Decodificação biológica de traumas

Acontecimentos difíceis e complexos na vida do ser humano, como a morte de um familiar querido, vivências de assaltos e outros atos violentos desse tipo, ameaças à vida, violência sexual, etc., podem causar traumas no indivíduo, mudando seu pensamento e comportamento diante da vida.

Desde o final do século XIX, o neurologista e psiquiatra austríaco Sigmund Freud buscou construir uma noção de trauma com base no tratamento de seus pacientes. A partir de 1920, postulou que o excesso de excitação advindo das situações difíceis de vida pode prejudicar o organismo, pondo em risco a estrutura emocional do indivíduo. Esse excesso de energia invade o aparelho psíquico do sujeito e todas as formas de proteção são acionadas. Caso a pessoa não consiga lidar com tantos estímulos ou “susto”, fica difícil dominar e elaborar a situação para vencer o problema, o que caracteriza o trauma.

A partir disso, entendeu-se que, pela ausência de elaboração ou entendimento a respeito da vivência traumática, o trauma pode fazer com que a pessoa permaneça ligada ao evento e a todas as sensações desagradáveis daquele momento, trazendo agravos de natureza psicopatológica ao modificar a percepção da realidade e o contexto interno e, consequentemente, as aptidões, relacionamentos íntimos e interações sociais, podendo com isso inviabilizar o direcionamento natural da vida do indivíduo.

Anos depois, através de seus estudos, o médico e teólogo alemão Ryke Geerd  Hamer, nascido em 1935, chegou à conclusão de que traumas podem também provocar patologias físicas no traumatizado. Hamer exerceu a medicina convencional trabalhando em clínicas universitárias, quando completou sua especialização em medicina interna, ao mesmo tempo em que trabalhava em uma clínica particular junto de Sigrid Hamer, sua esposa, quando deu início a seu trabalho como interno responsável por pacientes com câncer na clínica universitária. Além disso, demonstrou notável talento para invenção de equipamentos médicos.

Em agosto de 1978, quando Hamer estava exercendo sua profissão na cidade de Roma, na Itália, recebeu a trágica e inesperada notícia de que seu filho, Dirk Hamer, havia sido acidentalmente ferido a bala. Dirk não conseguiu sobreviver, morrendo nos braços do pai depois de quatro meses de tratamento. Após isso, em pouco tempo Hamer foi diagnosticado com câncer nos testículos e sua esposa com câncer de ovário. Ponderando que até então dificilmente tinha adoecido, Hamer começou a questionar se o aparecimento da doença poderia estar relacionado com o trauma pela morte do filho e em homenagem a ele chamou esse choque de síndrome de Dirk Hamer (SDH).

A busca de soluções para questionamentos sobre por que o ser humano adoece em momentos específicos da vida, por que isso acontece em um determinado órgão e se as vivências têm algo a ver com esse adoecimento passou a ocupar o tempo do médico.

Assim, a morte do filho, o aparecimento do câncer e suas experiências com pacientes acometidos pela doença levaram Hamer a descobertas científicas importantes, já que, interessado em descobrir os motivos do desenvolvimento da patologia, passou a investigar a história pregressa de seus pacientes internados na clínica oncológica da Universidade de Munique, onde era chefe.

Ao analisar tomografias do tronco cerebral dos enfermos, encontrou relações entre as experiências traumáticas e a forma como se manifestam nos órgãos, evidenciando como tal processo está conectado ao cérebro, que exerce o papel de mediador entre a psique e a parte enferma do corpo. Com isso, descobriu que cada patologia (e não só o câncer) é controlada por uma área específica do cérebro.

Hamer então fundou a nova medicina germânica (NMG) ou leitura biológica, um método de pesquisa dos eventos causadores de sintomas, ou seja, uma técnica inovadora que busca conhecer a causa das alterações em saúde, considerando os sintomas como manifestações de eventos traumáticos que surpreenderam o organismo e cujo nível de gravidade e duração depende de variáveis como a história pessoal de cada um.

As cinco leis biológicas

Com base em leis biológicas comuns a todos os seres vivos, a NMG relaciona cada uma das partes do corpo, seu funcionamento e o padrão biológico que apresenta, conseguindo explicar a causa, o desenvolvimento e também a cura da doença.

Como os resultados da investigação da NMG estavam de acordo com as leis da embriologia e a lógica da evolução dos seres vivos, o Dr. Hamer chamou suas descobertas de “as cinco leis biológicas da nova medicina”, as quais foram confirmadas através de mais de 40.000 casos pesquisados por ele.

Os resultados disso possibilitaram a criação de um diagrama de “psique-cérebro-órgão”, que sinaliza de forma detalhada a enfermidade e o conteúdo do conflito biológico que a causa, assim como a localização da lesão correspondente no escâner cerebral, a forma como a patologia manifesta-se na fase ativa do conflito e o que se pode esperar na fase de cura.

A primeira lei expõe que todo câncer ou doença equivalente a ele é originária de um choque grave e abrupto (SDH) que mobiliza o organismo, fazendo com que o cérebro estabeleça uma forma diferenciada de lidar com ele (um programa de emergência).

A segunda lei ou lei bifásica afirma que, havendo solução para o conflito, a doença desenvolve-se em duas fases. A primeira fase, também chamada de fase ativa, acontece quando o conflito interrompe o ritmo normal do corpo, disparando o programa de emergência (programa biológico especial), que permite ao organismo acelerar seu funcionamento, com a ocorrência de sintomas como falta de sono e apetite, extremidades frias e estresse emocional, onde o foco de toda a atenção está na situação traumática em busca de contê-la. Já, na segunda fase ou fase de cura, pode acontecer fadiga, inflamação, infecção e dor.

A terceira lei biológica, que se refere ao sistema ontogenético dos tumores e das doenças equivalentes ao câncer, fala sobre a correlação biológica existente entre psique, cérebro e órgão, do ponto de vista da embriologia e da evolução das espécies. Nos primeiros 17 dias após a concepção, desenvolvem-se no feto as três capas germinais (endoderma, mesoderma e ectoderma) que darão origem a todos os demais tecidos e órgãos do corpo, ficando cada órgão coligado a um desses tecidos. Com base na história evolutiva dos seres vivos, cada um desses três folhetos está relacionado a uma área específica do cérebro, de forma que, quando ocorre o choque, o tipo de conteúdo do conflito determinará o órgão onde se desenvolverá a doença pela correlação com os folhetos embrionários. As células de cada folheto embrionário têm um comportamento diferente: em algumas pode ocorrer hiperplasia celular e, em outras, perda de tecido, necrose ou ulceração, sendo que tudo dependerá também da intensidade da SDH.

Na quarta lei, relativa ao sistema ontogênico dos micróbios, é colocada a importância dessas vidas microscópicas que habitam o corpo humano como agentes que irão eliminar o tumor na fase de cura, já que chega a eles uma mensagem vinda do cérebro para participarem do processo de reparação. Nesse caso, todas as células ali reunidas que terminaram seu dever, não servindo mais a um propósito no corpo, são fagocitadas. Assim, tais células tornam-se uma massa necrótica e deixam de proliferar, sendo que cada tipo de microrganismo invade um determinado folheto embrionário, o que na medicina convencional é entendido como um agravamento da doença.

Diante disso, a quinta lei ou lei do bom-senso biológico expõe que a doença, na verdade, é um programa sensato da natureza, um encadeamento compreensível apoiado no processo evolutivo e nas alterações biológicas sofridas pelo indivíduo desde o seu nascimento. Isso leva, portanto, à conclusão de que não é por acaso que tais microrganismos vivem no corpo humano, sendo essa uma forma de sobrevivência e cooperação entre o macro e o micro.

Sendo assim, ao contrário do que diz a medicina convencional sobre as patologias, nessa nova medicina as doenças são entendidas não como resultados de disfunções ou malignidade do organismo, mas como programas especiais com significado biológico, criados para auxiliar a pessoa acometida no período de aflição psicológica.

Ocorre que, através de sua evolução histórica, cada área do cérebro foi programada para dar respostas a situações ameaçadoras específicas (temas sociais e territoriais), ficando os tipos de conflitos relacionados às células correspondentes, enquanto que a parte mais antiga do cérebro (talo cerebral) está programada para dar respostas a questões básicas de sobrevivência, como respiração e alimentação.

Assim, o choque do conflito impacta uma área específica do cérebro, provocando uma lesão (foco de Hamer), que é visível em um escâner cerebral como formando um conjunto de anéis concêntricos. Os neurônios que recebem esse impacto enviam um sinal bioquímico às células do corpo correspondentes, onde se desenvolverá a patologia ou, na visão da nova medicina germânica, o programa especial com significado biológico.

O tratamento consiste, então, em identificar o evento causador dessa marca ou rompimento no cérebro. Esse evento, que é chamado de “programante”, geralmente está no subconsciente e atua como se um novo sistema de funcionamento fosse instalado no cérebro, fazendo com que, como consequência disso, o “processador” dê início a uma nova forma de resposta.

Significado biológico dos sintomas

A base da terapia aqui relatada está na compreensão do significado biológico dos sintomas, ou seja, em fazer a decodificação biológica de traumas, porque quando a pessoa acometida compreende o que causou seu problema de saúde, torna-se possível obter o controle da situação ao optar por ultrapassar medos ou pânico e até prevenir novos choques ou conflitos e novos sintomas e doenças.

Ter consciência da causa e libertar-se de aflições possibilita ao indivíduo concentrar-se na resolução do conflito, a qual depende muito das circunstâncias individuais e da intensidade do evento causador.

De posse desse conhecimento, é possível elaborar a vivência traumática e dar sentido e expressar a dor sentida, descarregando a energia que está em excesso. Ao contrário, deixar de fazer essa reflexão é permitir maiores danos à saúde mental e física.

Caso o conflito, por razões de intensidade emocional, não possa ser resolvido a curto prazo, é muito importante procurar baixar sua intensidade, pois ele retira muita energia do corpo, provocando adoecimento progressivo.

Em sua obra “Recordar, Repetir e Elaborar”, Freud expõe que, quando o sujeito não elabora internamente o trauma sofrido, esse rompimento permanece no presente do indivíduo como se estivesse acontecendo no momento atual, ou seja, outra vez. Dessa forma, isso não é deixado para o passado e continua causando danos, pela revivência inconsciente.

Já que fornece elementos para serem trabalhados, fazer a decodificação biológica de traumas é um processo terapêutico, pois possibilita modificar os sentidos dados à experiência e provocar a reconciliação com o que foi reprimido, através da liberação da energia acumulada.

O objetivo é estimular processos de autocura do corpo e, com isso, corrigir conflitos biológicos que geram sintomas físicos e/ou emocionais, mudando o entendimento do indivíduo com relação a esses sintomas. Desse modo, após identificada a cena do trauma, a fase seguinte é falar sobre ele trazendo para a consciência o programa de reações e sintomas gerados no organismo, para então fazer uma desprogramação.

Posto isso, para que o enfermo alcance a cura é necessário que ele conheça como funciona seu corpo, entendendo sobre os programas biológicos de sobrevivência.

Na terapêutica, são realizadas uma anamnese com avaliação do paciente e uma leitura corporal, decodificando o trauma e o corpo para encontrar informações que sirvam ao indivíduo tratado, de forma a verificar o real motivo ou conflito de onde se originou a doença. A partir daí, a pessoa passa a ser orientada conforme as especificidades do trauma vivenciado.

Mesmo que a princípio, devido à intensidade das emoções e à história de vida do paciente, torne-se muito complexo trazer à tona tais lembranças, a decodificação biológica de traumas é capaz de desbloquear emoções, fazendo com que a energia conflitante seja reduzida. Isso porque, com a utilização da técnica, o terapeuta consegue identificar o tipo de trauma, em que idade ocorreu e quais são os conflitos associados, proporcionando liberação já na primeira sessão.

Através de pesquisas e atendimentos, verificou-se a melhora significativa dos quadros conflituosos de pacientes atendidos por meio da decodificação biológica de traumas, obtendo-se recuperação da saúde física e emocional.

A técnica, que pode ser aplicada de forma complementar a terapias convencionais, baseia-se no microtoque de pontos localizados nos pés, com a utilização de uma ponteira metálica, para desbloquear órgãos afetados, equilibrar o organismo e provocar homeostase corporal (Figura 1).

Decodificação biológica de traumas
Fig. 1 – Microtoques de pontos localizados nos pés, com uso de ponteira metálica.

Além da reação devido ao toque, o trauma também pode ser identificado através da técnica de iridologia.

Diante do que foi exposto, verifica-se que é com base em critérios científicos que a NMG rompe com a ideia de células cancerígenas malignas e doenças infecciosas ou destrutivas, reconhecendo-as como medidas naturais de emergência biológica, desenvolvidas para salvar o organismo e não para destruí-lo, sendo na verdade mecanismos de sobrevivência biológica com os quais o ser humano nasce. Com isso, essa nova medicina quebra velhos paradigmas, revelando uma outra forma que o organismo tem de se defender.

Estudo de caso

Dados da paciente: sexo feminino, 50 anos de idade e em período de menopausa.

Queixas principais: confusão mental, desânimo, autoestima baixa, falta de apetite, insônia, crises de choro, nervoso súbito e inchaço.

Primeira sessão (decodificação) – módulo 1: melhora mental.

Segunda sessão – módulo 2: os microtoques foram repetidos nos mesmos pontos do módulo 1 e foram seguidas as informações dadas na ficha de anamnese.

Relato da paciente: descreve que sentiu fortes emoções ao lembrar do passado (infância) e que obteve diminuição do inchaço e melhora do desânimo, do sono e da falta de apetite.


Janine Soares Camilo – Master em Microsemiótica Irídea, bacharel em Cosmetologia e Estética pela Unitri – Universidade Integrada do Triângulo e pós-graduada em Acupuntura pelo IPGU – Instituto de Pós-Graduação de Uberlândia e em Homeopatia pela Faculdade Inspirar.

 

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