos, para o tratamento de várias doenças inflamatórias crônicas.

A resina de espécies dessa planta também tem sido utilizada como incenso em cerimônias religiosas e culturais, desde tempos imemoriais.

A Boswellia serrata é aprovada ainda para uso alimentício, pelo FDA (Food and Drug Administration), nos Estados Unidos e pela EFSA (Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos) e EMA (Agência Europeia de Medicamentos).

Em estudos, o ácido boswélico, que é o ingrediente ativo da Boswellia serrata, demonstrou possuir uma atividade farmacológica significativa no tratamento de doenças inflamatórias, como artrite reumatoide, bronquite crônica, asma e doenças inflamatórias intestinais crônicas (colite ulcerativa e doença de Crohn).

Nos processos inflamatórios, condições artríticas, reumatismo artrítico, osteoartrite, artrite reumatoide juvenil, miosite, fibrosite e colite, ele promove a diminuição da degradação das glicosaminoglicanas, o que ajuda a prevenir a destruição da cartilagem articular. Os ácidos boswélicos inibem especificamente a 5-lipoxigenase, interferindo, assim, diretamente no processo inflamatório. Eles não agem sobre a ciclo-oxigenase. Além disso, ações analgésica, imunossupressora e antimicrobiana foram demonstradas em testes pré-clínicos realizados com essa droga vegetal.

Composição

Os componentes presentes na Boswellia serrata são os seguintes: monoterpenos, diterpenos, triterpenos, ácidos triterpênicos tetracíclicos e quatro principais ácidos terpênicos pentacíclicos, ou seja, ácido β-boswélico, ácido acetil-β-boswélico, ácido 11-ceto-β-boswélico e ácido 3-acetil-11-ceto-β-boswélico (AKBA).

Os ácidos triterpenos pentacíclicos contidos na Boswellia serrata são o β-boswélico (BA), α-boswélico, 3-acetil-β-boswélico, 3-acetil-α-boswélico, 11-ceto-β-boswélico (KBA) e 3-acetil-11-ceto-β-boswélico (AKBA). Possuem uma estrutura triterpênica que, em outras espécies vegetais, demonstrou ter atividades farmacológicas interessantes, como analgesia, imunossupressão e hepatoproteção, além da ação anti-inflamatória.

A resina de Boswellia serrata também apresentou outros efeitos promissores, como ação antitumoral, inibição da elastase leucocitária humana e melhora de sintomas relacionados à colite e asma brônquica.

Contraindicações ao uso de Boswellia

O uso de Boswellia é contraindicado nos casos de pessoas que apresentem hipersensibilidade ao extrato dessa planta.

A goma-resina de Boswellia serrata tem sido reportada em literaturas tradicionais como tendo atividade emenagoga, podendo assim interferir na gestação. Portanto, deve-se evitar sua utilização durante o período de gravidez e lactação, sem o acompanhamento e consentimento do médico responsável.

Eficácia e segurança

A eficácia da Boswellia e do extrato de Boswellia, como potenciais anti-inflamatórios para casos de osteoartrite (AO), tem sido relatada em muitos ensaios clínicos. A viabilidade do seu uso para o tratamento de AO, vem sendo explorada desde 2003, em diversas pesquisas. Enquanto isso, os últimos ensaios clínicos randomizados (ECR) avaliaram os benefícios e eventos adversos dessa aplicação.

Com relação à segurança, estudos mostraram que o extrato de Boswellia (presente no 5-Loxin e Aflapin) não apresenta efeitos colaterais tóxicos em doses mais altas, o que indica que o composto ativo desse extrato (AKBA) é seguro com base nas evidências atuais.

A Boswellia e seu extrato apresentam benefícios teóricos para células cultivadas in vitro e animais experimentais, embora várias meta-análises tenham avaliado amplamente o efeito de suplementos de ervas ou dietéticos na terapia de OA.

Nos vários estudos realizados, quando há comparação entre um grupo experimental e um grupo de controle, a Boswellia e seu extrato apresentam resultados no alívio da dor (avaliada segundo a EVA e o WOMAC), redução da rigidez (avaliada segundo o WOMAC) e melhora da função da articulação (WOMAC e índice de Lequesne). Como as doses relatadas nos ensaios clínicos randomizados usados ​​para análise de resultados secundários são de 100 mg a 250 mg, com base nas evidências atuais, a dor, a rigidez e a função das articulações começam a melhorar após quatro semanas de tratamento contínuo. Embora esse achado pareça promissor, deve ser interpretado com cautela, principalmente devido a informações insuficientes ou pouco claras e aos riscos de viés (geração de sequência aleatória).

Estudos sobre segurança conduzidos de acordo com as diretrizes da OCDE e extensos experimentos de segurança subcrônicos, agudos e dependentes da dose realizados em ratos demonstram que a Boswellia e seu extrato não exibem manifestações tóxicas, o que significa que podem ser uma opção segura de tratamento.

Mas a ausência de informações sobre seus efeitos colaterais não significa que a intervenção seja realmente segura. Assim, mesmo com base nas evidências atuais, pode-se considerar que o tratamento com Boswellia e seu extrato é relativamente seguro, mas não se pode garantir. Estudos clínicos futuros são necessários para relatar os efeitos colaterais com mais explicações.

Melainie Cameron e outros realizaram ensaio clínico randomizado (ECR) sobre o tema, mas o risco de viés apresentado nesse estudo foi expressivo. O número de ECRs e casos incluídos foi insuficiente e a heterogeneidade de alguns resultados foi alta. Tudo isso afetou a precisão das conclusões.

A heterogeneidade dos resultados pode estar relacionada às discrepâncias nos efeitos farmacológicos da Boswellia em função de diferenças na padronização, preparação e processo de fabricação de extratos, dosagem, duração do tratamento, unidades de testes laboratoriais, pacientes selecionados e outras situações adversas.

A duração e a dosagem recomendadas para o tratamento também devem ser interpretadas com cautela, pois não foram relatados os índices de dor, rigidez e função entre as semanas de tratamento e a dosagem de Boswellia e seu extrato fora de 100-250 mg. Além disso, como a qualidade dos ensaios clínicos randomizados é geralmente de média a baixa, todos os resultados devem ser interpretados com mais cuidado.

Concluindo, cabe afirmar que ainda são necessários mais estudos rigorosamente projetados com alta qualidade, para confirmar a eficácia e a segurança da Boswellia e de seus preparados de extrato no tratamento de pacientes com osteoartrite.


Mari Uyeda – Mestre em Ciências da Saúde, nutricionista e professora do Departamento de Ciências da Saúde da Pós-graduação da Universidade Nove de Julho.

Amauri Lima – Biomédico e professor do Departamento de Anatomia da Universidade Braz Cubas.