Este artigo autobiográfico propõe uma reflexão sobre a sexualidade sob uma perspectiva consciencial e holossomática, considerando a interação entre os diversos corpos da consciência: soma, psicossoma, energossoma e mentalsoma.
A partir de fundamentos da conscienciologia e do pensamento de autores como Wilhelm Reich, Carl Gustav Jung e Waldo Vieira, o texto argumenta que a prática sexual, quando vivida de forma consciente e desprovida de carências, contribui significativamente para o equilíbrio energético, a saúde integral e a maturidade da consciência.
A repressão, os tabus culturais e as distorções religiosas em torno do sexo são analisados como fatores que geram sofrimento e dificultam a vivência plena da sexualidade.
A abordagem ressalta que o bem-estar sexual vai além da dimensão física, tendo impacto direto na vitalidade, na prevenção de assédios extrafísicos e na manifestação da programação da vida (proéxis).
A prática sexual é apresentada como uma benesse biológica e energética, cuja naturalidade deve ser resgatada a partir de uma visão ampliada da existência humana.
O artigo defende, assim, uma vivência sexual integrada, que promova a homeostase entre os corpos da consciência e favoreça o desenvolvimento da maturidade afetiva e energética.
Introdução: raízes e sensibilizações
“O que é você? Você é uma realidade indestrutível e complexíssima que deve ser estudada por você mesmo, antes de tudo” (Vieira, Waldo, 2010, p. 117).
Em 2018, defendi minha pesquisa de mestrado “A construção de uma estética da existência através do trabalho do ator sobre si” (Moreira, 2018), no Departamento de Artes Cênicas da Universidade Federal de Ouro Preto/MG. Trata-se de uma pesquisa autobiográfica, em que conto como o teatro contribuiu para a manutenção da minha saúde mental e sexualidade, expurgando e ressignificando traumas da infância e abusos à mulher. Desde então, apaixonei-me pela pesquisa na perspectiva autobiográfica e não mais a abandonei.
Na última década, a pesquisa autobiográfica e o uso da primeira pessoa em trabalhos acadêmicos têm ganhado maior aceitação, especialmente nas ciências humanas e sociais. Essa abordagem valoriza as experiências individuais como fontes legítimas de conhecimento, permitindo uma compreensão mais profunda dos processos formativos e identitários.
Além disso, a pesquisa-formação narrativa (auto)biográfica tem sido reconhecida por suas contribuições metodológicas e epistemológicas, enfatizando a importância das experiências pessoais na construção do conhecimento. Essa perspectiva permite que pesquisadores reflitam sobre suas trajetórias e práticas, enriquecendo o campo acadêmico com insights únicos e contextualizados.
Portanto, embora anteriormente o uso da primeira pessoa pudesse ser questionado, atualmente há um reconhecimento crescente de seu valor, desde que empregado com rigor metodológico e reflexividade crítica. Esse conhecimento pode ser aprofundado no livro “Pesquisa Narrativa: interfaces entre histórias de vida, arte e educação”1.
Dizem que nenhum arteterapeuta decide “curar” pessoas se não parte de dores muito profundas ou traumas significativos. Um terapeuta só desenvolve verdadeira empatia quando a dor que chega até ele é, de algum modo, a mesma dor sentida e vivida na própria pele.
Minha história pessoal não traz grandes novidades: pais separados durante a adolescência e a primeira experiência sexual marcada por uma situação de abuso infantil — um cenário infelizmente tão corriqueiro para tantas mulheres.
Essas vivências deixaram marcas profundas, tanto negativas quanto positivas. Negativas, pois moldaram medos, inseguranças e crenças limitantes. Positivas, porque, por meio do autoconhecimento, encontrei uma virada de chave: conquistei autonomia e ressignifiquei minha história. A partir daí, nasceu também o desejo de ser exemplo de superação, no lema que carrego comigo: se eu consigo, você também consegue.
Até aqui, talvez ainda nada muito diferente da trajetória de tantas pessoas que, com coragem, transformaram suas feridas em caminhos de crescimento. Mas o que singulariza a minha jornada é a escolha de aprofundar o tema da sexualidade a partir da autopesquisa e dentro de uma abordagem metafísica. Mais precisamente, decidi me guiar pelo paradigma consciencial, base da conscienciologia, uma proposta de neurociência expandida desenvolvida por Waldo Vieira.
Paradigma consciencial: como me tornei uma pesquisadora metafísica
Em 2018, tornei-me obstinada em compreender quem eu era e qual o propósito das experiências que, até então, considerava negativas e sem explicação. Retornei, quase como numa regressão, à fase infantil do questionamento: por que estou aqui? Escolhi essa família? Por que vivi situações tão difíceis na infância, quando o esperado seria o cuidado e o amor? Por que crianças, adolescentes, em grande maioria mulheres, mas também homens são abusados em cenários tão familiares? Por que não me sinto pertencente a este planeta? Por que capto emoções alheias como se fossem minhas?
Esses questionamentos tornaram-se gatilhos para uma busca mais profunda. Inicialmente, segui pelo caminho mais óbvio: as religiões. Mergulhei em diferentes tradições em busca de respostas, mas frequentemente saía incomodada com práticas que me pareciam aprisionadoras.
Sentia que o conhecimento era velado, reservado a poucos, o que contrastava com a máxima filosófica que sempre ecoou em mim: conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará. Como a verdade poderia libertar, se o acesso a ela fosse restrito?
Hoje compreendo que a verdade habita dentro de cada um de nós, e que o caminho evolutivo é singular e intransferível.
Após muitas buscas, conheci a ECA — Equipe Consciência Ativa, em Belo Horizonte — um grupo de pesquisadores metafísicos com diversas abordagens teóricas e práticas holísticas. Desde 2019, atuo como professora e pesquisadora voluntária.
A pesquisa metafísica da sexualidade
Ser uma pesquisadora metafísica no campo da sexualidade é, antes de tudo, optar por trilhar caminhos que transcendem o óbvio, o biológico e o social. É reconhecer a sexualidade não apenas como um conjunto de comportamentos, normas ou pulsões, mas como uma via profunda de expressão existencial — um campo de forças onde se revelam dinâmicas psíquicas, energéticas e espirituais.
Na minha trajetória, compreendi que a sexualidade também é a linguagem da alma. Ela comunica bloqueios, assédios relacionais, ancestralidades, padrões inconscientes e, simultaneamente, abre portais para o autoconhecimento, para o amor-próprio e para vínculos mais conscientes.
A abordagem metafísica permite investigar a sexualidade como um fenômeno que se entrelaça ao sentido da vida, à busca por unidade interna e à integração das polaridades masculina e feminina presentes em cada ser.
Assumir essa linha de pesquisa é oferecer às pessoas a possibilidade de se reconhecerem em níveis mais sutis e profundos. É propor uma escuta que integra corpo, mente, emoções e energia — promovendo reconexão com a própria essência e ampliando a compreensão das relações íntimas. Em um mundo onde a sexualidade é frequentemente reduzida à performance ou aprisionada por culpas e tabus, a abordagem metafísica propõe um respiro, uma expansão, um convite à maturidade e à autenticidade.
Investigar a sexualidade sob essa ótica não é apenas uma escolha profissional. É um compromisso com o processo evolutivo humano. Trata-se de lançar luz sobre a potência criadora que habita em cada um de nós — contribuindo para que mais pessoas possam viver sua sexualidade com bem-estar, liberdade, respeito, profundidade e sentido.
Conceitos importantes da conscienciologia para o aprofundamento desse recorte
Apesar das restrições impostas pela ciência convencional, de base estritamente materialista, que tende a desqualificar os estudos metafísicos da conscienciologia como não científicos, ressalto que toda autopesquisa realizada por mim, dentro da abordagem do paradigma consciencial, ancora-se em fundamentos metodológicos inspirados na ciência tradicional.
Ao longo dos últimos seis anos, venho me dedicando à investigação metafísica com rigor e profundidade, apoiada por uma vasta produção bibliográfica composta por livros, artigos, periódicos, debates e tertúlias que fazem parte do acervo do Instituto Internacional de Conscienciologia e Projeciologia, cuja sede fica em Foz do Iguaçu, com diversas células pelos estados brasileiros.
Concordo com a premissa da autopesquisa da conscienciologia de que “o cientista não busca a conformidade: o questionamento é uma necessidade constante” (Vieira, 2010, p. 72). Nesse sentido, nenhuma teoria científica deve ser tomada como verdade definitiva ou absoluta.
Este artigo, portanto, não tem por objetivo apresentar conclusões, mas, sim, levantar questões — muitas vezes relegadas ao campo do misticismo ou desacreditadas como inverdades — sob uma nova luz, propondo que sejam consideradas e investigadas com seriedade e abertura.
A seguir, destaco alguns conceitos fundamentais que podem facilitar ao leitor o acesso à realidade metafísica das pesquisas conscienciais, e ampliar a compreensão do viés adotado neste artigo.
Conscienciologia – é uma neociência proposta pelo médico e pesquisador brasileiro Waldo Vieira, a partir da publicação do tratado “Projeciologia: Panorama das Experiências da Consciência Fora do Corpo Humano”, em 1986.
Posteriormente, o autor publicou os tratados científicos “700 Experimentos da Conscienciologia” (1994), “Homo Sapiens Reurbanisatus” (2003) e “Homo Sapiens Pacificus” (2007).
Trata-se de uma ciência dedicada ao estudo da consciência de modo integral, abrangendo suas manifestações em múltiplas dimensões e existências, por meio de uma abordagem sistemática, racional e experimental2.
Paradigma consciencial – propõe uma abordagem ampliada da consciência, considerando elementos geralmente negligenciados pela ciência convencional, como o parapsiquismo, a multidimensionalidade, a pluriexistencialidade, a inteligência evolutiva e a cosmoética.
Seu princípio fundamental é que toda pesquisa consciencial deve partir da própria consciência como sujeito e objeto do processo investigativo, dado que apenas a consciência pode acessar, com profundidade, sua realidade íntima3.
Consciência – é entendida como a essência do ser, superior à energia e à matéria. Ela pode se manifestar em duas condições: conscin – consciência intrafísica ou humana, temporariamente imersa na matéria e consciex – consciência extrafísica, que já não utiliza o corpo físico como veículo de manifestação.
A energia é o elo entre a consciência e a matéria. O corpo humano, nesse contexto, é um instrumento temporário de manifestação. A consciência, por sua vez, é contínua, sendo regida pela lei da conservação da energia — ela não é criada nem destruída, apenas transformada4.
Projeção – é o ato de projetar a mente ou psicossoma para fora do soma, desdobramento da personalidade, saída da consciência fora da coincidência do seu holossoma, descoincidência, disjunção, desconexão, dissociação, deslocamento, exteriorização do psicossoma, experiência fora do corpo físico.
“Desprender-se da forma orgânica, homens e mulheres o fazem no sono natural. Na recordação das ocorrências com nitidez, em face da incapacidade biológica milenar de retenção, reside o problema difícil, contudo, superável” (Vieira, Waldo, 2005. p. 15).
Depois de muito estudo e entendimento sobre essa realidade e o uso adequado das técnicas energéticas qualificadas, uma experiência projetiva realizada com lucidez e vivenciada com prática e constância faz a pessoa não mais duvidar que somos mais que um corpo físico.
Teoria da descrença – é um dos princípios mais importantes da conscienciologia, que convida o pesquisador a não aceitar nenhuma ideia sem antes submetê-la à experimentação pessoal. Trata-se de um estímulo à autonomia intelectual e à vivência direta: “não acredite em nada, refute. Tenha você suas próprias experiências”5.
Autopesquisa – é o processo contínuo e evolutivo pelo qual a consciência intrafísica — homem ou mulher — dedica-se ao estudo de si mesma, investigando sua intraconsciencialidade (estrutura íntima de pensamentos, sentimentos e energias)6.
“A proposta de o pesquisador ser também objeto de sua própria pesquisa entra em conflito com os valores da ciência convencional. A neutralidade e a imparcialidade — pilares do paradigma vigente — são tensionadas. Além disso, a investigação multidimensional e holobiográfica rompe com os critérios tradicionais de objetividade e replicabilidade dos experimentos” (Almeida, 2008, p. 48).
Parapsiquismo – é a capacidade da consciência de perceber realidades além dos sentidos físicos, como energias sutis, ambientes extrafísicos, consciências não-físicas (consciexes) e projeções da consciência. Trata-se de um recurso natural, passível de desenvolvimento, que amplia a percepção e a compreensão das múltiplas dimensões da existência7.
Autoconsciência parapsíquica – quando o parapsiquismo é utilizado com discernimento, ele favorece o desenvolvimento da autoconsciência. Por meio dele, é possível experienciar retrocognições (lembranças de vidas passadas), comprovar a continuidade da consciência após a morte física e acessar informações de outras dimensões, favorecendo profundas renovações pessoais8.
Bioenergética – sob a ótica conscienciológica, a bioenergética investiga as diversas manifestações energéticas da consciência e da natureza. Diferencia-se da abordagem biomédica ao incluir o estudo das energias imanentes (presentes em plantas, animais, ambientes) e conscienciais (energias manipuladas diretamente pela consciência).
A energia consciencial, modulada por pensamentos e emoções, pode qualificar ou deteriorar o padrão energético pessoal, sendo constantemente trocada com o meio e com outras consciências9.
Holossomática – propõe que a consciência manifesta-se por meio de quatro veículos ou corpos (ilustrados na fig. 2, da esquerda para direita): 1. soma – corpo biológico, 2. energossoma – corpo energético, 3. psicossoma – corpo emocional (popularmente difundido pelo espiritismo como perispírito) e 4. mentalsoma – corpo do discernimento10.
O pesquisador é convidado a experimentar, observar e compreender como cada um desses veículos opera, e como podem ser harmonizados em prol da evolução pessoal. A autopesquisa, nesse caso, envolve um olhar multidimensional sobre si, integrando corpo, emoções, mente e energia.
Bioenergias e holossomática: a manifestação da consciência além do plano material
Na perspectiva das bioenergias, a matéria é vista como uma forma condensada de energia, ou seja, tudo no universo é energia.
A bioenergia é um conceito antigo e tem vários nomes e sinônimos, dependendo da cultura ou da linha de estudo. Entre eles estão: “acasa” (hindus), “chi” ou “qi” (na China, usado na acupuntura), “energia vital”, “fluido vital” (segundo Allan Kardec), “libido” (por Sigmund Freud), “prana” (Índia, yoga) e muitos outros. Recentemente, essa energia tem sido chamada de “biocampo” e, de maneira mais ampla, de “paraenergia” (Trivellato, 2019, p. 28).
A conscienciologia, de forma simples, propõe que a consciência não se expressa apenas no corpo físico, mas também em outras dimensões e por meio de diferentes “corpos” sutis.
Ela chama esse conjunto de corpos de holossoma, e eles são os seguintes, como já mencionado: soma – o corpo físico, visível e palpável, o nosso corpo biológico, energossoma – o corpo energético, que faz as trocas de energia com o ambiente e outras consciências, psicossoma – o corpo das emoções e sentimentos e mentalsoma – o corpo das ideias, do raciocínio e do discernimento.
Esses corpos não funcionam de forma isolada, mas estão constantemente interconectados entre si, criando uma dinâmica de trocas energéticas contínuas entre o ambiente e as pessoas. Mesmo sem percebermos, estamos sempre trocando energias com o que nos cerca, especialmente através dos corpos mais sutis.
A conscienciologia propõe que toda manifestação da consciência envolve energia, que corresponde à dimensão em que ela acontece. Pensar, sentir e agir não estão dissociados da energia, eles são apenas formas de manifestação dessa energia.
A consciência, portanto, manifesta-se constantemente por meio de pensamentos, sentimentos e energias, e todos esses elementos são indissociáveis. Essa manifestação é chamada de pensene – uma junção de: Pen (pensamento) – relacionado ao mentalsoma, Sen (sentimento) – relacionado ao psicossoma e E (energia) – relacionado ao energossoma.
O pensene é considerado a unidade mínima e contínua da manifestação consciencial. Ou seja, a cada instante de nossa existência, estamos emitindo um pensene, que é uma combinação do que pensamos, do que sentimos e das energias que geramos a partir disso.
A pesquisadora Nanci Trivellato (2019, p. 43) explica que “o pensene é a mínima unidade energético-informacional da manifestação da consciência”.
Cada pessoa manifesta sua consciência com diferentes níveis de lucidez e com predominância de um ou outro “corpo”. Por exemplo: em determinados momentos, a pessoa pode ser mais racional (com predominância do mentalsoma) ou mais emocional (com predominância do psicossoma).
O ponto importante é que a energia que geramos, seja consciente ou inconsciente, sempre carrega informações que afetam o padrão energético do nosso ambiente e das pessoas à nossa volta.
Agora, imaginem várias pessoas em um local comum, todas pensando, sentindo e trocando energias, ou seja, pensenizando juntas. É possível perceber que, naquele ambiente, se formará um campo informacional, um campo energético onde as informações geradas por essas pessoas se misturam e ficam “gravitando”.
Você provavelmente já passou por experiências como: pensar em alguém que você não via há muito tempo e essa pessoa lhe ligar ou aparecer por acaso, sentir a energia de alguém antes de ver a pessoa chegar perto de você, perceber que algo estava acontecendo com alguém antes mesmo de ser informado sobre a situação e perceber e sentir que certos locais possuem um campo energético bem específico – hospitais, instituições de ensino, lares familiares, casas de show, campos de futebol, etc.
Essas situações acontecem porque nossas energias e nossos pensenes — pensamentos, sentimentos e energias — estão constantemente interconectados com as energias das outras pessoas. Em outras palavras, nossa consciência conecta-se energeticamente com as consciências ao nosso redor, e essas conexões podem se manifestar de várias formas, modificando o ambiente e as pessoas.
Trivellato ainda explica que esse campo energético e informacional pode interferir no comportamento das pessoas, causando fenômenos como sincronicidades e até alterando eventos.
Isso se aplica também às experiências que vivenciamos em ambientes como workshops de constelação familiar, por exemplo, em que o campo energético criado pelas pessoas ali presentes influencia os acontecimentos. Detalho esse fenômeno a partir do paradigma consciencial no artigo “Constelação familiar: atributos fenomenológicos para o autoconhecimento e melhoria das relações”11.
Em seu trabalho, Trivellato também compara essa ideia ao conceito de campo morfogenético (Sheldrake, 2005), inconsciente coletivo (Jung, 1968) e noosfera (Teilhard de Chardin, 1965).
Portanto, o que somos e desenvolvemos ao longo de nossas vidas está sempre influenciando, e sendo influenciado, pelas outras consciências. E, claro, esse fenômeno se intensifica nas relações mais íntimas, como nas relações sexuais, onde a troca energética pode ser ainda mais forte e profunda. Isso revela uma dimensão mais sutil e complexa do que muitas vezes acreditamos ser apenas uma interação física.
Relações da sexualidade e das práticas sexuais na visão do paradigma consciencial
A importância do sexo
“O ato sexual não é sujo, nem sórdido, nem proibido, nem doloroso, nem desagradável, nem doentio” (Vieira, 2012, p. 146). A reflexão sobre as relações da sexualidade e das práticas sexuais dentro do paradigma consciencial nos conduz a uma visão mais holística e integradora, entendendo a sexualidade como uma força psíquica vital, essencial para o equilíbrio e a homeostase da consciência.
O conceito de que o sexo é algo sujo, proibido ou desagradável, amplamente disseminado por crenças, tabus e estruturas religiosas ao longo da história, distorce a visão natural da sexualidade. A sexualidade, em sua essência, é uma energia vital e transformadora, não limitada ao ato físico, mas relacionada também aos aspectos psíquicos, emocionais e espirituais da pessoa.
Historicamente, instituições como a Igreja Católica tiveram um papel significativo em moldar a compreensão social sobre a sexualidade, associando o prazer carnal a um pecado a ser evitado e controlado.
Esse controle não se limitou apenas ao âmbito moral ou religioso, mas também se estendeu à medicina, com o discurso sobre doenças venéreas e a necessidade de controle do comportamento sexual.
Como observa a filósofa brasileira Marilena Chauí, “costuma-se enfatizar os aspectos conservadores e reacionários da religião (no caso, a cristã) face à sexualidade: bulas e encíclicas papais proibindo os anticoncepcionais, condenando o aborto, o adultério, o homossexualismo, o divórcio; seitas protestantes, como a pentecostal, bradando que é chegado o fim do mundo porque os homens reconstituem Sodoma e Gomorra, a severa austeridade do vestuário protestante e o obsessivo controle do corpo de crianças e adolescentes; a atribuição dos males e doenças ao gosto pelo prazer carnal, na fala inflamada dos pregadores” (Chauí, 1991, p. 83).
Como o marketing da Igreja para a proibição do prazer, através da tríade pecado, castigo e culpa, não surtiu muito efeito de manipulação e controle das massas, foi atribuída à ciência esse novo lugar. O controle agora se daria pelo medo à saúde.
A primeira cartilha brasileira dedicada ao combate das doenças venéreas foi publicada em 1921, intitulada “O perigo venéreo”, de autoria do médico Renato Kehl. Essa obra foi apresentada em uma conferência realizada no dia 25 de julho de 1921, no salão da Associação dos Empregados do Comércio, no Rio de Janeiro. A publicação esteve sob a responsabilidade do Departamento Nacional de Saúde Pública e da Inspetoria de Profilaxia da Lepra e das Doenças Venéreas.
Segundo a lógica da filósofa Marilena Chauí, “o que podemos questionar é qual o motivo dessas pesquisas? Para fins de saúde do corpo? Ou mais uma vez estamos lidando com uma operação para eliminar a relação sexo-vida?”
No entanto, dentro do paradigma consciencial, conforme exposto por Waldo Vieira, a sexualidade é vista como uma expressão de energia psíquica (ou libido, como também definida por Freud e Jung), que não se restringe apenas ao desejo sexual, mas à energia vital que permeia o ser humano, atuando desde o impulso por transformação pessoal até o desejo de transformação de uma ideia, propósito ou relação.
Jung, por exemplo, via a sexualidade como uma força psíquica ampla, fundamental para a expressão da vida, e não limitada ao corpo físico. Ele reconhecia que a sexualidade pode ser uma fonte de energia que, quando bem canalizada, propicia o crescimento e a evolução do indivíduo (Jung, 1976, p. 18).
Reich, que foi outro grande estudioso das energias e das realidades mais sutis, atribuiu à energia sexual o nome de energia orgônica, como expressão da vitalidade e antídoto contra a neurose e o ódio entre as pessoas (Reich, 1975, p. 101).
Esses entendimentos alinham-se ao que é proposto pela conscienciologia: uma visão da sexualidade que valoriza a naturalidade do ato sexual como um meio de manter o equilíbrio da energia vital e promover a saúde física e psíquica.
Portanto, dentro do paradigma consciencial, o sexo é visto como uma prática vital e positiva, que, quando vivida de forma natural, respeitosa e equilibrada, não apenas contribui para o bem-estar físico, mas também para o desenvolvimento psíquico e emocional do indivíduo.
A prática sexual só existe no corpo físico
A visão da sexualidade no paradigma consciencial propõe que a consciência em si não possui sexo. A experiência sexual está intrinsecamente ligada ao soma, ou seja, ao corpo físico. Isso significa que a sexualidade, como a conhecemos, é uma expressão energética que ocorre dentro da nossa realidade biológica, mas suas reverberações podem se estender aos nossos corpos sutis, como o psicossoma e o energossoma.
De acordo com a pesquisa de Waldo Vieira, o sexo é um atributo que existe exclusivamente no soma, no corpo físico, e sua função é fundamental para o bem-estar humano.
O sexo tem várias funções essenciais, que não se limitam ao prazer físico, mas englobam aspectos vitais e energéticos para o equilíbrio e a saúde das pessoas, conforme os pontos listados: parte digna e super útil da fisiologia humana (sexochacra), dádiva biológica para o bem-estar da pessoa, seja homem ou mulher, agente revitalizador natural, estimulando a adrenalina, aliviador de estresses e tensões excessivas, desafogador das pressões sociais, promovendo catarse, dinamizador da capacidade respiratória, que é essencial para o cardiochacra (chacra localizado atrás do osso esterno e responsável pelo equilíbrio energético do coração e pulmão) e vacina eficaz contra a estafa, revigorando a pessoa (Vieira, 2012, p. 146).
Embora a prática sexual ocorra no corpo físico, ela não se limita a esse plano, pois as energias geradas durante o ato têm impacto nos nossos corpos sutis, como o energossoma (corpo energético).
Os chacras, que são centros de energia localizados no corpo energético, têm um papel essencial na integração entre os planos físico, emocional e espiritual, e participam ativamente desse processo.
De acordo com Nanci Trivellato (2019), os chacras são responsáveis por transportar continuamente informações energéticas do corpo físico para o paracorpo (psicossoma) e vice-versa. Isso significa que, enquanto o sexo acontece no corpo físico, ele gera uma movimentação energética que reverbera e pode ser sentida nos corpos sutis, afetando a nossa saúde emocional, energética e até mesmo espiritual.
Existem uma técnica e experimentação difundidas na conscienciologia que, embora descritas em diversas literaturas e textos dos seus pesquisadores, não podem ser comprovadas cientificamente, já que ainda não há uma tecnologia capaz de medir e analisar essas energias sutis: o holorgasmo. Nessa prática, o casal atinge na relação sexual um orgasmo simultâneo de todos os corpos, que é muito mais profundo que o orgasmo apenas corporal e físico.
Embora muitas pessoas, como é o meu caso pessoal, relatem sentir essas reverberações em seus corpos sutis durante a prática sexual, essa é uma experiência que fica no campo da autopesquisa e das hipóteses metafísicas, que ainda não têm uma base científica sólida.
Portanto, dentro da proposta da conscienciologia, podemos entender que, mesmo sendo o sexo uma experiência vinculada ao corpo físico, ele tem um impacto profundo nos nossos corpos sutis, influenciando nosso equilíbrio energético, emocional e até espiritual. O sexo, portanto, não é apenas uma necessidade biológica, mas também uma oportunidade de crescimento e transformação energética e consciencial.
Sexualidade e parapsiquismo
O parapsiquismo é a capacidade da consciência de se manifestar além do cérebro físico, estando relacionado à percepção e manifestação de energias sutis, que transcendem os sentidos físicos.
Está vinculado ao desenvolvimento das parapercepções, ou seja, à percepção de fenômenos extrafísicos ou energéticos, que ocorrem por meio dos corpos sutis — o psicossoma, o energossoma e o mentalsoma. Tais percepções podem se expressar em diversas manifestações, como intuição, telepatia e clarividência, entre outras habilidades, consideradas paranormais.
É importante notar que, frequentemente, ocorre uma confusão terminológica entre parapsiquismo e animismo. O animismo refere-se a fenômenos que acontecem por meio da vontade e controle da consciência, sem a interferência de fatores externos, enquanto o mediunismo (um tipo de manifestação extrassensorial) envolve a interação com consciências extrafísicas, sendo um processo de canalização ou intermediação.
Trivellato (2019, p. 53) esclarece a confusão terminológica: “cabe alertar sobre um equívoco terminológico que comumente ocorre em alguns grupos: a expressão parapsiquismo vem sendo usada, erroneamente, como contraponto direto de animismo, cujo verdadeiro contraponto é mediunismo, atributo que promove a mediunidade. A expressão mediunidade (do latim medius) é usada no sentido de agente intermediário ou canal de comunicação, no século XVIII. O animismo (do latim animus, alma) se refere aos fenômenos produzidos autonomamente pela consciência, sem interferências externas, ou seja, realizados única e exclusivamente por sua vontade e controle. Primeiramente, é importante desmistificar a noção de superioridade de qualquer um desses atributos sobre o outro. Com o desenvolvimento do parapsiquismo, o animismo também se expande, sendo ele, portanto, um reflexo da vontade, do autocontrole e da capacitação parapsíquica. Mas, nem por isso, necessariamente, a consciência eliminará completamente o mediunismo (predisposição à influência de outras consciências, comumente extrafísicas), o que, inclusive, pode ocorrer sob o controle anímico do próprio indivíduo (decisão, permissão consciente, cultivo voluntário da conexão). Assim, o parapsiquismo engloba tanto o animismo quanto o mediunismo”.
Segundo Trivellato (2019), a expressão “parapsiquismo” abrange tanto o animismo quanto o mediunismo, pois ambos são manifestações que ocorrem por meio dos corpos sutis, mas com diferentes origens e controles.
O parapsiquismo, portanto, não é limitado a fenômenos de mediunidade, mas envolve a expansão das percepções da consciência, incluindo a capacidade de controlar e utilizar essas energias de maneira consciente, como por exemplo limpar energias de ambientes e pessoas, criar campos de energia para blindagem de assimilação de energias negativas ou promover descargas energéticas revitalizadoras.
Ao se falar de sexualidade, é impossível não considerar o papel do parapsiquismo das parapercepções dessa energia. A sexualidade não é apenas uma experiência física e biológica, mas também energética e multidimensional.
No contexto da conscienciologia, a sexualidade pode ser vista como um fenômeno que ultrapassa o plano físico, reverberando nos corpos sutis e sendo influenciada por energias externas e internas, como o animismo (controle da consciência) e até o mediunismo (influências extrafísicas).
A mistificação do parapsiquismo, como algo perigoso ou reservado aos iniciados de alguma congregação religiosa, espiritualista ou seita, é uma falácia. Qualquer pessoa com boa intenção, disciplina e dedicação à autopesquisa pode desenvolver suas habilidades parapsíquicas.
O que difere uma pessoa da outra nesse processo é a forma como essas capacidades se manifestam — desde a percepção das energias de ambientes e pessoas, até os retroconhecimentos de vidas passadas.
Na conscienciologia, o conscienciólogo veterano utiliza essas habilidades para explorar a vida multidimensional da consciência, com um foco prático e desapegado de práticas místicas ou esotéricas.
A habilidade de sentir ambientes, perceber energias e intuir situações é uma forma de parapsiquismo que está ao alcance de muitas pessoas. Esses atributos não são exclusivos de médiuns ou seres extraordinários, mas fazem parte do potencial humano para perceber além da realidade física, e, portanto, também são aspectos que podem ser explorados no entendimento da sexualidade como um fenômeno energético.
Desde criança tenho contato com a realidade extrafísica. Isso por muitos anos foi um grande desafio para minha personalidade até descobrir que sofria de “labilidade parapsíquica”, que irei descrever melhor no próximo item. Hoje, essa realidade apresenta-se como o aprendizado de andar de bicicleta, automatizado e ajustado à minha cognição.
O desafio à ciência convencional
A ideia de que a sexualidade tem implicações além do corpo físico e que pode ser uma expressão de forças energéticas multidimensionais é uma tese que pode parecer contraditória aos padrões da ciência convencional. A biologia, a neurologia e a psicologia, que possuem um enfoque mais materialista e empírico, raramente consideram dimensões energéticas ou espirituais como fatores explicativos para fenômenos humanos como a sexualidade.
No entanto, a conscienciologia e outras abordagens metafísicas que exploram o parapsiquismo trazem à tona a ideia de que o ser humano é multidimensional, e que a compreensão da sexualidade precisa ir além de uma análise puramente biológica ou psicológica. A inter-relação entre a energia sexual e os corpos sutis é, portanto, uma proposta ousada, mas que pode abrir novas perspectivas sobre como entendemos a sexualidade e a consciência humana.
A visão da sexualidade energética e sua conexão com o parapsiquismo desafiam conceitos amplamente aceitos pela ciência tradicional, que tende a reduzir o sexo a um fenômeno físico e emocional.
A proposta da conscienciologia amplia esse entendimento, sugerindo que a sexualidade tem uma expressão energética e multidimensional, que não pode ser completamente compreendida a partir apenas da perspectiva materialista. Esse fenômeno exige uma abordagem integradora, que considere não só os aspectos físicos e emocionais, mas também os energéticos e espirituais, sem cair no misticismo, mas com uma pesquisa autêntica e disciplinada.
Estamos constantemente interagindo com as realidades física e extrafísica, e com as consciências presentes em ambas as dimensões. Nossa origem, enquanto consciência, é extrafísica, e, como tal, nossa verdadeira casa e evolução acontecem em um plano além da realidade física, o qual chamamos de sociex (sociedade extrafísica), em contraste com a socin (sociedade intrafísica ou humana).
Como descreve Vieira (2010, p. 24), “nossa procedência extrafísica é o distrito de onde viemos e onde vamos voltar, a breve tempo, de modo inevitável. É o nosso domicílio permanente na condição de consciências em evolução”.
Essas interações energéticas são parte do nosso cotidiano e, muitas vezes, são imperceptíveis à nossa consciência, devido à falta de percepção sobre as energias sutis que trocamos com os outros e com os ambientes. A interferência extrafísica, muitas vezes, passa despercebida, mas afeta nosso estado emocional, mental e físico de maneiras profundas, sem que saibamos exatamente de onde vem.
Em minha própria experiência, desde a infância, percebi essa interferência extrafísica em minha vida através de sintomas físicos e emocionais como doenças sem diagnóstico, mudanças bruscas de humor, dores e fadigas crônicas e pensamentos invasivos, até perceber que vivia com “labilidade parapsíquica”: uma condição que descreve a predisposição de uma pessoa sensitiva a captar informações parapsíquicas sem a devida filtragem, o que leva a uma conexão inconsciente com padrões de energias da baratrosfera e fluxos de amparabilidade.
Essa condição pode gerar oscilações energéticas e emocionais devido à falta de autodiscernimento e defesas energéticas adequadas (Zolet, 2023, p. 43).
Aqui quero chamar a atenção para o fato de que muitas pessoas sofrem de “labilidade parapsíquica” e nem sabem que são acometidas por estados patológicos emocionais que por vezes podem ser fruto dessa interação energética que nos atinge a todo o momento. Aqui também vamos nos deparar com fatores sem comprovações científicas à ambito materialista. Mas muitos de nós já ouvimos a expressão: “fulano está sofrendo de uma doença espiritual”.
Importância de ampliarmos nossas percepções quanto à relação sexual
Essa compreensão é crucial para entender o impacto da sexualidade nas nossas vidas, tanto físicas quanto extrafísicas, mas também bastante espinhosa pela falta de referências bibliográficas na ciência convencional, diferentemente da grande gama de publicações existentes dentro da biblioteca da conscienciologia.
Nossa homeostase sexual, bem-estar e manifestação sexual estão intrinsecamente ligados ao assédio interconsciencial, um fenômeno em que há a invasão ou a intrusão de energias, pensamentos e emoções de uma consciência sobre outra. Embora esse fenômeno aconteça em todas as áreas da nossa vida, é na esfera sexual que ele possui um impacto muito desafiador.
O assédio interconsciencial pode ocorrer de quatro maneiras distintas: de uma consciência extrafísica para outra extrafísica, de uma consciência extrafísica para uma consciência intrafísica, de uma consciência intrafísica para outra intrafísica ou de uma consciência intrafísica para uma consciência extrafísica — raramente (Vieira, 2010, p. 47).
É fundamental desmistificar a romantização da experiência parapsíquica, como o desejo de “ver ou sentir as coisas” sem o devido preparo. A prática de autopesquisa e a busca por compreensão e domínio sobre esses fenômenos não devem ser tratadas de forma superficial. Sem estudo e disciplina, o que poderia ser uma ferramenta de desenvolvimento metafísico pode se tornar um fardo, com consequências patológicas muito sérias.
Dentro desse contexto, a energia sexual ocupa uma posição central, pois é uma das forças mais poderosas em nosso campo energético. Ela não se limita ao ato sexual físico, mas permeia nossa vitalidade, criatividade, motivação e desejo de viver.
A libido, como força sexual psíquica, é a energia que nos conecta à vida e nos impulsiona em todas as nossas ações. Ela é a mesma energia que nos faz buscar a realização pessoal e profissional, que alimenta nossa criatividade e que nos motiva a nos relacionarmos e a nos entregarmos em auxílio ao próximo. Essa energia é tão intensa que, ao ser mal dirigida ou manipulada, pode se tornar um campo fértil para carências sexuais.
Como já mencionado, sofremos interferências tanto intrafísicas quanto extrafísicas no intercâmbio das energias sexuais. A potência e importância dessa energia para nossa manifestação consciencial são tão grandes que, devido a carências e frustrações, muitas consciências podem acabar consumindo a energia de outras pessoas, sem perceber, como uma forma de tentar suprir suas necessidades não atendidas. Lembrando que os assédios sexuais podem ocorrer tanto no intercâmbio físico quanto extrafísico. Muitas consciências, de fato, são consideradas vampiras energéticas.
Waldo Vieira sugeria a prática do sexo diário como uma maneira de equilibrar as energias pessoais e direcioná-las de forma mais construtiva para a vida cotidiana: “ao fazer amor diariamente, a pessoa deixa de ocupar os próprios espaços e tempos conscienciais com o sexo no resto do dia, aplicando-os na execução da proéxis. Certos adolescentes, por exemplo, conforme as estatísticas, pensam em sexo a cada quatro minutos e dois segundos” (Vieira, 2010, p. 239).
Portanto, podemos viver carregados (saudáveis) ou descarregados (carentes) de libido (pulsão de vida) e desejo sexual. A prática sexual, em toda a sua integralidade, deve ser vivida de maneira consciente, utilizando-se todos os corpos que compõem a consciência e rompendo com falácias religiosas e culturais, tabus sociais e místicas que envolvem esse tema. Embora o sexo ainda seja cercado por muitos tabus na sociedade, ele é, na verdade, um ato natural e saudável, quando praticado com consciência e sem as carências ou preconceitos que muitas vezes nos limitam.
Quero fazer uma provocação: por que tantos estudiosos da energia sexual foram perseguidos? Por que tantos paradoxos existentes no que se refere às relações sexuais? Por que grandes instâncias de poder se tornaram detentoras do conhecimento sobre o sexo e tantas campanhas depreciativas sobre o assunto foram feitas no sentido do controle das massas? Por que os estudos metafísicos foram relegados às instâncias de misticismo, de mentiras? Não seria o sexo saudável uma porta de entrada para uma saúde mais plena e uma vida com mais bem-estar?
Considerações gerais
É importante ressaltar que os atributos da prática sexual, além do corpo físico, sob uma perspectiva consciencial e holossomática — ou seja, considerando o conjunto de corpos da consciência — podem ampliar as pesquisas sobre a relevância do bem-estar sexual e da homeostase entre o soma, psicossoma, energossoma e mentalsoma.
Colocar a prática sexual em um patamar de grande importância para a nossa vitalidade e manutenção no planeta revela como essa vivência é essencial para a nossa saúde integral, dentro de uma visão mais holística.
Ao nos desprendermos da ideia de que o sexo ocorre exclusivamente no corpo físico, podemos perceber que, ao contrário da concepção tradicional que associa o sexo ao pecado, ele é uma verdadeira benesse para a consciência na realidade intrafísica. Essa prática é uma benesse para enfrentar os desafios de existir neste plano e para a nossa saúde integral.
As manipulações e os discursos de ódio, medo e frustrações que cercam a prática sexual funcionam como armadilhas que nos mantêm aprisionados à falta de prazer de viver.
Sei que o tema deste artigo, e minha disposição em tratar de algo tão espinhoso, já foi tópico abordado por outros estudiosos, como Wilhelm Reich, que chegou a ser preso por suas ideias, e tantas outras figuras emblemáticas não citadas aqui.
Em seu livro “A Função do Orgasmo” (1975), Reich afirma que “a tendência destrutiva cravada no caráter não é senão a cólera que o indivíduo sente por causa de sua frustração na vida e de sua falta de satisfação sexual. Quando o analista prosseguir em direção ao fundo, todos os impulsos destrutivos dão lugar a um impulso sexual. O desejo de destruir é apenas a reação ao desapontamento amoroso ou à perda do amor. Se uma pessoa encontra obstáculos intransponíveis nos seus esforços para experimentar o amor ou a satisfação das exigências sexuais, começa a odiar. Deve ser refreado para evitar a angústia que causa. Em suma, o amor contrariado causa angústia. Igualmente, a expressão inibida causa angústia. Igualmente, a agressão inibida causa angústia, e a angústia inibe as exigências do ódio e do amor” (Reich, 1975, p. 131).
Reich expande a ideia de satisfação sexual e amor para além das relações íntimas, sugerindo que o amor deve ser vivido de forma ampla, envolvendo não apenas o outro, mas também a vida, as coisas e as situações cotidianas. É uma energia sem a qual é impossível se desenvolver, se transformar e evoluir.
A libido, ou pulsão de vida, compartilhada por Carl Gustav Jung, e que no caso de Reich era chamada de “orgônio”, é uma energia que nos leva para uma transcendência maior, que nos eleva à condição de conexão com a fonte criadora e com as demais pessoas.
Através dessa energia, estamos todos conectados à ideia de UM, sendo que ela se manifesta na genitalidade, ou seja, na prática sexual. Essa prática é o princípio primordial para a aquisição do prazer, do estado de presença, do estado de união. A desconexão dessa energia coloca-nos em condição de disputas e defesas e de desconexão com o amor.
Waldo Vieira faz apontamentos similares, afirmando que, quando as questões relacionadas ao sexo são tratadas de maneira imatura ou superficial, elas não atendem às necessidades biológicas e energéticas do corpo e podem incorrer em questões patológicas a nível físico, emocional e energético.
As práticas sexuais, da forma mais natural possível, são extremamente eficazes para manter o desempenho consciencial, ou seja, a integração do ser. A higiene sexual, tanto no nível físico quanto extrafísico, afasta-nos dos assédios intraconscienciais, pois colabora para sanar as carências e frustrações originadas pela falta de contato com o prazer.
Isso se reflete na fala de Vieira, quando ele diz que “somente a performance sexual, a partir deste nível sem carência, é capaz de manter o equilíbrio desejável da maturidade energossomática, sem assédios e interferências energéticas, conscienciais, extrafísicas e doentias” (Vieira, 2010, p. 237).
É fundamental que compreendamos que, além da realidade física, a sexualidade transcende essa barreira. As práticas sexuais são uma dádiva da biologia humana e, quando efetuadas de forma consciente e livre das carências e preconceitos impostos pela sociedade, trazem mais benefícios do que malefícios.
Paola Mateus Moreira – Terapeuta sistêmica e energética, pesquisadora metafísica e professora voluntária da Equipe Consciência Ativa, em Belo Horizonte/MG, desde 2018. Trabalhou por mais de 10 anos com usuários de saúde mental na Raps – Rede de Atenção Psicossocial de Ouro Preto/MG, no Caps II e Caps-ad. E fez breve passagem no Caps-ad do Hospital Albert Einstein do Campo Limpo, em São Paulo/SP.
Notas
1 Martins, Raimundo e Souza, Eliseu Clementino, 2017.
2 Alegretti, Wagner. Retroconições: pesquisas da memória de vivências passadas. Rio de Janeiro: Instituto de Projeciologia e Conscienciologia, 2000, p. 25.
3 Pereira, Jayme. Princípios do Estado Mundial Cosmoético. Foz do Iguaçu: Editares, 2013.
4 Vieira, Waldo. Nossa Evolução. Foz do Iguaçu: Editares, 2010, p. 20.
5 Vieira, Waldo. 700 Experimentos da Conscienciologia. Foz do Iguaçu: Editares, 2013, p. 70.
6 Tenius, Beariz; Lopes, Tatiana. Autopesquisa conscienciológica: práticas e ferramentas. Foz do Iguaçu: Editares, 2020, p. 20.
7 Justi, Almir; Lascani, Amin e Dayane Rossa – Orgs. Competências Parapsíquicas. Foz do Iguaçu: Editares, 2018, pág. 12.
8 Justi, Almir; Lascani, Amin e Dayane Rossa – Orgs. Competências Parapsíquicas. Foz do Iguaçu: Editares, 2018, pág. 12.
9 Justi, Almir; Lascani, Amin e Dayane Rossa – Orgs. Competências Parapsíquicas. Foz do Iguaçu: Editares, 2018, pág. 12.
10 Justi, Almir; Lascani, Amin e Dayane Rossa – Orgs. Competências Parapsíquicas. Foz do Iguaçu: Editares, 2018, pág. 12.
Anexo complementar: paralelos entre o artigo e as obras de Jung e Reich
A seguir, apresenta-se um quadro complemenar e comparativo entre os principais conceitos abordados neste artigo e nas obras “Aion: Estudos sobre o Simbolismo do Si-mesmo”, de Carl Gustav Jung (2013) e “O Assassinato de Cristo”, de Wilhelm Reich (1974).
O objetivo é demonstrar como os autores dialogam, ainda que por vias distintas, com a proposta de uma sexualidade integral e consciente, explorando os aspectos psíquicos, simbólicos e bioenergéticos da experiência sexual humana e principalmente colocando a sexualidade e as relações sexuais como uma premissa de bem-estar.
Referências bibliográficas
Alegretti, Wagner. Retrocognições: Pesquisa da memória de vivências passadas. 2a. edição. Rio de Janeiro: Instituto Internacional de Projeciologia e Conscienciologia, 2000.
Chauí, Marilena. Repressão Sexual: Essa nossa (des)conhecida. 12a. edição. São Paulo: Editora Brasilense, 1991.
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Jung, Carl Gustav. Símbolos da Transformação. Petrópolis: Vozes, 1976.
Justi, Almir; Lascani, Amim e Rossa, Dayane (org.) Competências Parapsíquicas: Técnicas para o desenvolvimento do parapsiquismo interassistencial. Foz do Iguaçu: Associação Internacional Editares, 2018.
Martins, Raimundo, Tourinho, Irene e Souza, Eliseu Clementino. Pesquisa Narrativa: interfaces entre histórias de vida, arte e educação. Santa Maria: Editora da UFSM, 2017.
Tenius, Beatriz e Lopes, Tatiana. Autopesquisa Conscienciológica: Pŕaticas e Ferramentas. Foz do Iguaçu: Editares, 2020.
Trivellato, Nanci. Estado Vibracional: Desenvolvimento Energético Pessoal. 3a. edição. Mogui Guaçu: Nanci Trivellato, 2019.
Vieira, Waldo. 700 Experimentos da Conscienciologia. 3a. edição. Foz do Iguaçu: Associação Internacional Editares, 2012.
Vieira, Waldo. Manual da Dupla Evolutiva. 3a. edição. Foz do Iguaçu: Associação Internacional Editares, 2012.
Vieira, Waldo. Manual da Proéxis: Programação Existencial. 6a. edição. Foz do Iguaçu: Associação Internacional Editares, 2017.
Vieira, Waldo. Nossa Evolução. 3a. edição. Foz do Iguaçu: Associação Internacional Editares, 2010.
Reich, Wilhelm. A função do Orgasmo. São Paulo: Círculo do Livro S.A., 1975.
Reich, Wilhelm. O Assassinato de Cristo: A Neurose da Humanidade. São Paulo: Brasiliense, 1988.
Zolet, Lilian. Superação da Labilidade Parapsíquica: uma escolha evolutiva. Foz do Iguaçu: Editares, 2023.