Por que dormimos? Os efeitos ativos do sono no organismo humano

Por que é tão fundamental dormir? Porque dormir é um estado ativo crítico para o nosso bem-estar físico, mental e emocional.

Durante o sono, além do corpo recuperar-se da fadiga, ocorrem as principais funções de renovação do organismo, como reparação de tecidos, recuperação muscular, restauração do sistema imunológico, produção hormonal, consolidação de memórias e até fortalecimento de emoções positivas. O sono de movimento rápido dos olhos (REM) está associado à consolidação de memórias emocionais.

Também é durante o sono que as toxinas acumuladas no cérebro no decorrer do dia são eliminadas, como as proteínas beta-amiloide e tau, relacionadas com o desenvolvimento da doença de Alzheimer.

Recuperação dos tecidos

O sono é crucial para a renovação tecidual, sobretudo por causa da síntese de proteínas e da regeneração de células, desencadeadas pela liberação de hormônios, como o GH (hormônio do crescimento).

Dessa forma, além da influência na cicatrização de feridas, por exemplo, dormir bem se torna essencial para a recuperação muscular. Por isso, o ganho de massa muscular também pode ser afetado pela falta de um descanso reparador.

Segundo um estudo que buscou avaliar os efeitos da privação de sono na síntese de proteínas do músculo, uma única noite sem dormir é o suficiente para induzir a resistência anabólica. Essa condição causa dificuldade do organismo para responder a estímulos como atividade física e nutrição.

Sistema imunológico

As consequências da má qualidade do sono podem incluir desde sonolência diurna, mudanças de humor e falhas de memória até o risco maior de desenvolver doenças, como diabetes, obesidade, depressão e, em longo prazo, doença de Alzheimer.

Quem nunca se perguntou por que dormimos ou o que acontece durante o sono? Dormir, ao contrário do que a grande maioria das pessoas pensa, é um período extremamente ativo, pois nele ocorrem atividades que são fundamentais para a manutenção da vida. Por isso, só existe vigília produtiva se ocorrer o sono.

Possuímos o ciclo de vigília-sono, que são duas faces da mesma moeda.

Nossa natureza biológica fez-nos seres diurnos. Enxergamos com a luz, somos dependentes da luz solar e somos dotados de um sistema captor de luz, que dita como nosso organismo vai funcionar.

Possuímos o núcleo supraquiasmático, que capta a luz e dá a ordem de ficarmos acordados. É por isso que a utilização de telas (celular, notebook, TV, etc.) interfere com o dormir, sendo que gerenciar esse uso é uma das recomendações para a higiene do sono.

A glândula envolvida na formação do ciclo circadiano é a pineal ou pituitária, produtora de melatonina, que é o hormônio que regula o ciclo circadiano.

De acordo com estudos da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), 72% dos brasileiros sofrem de doenças relacionadas ao sono, entre elas, a insônia.

Existem mais de 90 distúrbios do sono identificados.

A privação de sono pode indicar alterações na saúde física ou mental. A insônia é uma resposta anormal ao estresse. Enquanto sintoma, a insônia pode estar associada a questões psiquiátricas, como transtornos de humor, de ansiedade ou de personalidade.

O indivíduo que tem insônia crônica possui uma chance muito maior de desenvolver hipertensão.

Quando a insônia é grave, de forma que a pessoa não consiga ter o mínimo de horas de sono durante a noite, isso também pode resultar em alterações metabólicas, que podem até predispor ao aumento de peso e a diabetes.

Isso porque os problemas com o sono podem indicar questões na saúde física e/ou mental e, quando não tratados, contribuem para o desequilíbrio no organismo, o que cria um círculo vicioso.

Distúrbio do sono é um termo utilizado para se referir a alguma condição capaz de afetar o sono de um indivíduo.

Convém mencionar que a frequente ausência de sono pode desencadear, em médio e longo prazo, problemas sérios de saúde, como os cardiovasculares e a depressão.

Então, isso significa que a pessoa que não consegue dormir tem um sono insuficiente e, mesmo quando dorme, não consegue descansar plenamente.

Distúrbios do sono: causas e sintomas

Não existe uma única causa para justificar a existência dos distúrbios de sono. No entanto, há alguns fatores comuns a muitas pessoas que podem ser utilizados para explicá-los: estresse, ansiedade, depressão, efeitos colaterais de medicamentos, excesso de peso, desordens neurológicas, etc.

Já com relação aos sintomas, destacam-se os seguintes como principais: dificuldade para dormir, irritação frequente, cansaço e sonolência durante o dia, dor de cabeça, falta de concentração, ansiedade, roncos durante a noite, mau humor, dores no corpo, alterações de memória e mudanças no comportamento.

Transtornos do sono mais comuns

Insônia – é, sem dúvidas, o distúrbio mais comum. A insônia pode se apresentar diante da dificuldade de dormir e/ou de manter o sono durante a noite ou, ainda, ser marcada pelo fato do indivíduo acordar antes do horário desejado.

Em muitos casos, ela é desencadeada por níveis altos de ansiedade e estresse, mas também pode ser ocasionada pela ingestão de bebidas estimulantes em horário próximo de dormir, alimentação pesada, problemas pessoais e/ou profissionais, falta de uma rotina de sono e problemas na tireoide, entre outros.

A insônia pode ser passageira, isto é, estar associada a alguma fase da vida mais tumultuada, ou ser crônica, sendo que nesse último caso exige tratamento médico, pois pode provocar sofrimento contínuo no paciente.

Apneia – a apneia obstrutiva do sono, ou simplesmente apneia, é um distúrbio caracterizado pela interrupção da respiração durante o sono por, no mínimo, 10 segundos.

Assim, essa condição pode ocorrer várias vezes durante a noite e fragmenta o sono. Por isso, é comum o paciente sentir-se cansado no outro dia e apresentar queda de rendimento.

A apneia pode surgir devido a causas genéticas, obesidade, aumento das amígdalas ou alguma outra condição que estreite as vias respiratórias.

Convém mencionar que ela pode desencadear problemas sérios na saúde do indivíduo, como ocorrência de infarto, acidente vascular cerebral, hipertensão arterial e síndrome metabólica.

Sonambulismo – consiste no desenvolvimento de atividades, como andar e falar, durante o sono. No entanto, a pessoa não se lembra do ocorrido no dia seguinte.

O sonambulismo é mais comum em crianças, mas também pode acometer adultos.

No caso das crianças, não há muito a se fazer. O mais importante é tomar providências para evitar que elas se acidentem durante a noite. À medida que elas crescem, é esperado que o problema se resolva naturalmente.

Por outro lado, quando o sonambulismo acomete adulto, então é necessário buscar as causas, que costumam estar associadas a questões emocionais. Logo, é preciso tratá-las.

Síndrome das pernas inquietas – consiste na agitação involuntária dos membros inferiores ao deitar-se para dormir. É, portanto, uma desordem neurológica.

No entanto, ela pode ser agravada em períodos de estresse e ansiedade ou com o uso de bebidas estimulantes, como as que contêm cafeína.

Assim, o paciente pode sentir dores, formigamentos e queimação nas pernas e, como não consegue dormir bem, costuma ficar irritado, estressado e sonolento durante o dia.

Bruxismo  – relativamente comum, esse distúrbio é caracterizado como o ranger e apertar de dentes de forma inconsciente que a pessoa faz enquanto dorme, o que pode levar a alterações dentárias, dores na mandíbula e cefaleia.

Aqui, o tratamento é realizado por um dentista, que indica o uso de uma placa para evitar o desgaste dos dentes.

Além disso, como essa condição pode indicar alguma questão de fundo emocional, como ansiedade e/ou estresse, também é comum o acompanhamento com um psicólogo.

Narcolepsia – é caracterizada pela sonolência excessiva durante o dia, podendo a pessoa dormir em qualquer lugar, a qualquer hora.

Assim, esses ataques de sono podem surgir poucas ou várias vezes durante o dia e costumam durar alguns minutos.

Paralisia do sono – é caracterizada pela incapacidade de se movimentar e/ou falar após o despertar. Assim, a pessoa só consegue recuperar a força e o controle dos músculos gradativamente.

Essa é uma condição bastante angustiante, uma vez que a pessoa tenta, mas não consegue enviar os comandos para o seu corpo.

É mais comum entre jovens de 20 a 30 anos e pode estar associada a doenças psiquiátricas, estresse e ansiedade.

Como tratar os distúrbios do sono?

O diagnóstico de distúrbio do sono é feito por um médico neurologista. O profissional investigará a possível condição por meio de uma análise clínica e, em boa parte dos casos, pelo exame de polissonografia, que avalia variações fisiológicas enquanto o paciente dorme, podendo ser realizado em clinicas e até no próprio domicílio da pessoa.

O tratamento varia conforme o tipo de distúrbio e suas causas. Por exemplo: se o paciente estiver com insônia e essa for causada pela ansiedade ou depressão, então será necessário um acompanhamento psicológico e psiquiátrico.

Por outro lado, se o problema for a apneia, então será indicado o tratamento com um médico especialista e um fisioterapeuta para corrigir o problema respiratório.

No entanto, existem alguns hábitos simples e complementares ao tratamento, que podem ser adotados para melhorar a qualidade do sono, tais como evitar o uso de cafeína à noite, realizar a higiene do sono, gerenciar melhor o estresse e a ansiedade, ter um horário certo para deitar-se e acordar, não se alimentar muito em horário próximo de dormir, evitar o uso de telas por pelo menos uma hora antes de dormir, não realizar atividades intensas em horário próximo de se deitar, chegar em casa pelo menos três horas antes do horário de dormir e controlar os pensamentos assim que se deitar na cama.

A privação ou presença de um sono não reparador pode ser condicionante, desencadeante ou coadjuvante em situações de baixo rendimento e até de acidentes.

Os que envolvem motoristas são bem conhecidos e ceifam vidas. Quantos acidentes com vítimas ou até fatais não podem estar ocorrendo agora em função desses distúrbios. E existem várias profissões que podem ser consideradas críticas em relação a isso, como petroleiros e pilotos de aeronaves.

Cuidados integrativos

Nunca se estudou tanto o sono e seus distúrbios. Todos os anos, os transtornos do sono somam milhões de gastos para as contas das seguradoras de saúde e para os cofres públicos.

Dormir bem é fundamental para viver bem, trabalhar bem e estudar bem e para a redução das comorbidades e diminuição dos riscos de incidentes/acidentes que os distúrbios do sono podem ocasionar.

Estudiosos garantem que uma boa noite de sono faz com que recuperemos o organismo em 95%.

Porém, a medicina integrativa também pode proporcionar uma ajuda valiosa nesses casos, através de técnicas para diminuição da ansiedade e relaxamento. Com a aromaterapia, fitoterapia e até com medicações naturais, nos casos em que a menopausa atrapalha o sono.

Os recursos naturais são numerosos e podem complementar a medicina convencional.


Dra. Elisabete Rodrigues Frazão – Fisioterapeuta, com pós-graduação em Fisioterapia do Trabalho e Ergonomia e em Fisioterapia Forense. Consultora em Ergonomia e especialista em Microfisioterapia, RPG (Reeducação Postural Global), LPF (Low Pressure Fitness) e Massoterapia. Possui MBA em Gestão de Negócios Sustentáveis (com ênfase em Meio Ambiente, Saúde e Segurança do Trabalho e Responsabilidade Social). Criadora e fundadora da Befra Consultoria – soluções para o trabalho.

 

Nota: a imagem de abertura deste artigo é uma versão digitalizada da obra La Méridienne (A Sesta), de Vincent Van Gogh, elaborada no período de 1889 a 1890 e pertencente ao acervo do Museu de Orsay, na França.