A Unidade de Referência em Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (URPICS) da Secretária Municipal de Saúde de Cuiabá, em Mato Grosso, foi criada em abril de 2014. E, em 17 de setembro de 2018, foi aprovada a Lei Municipal nº 6.296, que institui a Política Municipal de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PMPICS), no SUS da cidade.
Assim, a URPICS, que inicialmente destinava-se a atender os próprios servidores públicos, em especial os profissionais da área de saúde, passou, com o tempo, a englobar também o atendimento de pacientes encaminhados pela rede pública de saúde do município, formando um histórico de excelência na aplicação de práticas integrativas e complementares.
“Atualmente, a URPICS oferece as práticas de reiki, auriculoterapia, cromoterapia, florais de Bach, florais de Minas, terapia comunitária integrativa, chi kung e plantas medicinais, além do atendimento de nutrição funcional”, esclarece Jucelma Bomdespacho Silva e Cruz, responsável técnica pela URPICS. “Mensalmente, realizamos em média 700 atendimentos a usuários dos mais variados perfis. Os casos mais comuns tratados na unidade são os de ansiedade, depressão, insônia e patologias musculoesqueléticas”.
Formação de orientadores em chi kung
Para complementar o rol de atendimentos integrativos já ofertados pelo SUS em Cuiabá e em cumprimento de diretrizes estabelecidas pela PMPICS, foi realizado, em outubro de 2019, o Curso de Capacitação nas Técnicas de Chi Kung – Série Fundamental para Energia e Saúde, direcionado a servidores públicos da área de saúde do município.
“A escolha dessa prática para a realização do curso levou em consideração o fato de ser uma atividade já executada há vários séculos pelos chineses, trazendo excelentes resultados terapêuticos para os usuários, tanto nos aspectos físicos como mentais e emocionais, além de ser de fácil implantação nas unidades básicas de saúde”, afirma Jucelma.
Participaram do treinamento 31 profissionais da área pública municipal de saúde, incluindo médicos, enfermeiros, auxiliares, assistentes sociais, psicólogos e professores. O objetivo foi capacitar esses servidores para disseminar e incluir as práticas de chi kung em diversos setores, como postos de atendimento, postos de pronto-atendimento, consultórios e, inclusive, nos vários departamentos da própria rede de saúde, beneficiando outros servidores de diversas funções.
“Esse curso foi um marco na propagação da arte do chi kung na esfera do serviço público de saúde, com responsabilidade, programa definido e carga horária significativa”, observa Angela Soci, diretora da Sociedade Brasileira de Tai Chi Chuan (SBTCC) e responsável por organizar e ministrar a formação, com o auxílio de Adriano Carneiro, diretor do núcleo de Cuiabá da SBTCC. “Foram 40 horas de aulas, entre teoria e prática, com adesão total dos servidores de alto nível selecionados para participar”, acrescenta Angela. “As avaliações efetuadas no decorrer do curso demonstraram que esses profissionais têm uma elevada motivação para o aprendizado, valorizando o investimento realizado pela secretária de saúde”.
Meditação em movimento
O chi kung é uma prática que busca integrar o ser humano em nível físico, emocional e mental, sendo considerado um sistema de “meditação em movimento” e indicado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como um dos conteúdos que compõem a medicina tradicional chinesa.
“Ele consiste num conjunto de exercícios corporais realizados de forma cadenciada e que podem ser adaptados a diferentes populações: pessoas saudáveis, sedentários, cadeirantes, etc. Todos podem usufruir dos benefícios trazidos por essa prática, que incluem, dentre outros, o fortalecimento geral do corpo, a tranquilização da mente e o controle das emoções”, explica Angela Soci.
Melhorando a saúde dos profissionais de saúde
Os próprios profissionais participantes do curso foram os primeiros beneficiados com o projeto.
“A tradução de chi kung já diz tudo: trabalho metódico, repetitivo e com dedicação, para desenvolver a energia do corpo. E a experiência de participar desse treinamento intensivo realmente me demonstrou isso”, relata a Dra. Lídia Ono Ide, médica clínica geral do Centro de Saúde Jardim Imperial, em Cuiabá. “Pela realização dos exercícios de chi kung senti que “bloqueios” foram desfeitos, com melhora na respiração, nos movimentos do corpo e no funcionamento dos órgãos internos e fortalecimento e alongamento dos músculos das pernas, braços, coluna e abdome. Além dos benefícios físicos, percebi melhora na concentração, diminuição da ansiedade, aumento da energia e disposição e maior consciência corporal”, ela acrescenta.
Após a conclusão do curso e de ter tido a oportunidade de experimentar os resultados trazidos pelo chi kung em suas vidas pessoais, os participantes tornaram-se capacitados a atuar como orientadores, dando início ao trabalho de divulgação e inserção dessa prática em diversos setores da rede pública de saúde de Cuiabá.
Uma das frentes de atuação é junto a outros servidores municipais. A Dra. Lídia, por exemplo, formou um grupo de chi kung, em janeiro deste ano, com os funcionários e agentes de saúde do centro médico em que atua. “A maioria deles apresentava queixas de cansaço físico e mental, ansiedade, preocupação, angústia, problemas de memória, dificuldade de concentração e dores no corpo. Após algumas semanas de prática, muitos já relataram melhora no ânimo, disposição, concentração, postura e ritmo intestinal, maior flexibilidade do corpo, diminuição de dores, perda de peso e fortalecimento dos músculos” ela diz.
Outro grupo de prática de chi kung foi formado, também no início deste ano, com a participação dos servidores do Centro de Saúde São Gonçalo, sob a orientação de Jovelina Tizot, enfermeira. “Temos observado a melhora dos participantes, tanto nos aspectos físicos como emocionais, não só visualmente, mas através dos relatos de que estão se sentindo com maior tranquilidade, disposição e energia”, ressalta Jovelina.
Atendimento aos pacientes do SUS
Outra abordagem dos orientadores capacitados durante o curso é a aplicação do chi kung no atendimento aos pacientes do SUS. Segundo a responsável técnica Jucelma, atualmente o chi kung é ofertado pela URPICS e mais 12 unidades básicas de saúde no município de Cuiabá.
“O projeto da Prefeitura Municipal de Cuiabá de implantar as práticas integrativas e complementares na atenção básica à saúde do município tem facilitado o acesso a essas práticas pelos usuários do SUS, proporcionando prevenção e promoção da saúde. Nessa perspectiva, a formação em chi kung veio contribuir para a melhoria na qualidade de vida dos usuários”, afirma Jovelina.
Esses benefícios trazidos para os pacientes da rede pública de saúde têm sido observados de perto por Silvio Veloso, terapeuta da URPICS. “A introdução do chi kung como uma das práticas ofertadas pelo SUS tem contado com a adesão e despertado o interesse dos usuários, principalmente quando visualizam os movimentos”, ele garante. “Apesar de parecerem simples, esses movimentos são bem complexos em um primeiro momento, já que requerem que o praticante tenha conhecimento e/ou reconhecimento do seu corpo e suas limitações. Os exercícios exigem muita concentração, pois têm que ser feitos de forma correta para evitar lesões. Mas se houver vontade real de desenvolver a prática qualquer um pode fazer”.
Silvio destaca que os pacientes que estão realizando os movimentos de chi kung verbalizam estar surpreendidos com a rapidez com que eles se refletem sobre o corpo, auxiliando o caminhar, postura, respiração, equilíbrio, concentração e aumento da capacidade de autocontrole. “Os exercícios de respiração, que fazem parte da prática de chi kung, auxiliam principalmente pacientes com ansiedade e ataque de pânico, possibilitando uma ferramenta a mais para que eles tentem se acalmar e relaxar diante das inevitáveis adversidades do cotidiano”.
Jurema Luzia Cannataro – Jornalista com especialização na produção de conteúdo sobre bem-estar e saúde, responsável pela edição da Revista Medicina Integrativa e diretora da Scribba Comunicações.