Qi gong e seus benefícios para pacientes com doenças cardiovasculares

O qi gong (ou chi kung) é uma prática milenar da medicina tradicional chinesa que combina movimentos suaves, técnicas de respiração e meditação para promover o equilíbrio energético do corpo.

Estudos recentes indicam que essa prática pode trazer benefícios significativos para pacientes com doenças cardiovasculares (Dorian et al., 2000).

O qi gong ajuda a reduzir o estresse e a ansiedade, fatores que contribuem para o desenvolvimento de doenças cardíacas.

A prática regular melhora a circulação sanguínea, estabiliza a pressão arterial (PA) e fortalece o sistema cardiovascular.

Além disso, os movimentos fluidos e controlados estimulam a oxigenação dos tecidos, promovendo um funcionamento mais eficiente do coração (Guyatt et al., 2008).

Pesquisas apontam que o qi gong pode ajudar a reduzir a pressão arterial em pacientes com hipertensão arterial (HA), promovendo efeitos semelhantes aos de exercícios convencionais.

Essa atividade melhora também a circulação sanguínea e a oxigenação dos tecidos, contribuindo para um funcionamento mais eficiente do coração (Dorian et al., 2000).

O qi gong atua diretamente no sistema nervoso autônomo, que controla funções involuntárias e algumas voluntárias do corpo, como a pressão arterial.

A prática estimula o sistema nervoso parassimpático, responsável pelo relaxamento, reduzindo os níveis de cortisol e adrenalina, hormônios do estresse que podem elevar a pressão arterial (Guyatt et al., 2008).

Os movimentos fluidos do qi gong promovem uma melhor circulação sanguínea, ajudando a dilatar os vasos e facilitando o fluxo de sangue. Isso reduz a resistência vascular periférica, que é um dos fatores que contribuem para a hipertensão arterial (Guyatt et al., 2008).

O estresse crônico é um dos principais fatores que elevam a pressão arterial. O qi gong incorpora técnicas de respiração profunda e meditação, que ajudam a reduzir a ansiedade e promovem um estado de relaxamento aprofundado.

Estudos mostram que essa prática pode diminuir significativamente os níveis de pressão arterial sistólica e diastólica (Dorian et al., 2000).

Uma metanálise publicada na BMC Complementary Medicine and Therapies revelou que o qi gong pode ter efeitos semelhantes aos de exercícios aeróbicos na redução da pressão arterial. Isso ocorre porque essa atividade melhora a variabilidade da frequência cardíaca, que é um indicador de saúde cardiovascular (DerSimonian, Laird, 1986).

O qi gong também tem efeitos positivos na redução do estresse e da ansiedade, fatores que influenciam diretamente na saúde cardiovascular.

Estudos indicam que a prática regular pode diminuir os níveis de cortisol, hormônio do estresse, e melhorar a qualidade do sono, proporcionando um impacto positivo na saúde do coração (DerSimonian, Laird, 1986).

O qi gong estimula o sistema nervoso parassimpático, que é responsável pelo relaxamento e pela recuperação do corpo. Isso ajuda a reduzir os níveis de cortisol, promovendo um estado de calma e equilíbrio emocional. Com menos estresse, o corpo consegue produzir mais células de defesa, como os linfócitos T, essenciais para combater infecções (Dorian et al., 2000).

A prática do qi gong envolve movimentos lentos e conscientes, que aumentam a percepção corporal e promovem um estado de atenção plena. Essa conexão entre mente e corpo ajuda a reduzir pensamentos negativos e melhora a capacidade de lidar com emoções difíceis (Niu et al., 2019).

Pesquisas indicam que o qi gong pode ser eficaz na redução da ansiedade e da depressão, melhorando o humor e a qualidade do sono. A prática regular ajuda a liberar tensões acumuladas e promove uma sensação de bem-estar duradoura (Niu et al., 2019).

O qi gong também pode ajudar a regular os ciclos de sono, reduzindo a insônia e promovendo um descanso mais profundo. A respiração controlada e os movimentos suaves contribuem para um relaxamento físico e mental, preparando o corpo para um sono reparador (Niu et al., 2019).

Uma revisão sistemática publicada no American Journal of Chinese Medicine analisou diversos estudos sobre o uso do qi gong na reabilitação cardíaca. Os resultados mostraram que pacientes com doenças cardíacas crônicas, como insuficiência cardíaca e doença arterial coronariana, apresentaram melhora na função cardíaca, na capacidade de exercício e na qualidade de vida após a prática do qi gong (Niu et al., 2019).

Pacientes em reabilitação cardíaca frequentemente enfrentam fadiga e baixa resistência física. A prática do qi gong, por ser uma atividade de baixo impacto, permite que os pacientes realizem exercícios sem sobrecarregar o coração, melhorando gradualmente sua capacidade aeróbica.

Estudos indicam que essa prática melhora a função cardíaca, reduzindo os riscos de eventos cardiovasculares, como infarto e AVCs (Risom et al., 2017).

Melhora na qualidade do sono

Muitas pessoas sofrem de insônia devido a pensamentos acelerados e preocupações constantes. O qi gong incorpora técnicas de atenção plena, que ajudam a acalmar a mente e a reduzir a hiperatividade mental, tornando mais fácil adormecer (Niu et al., 2019).

A prática do qi gong enfatiza a respiração profunda e controlada, o que melhora a oxigenação do cérebro e dos tecidos. Isso contribui para um estado de relaxamento profundo, essencial para um sono reparador (Risom et al., 2017).

Segundo a medicina tradicioinal chinesa, distúrbios do sono podem estar relacionados a desequilíbrios energéticos no corpo. O qi gong ajuda a harmonizar o fluxo de energia vital (Qi), promovendo um estado de equilíbrio que favorece um descanso mais profundo.

Quando essa energia está em harmonia, o organismo torna-se mais resistente a doenças e infecções. A prática regular pode ajudar a restaurar o equilíbrio energético e a fortalecer a imunidade (Risom et al., 2017).

Estudos indicam que o qi gong pode melhorar significativamente a qualidade do sono, reduzindo o tempo necessário para adormecer e aumentando a duração do sono profundo.

Além disso, pesquisas mostram que a prática regular pode ser eficaz no tratamento da insônia crônica (Risom et al., 2017).

Efeitos sobre o sistema imunológico

Os movimentos fluidos do qi gong promovem uma melhor circulação sanguínea, garantindo que os nutrientes e o oxigênio cheguem de forma eficiente às células do sistema imunológico. Isso fortalece a resposta do corpo contra agentes patogênicos e melhora a capacidade de regeneração celular (Risom et al., 2017).

Pesquisas indicam que o qi gong pode reduzir processos inflamatórios no corpo, que estão associados a diversas doenças crônicas. A prática ajuda a regular a produção de citocinas, proteínas que controlam a resposta imunológica e podem influenciar na inflamação (Niu et al., 2019).

Estudos mostram que o qi gong pode aumentar a atividade das células natural killers (NK), que são responsáveis por eliminar células infectadas e cancerígenas.

Além disso, pesquisas indicam que a prática melhora a resposta imunológica em pacientes com doenças autoimunes e condições inflamatórias.

Como é realizada a prática do qi gong?

O praticante começa em uma posição confortável, geralmente em pé, com os pés alinhados à largura dos ombros e os joelhos levemente flexionados. A coluna deve estar ereta e os braços relaxados ao lado do corpo.

A respiração é profunda e lenta, geralmente pelo nariz, permitindo que o diafragma expanda-se e contraia-se naturalmente. Isso ajuda a oxigenar o corpo e a acalmar a mente.

Os exercícios envolvem gestos fluidos e coordenados, que podem incluir alongamentos, rotações e movimentos circulares dos braços e pernas. Cada movimento é realizado com atenção plena e sincronizado com a respiração.

Durante a atividade, o praticante pode visualizar a energia fluindo pelo corpo, promovendo equilíbrio e bem-estar. A concentração é essencial para maximizar os benefícios da prática.

Ao final da sessão, é comum realizar movimentos de encerramento, como trazer as mãos ao centro do corpo e respirar profundamente para consolidar os efeitos da atividade.


Mari Uyeda – Professora Assistente da Saint Francis University, Pensilvânia/EUA e estudante de Medicina – UNE.

 

Referências bibliográficas

Risom, S. S., Zwisler, A. D., Johansen, P. P., Sibilitz, K. L., Lindschou, J., Gluud, C., Taylor, R. S., Svendsen, J. H., & Berg, S. K. (2017). Exercise-based cardiac rehabilitation for adults with atrial fibrillation. The Cochrane database of systematic reviews, 2(2), CD011197. Disponível em https://doi.org/10.1002/14651858.CD011197.pub2.

Niu, J. F., Zhao, X. F., Hu, H. T., Wang, J. J., Liu, Y. L., & Lu, D. H. (2019). Should acupuncture, biofeedback, massage, Qi gong, relaxation therapy, device-guided breathing, yoga and tai chi be used to reduce blood pressure?: Recommendations based on high-quality systematic reviews. Complementary therapies in medicine, 42, 322–331. Disponível em https://doi.org/10.1016/j.ctim.2018.10.017.

DerSimonian, R., & Laird, N. (1986). Meta-analysis in clinical trials. Controlled clinical trials, 7(3), 177–188. Disponível em https://doi.org/10.1016/0197-2456(86)90046-2.

Dorian, P., Jung, W., Newman, D., Paquette, M., Wood, K., Ayers, G. M., Camm, J., Akhtar, M., & Luderitz, B. (2000). The impairment of health-related quality of life in patients with intermittent atrial fibrillation: implications for the assessment of investigational therapy. Journal of the American College of Cardiology, 36(4), 1303–1309. Disponível em https://doi.org/10.1016/s0735-1097(00)00886-x.

Guyatt, G. H., Oxman, A. D., Vist, G. E., Kunz, R., Falck-Ytter, Y., Alonso-Coello, P., Schünemann, H. J., & GRADE Working Group (2008). GRADE: an emerging consensus on rating quality of evidence and strength of recommendations. BMJ (Clinical research ed.), 336(7650), 924–926. Disponível em https://doi.org/10.1136/bmj.39489.470347.AD.