Uso de fotobiomodulação vascular em pediatria

Muitos são os motivos para chegarmos a uma terapêutica de sucesso em pediatria. Podemos citar vários deles, porém o mais valioso é a possibilidade de diminuir a dependência farmacológica em crianças. As medicações são importantíssimas e devem ser utilizadas quando prescritas, mas o ideal é tornar o paciente o mais independente possível em relação a elas.

A laserterapia de baixa potência é com certeza hoje um tratamento coadjuvante eficaz em muitas doenças na infância. Dentre elas, as mais comuns são as afecções respiratórias, principalmente em períodos sazonais, quando há um aumento significativo da incidência de quadros respiratórios infantis, cujo agravamento pode até levar a uma internação em unidades de terapia intensiva, com a necessidade de intervenções mais traumáticas. A fotobiomodulação reduz o infiltrado broncoalveolar e diminui a hiper-reatividade brônquica.

Um exemplo clássico na literatura científica é a indicação do laser terapêutico para tratamento de mucosite oral infantil. Há muitos trabalhos científicos acerca dessa temática. Aliás, a odontologia é a área que mais apresenta pesquisas científicas sobre o uso do laser terapêutico.

A fotobiomodulação vascular (FBMV) é uma técnica hoje assim denominada, mas que já passou por muitas outras designações, como ILIB modificado, fotobiomodulação sistêmica e fotobiomodulação transcutânea, até chegar ao termo atual e usual.

Origem da técnica

A FBMV teve sua origem na década de 80, na União Soviética. Porém, não temos acesso aos possíveis trabalhos divulgados naquela época, porque as publicações foram feitas em russo e ainda não havia internet disponível, o que constitui um fator limitante.

A técnica original, denominada ILIB (intravenous laser irradiation of blood), consiste na aplicação de laser de baixa potência num vaso sanguíneo de forma invasiva.

Os efeitos originalmente relatados são diversos, sendo que dentre aqueles que podem ser relacionados diretamente com as crianças estão a melhoria do comportamento de sono e estado de vigilância e a redução da recidiva em doenças intestinais inflamatórias crônicas. Embora no Brasil não se tenha dados precisos sobre a incidência de doenças intestinais, sabe-se que elas são frequentes. Nos Estados Unidos e na Europa, a incidência é de sete a 10 casos para cada 100 mil crianças e adolescentes. A infância é marcada por doenças inflamatórias agudas e crônicas.

Combate aos radicais livres

Um dos efeitos descritos sobre a irradiação de laser terapêutico no sangue intravenoso é a estimulação da resposta imunológica, quando há um aumento do metabolismo oxidativo mitocondrial, causado por alterações fotofísicas e fotoquímicas nas moléculas fotorreceptoras chamadas de cromóforos, desencadeando a excitação da cadeia respiratória e promovendo a produção de adenosina trifosfato (ATP), proliferação celular, síntese de ácido nucleico (DNA e RNA) e aumento na geração de espécies reativas de oxigênio (ROS), o que resulta na melhora da atividade microbicida dos fagócitos (neutrófilos, monócitos e macrófagos).

Além da produção mitocondrial de ROS, fontes exógenas também podem contribuir para a formação de radicais livres.

Um dos mecanismos de ação da FBMV é combater os radicais livres responsáveis pelo envelhecimento precoce tissular (células e tecidos).

Para tanto, a ILIB interfere na produção do efeito químico que age sistemicamente, pela produção da metaloenzima superóxido dismutase (SOD ZnCu), gerando uma resposta antioxidante nos processos inflamatórios agudos e crônicos.

A superóxido dismutase é fundamental à quebra do mecanismo de formação dos radicais livres gerados a partir do oxigênio, pois a produção do radical superóxido, o primeiro a ser formado a partir do oxigênio, é que servirá de substrato para o desencadeamento da formação de RLs mais lesivos, como o radical hidroxila (OH).

Benefícios da fotobiomodulação vascular

Observando-se a emissão de fótons no tecido biológico, vê-se que a luz atinge simultaneamente muitas cascatas de ativação do sistema imunológico, em comparação com a ação medicamentosa.

Assim sendo, podemos citar alguns benefícios e objetivos da aplicação de fotobiomodulação vascular (FBMV) em crianças, tais como alívio de dores, fortalecimento do sistema imunológico, potencialização e otimização do tratamento local com a entrega de luz laser ou LED, tratamento sistêmico de afecções do aparelho respiratório inferior e/ou superior, como bronquiolites e infecções das vias aéreas superiores (IVAS), com diminuição de recidivas das várias manifestações sintomatológicas, melhoria na qualidade do sono, na vitalidade geral e nos aspectos nutricionais e comportamentais e redução da ansiedade infanto-juvenil.

Segundo I. M. Baibekov e colaboradores, a irradiação a laser no sangue altera a forma dos eritrócitos. Os eritrócitos de formato patológico (equinócitos e estomatócitos) voltam a ser discócitos fisiológicos de alta plasticidade. A propriedade da FBMV de interferir na agregação eritrocitária pode ser visualizada na Figura 1, abaixo.

Efeitos do ILIB sobre a agregação eritrocitária
Fig. 1 – Efeitos da fotobiomodulação vascular (FBMV) na agregação eritrocitária. Fonte: arquivos da autora.

Vias de aplicação e cuidados

Eleger o local apropriado de aplicação da fotobiomodulação vascular (FBMV) em pediatria é importante para se obter um resultado satisfatório.

Podem ser utilizadas as seguintes vias: artéria pediosa (dorso do pé), artéria tibial (ao lado do maléolo medial), artéria fibular (ao lado do maléolo lateral), artéria poplítea (na região posterior do joelho), artéria radial (dependendo da idade da criança), intranasal (com um cuidado criterioso em relação aos olhos: utilização de algodão umedecido sobre eles e uso de óculos de proteção) e sublingual (em crianças maiores).

Efeitos do ILIB na saturação de oxigênio
Fig. 2 – Aplicação de fotobiomodulação vascular (FBMV) em artéria fibular, para tratamento de disfunção respiratória, mostrando a melhora da SatO2. Fonte: arquivos da autora.

A literatura científica mostra um estudo, feito em ratos, sobre a interferência da FBMV nas epífises ósseas, com uma irradiação a laser de diodo GaAIAs de 830 nm, em que se concluiu que não foi suficiente para alterar o crescimento ósseo.

Outros autores corroboram que o laser terapêutico, numa irradiância de 670 nm, não provocou alterações em áreas de cartilagem epifisária e tampouco no comprimento final dos membros.

Ainda assim, é preciso destacar que são necessários mais estudos acerca desse assunto. Portanto, evitar áreas de epífise óssea pode ser uma alternativa mais assertiva e previdente.

Conclusão

Hoje, o uso de fotobiomodulação vascular em pediatria merece lugar de destaque no tratamento de diversas doenças infantis e, por isso, ainda é necessário um aprofundamento maior em pesquisas nessa área específica, para que se possa oferecer com toda assertividade uma proposta terapêutica eficaz e segura.

O tripé da laserterapia assertiva e segura é constituído pelos seguintes conceitos básicos: conhecimento sobre a luz, conhecimento sobre as doenças infantis e conhecimento sobre as particularidades do desenvolviemnto e crescimento da criança. A luz, os fótons são aliados das crianças!


Profa. Me Dra. Andréa Fernanda Leal – Bacharel em Fisioterapia (Uniban) e em Educação Física (Faculdades Integradas de Guarulhos), doutoranda pelo Departamento de Cardiologia da Unifesp e mestre em Ciências da Saúde (FMABC), com pós-graduação lato sensu em Acupuntura (Faculdade Mário Schenberg, com apoio do Ceata). Especialista em Fisioterapia Respiratória Pediátrica e Neonatal (Faculdade de Medicina da USP – Hospital das Clínicas), em Fisioterapia Pediátrica (Universidade Cidade de São Paulo) e em Fisioterapia Neurológica (Universidade Cidade de São Paulo).

 

Referências bibliográficas

Aimbire et al, 2005. Effect of LLLT Ga-AL-As 9685nm) on LPS – Induced Inflammation of the airway and lung in the rat.

Castro, M. S. et al, 2020. Photobiomodulation enhances the Th1 immune response of human monocytes. Lasers in Medical Science. Disponível em https://doi.org/10.1007/s10103-020-03179-9.

Laura Marinela Ailioaie e Gerhard Litscher, 2020. Molecular and Cellular Mechanisms of Arthritis in Children and Adults: New Perspectives on Applied Photobiomodulation. Int. J. Mol. Sci. Disponível em http://dx.doi.org/10.3390/ijms21186565.

Adnan, A. et al, 2021. The Path to an Evidence-Based Treatment Protocol for Extraoral Photobiomodulation Therapy for the Prevention of Oral Mucositis. Front Oral Health. Disponível em http://doi10.3389/froh.2021.689386.

Cressoni, M. D. C., 2009. Effect of GaAIAs Laser Irradiation on the epiphyseal cartilage of rats. Disponível em https://doi10.1089/pho.2009.2572.

Andrade, A. R. de, 2012. The Effects of Low Level Laser Therapy, 670 nm, on Epiphysea Growth in Rats. The Scientific World Journal. DOI 10.1100/2012/231723.