Medicina clínico-cirúrgica: como o próprio nome já diz, é uma medicina voltada para os macro e microrganismos. Estuda a anatomia do corpo humano e a fisiologia de cada um de seus vários órgãos e sistemas (cardíaco, nervoso, muscular, ósseo, sanguíneo, pulmonar, dermatológico, urinário, venoso, arterial, visual, olfativo, gustativo, auditivo, hormonal, genital feminino e masculino e correlatos), levando em consideração seu funcionamento, inter-relacionamento, compatibilidade e genética.
É uma medicina em que se medica, depois de uma anamnese sucinta baseada em sinais (aquilo que o médico vê, percebe ou mede: pressão, temperatura, batimentos cardíacos e aspectos da fácies, da deambulação, das vestimentas, do estado de higiene, etc.) e sintomas (aquilo de que o paciente se queixa e que tem relação com seu estado geral, higidez, presença de dor, movimentação, aspecto emocional e outros, ou seja, aquilo que o levou à presença do médico).
Nesse tipo de medicina, há toda uma técnica de exame físico para detectar possíveis alterações, que são denominadas doenças, como palpação de órgãos e ausculta pulmonar, cardíaca e outras (circulação, estado de gravidez e batimentos fetais), assim como a realização dos mais diversos exames laboratoriais (de sangue, eletrocardiograma, eletroencefalograma, ressonância magnética, tomografia, variadas formas de punções, diversos tipos de biopsias, exames com contrastes e outros).
Há também o desenvolvimento de técnicas de transplante entre pessoas compatíveis, com a retirada de órgãos lesados gravemente e que não se recuperam com tratamentos comuns.
Quanto à medicação, parte-se do princípio de que se deve combater as infecções com medicações à base de antibióticos, para matar as bactérias que infestam o órgão ou o corpo e, com isso, favorecer que o organismo se recupere produzindo anticorpos próprios para cada enfermidade.
Também se usa e abusa de corticoides (anti-inflamatórios), que o organismo produz de forma natural, mas que nesse caso são aplicados em alta dosagem, favorecendo a diminuição da inflamação e permitindo que o sistema de defesa próprio não entre em colapso.
O princípio da alopatia é combater o inimigo. Ou seja, a doença é vista como um inimigo que se instalou no organismo, algo não natural, vindo do exterior ou desenvolvido no interior do corpo em razão de distúrbios variados.
Medicina psiquiátrica
A medicina psiquiátrica é um ramo da medicina neuropsíquica, que leva em consideração os conhecimentos neurológicos, neurofisiológicos, hormonais e psicoemocionais da relação do indivíduo com o ambiente.
A psiquiatria também se baseia em sintomas e sinais, verificados durante a coleta de informações a que chamamos anamnese. Mas, em psiquiatria, o ideal é que a anamnese seja a mais abrangente possível, abordando aspectos biopsicossociais e incluindo ainda as fases do desenvolvimento psicossexual do ser humano.
Essa anamnese de longa duração, pode ser efetuada em uma consulta única de 50 minutos ou em várias consultas de 50 minutos cada.
É certo que na medicina psiquiátrica também é possível realizar a anamnese de forma sucinta (tendo em vista somente sinais e sintomas) e num curto período de tempo (de 10 a 20 minutos). Porém, dessa forma corre-se o risco de não conseguir detectar os fatores emocionais e os conflitos psíquicos envolvidos nas queixas do indivíduo, o que pode levar à necessidade de um maior ajuste de medicação, ao erro medicamentoso, à supermedicalização e ao abandono de consulta por parte do paciente.
A anamnese sucinta serve para se ter uma ideia do que ocorre com a pessoa em termos neuropsiquiátricos e para se estabelecer uma hipótese diagnóstica (CID-10) e uma terapêutica medicamentosa (antidepressivos, ansiolíticos, antipsicóticos, reguladores de humor, hipnóticos, anticonvulsivantes e anticolinérgicos).
Já a anamnese completa (psiquiátrica, neurofisiológica, psicossexual e psicossocial) inicia-se com a coleta de informações sobre os antepassados (bisavós e avós, seu país de origem, costumes e religião), passa pelos pais (relacionando estado civil, datas comemorativas, etc.) e depois pelos irmãos (quantos são, que lugar ocupam na sequência de nascimentos, data de nascimento de cada um, ocorrência de abortos e de natimortos, falecimentos e outros aspectos).
Passa-se, então, para a coleta de dados relativos à gestação do paciente, com levantamento de fatores relativos a afecções orgânicas e psíquicas dele próprio e de membros da família (condições de saúde, situação de dependência medicamentosa e/ou outra entre os familiares).
As próximas etapas envolvem as fases de desenvolvimento, começando pela primeira infância (de zero a sete anos), com informações sobre a amamentação, aprendizado da higiene, descoberta da sexualidade, etc.
A seguir, observa-se a adolescência do paciente, com seus conflitos, e sequencialmente sua juventude e desenvolvimento como um adulto jovem e depois adulto.
Ao abordar cada uma dessas etapas, é importante perguntar ainda sobre escolaridade, doenças próprias daquela idade ou que se desenvolveram naquele período, menstruação, espermatogênese, realização de cirurgias, profissões desempenhadas, etc.).
E, por último, levantar dados sobre a vida atual, como estado civil e filhos.
Com essa anamnese mais completa, há a chance de o paciente entrar em contato com as emoções e diminuir o sofrimento em relação àqueles conflitos que por acaso ficaram aprisionados na memória passada e não puderam ser atualizados, causando assim doenças físicas, psíquicas e psicossomáticas.
Uma anamnese que dá ao indivíduo a oportunidade de contar sua história e expressar suas emoções e afetos facilita também a medicação, com uma sensível diminuição no uso e na dosagem dos medicamentos, sem o risco de uma prescrição que vá além do necessário.
Permite também saber se a pessoa necessita de algum tipo de abordagem em psicoterapia.
Medicina homeopática
A medicina homeopática é uma medicina que visa a restabelecer a homeostase da forma mais natural possível, respeitando a sabedoria e a capacidade do corpo de restaurar sua saúde.
Começa com uma anamnese supercompleta, semelhante à anamnese psiquiátrica completa descrita acima, em que devem ser levadas em consideração as relações familiares, sociais e afetivas.
Ao contrário do que acontece na alopatia, na medicina homeopática a medicação não tem o intuito de atacar a doença. Com base no conceito de que “semelhante combate semelhante”, quando aplicado em doses infinitesimais, estabelece-se uma aliança entre a ação do medicamento e o fortalecimento do sistema de defesa do organismo.
A homeopatia tem como princípio a afirmação de que tudo na natureza está interligado e que há uma energia sutil nos elementos, que contribui para a homeostase.
Em geral, a maioria das medicações utilizadas em homeopatia é manipulada em laboratório, na forma de pílulas ou líquidos. São tomadas diariamente, o que favorece o surgimento por parte do paciente de uma relação afetiva que contribui para a cura ou fortalecimento do corpo.
O papel fundamental da anamnese
Tanto na medicina clínico-cirúrgica quanto na psiquiatria e na homeopatia, o ponto fundamental deveria ser o relacionamento entre o médico e o paciente, como principal instrumento para se alcançar a saúde, bem-estar e qualidade de vida.
Mas isso acaba não ocorrendo quando a medicina torna-se mecanizada e entregue a exames subsidiários e quando a crença em relação à manutenção ou restabelecendo da saúde restringe-se somente à medicação.
Em vista disso, as escolas de medicina deveriam acentuar o papel da anamnese em quaisquer dessas modalidades de atendimento médico, tendo em vista O PACIENTE e não o número de pacientes atendidos (produção).
Dr. José Rubens Naime – Médico com especialização em Psiquiatria, pela Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), em Psicanálise, pelo Instituto Sedes Sapientae, em Psicologia Analítica, pela Universidade São Francisco e em Psiquiatria e Dependência Química, pela Universidade de Santo Amaro. É professor na UNIFEV, em Votuporanga e supervisor na Unicastelo, em Fernandópolis.