Aromaterapia aplicada ao bem-estar no trabalho

A aromaterapia é uma prática terapêutica milenar que se utiliza da ação psicológica, fisiológica e farmacológica de óleos essenciais extraídos de várias partes de diversas plantas.

Consta da lista de modalidades terapêuticas integrativas reconhecidas pelo Ministério da Saúde, tendo sido incluída na PNPIC (Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares).

Neste artigo, serão abordados os resultados de um estudo experimental sobre a relação entre aplicação de aromaterapia e bem-estar no trabalho, conduzido por pesquisadores do Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPq-HCFMUSP).

A concepção de bem-estar utilizada neste relato de experiência está fundamentada na psicologia positiva, que o considera como sinônimo de felicidade, abrangendo os aspectos subjetivos da ligação entre o prazer e o desprazer, bem como o grau de satisfação que uma pessoa tem na sua vida em geral.

Já, para conceituar especificamente o que é bem-estar no trabalho, foi adotada a definição feita por Tatiane Paschoal, doutora em Psicologia Social, do Trabalho e das Organizações, como sendo “a prevalência de emoções positivas no trabalho e a percepção do indivíduo de que, no seu trabalho, expressa e desenvolve seus potenciais/habilidades e avança no alcance de suas metas de vida”.

Metodologia: inalação de óleos essenciais

Para participar do estudo, realizado entre agosto a outubro de 2016, foram selecionados profissionais da área de saúde, principalmente enfermeiros e auxiliares de enfermagem, de um hospital psiquiátrico, levando-se em consideração a acentuada sobrecarga de estresse psíquico vivenciada por esses profissionais em suas atividades.

A avaliação sobre a eficácia do uso de óleos essenciais, com base na abordagem da aromaterapia, foi feita com a aplicação da técnica de inalação. Para tanto, foi utilizada a proporção de uma gota de óleo essencial, em 10 ml de água destilada. O procedimento era realizado pelo tempo de 10 minutos cronometrados, uma vez por semana, durante o período de um mês para cada participante do projeto, no próprio local de trabalho (postos de enfermagem) e sob supervisão de um dos pesquisadores.

A escolha do óleo essencial a ser usado foi feita de acordo com a preferência individual de cada participante, dentre os seguintes prescritos: alecrim (Rosmarinus officinalis), bergamota (Citrus aurantium bergamia), eucalipto (Eucalyptus globulus), ho leaf ravintsara (Cinnamomum camphora), hortelã do Brasil (Mentha arvensis), lavanda (Lavandula angustifolia), limão siciliano (Citrus limon), Litsea cubeba, sândalo (Amyris balsamifera) e ylang ylang (Cananga odorata).

O óleo de limão siciliano foi o preferido (50% – N = 3). Na sequência, vieram os de ylang ylang (N = 1), alecrim (N = 1) e bergamota (N = 1).

Depois de escolher um determinado óleo essencial, cada participante da experiência deveria utilizá-lo até o final de seu tratamento.

Todos os participantes do estudo ((N = 6) responderam, inicialmente, a um Questionário de Aromaterapia Aplicada (QAA).

Antes e após a aplicação de cada procedimento de aromaterapia (inalação), passavam também por aferição da pressão arterial e tinham que responder à pergunta sobre como se sentiam em relação ao bem-estar no trabalho, usando uma escala de 0 a 10.

Resultados

Na conclusão desse projeto-piloto, foi possível observar que todos os participantes demonstraram interesse em utilizar a terapia com óleos essenciais e que os relatos feitos por eles sobre essa experiência foram positivos.

Foram registradas algumas pequenas alterações na pressão arterial, após o procedimento de inalação, em todos os indivíduos que fizeram parte do estudo. Em uma das sessões, um dos voluntários apresentou pressão arterial de 160/90 mmHg antes da inalação, que caiu para 130/70 mmHg após o procedimento. Numa outra sessão, a mesma pessoa apresentou uma medição de 170/80 mmHg antes e de 140/80 mmHg depois, indicando uma redução da pressão arterial sistólica e diastólica. Especificamente nesse caso, o óleo essencial escolhido foi o de Cananga odorata (ylang ylang).

No que se refere aos relatos sobre a percepção em relação ao bem-estar no trabalho, observou-se que não houve grande alteração nas respostas depois da aplicação da aromaterapia.

“Nossa intenção é continuar nessa mesma direção com as pesquisas em aromatologia, avaliando cientificamente a eficácia dos óleos essenciais, com foco principal no bem-estar das pessoas interessadas em participar e contribuindo para o desenvolvimento dessa rica ciência natural”, conclui Míriam Cristina Zaidan Mota, neuropsicóloga e uma pesquisadoras envolvidas no estudo.


Míriam Cristina Zaidan Mota – Neuropsicóloga, pesquisadora voluntária sobre aromatologia no grupo de pesquisa da Divisão de Hidrodinâmica Cerebral do IPq-HCFMUSP – Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e coordenadora/professora do Curso Básico de Aromaterapia das Faculdades Oswaldo Cruz.

Solange Regina Giglioni Fusco – Especialista em Gerenciamento de Enfermagem e diretora técnica de saúde II do IPq-HCFMUSP.

Lucia Helena Grando – Doutora em Enfermagem pela EEUSP e assistente técnica de saúde III do IPq-HCFMUSP.

Prof. Dr. Fernando Campos Gomes Pinto – Neurocirurgião e coordenador do grupo de pesquisa da Divisão de Hidrodinâmica Cerebral do IPq-HCFMUSP.

Iara Maria Tanganelli – Enfermeira especialista em Saúde Mental e Psiquiátrica do IPq-HCFMUSP.

Jouce Gabriela de Almeida – Mestre em Enfermagem pela EEUSP e enfermeira-chefe do IPq-HCFMUSP.

Sâmia Maluf – Psicóloga, aromatóloga e proprietária da empresa By Samia Aromaterapia.

 

Fontes

Paschoal, T., Tamayo, A. (2008). Construção e validação da escola de bem-estar no trabalho. Avaliação Psicológica, 7 (1), 11-22.

Paz, M. G. T. (2004). Poder e saúde organizacional. In A. Tamayo (Org.), Cultura e saúde nas organizações (PP. 127-154). Porto Alegre: Artmed.