Reiki aplicado em equinos para prevenção de estresse

Com base na ciência do bem-estar animal e na parceria que existe entre o cavalo e o seu cavaleiro na prática de esporte, compreende-se a necessidade de priorizar práticas de saúde que tragam resultados positivos e saudáveis para ambos.

Cavalos de competição são submetidos diariamente a agentes estressores que colaboram para a redução de sua qualidade de vida.

Atualmente, terapias como massagem, quiropraxia, hidroterapia, acupuntura, homeopatia e reiki, entre outras, ocupam parte significativa nas áreas preventiva e curativa.

Segundo a NCCAM (National Center for Complementary and Alternative Medicine), agência científica dos EUA, o reiki é uma terapia complementar de campo bioenergético. É realizada por meio da colocação das mãos do terapeuta a uma curta distância do corpo do paciente ou através de um toque suave sobre determinadas áreas do corpo, com o objetivo de transmitir a energia universal. Para sua aplicação, respeita-se a privacidade do paciente e segue-se um código de ética, assim como acontece em todas as profissões da área de saúde.

O reiki é uma terapia integrativa e complementar que possibilita, por meio de um método ou sistema, captar rei – energia universal e direcioná-la aos centros de força do organismo para repor ki – energia vital.

A energia vital é responsável por manter o corpo saudável e em equilíbrio. Cada centro de força encarrega-se em preservar a homeostase de determinados órgãos e funções – Figura 1.

Reiki em cavalos de competição

1 – Raiz/lei da reverência/lei da gravidade. Relacionado a sobrevivência em rebanho, luta, proteção da vida, resistência física (stamina), ganância, inquietação, peso, aterramento, hierarquia, coragem, artrite, distúrbios de imunidade, ossos e parte inferior das costas.
2 – Sacro-Baço/lei de causa e efeito/lei do cuidado. Conectado a força de vida física, órgãos sexuais, trabalho, procriação, nervosismo, caminhada na caixa, questões de limite, problemas de reprodução, problemas de castração, assimilação de comida, desequilíbrio hormonal, confiança, fraqueza, baixa energia, agressão, possessão, cólon e próstata/ovários.
3 – Plexo solar/lei da atração magnética/lei da vulnerabilidade. Relacionado a hipersensitividade, poder pessoal, autoestima, abatimento, retraimento, agressividade, dominação, falta de entusiasmo, problemas digestivos, sistema nervoso simpático, comunicação com humanos, metabolismo e emoções.
4 – Coração/lei da sensação/lei da sensitividade. Conectado a rebanho, hierarquia, tristeza, separação, perda, possessividade, isolamento, ciúme, nervosismo perto de outros cavalos, vínculo humano, distúrbios do sangue e asma relacionada ao estresse.
5 – Garganta/lei da vibração/lei do movimento constante. Relacionado a escolhas, não ouvir os comandos, cribbing, depressão, problemas vocais, metabolismo, tireoide e falta de discernimento.
6 – Terceiro olho/lei da sabedoria/lei que determina que a energia cria forma. Relacionado a aceitação própria, foco, enxaquecas, olhos ruins, distrição/distanciamento, perda de crina, hiperatividade, dentes, dores pós-traumáticas e alergias de pele.
7 – Coroa/lei da interconexão/lei da graça e sabedoria. Conectado com o espírito, redenção, depressão, retirada, desorientação, visão dos olhos, ataques de pânico, pining, separação, ansiedade e estresse.
8 – Braquial/lugar da união animal-humano. Relacionado a relutância em ser tocado, artrite, pele inflamada e resistência/recusa em se conectar.
9 – Instinto de sobrevivência/centros de energia extremamente sensíveis que captam vibrações sutis na terra. Relacionados à fuga quando o perigo está presente e à procura por áreas seguras para rolar e dormir.

Quando a energia vital (ki) está reduzida, em função de fadiga, estresse, disfunções, distúrbios, lesões ou doença, pode ser reposta pelo reiki, que consiste em um tratamento não invasivo, tanto preventivo quanto curativo, que melhora a vitalidade e a disposição física do equino e que pode ser aplicado na forma presencial ou à distância.

Existem diversos sistemas de reiki, de acordo com a sua origem, escopo e cultura. A escolha de um deles está relacionada com o objetivo da terapia, personalidade e clínica do paciente, situação e condições do meio.

Cada cavalo é uma individualidade com personalidade única. Para cada tipo de trabalho, situação e comportamento dos equinos, pode-se optar por um sistema de reiki que seja o mais indicado para o caso específico.

De acordo com pesquisas recentes, a terapia de reiki possibilita a recuperação, o reequilíbrio, a regeneração de células, tecidos e órgãos, a melhora das funções neurológicas, hormonais, imunológicas e circulatórias e a redução de estados álgicos e distúrbios sistêmicos.

Terapias integrativas, como o reiki, aplicadas em equinos reduzem tensões, efeitos de traumas físicos e/ou psicológicos, desvios de comportamento, estresse em pré e pós-procedimentos, desconfortos em casos de cólica e doenças crônicas.

Segundo a profissional Olivia Pimentel, a terapia de reiki pode aliviar estados de ansiedade e agitação em equinos nos períodos de pré-competições, proporcionar melhora em casos de afecções cutâneas e auxiliar em situações de transporte e de separação entre o potro e sua mãe.

Programa de bem-estar para o cavalo e seu cavaleiro

O trabalho descrito neste artigo teve início com a realização de um programa de bem-estar para o cavalo e seu cavaleiro, no Centro Hípico Granja Viana, em São Paulo, com o objetivo de reduzir tensões, estresse, fadiga e lesões, durante todo o período de treinamentos e competições. Com a repercussão dos resultados positivos na qualidade de vida dos equinos, foi possível ampliar os atendimentos para outras modalidades de trabalho equestre.

Assim, em janeiro e fevereiro de 2019, foram idealizados, respectivamente, o Alfa Horse – programa de terapias e pesquisas sobre a saúde integral dos equinos e o Programa Cavalo e Cavaleiro – programa equestre de bem-estar para atletas humanos e equinos em parceria.

Em alguns equinos, foi possível associar o reiki a outras terapias, como musicoterapia, terapia biofísica, aromaterapia, cromoterapia, fitoterapia e massagem.

Sobre o cavalo

De acordo com Maurice Hontang, em seu livro A Psicologia do Cavalo, os equinos possuem memória e capacidade para associar ideias. Refere Le Bon para citar que o cavalo possui senso de equidade.

Segundo pesquisas recentes, o cavalo é um ser senciente, ou seja, tem a capacidade de vivenciar sentimentos e sensações. Um estudo científico realizada no Reino Unido comprovou que emoções humanas negativas causam aceleração dos batimentos cardíacos nos equinos. Com base nessas informações, constata-se a necessidade de harmonizar o cavaleiro, para criar uma relação de confiança com o seu cavalo.

Reiki em cavaleiros e cavalos de competição
Aplicação de terapia de reiki em atletas humanos e equinos em parceria

O cavalo de competição

No mundo inteiro são realizadas, todos os anos, provas equestres de variadas modalidades e sob a direção de organizadores, federações, confederações e associações que trabalham com padrões e infraestrutura que corroboram para o bem-estar e saúde dos equinos. Entretanto, a preparação individual e a relação cavalo-cavaleiro necessitam estar em harmonia para melhor conexão do conjunto.

Quando o cavaleiro está ansioso e/ou estressado e já tem adrenalina circulante em seu corpo, pode exalar o odor do hormônio que, sendo perceptível ao equino, poderá ser interpretado pelo cavalo como um sinal para fugir de um perigo iminente. Nessas circunstâncias, o controle de ambos os atletas estará comprometido, o que facilitará a ocorrência de situações de risco ao bem-estar dos dois.

O treinamento dos cavalos requisita um conjunto de ações combinadas, como coordenação, força, resistência, equilíbrio e flexibilidade. Por isso, eles podem apresentar o dorso sensível e problemas musculares, nos tendões e ligamentos. Há variações de um cavalo para outro nos limites de dor e tolerância.

Além dos problemas citados acima, estudos apontam que pode haver aumento do cortisol plasmático em animais não adaptados aos exercícios ou que foram submetidos a grande esforço físico, representando um estado de estresse para o equino. A ansiedade também é outro fator estressante para o cavalo, que pode surgir de diversas situações, como sons desconhecidos ou fortes, lugares e objetos novos, manuseios, tipo de trabalho e cavaleiro, presença de outros animais e transporte, entre outros.

O Programa Cavalo e Cavaleiro foi criado em função desses cenários, com o objetivo de harmonizar o conjunto por meio da aplicação das mesmas terapias em ambos. Foi possível aferir resultados positivos de performance através do bom desempenho e premiações, além dos depoimentos de atletas e treinador, entre outros profissionais envolvidos com o cavalo e de entrevistas via questionário aplicado após as competições. Outro ponto de avaliação foi a constatação de que, em várias ocasiões, os cavalos apresentaram um bom estado físico e mental depois das disputas.

A avaliação foi realizada em conjunto com os profissionais envolvidos com o cavalo e veterinários, por meio da observação constante do comportamento do equino durante os cuidados, o trabalho e o descanso.

Benefícios da aplicação de reiki em cavalos 

Metodologia e processo

No período de agosto de 2018 a abril de 2021, foram atendidos 62 equinos: três mangas-largas marchadores (dois de competição e um de passeio), dois PSI (puros-sangues ingleses) da modalidade turfe, dois equinos de equoterapia e 56 equinos da modalidade de salto. No total, foram 997 atendimentos, sendo sete à distância e 990 presenciais.

Os equinos foram atendidos com frequência mensal nos casos preventivos, semanal nos casos de doenças, desvios de comportamento e inflamações agudas e crônicas e diária nos casos de doenças graves como cólica, afecção cardíaca, doença pulmonar obstrutiva crônica e pós-operatório de cirurgia do aparelho digestivo.

Os sistemas de reiki utilizados foram os seguintes: usui tibetano e kahuna (no início da pesquisa), cristal mestre usui (em situações de emergência ou de pouco tempo disponível, como nas provas equestres), khannasuka (em equinos com transtorno de comportamento), trisula sakti (em equinos com tendência à ansiedade antes das competições), xamânico (em todos os equinos, para promoção e manutenção da saúde integral), cristal xamânico (em situações de emergência e de pouco tempo disponível para a terapia, como transporte para provas, viagens, etc.), lightarian buddhic boost (em casos de personalidade difícil) e lightarian de nível 3 (em processos físicos agudos e complexos).

Todos os proprietários dos cavalos assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido para a participação dos equinos na pesquisa.

Foi realizada aferição de frequência cardíaca antes e depois da aplicação do reiki em situações de estresse acentuado e persistente.

Achados da pesquisa

Durante a aplicação do sistema xamânico, foi possível verificar, em seis equinos, a mudança na característica da sensação de energia que sai da mão da terapeuta de calor para vibração, nos casos de cavalos com histórico de alergias.

Em todas as situações que apontaram presença de estresse, foi possível observar que durante esse estado os machos apresentaram maior suscetibilidade à depressão enquanto que as fêmeas mostraram maior tendência a manifestações agressivas.

Foi possível correlacionar as sensações na mão da terapeuta durante a saída de energia com as seguintes clínicas dos pacientes: a) na aplicação de energia em quartela quando já havia histórico e sobrecarga por lesão do membro oposto, a sensação apresentou as seguintes alterações: pressão, pulsação e vibração, b) nos casos de lesões agudas em diversas áreas, foi possível aferir sensação de queimação na maior parte dos casos, c) nas situações de equinos com história de lentidão nas pistas, houve sensação de eletricidade e pressão na saída de energia aplicada na área cardíaca, d) nos equinos em processo de cólica foi possível verificar a necessidade de maior tempo de energização, com características acentuadas de pulsação, pressão, queimação e eletricidade juntas e e) nos casos de manutenção da saúde e prevenção de estresse e fadiga, foi verificada a sensação da energia em forma de calor nos respectivos centros de força.

Em todos os casos, verificou-se mudança gradativa do comportamento do animal para estados de relaxamento durante a aplicação da energia, incluindo bocejos, mastigação, cabeça abaixada, faces e membros relaxados, suspiros e cochilos.

Em situações de pacientes graves e terminais, foi possível constatar, pelo menos dois dias antes do óbito, a diminuição acentuada da saída de energia das mãos da terapeuta em direção ao equino, o que pode ser considerado como um estado de não necessidade da energia vital que mantém a vida.

Na presença de depressão persistente, foi necessário mudar o sistema de energia e incluir aromaterapia e musicoterapia como auxiliares no tratamento.

Nos casos de baixa energia no trabalho diário, com tendência persistente mesmo após a aplicação semanal de reiki, foi preciso incluir a terapia biofísica como auxiliar na manutenção da energia vital.

Foi possível observar que sinais de estresse apontados através dos centros de força por várias vezes no mesmo equino e correlacionados à clínica do paciente apresentaram duas formas evidentes de manifestação: 1) tendência ao comportamento agressivo em baia e/ou na pista e 2) sinais de depressão em baia, com baixa energia no trabalho em pista em algumas situações.

Nos casos de equinos que chegaram com história pregressa de maus cuidados gerando prejuízos à saúde, observou-se a necessidade de maior tempo de energização dos centros de força e regiões anexas, pelo período de até três horas no primeiro atendimento, com sensações nas mãos da terapeuta de queimação, pulsação e vibração em todos os centros de força.

Foi possível correlacionar, em todos os casos, a baixa energia das regiões em evidência com os achados clínicos veterinários, como local de lesões não aparentes, presença de cólica, ocorrência de afecções dentárias e problemas detectados em regiões específicas como boletos, tendões, espádua, dorso, lombo, coxa e garupa. Foram realizadas discussões de casos com a equipe de veterinários de cada local e compartilhadas informações pertinentes às áreas com maior necessidade de energia.

Resultados

Alguns pontos de avaliação da pesquisa foram aferidos por meio de questionários e perguntas frequentes direcionados à equipe de tratadores, treinadores, alunos e veterinários. Também foram realizadas averiguações como melhora de desvio de comportamento em baia e nas pistas, um dia após a aplicação da terapia de reiki. As verificações foram efetuadas por treinadores e tratadores que fazem o acompanhamento diário do equino.

Nos casos de estresse acentuado, verificou-se diminuição da frequência cardíaca após a aplicação do reiki.

Em pacientes portadores de ansiedade, principalmente durante as competições, foram observados os seguintes resultados: maior concentração, estabilidade no ritmo e redução dos eventos de aceleração no galope antes e depois dos saltos.

A pesquisa proporcionou a possibilidade de ampliação da comunicação entre os profissionais que atuam com o mesmo cavalo, o que facilitou o tratamento por concentrar o maior número possível de informações, incluindo aquelas relativas a fase do treinamento, manejo e condições de saúde – dados que corroboraram para a tomada de decisões e estabelecimento de metas na direção de proporcionar melhores condições e qualidade de vida para o equino.

Houve visível melhora nos cavalos com desvios de comportamento em baia e nas pistas, após dois atendimentos seguidos para casos leves e depois de um a dois meses de tratamento para casos mais severos, como por exemplo o de equinos com comportamento de medo excessivo seguido de sustos, agressividade em baia e depressão.

Equinos em fase de recuperação de inflamações e com relatos de baixa energia nos treinos também receberam avaliação positiva dos treinadores após a aplicação de reiki.

Nos casos de dor aguda sob assistência veterinária contínua, com administração de fluidos, analgesia e outros fármacos, também foi possível observar um rápido relaxamento logo no início da aplicação de energia.

Conforme relatos de atletas cavaleiros e amazonas, além dos treinadores, os equinos submetidos à terapia de reiki antes das competições apresentaram excelente rendimento nas pistas.

 Conclusões

O reiki mostrou ser uma terapia auxiliar efetiva nas áreas preventiva e curativa, ajudando na redução do tempo de recuperação de enfermidades, processos inflamatórios, estresse, quadros de ansiedade, dores e traumas, entre outros, indicando que os equinos podem obter uma melhora expressiva na qualidade de vida através da terapia integrativa. Apresentou também resultados positivos em relação à performance do cavalo em pistas de competição.

O estresse em equinos evidenciou-se na maioria dos estudos, tanto na área preventiva quanto curativa, o que demonstra que esse é um ponto em comum que influencia de várias formas a evolução de doenças, a recuperação pós-cirúrgica, a qualidade e o tempo de retorno ao trabalho após uma lesão, a adaptação ao treino, a novos espaços e ao manejo, o tempo de recuperação de traumas e inflamações e a resistência frente aos agentes estressores comuns na vida do cavalo atleta, como deslocamentos frequentes em diversos tipos de transporte, evolução dos treinos, fase de musculação e condicionamento físico, troca frequente de proprietários, mudança na qualidade do feno devido às alterações climáticas, novas adaptações aos vizinhos de baia nas instalações que têm comunicação entre si, competições variadas e programadas em sequência e eventuais acidentes dentro e fora das pistas, entre outros fatores.

Os achados clínicos da pesquisa trouxeram à luz vários pontos relacionados à aplicação do reiki e à repercussão que a terapia pode proporcionar na qualidade de vida do equino, bem como na comunicação entre profissionais envolvidos com os cavalos para melhorar o bem-estar desses animais. Dessa forma, pode-se concluir que esse trabalho de pesquisa proporcionou a abertura de um caminho para discussões, novos estudos e investigações acadêmicas, visando a explorar mais dados e ferramentas acerca dessa terapia bioenergética aplicada a equinos.

A pesquisa demonstrou que o reiki é uma terapia integrativa efetiva para prevenir o estresse em equinos, principalmente nos atletas, criando horizontes para um futuro promissor com foco na prevenção e nos processos terapêuticos não invasivos.


Rosana Santos Rocha – Bacharel em Musicoterapia, mestre em vários sistemas de Reiki, coach de bem-estar, terapeuta integrativa, escritora e pesquisadora em qualidade de vida de equinos.

 

Fontes

Farinelli, F. Recursos fisioterápicos em Medicina Equina, BH, 2010.

Pimentel, O. Revista Contra Barreira, 2015.

Manual de boas práticas para o bem-estar animal em competições equestres. Brasília, 2015.

Meleiro, M. C. Z. A influência do estresse experimentado por cavalos de corrida, em determinados momentos de sua rotina, sobre a função imune in vitro. Faculdade de Veterinária e Zootecnia.

Jorge, J. L. Conversando sobre Cavalos. Editora Rígel. Porto Alegre, 2008.

Hontang, M. A Psicologia do Cavalo – 1. Inteligência e Aptidões. Coleção do Agricultor. Editora Globo.