Fotobiomodulação vascular no alívio da dor, com observação das hemácias por microscopia de campo escuro

A fotobiomodulação (FBM) é uma terapia não invasiva que consiste na entrega de fótons em tecidos biológicos com objetivos biomodulares, de forma local ou sistêmica, com o uso de uma fonte óptica que pode ser um aparelho de laser (Light Amplification by Stimulated Emission of Radiation).

É apontada ultimamente como uma ferramenta importante para diversos tipos de tratamentos e utilizada por muitos profissionais de saúde. Sua aplicação é estudada em relação a diversas patologias, sendo que ela se destaca principalmente no que tange à sua ação anti-inflamatória.

Além disso, abre possibilidades de tratamentos coadjuvantes para diversas doenças crônicas, cujos terapias farmacológicas não apresentam eficácia satisfatória.

Em razão de tudo isso, sugere-se inclusive sua possível inserção na Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC).(1,2,3)

A técnica precursora é a Intravascular Laser Irradiation of Blood, conhecida pelo acrônimo ILIB, que foi criada na década de 1970 por russos, com eficácia no tratamento de várias patologias crônicas e agudas.

Esse procedimento anterior, entretanto, era caracterizado como invasivo, já que a técnica era realizada com a introdução de um cateter intravenoso em um dos membros superiores, geralmente na artéria radial, acoplado a uma fibra óptica que irradiava o sangue com laser He-Ne, 630-640 nm. A aplicação era feita de forma direta e contínua no local, distribuindo-se o sangue irradiado, através da circulação, por todo o organismo.

Com a observação da evolução clínica dos pacientes, as pesquisas sobre o mecanismo de ação do ILIB foram intensificadas, evidenciando o efeito antioxidante da laserterapia intravenosa com He-Ne, por aumento na produção da enzima SOD (superóxido dismutase), que é fundamental na quebra do mecanismo de formação dos radicais livres gerados a partir do oxigênio.

A SOD protege os seres aeróbios contra a reatividade e a toxicidade do radical superóxido. No caso de haver deficiência de SOD, os mecanismos somam-se e causam lesões aos tecidos cardíaco, vascular, pulmonar, pancreático e articular, levando a lesões degenerativas.

No entanto, o fato da aplicação do método ILIB ser realizada de forma invasiva, restringia sua aplicação. Mas a técnica progrediu e atualmente se apresenta modificada, recebendo o nome de fotobiomodulação vascular (FBMV). O método agora é não invasivo, com aplicação sob a pele. É executado com irradiação extracorpórea por meio de laser, com comprimento de onda vermelho e em potência de baixa intensidade (100 mW), o que torna possível sua utilização de maneira simples e indolor, com eficácia no tratamento de diversas patologias crônicas e agudas.

A fotobiomodulação vascular consiste na irradiação do laser em artérias, seguindo os mesmos princípios do ILIB, mas de maneira não invasiva. Estudos recentes sugeriram que é possível alcançar, com o novo método, efeitos sistêmicos semelhantes aos obtidos com a técnica original, mas sem manipulações intravenosas.

O FBMV baseia-se em uma permeabilidade relativamente alta da pele e dos tecidos hipodérmicos para a radiação do comprimento de onda vermelho. Supõe-se que a eficácia da irradiação transcutânea seja igual à da irradiação intravenosa ILIB por meio de laser de baixa intensidade.(5)

Estudos relatam a aplicabilidade da FBMV nas artérias radial, carótida, sublingual e outras.

FBMV no tratamento de dores generalizadas

O estudo apresentado neste artigo traz a atenção para uma queixa muito comum entre os pacientes, que são as dores generalizadas.

Buscar soluções para o alivio da dor é uma preocupação dos profissionais da área de saúde de modo geral. E, pelos efeitos da fotobiomodulação vascular (FBMV) relatados na literatura, no que diz respeito ao aumento de superóxido dismutase (SOD), pode-se inferir que ela traz benefícios em tratamentos de doenças crônicas com relação às queixas de dores por degenerações articulares.

O sucesso terapêutico do recurso pode ser mensurado através da Escala Visual Analógica (EVA), que é validada para pesquisas e de simples compreensão pelos pacientes em geral.

Por ser indolor e de fácil aplicação e aceitabilidade, o método terapêutico de FBMV provoca um despertar para o uso dessa técnica pelos profissionais de saúde, o que vislumbra a possibilidade dele vir a estar presente na oferta de serviços determinados pela Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC).(6,7,8)

Outra opção de exame simples é a microscopia de campo escuro (MCESV), termo genérico que designa o exame microscópico de células de sangue vivo e seus elementos, com a finalidade de conhecer o estado de saúde do paciente.

Por meio de uma análise rápida, simples e sem dor, é possível avaliar a morfologia do sangue e correlacioná-la com o estado de saúde geral.

As variações na quantidade e qualidade das células sanguíneas, nas próprias células e em outros componentes do sangue (incluindo micróbios), assim como sua morfologia, refletem alterações do estado normal, fornecendo indicações sobre que fatores podem estar implicados na origem e/ou causa de problemas de saúde dos pacientes.

No estudo aqui apresentado foi observada apenas a condição relacionada à agregação das hemácias da paciente participante, antes e depois do tratamento com FBMV, sendo que em estudos futuros os autores pretendem dar maior atenção a esse fato e suas relações com quadros de dor.

Objetivo, materiais e método do estudo sobre fotobiomodulação vascular

O objetivo do estudo aqui relatado foi avaliar a melhora no quadro de dor generalizada, em um estudo de caso, por meio da Escala Visual Analógica (EVA), após o uso da fotobiomodulação vascular nas artérias radial, carótida primária e sublingual, bem como observar a agregação e desagregação de hemácias, através da microscopia de campo escuro, antes e depois da aplicação da FBMV.

Trata-se de um estudo de caso longitudinal, conduzido no mês de agosto de 2020, em consultório particular.

O critério de exclusão foi o fato do indivíduo apresentar alguma contraindicação para o uso da FBMV, como histórico de câncer em tecidos hematopoiéticos, gestação e glaucoma não controlado.

O critério de inclusão foi estar de acordo em participar da pesquisa e, assim sendo, assinar o termo de consentimento livre e esclarecido.

Os procedimentos adotados nessa pesquisa obedeceram os Critérios da Ética em Pesquisa com Seres Humanos, conforme determina a Resolução nº 466/12 do Conselho Nacional de Saúde. Nenhum dos procedimentos utilizados oferece risco à dignidade do participante da pesquisa, sendo que este terá benefícios indiretos, que são as informações futuras que poderão proporcionar melhora em sua qualidade de vida. Portanto, não há benefício imediato previsto aos participantes da pesquisa, mas apenas após as conclusões do trabalho, que poderão contribuir de forma significativa para a elaboração adequada, organizada e efetiva da aplicabilidade da FBMV.

Participou da pesquisa uma paciente do sexo feminino, com 61 anos de idade e que apresentava queixa principal de dores generalizadas articulares.

A paciente foi posicionada sentada e aguardou cinco minutos para que fosse iniciada a assepsia com álcool 70% no dedo indicador. Após a secagem do álcool, foi feita a perfuração do dedo (coleta), em que se encosta a lâmina na gota de sangue, cobre-se com a lamínula e imediatamente realiza-se a leitura no microscópio e fotografa-se.

Na sequência, teve início a terapia de fotobiomodulação vascular, mantendo-se a participante sentada. Ao final do procedimento, foi novamente refeita a coleta de sangue na lâmina.

A aplicação da FBMV foi efetuada sobre a artéria radial, artéria carótida primária e artéria sublingual, com tempos de, respectivamente, 30 minutos, 15 minutos e 1 minuto e trinta segundos bilateralmente, totalizando 3 minutos. A duração do procedimento variou de acordo com o local de aplicação do laser. A frequência foi de uma vez por semana, completando três sessões consecutivas.

Para a realização do estudo foi utilizado um microscópio Coleman de campo escuro OEM trinocular, com objetivas acromáticas de 4x, 10x, 40x, 100x, condensador a seco, aumento de 400 vezes e iluminação de luz LED de 50 W, equipado com filmadora Relife Full HD de 38 megapixels, lanceta descartável, ultrafina, G-Tech, algodão com álcool 70%, lâmina para microscopia não lapidada – borda 90º, espessura de 1,0 mm a 1,2 mm, tamanho de 75 mm x 25 mm (+/- 1 mm) e extremidade fosca e lamínula de 24 mm x 32 mm Global Glass.

Na aplicação da FBMV, foi usado um aparelho de laser DMC – Therapy EC, em modo operacional contínuo, com potência de 100 mW, comprimento de onda de 660 mW e tempo de aplicação de 30 minutos na artéria radial, 15 minutos na artéria carótida e 1 minuto e 30 segundos na artéria sublingual.

Resultados

A Escala Visual Analógica (EVA) é usada para auxiliar na aferição da intensidade da dor. É um instrumento importante para se verificar a evolução dos pacientes durante o tratamento e mesmo a cada atendimento, de maneira mais fidedigna. Também é útil para que se possa analisar se o tratamento está sendo efetivo e quais procedimentos têm surtido melhores resultados, assim como se há alguma deficiência na terapia, de acordo com o grau de melhora ou piora da dor.

No estudo aqui citado, a EVA foi utilizada antes do início do tratamento, com o intuito de se mensurar e/ou quantificar a queixa de dor da participante, assim como após cada sessão de aplicação da FBMV. Foi referido o nível 10 na EVA antes do tratamento e ao final dos três atendimentos foi registrado o nível 2, sendo que 0 significa ausência total de dor e 10 o nível de dor máxima suportável pelo paciente.

ILIB para dor articular - medicação pela Escala Visual Analógica

Observou-se na microscopia de campo escuro que a paciente submetida à FBMV apresentou, já na primeira sessão, desagregação das hemácias, com melhora de toda a circulação do sangue. Na segunda sessão, realizada uma semana após a primeira, seu sangue estava com pouca agregação de hemácias e ausência de roleaux. Na terceira e última aplicação, a paciente já se apresentava totalmente sem agregação de hemácias e com aumento de células de defesa por campo analisado.

Portanto, foi observado que, independentemente da artéria em que a FBMV foi aplicada (radial, carótida e sublingual), os resultados foram semelhantes e mantidos quanto à agregação de hemácias.

PRIMEIRA SESSÃO

ILIB - microscopia de campo escuro
Fig. 1 – Primeira microscopia de campo escuro, realizada antes da aplicação da FBMV: paciente apresentou agregação de hemácias e roleaux.
Fig. 2 – Segunda microscopia de campo escuro, realizada após a primeira sessão de FBMV, com aplicação na artéria radial: paciente apresentou uma considerável desagregação de hemácias.

SEGUNDA SESSÃO

ILIB - microscopia de campo escuro
Fig. 3 – Terceira microscopia de campo escuro, realizada antes da segunda sessão de FBMV: paciente apresentou poucas agregações de hemácias.
Fig. 4 – Quarta microscopia de campo escuro, realizada após a segunda sessão de FBMV, com aplicação na artéria carótida: paciente apresentou melhora significativa da agregação de hemácias e aumento de células de defesa.

TERCEIRA SESSÃO

ILIB - microscopia de campo escuro
Fig. 5 – Quinta microscopia de campo escuro, realizada antes da terceira sessão de FBMV: paciente apresentou ausência de agregação de hemácias.
Fig. 6 – Sexta microscopia de campo escuro, realizada após a terceira sessão de FBMV, com aplicação na artéria sublingual: paciente apresentou ausência de agregação de hemácias e roleaux e aumento de células de defesa.

Conclusão

Desde os primórdios, a luz vem sendo utilizada com finalidades terapêuticas. Os gregos e os chineses usavam a luz solar para tratamento de doenças de pele, câncer e casos de psicose.

O aprimoramento no uso da luz foi se desenvolvendo no decorrer de séculos e, a partir de estudos realizados por Albert Einstein sobre a teoria da emissão estimulada, posteriormente aprofundada por diversos cientistas, chegou-se hoje a formas de emissão de luz por meio de lasers.

Atualmente, os estudos sobre a aplicação da fotobiomodulação estão avançando cada vez mais e os novos conhecimentos gerados têm incrementado informações relevantes, principalmente no campo de sua atuação anti-inflamatória.

A técnica sistêmica da fotobiomodulação vascular abre maiores possibilidades para a realização de tratamentos coadjuvantes que podem ser integrados na Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares, principalmente no que se refere a doenças crônicas com quadros de dores generalizadas, cujas intervenções farmacológicas não apresentam eficácia satisfatória isoladamente e causam efeitos colaterais adversos.

O estudo aqui apresentado sugere a possibilidade de utilização da FBMV em pacientes crônicos que apresentam queixas de dores, independentemente da artéria em que a técnica é aplicada, sendo que a diminuição na agregação das hemácias pode contribuir para aumentar a circulação do sangue e assim auxiliar no tratamento desses pacientes.

Mais estudos devem ser realizados para que se possa obter maior respaldo e entendimento científico sobre os benefícios da fotobiomodulação vascular em pacientes com dores crônicas e gereralizadas.


Adriana Schapochnik – Bacharel em Fisioterapia, pelo Centro Universitário São Camilo, com pós-graduação lato sensu em Acupuntura – Medicina Tradicional Chinesa, pelo Ceata e mestrado, doutorado e pós-doutorado (em andamento) em Biofotônica Aplicada às Ciências da Saúde, pela Universidade Nove de Julho.

Paula Tatiane Alonso – Bacharel em Educação Física, com especialização em Fisiologia do Exercício (FEF- Unicamp) e Bioquímica, Fisiologia, Treinamento e Nutrição Desportiva (Instituto de Biologia – Unicamp) e pós-graduação lato sensu em Acupuntura (Ebramec) e Estudos Avançados em Acupuntura e Moxabustão (Shandong University of TCM – China). Mestre em Biofotônica  pela Universidade Nove de Julho.

André Gomes – Bacharel em Fisioterapia pela Universidade Nove de Julho, com pós-graduação lato sensu em Acupuntura – Medicina Tradicional Chinesa (Ceata) e Treinamento na Wfas – China.

Andréa Fernanda Leal – Bacharel em Fisioterapia (Uniban) e em Educação Física (Faculdades Integradas de Guarulhos), doutoranda pelo Departamento de Cardiologia da Unifesp e mestre em Ciências da Saúde (FMABC), com pós-graduação lato sensu em Acupuntura (Faculdade Mário Schenberg, com apoio do Ceata). Especialista em Fisioterapia Respiratória Pediátrica e Neonatal (Faculdade de Medicina da USP – Hospital das Clínicas), em Fisioterapia Pediátrica (Universidade Cidade de São Paulo) e em Fisioterapia Neurológica (Universidade Cidade de São Paulo).

Pedro Roberto Titato – Bacharel em Ciências Farmacêuticas e Bioquímica, com especialização em Análises Clínicas e Toxicológicas (Unesp), pós-graduação em Homeopatia (François Lamasson) e em Acupuntura (IPES) e Treinamento na Wfas – China. Especialista em Microsemiótica Irídea.

Janine Soares Camilo – Bacharel em Cosmetologia e Estética (Unitri – Universidade Integrada do Triângulo), com pós-graduação em Acupuntura (IPGU – Instituto de Pós-Graduação Uberlândia) e em Homeopatia (Faculdade Inspirar). Master em Microsemiótica Irídea.

 

Referências bibliográficas

1 – FERNANDES K. P. S., FERRARI R. A. M., FRANÇA C. M. Biofotônica: conceitos e aplicações. São Paulo: Universidade Nove de Julho, 2017. 249 p.

2 – PAN W., ZHOU H. Integrative medicine: a paradigm shift in clinical practice. Int J Integr Med 2013; 1: 1–6.

3 – PAN W., ZHOU H. Inclusion of integrative medicine in clinical practice. Integr Med Int 2014; 1: 1–4.

4 – GASPARYAN L., ARMÊNIA J. Laser Irradiation of the blood. Laser Partner – Clinixperience – All Volumes, p. 1-4, 2003.

5 – CONCEIÇÃO E. LED-terapia e LASER-terapia He-Ne intravenosa e cutânea tipo ILIB. Associação Brasileira de Medicina Complementar. Conceitos e princípios de Medicina Complementar, Medicina Alternativa e Medicina Unificada, dez, 2017.

6 – PAN W., ZHOU H. Integrative medicine: a paradigm shift in clinical practice. Int J Integr Med 2013; 1: 1–6.

7 – PAN W., ZHOU H. Inclusion of integrative medicine in clinical practice. Integr Med Int 2014; 1: 1–4.

8 – SILVA, Gisléa Kândida Ferreira da, et al. Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares: trajetória e desafios em 30 anos do SUS. Physis: Revista de Saúde Coletiva 30.1 (2020): e300110.

9 – CIENA, Adriano Polican, et al. Influência da intensidade da dor sobre as respostas nas escalas unidimensionais de mensuração da dor em uma população de idosos e de adultos jovens. Semina: Ciências Biológicas e da Saúde 29.2 (2008): 201-212.

10 – https://www.atlasdasaude.pt/publico/content/microscopia-de-campo-escuro-estudo-da-morfologia-das-celulas-sanguineas-em-sangue.