Meditação: um olhar ocidental

Já foi dito em outros artigos publicados na Revista Medicina Integrativa que a meditação é um conhecimento milenar predominantemente utilizado pelas culturas orientais, muitas vezes com foco religioso.

No Ocidente, entretanto, a cultura fortemente estruturada na lógica e fundamentada na ciência buscou entender a meditação, e apenas a palavra entender já evidencia uma atitude diferenciada sobre a didática necessária a esse aprendizado.

Em 1979, Jon Kabat Zinn, professor emérito da Faculdade de Medicina de Massachusetts, criou o Centro de Estudos de Mindfulness, onde num curso de oito semanas obteve resultados comprovadamente relevantes no tratamento de dores crônicas difíceis de serem controladas clinicamente.

Antes disso, em 1975, na Faculdade de Medicina de Harvard, o Dr. Herbert Benson, diretor do Instituto Mente/Corpo da Universidade de Harvard, já estudava os efeitos da meditação no combate ao estresse e à variedade de doenças provenientes desse estado físico.

O Dr. Benson concluiu que 60% a 90% das doenças podem ser curadas pela mente. Seus estudos estão publicados em diversos livros, dentre eles, no The Relaxation Response.

No Brasil, também temos vários estudiosos e algumas instituições de renome tanto no meio acadêmico quanto hospitalar estudando a meditação com bastante responsabilidade e isenção de crenças e religiões.

Roberto Cardoso – obstetra, professor na UNIFESP e autor do livro Medicina e Meditação.

Roberto Simões – educador físico, doutor em Ciência da Religião e autor do livro Neurofisiologia da Meditação.

Carolina Menezes – doutora em Psicologia pela UFRGS e autora do estudo Os efeitos da meditação à luz da investigação científica.

Valéria Nunes de Oliveira – especialista em docência e prática da meditação e autora da monografia Meditação e Credibilidade: estudos científicos.

As investigações científicas sobre meditação estão alcançando níveis cada vez mais elevados, em hospitais como Albert Einstein e Sírio-Libanês. Sua aplicação também está em expansão no SUS (Sistema Único de Saúde). Eu mesma tive a oportunidade de dar aulas sobre o tema no Hospital do Servidor Público Municipal, em São Paulo/SP, durante um ano, para pacientes, acompanhantes e corpo clínico, além do público em geral.

Meditação laica e autoconhecimento

Entretanto, ainda existe um equívoco muito grande, por vezes até um preconceito, em relação à meditação, porque muitas pessoas não sabem que é possível praticá-la sem que haja nenhum vínculo religioso.

Apesar de toda a divulgação feita sobre o assunto nos últimos anos, com a expansão da técnica de foco e mindfulness, a maioria dos profissionais sem formação científica atrelam muito da religiosidade à meditação, ainda que não se aprofundem. Há uma linguagem anexa aos costumes indianos e uma necessidade de cumprimentar com “namastê”, de usar roupas indianas ou até mesmo de viajar até a Índia para aprimorar a prática meditativa.

A busca de cada um é legítima e deve ser respeitada. E, sim, a meditação pode trazer os mesmos benefícios sendo anexada a alguma religião. Como já foi publicado anteriormente na Revista Medicina Integrativa, são várias as religiões que se utilizam das técnicas meditativas.

Mas é possível perceber que, na cultura ocidental, há uma busca pela prática laica, com comprovação científica e aplicada muito mais às áreas de psicologia e autoconhecimento.

Essa necessidade é muito característica de nossos costumes ocidentais e os estudos citados acima são a comprovação de que a meditação laica veio para ficar e trazer todos os benefícios globais em bem-estar, autoconhecimento e cura de vários sintomas e até de doenças.

Sempre lembrando que a prática meditativa é uma prática integrativa, ou seja, em casos de doenças deve ser associada às terapias necessárias da medicina escolhida pelo paciente, seja alopática ou homeopática.


Valéria Nunes de Oliveira – Pós-graduada em docência e prática da meditação pela USCS – Universidade Municipal de São Caetano do Sul. Autora da monografia Meditação e Credibilidade: estudos científicos.