Por gerar hiperconectividade ou constante conexão com amplo acesso às diversas ferramentas on-line, as tecnologias digitais da informação e comunicação (TDICs) têm sido responsáveis por expressivas mudanças de comportamentos entre os usuários nos últimos anos.
Tais ferramentas trazem muitas possibilidades e oportunidades, mas a depender do uso que é feito isso pode acarretar consequências nocivas, sendo que o excesso de conexões e informações obtidas e o tempo gasto nesses dispositivos e ambientes digitais têm provocado entre os internautas atitudes relacionadas a transtornos mentais.
Por esse motivo, o tema efeitos do uso excessivo de TDICs na saúde mental, principalmente entre crianças e adolescentes, tornou-se amplamente discutido nas instituições acadêmicas e entre profissionais ligados à àrea de saúde mental.
Trata-se de um fenômeno cujo conceito ainda não é consolidado, mas que tem características facilmente identificáveis no cotidiano dos indivíduos em toda a sociedade, pois representa a potência e o dinamismo da interação concomitante de uma pessoa com várias telas e dispositivos eletrônicos para conexão à internet.
Algo que se agravou a partir do advento da pandemia de Covid-19, pela necessidade das pessoas de se manterem informadas, permanecerem trabalhando em home office e preservarem contatos virtualmente devido ao lockdown. A vida foi se encaminhando cada vez mais para o mundo digital: consultas médicas, aulas, estudos, lazer, compras e terapias, entre outros, tudo passou a ser feito por meio do contato digital, promovendo a hiperconexão.
Pesquisadores já chamam esse advento de a quarta revolução industrial, porque as transformações ocorrem impactando a sociedade com grande velocidade, profundidade e amplitude.
Os avanços fundem o mundo físico e digital provocando mudanças sociais e culturais que por sua vez culminam com alterações na saúde, pois modificam a vivência humana pela virtualidade quase obrigatória.
Compelidas a checar constantemente o telefone celular pela necessidade de permanecer informadas, jogar, trabalhar, produzir conteúdo para redes sociais e expor suas vidas, as pessoas ficam presas ao mundo virtual, sem perceber quanto tempo já passou e ignorando suas necessidades sociais, fisiológicas e psicológicas e os limites do mundo real.
Assim vão surgindo vários problemas, como dores musculares e nas articulações, sedentarismo, obesidade, angústia, cansaço crônico, aumento do consumo de álcool e drogas, alterações de humor, comportamento antissocial, reações de medo, confusão mental, irritabilidade, insônia, alerta contínuo, manias, transtornos de atenção e aprendizagem ou cognição, problemas na linguagem escrita, depressão e ansiedade, entre outros.
Distúrbios de ansiedade em dependentes digitais
A ansiedade torna-se um grande problema quando passa a ser rotineira e exagerada. Distúrbios de ansiedade são encadeados por uma desordem do sistema nervoso, com liberação de grandes quantidades inadequadas de hormônios que desencadeiam os sinais e sintomas relatados, sendo muito comuns em viciados em jogos ou internet.
Diante de tantas alterações somadas a variados aspectos, como ausência de comunicação no contexto familiar, de relacionamentos sociais e contato físico, de troca de emoções, sentimentos e opiniões (isolamento e solidão), vício e confusão entre o que é real e virtual, a hiperconectividade tem apresentado como consequência transtornos mentais como os de ansiedade.
O Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM-V) ou Manual de Diagnóstico e Estatística de Transtornos Mentais expõe que pessoas com transtorno de ansiedade temem excessivamente e de forma recorrente uma situação, fazem o que podem para evitá-la e apresentam perturbações comportamentais, como excitabilidade aumentada, preocupação persistente e excessiva, pensamentos de perigo imediato, comportamento de fuga, ansiedade combinada a tensão muscular e vigilância, pânico, perturbação do sono e imagem distorcida da realidade.
Ocorre que, com o tempo, indivíduos hiperconectados tornam-se dependentes das TDICs, porque esse contato passa a ser um estímulo prazeroso por acelerar os níveis de neurotransmissores responsáveis pela sensação de bem-estar (dopamina), satisfazendo o sistema de recompensa do cérebro porque foca a memória no que gera prazer. É um mecanismo semelhante à dependência de substâncias químicas.
Indivíduos em overdose digital vivem uma dinâmica de afastamento social com desconexão de suas origens. Esse fenômeno passou a ser foco de estudo porque o ser humano — como entendido até o momento — é essencialmente social e impossível de ser pensado fora da sociedade em que nasceu, do contrário será imune aos legados da história e da tradição, mudando completamente sua configuração de vida e forma de existência pelas mudanças comportamentais em curso.
Diante das evidências do aumento de transtornos de ansiedade dentre esse grupo de pessoas, a hipótese de diferença no funcionamento do cérebro delas já tem movimentado correntes contra a hiperconexão.
Repensar tudo isso é essencial para a manutenção da saúde do ser humano, mas a cada dia em que se mantém conectado digitalmente a capacidade de autorregulação, as motivações, as reflexões e a criticidade humanas com relação ao fluxo de informações recebidas tornam-se comprometidas e deturpadas, dificultando cada vez mais o desaceleramento do processo para que o indivíduo possa reagir ao fato.
Tudo isso somado ao imediatismo, pressão e ritmo acelerado auxilia na crescente instalação dos transtornos de ansiedade. Enquanto estão no meio digital, as pessoas ficam ansiosas para a obtenção de mais informações ou resultados, e quando são obrigadas a conviver fora do mundo digital (trânsito, cinema, trabalho e refeições, entre outros) ficam ansiosas por estarem sendo impedidas de usar as tecnologias digitais.
Verifica-se que isso pode acontecer com o hiperconectado pela ansiedade que sente para se desvencilhar de outras atividades que não envolvam acesso às TDICs, justificando o comportamento antissocial, transtorno de atenção, aflição, insegurança, tensão muscular, angústia, irritabilidade, alerta contínuo e inquietação, insônia e distorção da realidade, entre outros aspectos presentes naqueles que primam pela constante conexão.
Portanto, a hiperconectividade é um fenômeno clínico e social que precisa ser desacelerado pelas consequências nocivas que tem apresentado até o momento, notoriamente a partir do ponto em que já se tornou um vício. A moderação no uso das TDICs deve ser amplamente incentivada, porque sem isso a tendência é de aumentar ainda mais o grau de dependência do sujeito, já que no processo há elevação de dopamina que motiva cada vez mais a repetição da conexão, reiniciando a memória do prazer e conforto.
Psicoterapia aliada à decodificação biológica de traumas
O tratamento para esse distúrbio envolve a psicoterapia, com o intuito de levar o indivíduo a verificar e tomar consciência de cognições distorcidas e definir metas para a realização de mudanças de comportamentos, além do aconselhamento diretivo que o auxilie na compreensão das ambivalências em relação ao processo de dependência.
Tudo isso aliado a uma terapêutica como a decodificação biológica de traumas — DBT (leia artigo anterior sobre o tema), que tem a capacidade de atingir e influenciar o sistema nervoso central (SNC), através da acupuntura por micropressão em pontos do microssistema do pé, trará o cuidado integral para a saúde do indivíduo que é dependente digital.
A associação do tratamento psicológico com a terapêutica de DBT, que consegue por meio de pontos de acupuntura localizados nos pés verificar alterações de saúde nos órgãos ou glândulas e influenciá-los mediante a realização da técnica nos pontos reflexos, de forma a regularizar suas funções e ativar os processos de autocura e homeostase orgânica, é uma alternativa de tratamento que atinge de forma mais célere os mecanismos orgânicos e psicológicos de dependência e ansiedade.
Assim, é possível auxiliar o dependente digital a recuperar a saúde orgânica e psicológica, pela diminuição dos sinais e sintomas de ansiedade, alívio das tensões e conscientização sobre o vício, com consequente fortalecimento das capacidades cognitivas, desaceleramento do processo e equilíbrio psicológico, a fim de que ele possa libertar-se do transtorno de ansiedade e obter controle sobre seu comportamento diante das TDICs.
Profa. Dra. Janine Soares Camilo – Master em Microsemiótica Irídea, bacharel em Cosmetologia e Estética pela Unitri – Universidade Integrada do Triângulo e pós-graduada em Acupuntura pelo IPGU – Instituto de Pós-Graduação de Uberlândia e em Homeopatia pela Faculdade Inspirar.
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