Terapia de reprocessamento generativo: abordagem terapêutica alternativa e transformadora no tratamento de problemas da mente

A busca por novas terapias alternativas para tratar problemas da mente e psicológicos tem se mostrado crescente na área de saúde mental. Apesar dos avanços significativos ocorridos na psicologia e nas terapias convencionais, ainda existem desafios e limitações no tratamento de certas condições psicológicas. Nesse contexto, o desenvolvimento de abordagens terapêuticas alternativas surge como uma ferramenta promissora e complementar para suprir essas lacunas.

Além disso, algumas condições psicológicas podem apresentar respostas limitadas frente aos tratamentos convencionais disponíveis atualmente. A depressão resistente ao tratamento, os transtornos de ansiedade crônicos e o transtorno de estresse pós-traumático são exemplos de condições em que novas abordagens terapêuticas podem oferecer esperança e melhorias significativas.

Nesse contexto, nasceu a terapia de reprocessamento generativo (TRG), que pode trazer diferentes perspectivas teóricas e práticas, bem como  protocolos inovadores que já se mostram eficazes em casos nos quais as abordagens convencionais não obtiveram sucesso.

Um aspecto importante observado no tratamento com a TRG é o desejo crescente dos indivíduos em participar ativamente de seu processo terapêutico. Muitas pessoas buscam essa terapia porque ela é mais centrada no ser humano, participativa e empoderadora. É de se destacar que ela valoriza a colaboração entre terapeuta e cliente, promovendo a autonomia, a resiliência e a autenticidade do indivíduo.

Essa abordagem mais ativa no processo de cura pode ser altamente benéfica para muitas pessoas, especialmente para aquelas que procuram uma alternativa terapêutica mais integrativa. Enquanto as terapias convencionais frequentemente se concentram no tratamento dos sintomas, a TRG busca compreender e abordar as raízes profundas dos problemas psicológicos.

Este artigo discute a importância da TRG como uma ferramenta promissora e alternativa, destacando sua abordagem centrada na causa e explorando seu potencial terapêutico.

Terapia de reprocessamento generativo: como é feito o tratamento

O tratamento de problemas mentais tem sido tradicionalmente baseado em terapias convencionais, que se concentram no alívio dos sintomas e na adaptação funcional do indivíduo. No entanto, essa abordagem pode não abranger diretamente as causas subjacentes dos problemas psicológicos.

A terapia de reprocessamento generativo (TRG) surgiu como uma abordagem alternativa que busca investigar e tratar a causa-raiz desses problemas, visando a uma transformação profunda e duradoura.

Nessa terapia, que se propõe a transformar vidas e que é aplicada em cerca de 500.000 a 800.000 sessões por mês no mundo todo, adota-se um enfoque holístico, considerando a interação complexa entre fatores biológicos, psicológicos e ambientais na manifestação dos problemas que o indivíduo apresenta.

Ao contrário das terapias convencionais, que muitas vezes se concentram nos sintomas apresentados, a TRG direciona sua atenção para as experiências passadas e os eventos traumáticos que podem estar na origem dos sintomas atuais. Essa perspectiva permite a identificação e o reprocessamento de memórias e emoções traumáticas que moldam a percepção e o funcionamento psicológico do indivíduo.

Na terapia de reprocessamento generativo, utilizam-se técnicas específicas, como a visualização do passado e a integração de recursos internos, para facilitar o reprocessamento das experiências passadas e promover a transformação pessoal.

Ao abordar a causa dos problemas mentais, a TRG busca reestruturar as crenças limitantes, promover a resiliência e a autorregulação emocional e estimular o desenvolvimento de um senso de identidade e propósito mais saudável.

Ao investigar as origens dos sintomas, a TRG oferece uma oportunidade de cura mais profunda e duradoura, possibilitando que os indivíduos superem suas dificuldades emocionais e melhorem sua qualidade de vida de forma abrangente.

Embora ainda haja a necessidade de pesquisas científicas mais robustas para validar empiricamente os efeitos e a eficácia da terapia de reprocessamento generativo, os relatos de casos positivos e a crescente popularidade dessa abordagem terapêutica demonstram seu potencial terapêutico.

A terapia de reprocessamento generativo e o inconsciente

A terapia de reprocessamento generativo visa a investigar e tratar as causas profundas dos problemas mentais, levando em consideração as interações complexas existentes entre a mente consciente e o inconsciente. Nesse contexto, o modelo do cérebro triúno de McLean oferece uma estrutura teórica útil para entender as diferentes camadas cerebrais e suas implicações na percepção, emoção e comportamento.

O modelo do cérebro triúno proposto pelo neurocientista Paul MacLean, em 1970, descreve a organização e a evolução do cérebro em três camadas distintas: o cérebro reptiliano, o sistema límbico e o neocórtex.

Essas camadas representariam diferentes estágios de desenvolvimento evolutivo e estariam associadas a funções específicas. O cérebro reptiliano está relacionado à sobrevivência básica e ao instinto. O sistema límbico está envolvido nas emoções e nas relações sociais. Já o neocórtex é responsável pelo pensamento abstrato e pelo processamento cognitivo complexo.

A terapia de reprocessamento generativo reconhece a interconexão entre essas camadas do cérebro e como elas influenciam a experiência humana. Ao explorar o inconsciente, a TRG busca identificar registros emocionais, memórias traumáticas ou bloqueios emocionais que podem estar enraizados nas camadas mais antigas do cérebro. A hipótese explicativa resultante da teoria do cérebro triúno encaixa-se com naturalidade, até o presente momento, como uma boa visão acerca da abordagem da TRG diante das questões emocionais disfuncionais e do seu respectivo tratamento.

Nessa modalidade de terapia, entende-se o inconsciente como uma parte fundamental da mente que armazena experiências passadas, crenças limitantes e padrões comportamentais automáticos.

Com base no modelo antropológico da construção do cérebro reptiliano, a TRG postula que essas memórias e padrões podem residir principalmente nas camadas mais antigas do cérebro. Ao acessar e reprocessar essas memórias traumáticas ou bloqueios emocionais, objetiva-se desencadear uma transformação profunda no indivíduo.

A TRG fundamenta-se em três regras do inconsciente que desempenham um papel crucial em seu modelo teórico e prático. Essas regras são a atemporalidade, a busca pela felicidade e a compulsão à repetição. Essas regras são utilizadas como uma estrutura para se compreender e abordar as questões psicológicas dos indivíduos.

A primeira regra, a atemporalidade, refere-se à percepção do inconsciente de que eventos passados continuam a ter impacto no presente. Para o inconsciente, eventos traumáticos ou dolorosos ocorridos há muito tempo são vivenciados como se tivessem acabado de acontecer. Isso significa que as memórias e as emoções associadas a esses eventos são mantidas de forma intensa e podem afetar o funcionamento emocional e comportamental atual. A TRG reconhece essa atemporalidade e busca reprocessar as experiências passadas de forma a aliviar o impacto no presente.

A segunda regra envolve a busca da felicidade por meio do processo de superação natural e amadurecimento, através da compreensão e processamento das situações emocionais vivenciadas. O inconsciente do indivíduo busca “digerir” as experiências emocionalmente dolorosas, proporcionando uma perspectiva mais amadurecida e integrada desses eventos. Nessa regra, o processo de busca pela felicidade refere-se à capacidade do indivíduo de compreender, processar e integrar as experiências emocionais passadas de maneira mais saudável e adaptativa.

Quando as experiências são de natureza traumática e a aplicação da segunda regra do inconsciente não é capaz de promover a completa superação, entra em jogo a terceira e última regra do inconsciente. Essa regra é a compulsão à repetição e descreve a tendência do inconsciente em buscar repetir situações semelhantes, na tentativa de compreender e resolver os eventos passados de forma mais satisfatória. Isso significa que as pessoas podem se encontrar repetindo padrões comportamentais ou entrando em situações semelhantes de forma inconsciente, na esperança de encontrar uma resolução ou entendimento. A TRG trabalha com essa compulsão à repetição ao ajudar os indivíduos a reconhecerem esses padrões e a reprocessarem as experiências passadas de maneira mais adaptativa, promovendo uma maior liberdade de escolha e superando os ciclos repetitivos.

Em suma, essas regras fornecem um arcabouço teórico para compreender como as experiências passadas influenciam o presente e como os padrões comportamentais e emocionais são estabelecidos. Ao utilizá-las como guias, a TRG busca facilitar o reprocessamento e a transformação terapêutica, visando à melhoria da qualidade de vida e ao desenvolvimento pessoal dos indivíduos.

Protocolos da terapia de reprocessamento generativo

Para o tratamento, o terapeuta utiliza uma abordagem terapêutica inovadora que abrange cinco protocolos distintos para promover a transformação pessoal.

A seguir, são apresentados cada um dos protocolos da TRG – cronológico, somático, temático, futuro e de potencialização, que fornecem um roteiro terapêutico abrangente para explorar e reprocessar as experiências de vida do indivíduo, discutindo-se sua aplicação clínica na busca pelo bem-estar e desenvolvimento pessoal.

1 – Protocolo cronológico: por meio desse protocolo, o terapeuta guia o paciente em um processo de reprocessamento que percorre sua vida desde o nascimento até o presente. O objetivo é identificar e reprocessar eventos traumáticos, bloqueios emocionais e crenças limitantes que podem ter surgido ao longo do tempo. Esse reprocessamento permite ao indivíduo uma maior compreensão de suas experiências passadas e o potencial para o bem-estar emocional.

2 – Protocolo somático: tem como foco a conexão entre as experiências emocionais e as manifestações no corpo. O terapeuta ajuda o paciente a identificar e explorar os reflexos físicos associados a memórias traumáticas ou experiências dolorosas reprocessadas no protocolo cronológico. Esse reconhecimento somático facilita a liberação de tensões corporais e a integração mente-corpo, promovendo o bem-estar emocional e físico.

3 – Protocolo temático: concentra-se nos temas centrais e dolorosos da vida do indivíduo. O terapeuta auxilia o paciente na identificação e reprocessamento desses temas, permitindo uma compreensão mais profunda dessas experiências. Ao explorar os temas mais relevantes, a TRG visa a estimular o indivíduo a transformar suas crenças limitantes e a promover uma visão mais saudável e positiva de si mesmo e de sua vida.

4 – Protocolo futuro: nesse protocolo o foco é direcionado para os medos e preocupações em relação ao futuro. O terapeuta ajuda o paciente a identificar e enfrentar esses medos, trabalhando as perspectivas negativas e a promoção de uma visão mais esperançosa e positiva do que está por vir. O reprocessamento das preocupações futuras permite ao indivíduo desenvolver estratégias adaptativas e fortalecer sua resiliência emocional.

5 – Protocolo de potencialização: por meio desse protocolo, o terapeuta incentiva o paciente a visualizar e trabalhar em direção ao melhor futuro possível. É um processo de imaginação guiada, em que o indivíduo é encorajado a visualizar suas metas, aspirações e objetivos alcançados. Essa técnica de visualização positiva permite ao paciente fortalecer sua motivação intrínseca, reforçar suas capacidades e direcionar suas ações em busca de um futuro desejado.

Esses cinco protocolos da terapia de reprocessamento generativo proporcionam uma abordagem terapêutica abrangente e fundamentada para o tratamento de problemas psicológicos.

Os reprocessamentos cronológico, somático, temático, futuro e de potencialização objetivam tratar a causa subjacente dos sintomas, proporcionando uma transformação profunda e duradoura.

Embora mais pesquisas sejam necessárias para validar empiricamente a eficácia da TRG, sua popularidade crescente e os relatos positivos de pacientes indicam seu potencial como uma terapia alternativa promissora na busca pela cura e desenvolvimento pessoal.

Ferramentas auxiliares nas sessões com TRG

Nos protocolos da terapia de reprocessamento generativo são empregadas diversas ferramentas, com o objetivo de mitigar a dor emocional experimentada pelo cliente ao reviver situações traumatizantes. Elas foram desenvolvidas para facilitar o processo terapêutico e promover uma maior resiliência psicológica. A seguir, serão abordadas três dessas principais ferramentas.

1 – Mecanismo de segurança: baseia-se em uma técnica de respiração específica que auxilia na regulação dos níveis de adrenalina no corpo do cliente durante o reprocessamento de eventos traumáticos. Através de uma respiração controlada e profunda, o cliente é capaz de reduzir a intensidade das respostas emocionais e físicas associadas aos traumas, promovendo um estado de maior segurança e bem-estar durante a terapia.

2 – Técnica de microfases: em situações em que o cliente vivenciou múltiplos eventos traumáticos em um determinado período de tempo, emprega-se essa técnica para trabalhar um ano ou um evento de cada vez. Essa abordagem permite um caminho mais gradual e estruturado do reprocessamento, evitando uma sobrecarga emocional excessiva. Ao focar em uma experiência de cada vez, o terapeuta pode ajudar o cliente a processar de forma mais eficaz os traumas individuais, permitindo uma maior compreensão e integração dos eventos passados.

3 – 3P: essa ferramenta refere-se à escolha do ponto de vista adotado pelo cliente durante o reprocessamento dos eventos traumáticos. Ele pode optar por se ver em primeira pessoa (1P – primeira pessoa) ou em terceira pessoa (3P – terceira pessoa) ao reviver essas experiências. O terapeuta desempenha um papel fundamental em orientar e facilitar essa escolha, com o objetivo de reduzir a dor e o desconforto emocional do cliente. Essa flexibilidade no ponto de vista permite ao cliente explorar as experiências traumáticas de maneira segura e controlada, facilitando o processo de reprocessamento e transformação.

A utilização dessas ferramentas nos protocolos terapêuticos da TRG tem como intuito amenizar a dor emocional do cliente ao reviver situações traumatizantes. O uso do mecanismo de segurança, da técnica de microfases e da abordagem 3P proporciona um ambiente terapêutico seguro e estruturado, permitindo ao cliente reprocessar os eventos traumáticos de maneira gradual e eficaz. Essas ferramentas contribuem para a redução do sofrimento emocional, promovendo uma maior resiliência e bem-estar psicológico.

Perspectivas futuras da TRG

A terapia de reprocessamento generativo tem ganhado crescente reconhecimento e despertado interesse no campo da psicoterapia, abrindo perspectivas promissoras tanto no Brasil como no cenário internacional. Com sua abordagem inovadora e foco no reprocessamento de traumas e eventos dolorosos, a TRG tem o potencial de transformar a forma como lidamos com questões psicológicas e emocionais.

No Brasil, observa-se um aumento significativo do interesse e da aplicação dessa técnica por profissionais da área de saúde mental. A disseminação de informações sobre a eficácia e os benefícios da TRG tem despertado a curiosidade de psicoterapeutas, levando a uma maior demanda por capacitação e formação nessa abordagem terapêutica. Acredita-se que ela possa preencher uma lacuna na oferta de tratamentos para problemas psicológicos, proporcionando alternativas eficazes para aqueles que não encontraram sucesso em terapias convencionais.

No cenário internacional, também se observa um aumento gradual do interesse e adoção da TRG em diferentes países. Terapeutas e pesquisadores já iniciaram a exploração sobre os benefícios dessa abordagem terapêutica em diversos contextos culturais e populacionais, buscando ampliar o conhecimento e a aplicação da TRG. A crescente demanda por abordagens terapêuticas mais holísticas e voltadas para o reprocessamento de traumas tem impulsionado o reconhecimento dessa modalidade terapêutica como uma ferramenta valiosa na promoção do bem-estar físico e emocional.

Além disso, a TRG apresenta potenciais aplicações em áreas específicas, como o tratamento de transtornos de ansiedade, estresse pós-traumático, depressão e outros distúrbios emocionais. Sua abordagem abrangente, que incorpora o reprocessamento de memórias traumáticas, o fortalecimento emocional e a criação de uma visão positiva do futuro, torna-a uma terapia promissora para ajudar as pessoas a superarem seus desafios psicológicos.

No entanto, embora a TRG tenha mostrado resultados encorajadores e despertado entusiasmo na comunidade terapêutica, a continuidade de mais pesquisas e a disseminação de evidências empíricas são fundamentais para sustentar e fortalecer sua credibilidade como uma abordagem terapêutica válida e efetiva.

Portanto, as perspectivas futuras da TRG são promissoras tanto no Brasil como no mundo. Com seu enfoque no reprocessamento de traumas e eventos dolorosos, tem o potencial de proporcionar alternativas terapêuticas eficazes e de ajudar um número cada vez maior de pessoas a superarem seus desafios emocionais. A continuidade da pesquisa e a disseminação de conhecimento são essenciais para o avanço e a consolidação dessa abordagem terapêutica, contribuindo para o bem-estar psicológico e a qualidade de vida das pessoas.


Jair Soares dos Santos – Psicólogo e presidente do Instituto Brasileiro de Formação de Terapeutas – IBFT.

Juliana Bezerra Lima-Verde – Pesquisadora-chefe do Departamento de Pesquisa Científica do Instituto Brasileiro de Formação de Terapeutas – IBFT e terapeuta de TRG.

 

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