Impeditivos no desenvolvimento emocional por bloqueios gerados na infância

Muitos pais, após verificar em seus filhos já adultos comportamentos e atitudes considerados inadequados diante das situações de vida, chegam a se perguntar o porquê de tais condutas e reações.

Importa esclarecer que esses comportamentos podem estar ligados ao desenvolvimento emocional ocorrido durante a infância, sendo reflexos ou resultados da vivência de condições adversas nessa fase. Ou seja, acontecimentos hostis que aconteceram no período da infância podem direcionar as atitudes e escolhas do indivíduo adulto, porque apesar da pouca idade nos primeiros anos de vida a atividade cerebral e o desenvolvimento emocional são intensos e grande parte do que é vivenciado pode servir como um modelo que permanece ao longo da vida adulta ou como algo que mais tarde ganhará conotações subjetivas desfavoráveis e impeditivas do pleno crescimento emocional do adulto.

O psicanalista Sigmund Freud (1856 – 1939) elaborou extensa teoria sobre as consequências do encontro de uma criança com situações adversas ou que têm potencial para provocar traumas. Isso foi feito principalmente a partir dos relatos de seus pacientes adultos durante as análises. Freud encontrou respostas para os sintomas e comportamentos de seus pacientes nas lembranças, fantasias e acontecimentos do período da infância e entendeu que mais tarde, na vida adulta, o indivíduo depara-se com fragmentos de cenas vivenciadas quando criança e, em um trabalho de reconstrução, atribui-lhes significados, sendo que nessa fase os efeitos das vivências do infante serão percebidos.

Uma situação é potencialmente traumática quando capaz de gerar circunstâncias impactantes no indivíduo, provocando medo, pesar e perdas importantes e, por esse motivo, desencadeando e exigindo rearranjos no significado. Exemplos disso são a agressão física e psicológica, abusos, abandono, negligência, acidentes com consequências graves e perda inesperada de alguém importante, entre outros.

No entanto, nem todo evento gerador de trauma é tão evidente e acontecimentos aparentemente simples e tranquilos para uma pessoa podem ser adversos para outro indivíduo, pois cada sujeito é único na formação de sua subjetividade, que dependerá do ambiente em que vive, do estilo parental e das condições e contexto socioculturais, dentre outros fatores.

Dessa forma o atributo de situação traumática depende também do sujeito que a vivencia para que se torne um impeditivo ao desenvolvimento emocional do indivíduo.

Assim, a exposição a situações adversas na infância é fator de risco para o surgimento de problemas psicológicos ou bloqueios no futuro, podendo explicar por exemplo o desenvolvimento de transtornos de ansiedade e de personalidade.

Circunstâncias traumáticas impõem ao sujeito um trabalho psíquico intenso, exigindo recursos internos capazes de reorganizar as emoções de forma a suportar o impacto, ao mesmo tempo em que ele mantém o equilíbrio para o mundo externo. Ou seja, o indivíduo necessita desenvolver uma adaptação emergencial para manter o equilíbrio imprescindível à sobrevivência, sendo que o trauma psíquico é a dificuldade do sujeito em elaborar a vivência estressora que lhe ameaçou a integridade física e psíquica.

Nova medicina germânica e os efeitos físicos dos traumas emocionais

A partir de 1890, pesquisadores que se voltaram para o estudo sobre as modificações psicológicas e cerebrais que ocorrem ao longo da vida dos indivíduos compreenderam que, quando exposto a evento traumático, o indivíduo pode guardar com grande intensidade memórias cognitivas e motoras do momento. E como a intensidade emocional associada é muito forte, as memórias são muito vívidas, porque nesse instante são acionadas estruturas corticais e subcorticais.

Assim, quando ocorrem estímulos sensoriais semelhantes aos do momento do trauma, as memórias são pareadas e é como se a situação estivesse se repetindo.

Diante disso, podem ser criadas associações e generalizações incoerentes, com falsas memórias sobre o evento, e o indivíduo pode reviver o trauma, o que lhe causa bloqueios.

Dessa forma, as teorizações psicanalíticas sustentam que a vivência de situações traumáticas pode gerar importantes sequelas ou bloqueios no desenvolvimento emocional, podendo marcar profundamente o indivíduo por toda a vida.

Portanto, crianças e adolescentes vitimizados poderão apresentar obstáculos para investir em si mesmos e nos relacionamentos, provocando dificuldades de adaptação em vários âmbitos da vida, como o familiar, pessoal, escolar e laboral, entre outros.

Após algumas décadas, verificou-se que tais eventos podem também causar respostas físicas, como por exemplo hipertrofia da glândula adrenal, ulceração gastrointestinal, involução timicolinfática (mais tarde chamada de estresse), etc., sendo que quando a situação de revivência se estabelece está instalado o transtorno de estresse pós-traumático (TEPT).

A partir da década de 80, mediante estudos feitos junto a seus pacientes, o oncologista Ryke Geerd  Hamer (1935 – 2017) chegou à conclusão de que as respostas orgânicas ao trauma podem vir também através de patologias físicas graves como o câncer, o que lhe possibilitou criar a nova medicina germânica e suas cinco leis.

Também com base em estudos neurobiológicos do TEPT, pesquisadores concluíram que diante da revivência o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal é ativado, ocorrendo liberação de hormônios como o cortisol. Por esse motivo, podem acontecer transtornos de ansiedade, depressão e alterações no apetite, entre outros.

Além disso, pela ativação do sistema nervoso simpático (SNS), a produção de hormônios como adrenalina e noradrenalina também é aumentada, o que pode provocar insônia, sensação de mal-estar constante, cansaço, transpiração ou estado de alerta constante, como se fosse um mecanismo de defesa do organismo.

Dentro dessas adversidades, é comum que ocorram sentimento de culpa e de desamparo, dissociação e outras desregulações emocionais, tornando o indivíduo ainda mais suscetível ao desenvolvimento de transtornos psíquicos e abuso no uso de substâncias psicoativas.

Portanto, as consequências podem ser em nível emocional, cognitivo, fisiológico, comportamental e psicológico, sendo que o quadro pode tornar-se grave demandando tratamento especializado.

Decodificação biológica de traumas

A psicanálise esclarece ser fundamental que vítimas de traumas elaborem suas vivências traumáticas, a fim de desfazer bloqueios e retomar o desenvolvimento emocional, nesse caso demandando o auxílio psicológico, para que através da escuta e opinião profissional seja verificado quando se deu a situação traumática e seus detalhes possam ser compreendidos e esclarecidos, para que então haja gerenciamento e ressignificação do trauma.

Para além desse recurso, é possível também acelerar o necessário processo de elaboração através da decodificação biológica de traumas (DBT) (leia artigos anteriores sobre o tema), por meio da qual, além de auxiliar na situação psicológica, é possível concomitantemente tratar o organismo via sistema nervoso central (SNC), para alterar e melhorar as respostas físicas ao trauma, minorando a desregulação emocional.

Mediante a decodificação biológica de traumas (DBT), que se utiliza dos preceitos da nova medicina germânica e da medicina tradicional chinesa (acupuntura), é possível acessar todo o organismo, incluindo o sistema nervoso central, através do microssistema do pé e pontos dos meridianos de acupuntura aí localizados e com esse acesso tratar, por meio da micropuntura (pressão e estímulo), os sinais e sintomas do trauma e suas causas. Isso porque todo o corpo está refletido nos pés, onde são encontradas regiões representativas de órgãos, glândulas e áreas corporais, são que as chamadas zonas reflexas.

Por meio de uma anamnese minuciosa (sobre temas que remontam à infância) e de inspeção do microssistema do pé com base na milenar medicina tradicional chinesa (MTC), chega-se a detalhes importantes acerca da vivência traumática e áreas corporais implicadas que devem receber estímulos, para auxiliar na melhora gradativa do quadro de bloqueios ao pleno desenvolvimento emocional.

Dessa forma, utilizando-se do conhecimento em psicologia associado à terapêutica de decodificação biológica de traumas (DBT), é possível gerir o trauma de forma mais rápida e efetiva, viabilizando que o indivíduo traumatizado possa recuperar seu bem-estar por meio da retomada de seu desenvolvimento emocional.


Profa. Dra. Janine Soares Camilo – Master em Microsemiótica Irídea, bacharel em Cosmetologia e Estética pela Unitri – Universidade Integrada do Triângulo e pós-graduada em Acupuntura pelo IPGU – Instituto de Pós-Graduação de Uberlândia e em Homeopatia pela Faculdade Inspirar.

 

Referências bibliográficas

ALBORNOZ, Ana Celina Garcia; NUNES, Maria Lúcia Tiellet. A dor e a constituição psíquica. Psico-USF, v. 9, p. 211-218, 2004. Disponível em https://www.scielo.br/j/pusf/a/YBJ3h5LWRMFFBvqRPKYq6SR/?format=pdf&lang=pt. Acesso em 24 de julho de 2023.

REBESCHINI, Carol. Trauma na infância e transtornos da personalidade na vida adulta: relações e diagnósticos. Saúde e Desenvolvimento Humano, v. 5, n. 2, p. 67-74, 2017. Disponpivel em https://core.ac.uk/download/pdf/229394325.pdf. Acesso em 22 de julho de 2023.

SANTOS, Maria José Etelvina dos. Racionalidade Médica: A Nova Medicina Germânica na Prevenção e Cura das Doenças. REVISE – Revista Integrativa em Inovações Tecnológicas nas Ciências da Saúde, v. 1, n. 01-01, 2010. Disponível em https://www3.ufrb.edu.br/seer/index.php/revise/article/view/1525/874. Acesso em 23 de julho de 2023.

ZAVARONI, Dione de Medeiros Lula; VIANA, Terezinha Camargo. Trauma e infância: considerações sobre a vivência de situações potencialmente traumáticas.  Psicologia: Teoria e Pesquisa, v. 31, p. 331-338, 2015. Disponível em https://www.scielo.br/j/ptp/a/ZSxxb85nzh4spnyZbQsGY7D/?format=pdf&lang=pt. Acesso em 22 de julho de 2023.