O Viscum album (V. album) vem sendo usado desde os tempos antigos, na Europa, para o tratamento de diversas doenças, tanto pela medicina convencional quanto pela complementar/integrativa.
Desde 1917, as preparações de V. album têm sido administradas em terapia contra o câncer, sendo até hoje consideradas como o tratamento mais utilizado pela medicina complementar para pacientes oncológicos em países europeus, tendo inclusive cobertura pelos planos de saúde na Suíça e Alemanha.
A utilização dos extratos de V. album como medicamento remonta à época dos antigos povos celtas, tendo sido incorporada à medicina popular após a Idade Média e adicionada entre as matérias médicas homeopáticas no século XIX.
No século XX, seu uso foi abordado pelo filósofo Rudolf Steiner (1861-1925) e pela médica Ita Wegmann (1876-1943), no âmbito da medicina antroposófica (1917), sendo indicado para o tratamento de pacientes oncológicos.
A utilização dessa planta, ao longo do tempo, ocorreu com diferentes formas de preparo dos extratos (aquosos, hidroalcóolicos e etanólicos, dentre outros).
Os efeitos farmacêuticos observados são, geralmente, mais detectáveis com o uso de extratos inteiros e de forma injetável.
Sua atividade terapêutica está indicada como imunomoduladora, indutora de apoptose e citotóxica.
Viscum album: características e composição
O Viscum album, também chamado de mistletoe/muérdago, é uma planta que permanece sempre verde, sendo perene e semiparasita à árvore hospedeira, ou seja, precisa necessariamente estar anexada a outra planta para obter sua nutrição, podendo habitar árvores como pinheiro, macieira ou carvalho.
Essa planta é amplamente distribuída em toda a Europa, sendo caracterizada como um pequeno arbusto que não cresce na terra, mas sim espalhado pelos troncos das árvores por aves cujas excreções contêm sementes.
É desafiador identificar todos os compostos fitoquímicos ativos presentes no V. album. Um amplo espectro de diferentes substâncias e outros compostos vêm sendo descritos.
É largamente relatado que os principais efeitos da planta são derivados das lectinas e de proteínas de baixo peso molecular, como as viscotoxinas, que foram descritas por volta do ano de 1950.
Viscoterapia em tratamento oncológico
A terapia com Viscum album, também chamada de viscoterapia, vem sendo indicada com frequência crescente para o tratamento de pacientes oncológicos, de forma curativa e/ou paliativa. O V. album é considerado o medicamento mais prescrito entre os médicos alemães, inclusive entre os pediatras.
Na Europa, mais de 88% dos pacientes oncológicos optam por terapias complementares, sendo que 77% deles fazem uso da terapia com Viscum album.
A administração de extratos de V. album já foi descrita no tratamento de meduloblastoma (Menke et al – 2020), colangiocarcinoma (Valle et al – 2019), tumor venéreo transmissível (Valle et al – 2019), melanoma (Strüh et al – 2012/Werthmann et al – 2017/Melo et al – 2018/Valle et al – 2020), carcinoma cervical in situ (Reynel et al – 2018), carcinoma pancreático (Schad et al – 2013/Werthmann et al – 2018), carcinoma renal (Wei et al – 2013/Werthmann et al – 2019), carcinoma epidermoide (Klingbeil et al – 2013), carcinoma de bexiga (Urech et al – 2006), carcinoma hepatocelular (Yang et al – 2012/Wang, Zhang – 2013/Kumar et al – 2016/Yang et al – 2019), sarcoma de Ewing (Twardziok et al – 2017), mieloma (Kovack et al – 2012/Valle et al – 2018), rabdomiossarcoma alveolar (Stammer et al – 2017), glioma e glioblastoma (Schötterl et al – 2019), neuroblastoma (Delebinski et al – 2011/Kaestner et al – 2019) e carcinoma gástrico (Kim et al – 2012), entre outros.
O V. album apresenta atividade no tratamento contra o câncer, tendo relação direta com a qualidade de vida dos pacientes, pela melhora da fadiga, sono, exaustão, náuseas, vômitos, apetite, depressão, ansiedade e dor e pela redução dos efeitos colaterais provocados pelas terapias convencionais. Demonstra ainda atividade antitumoral por citotoxicidade seletiva (possui afinidade pela célula tumoral, sendo atraído até ela), indução da apoptose (morte programada da célula tumoral) e inibição da angiogênese (diminuição da nutrição tumoral), por meio de mecanismos de ação não bem elucidados até o presente momento.
De acordo com Oei e colaboradores (2020), o impacto das terapias oncológicas nos relatos dos pacientes com câncer de mama, sem a ocorrência de metástases, é bem significativo e estressante a longo prazo, incluindo a quimioterapia e a imunoterapia como pontos para agravar a fadiga, diminuir o equilíbrio térmico e afetar o funcionamento físico. Em suas pesquisas, esses autores evidenciam que a coadministração de extratos de V. album aos tratamentos convencionais proporcionou melhores efeitos na diminuição da fadiga e insônia e na atividade física em si, bem como na termorregulação. Dessa forma, concluem que as terapias complementares com a administração de V. album podem ser indicadas para aliviar e diminuir a carga de sinais clínicos durante os tratamentos convencionais contra o câncer de mama.
Kaestner e colaboradores (2019) descrevem que, ao avaliar pacientes submetidos somente ao tratamento quimioterápico, notaram a regressão de tumores do tipo neuroblastoma. Porém, foi observada também a redução da qualidade de vida dos mesmos com a aplicação apenas do tratamento convencional. Relatam, ainda, que ao observar pacientes submetidos ao tratamento quimioterápico associado à terapia com Viscum album concluíram que a qualidade de vida, apesar de ser subjetiva, pode ser preservada por muito tempo, mesmo após a recorrência ou progressão da doença.
Dessa forma, fica claro que os extratos de V. album, quando bem prescritos, podem significar um maior bem-estar para pacientes com câncer, imunocomprometidos e idosos fatigados, entre outros casos. A sua atividade relacionada à melhoria de qualidade de vida desses pacientes é incontestável, com diversos relatos e artigos publicados com esse viés.
Por isso, a planta de V. album pode ser considerada fora do comum, pois, além de melhorar a qualidade de vida dos pacientes, age diretamente nas células tumorais e fortalece o sistema imunológico dos doentes.
Dra. Ana Catarina Viana Valle – PhD em Genética e Biotecnologia, com mestrado em Fitoterapia e pós-graduação em Homeopatia e Acupuntura.