Meditação e sociedade: como se dá essa conexão?

Política, religião, educação, relações corporativas e de trabalho. O que tudo isso tem em comum com a meditação?

Felizmente já há alguns anos a meditação vem sendo mais divulgada no Ocidente. Mas será que estamos usufruindo da melhor forma todo esse aprendizado?

Meditar é só relaxar? É só ficar parado, sentado, ouvindo mantras em postura de yoga e respirando direitinho por alguns minutos?

Seria minimalista demais esse entendimento sobre a prática meditativa.

Sim. Tudo começa dessa forma no aprendizado da meditação. Afinal, inicialmente é uma técnica, que pode com o tempo e dedicação passar a ser um modo de vida transformador.

Explicando melhor: para começar, quem nunca meditou precisa aprender a parar, auto-observar-se e reencontrar-se na própria respiração. Dessa atitude virão sentimentos, emoções, percepções corporais e sensoriais e até mesmo insights, que nada mais são do que respostas que estavam travadas dentro da pessoa sem que pudessem vir à luz do entendimento, devido ao acúmulo de ansiedade e dispersão de si mesma. Ausência de atenção plena interior.

Do individual para o social

Descrita a técnica, vamos à evolução desse aprendizado tão determinante para quem realmente busca uma transformação interior, a princípio individual.

Digo a princípio individual, porque evidentemente vivemos em comunidade e interagimos cada vez mais nos mais diversos âmbitos, tanto de forma pessoal quanto virtual ou mais comumente em ambas.

Seja onde for que aconteça, sua maior performance interativa será com humanos como você e o desenvolvimento empático será no mínimo revisto se você, claro, acreditar numa sociedade mais justa, coesa e pacífica.

Sendo a meditação um elemento transformador de comportamento e percepções, o praticante assíduo só não revê seus conceitos, preconceitos e condutas se não quiser. Aí entra a autorresponsabilidade – ponto fundamental na conduta de minhas aulas práticas.

Tanto no silêncio da meditação passiva quanto nas catarses da ativa, o contato com o que se tem de mais profundo e esquecido virá à superfície.

A partir daí, a transformação comportamental acontece e quem estiver no seu meio de convivência perceberá.

Chegamos, então, a maior possibilidade de transformação social!

Por quê? Como? “Uma andorinha só não faz verão”. Será mesmo?

A “andorinha” não está isolada. É parte do todo.Meditação e sociedade

O indivíduo com a potência do autoconhecimento decorrente da meditação certamente irá impactar o todo. Os propósitos tomam maior importância. O conformismo, a indiferença e a frieza emocional não interessam mais! A pessoa estará mais saudável emocionalmente.

E, então, depois de olharmos para nós, percebemos o outro com maior clareza.

Mas onde entra a política, a religião, o trabalho, a escola?

Meditação, autorresponsabilidade e consciência social

As relações sociais se dão nas organizações sociais. São inúmeras as possibilidades presentes dentro dessas organizações, certo?

Decerto que sim. Teoricamente estão aí para melhorar nossas vidas, mas sabemos que nem sempre isso funciona assim.

Encontramos nesses meios muitos exemplos de corrupção, manipulação, ameaças, invasão de privacidade, retaliação, difamação e abusos emocionais diversos.

Há pontos positivos evidentemente. Isso também faz parte de uma necessidade organizacional.

Mas o questionamento sobre o papel dessas organizações é feito por indivíduos.

Como está minha “postura” para além da postura de lótus?

O que eu levo para depois da aula de meditação como um aprendizado que irá mudar o ambiente onde convivo? Por que já não reajo mais como antes? Já não aceito abusos comigo ou com outras pessoas? Sou mais empático. Não respondo posts das redes sociais sem analisar no que acredito e sinto verdadeiramente como ser humano. Não copio e colo.

Os processos de condicionamento geralmente presentes nos “comandos sociais”, como política e religião, trazem uma tendência obscura e prática em nos tratar como “serial”, como seres padronizados, iguais, sem possibilidade de discordar do que querem que sejamos. Um “admirável gado novo”, como diz a música.

A mudança é responsabilidade de cada um. Um ser humano adulto não tem o poder de mudar o comportamento de outro igualmente adulto, mas tem como escolher e alterar seu próprio comportamento. Ressignificar sua vida e acreditar que pode fazer sua melhor parte.

Cada um fazendo sua parte, com a consciência que vem através da meditação, já está no processo transformador de uma vida melhor, de um mundo melhor.


Valéria Nunes de Oliveira – Pós-graduada em docência e prática da meditação pela USCS – Universidade Municipal de São Caetano do Sul. Formação em Fundamentos em Cuidados Integrativos: Introdução à Saúde Integral, pelo Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Sírio-Libanês. Autora da monografia Meditação e Credibilidade: estudos científicos.