Dependência emocional: um contributo para a superação da situação patológica

A dependência emocional é um tema há muito abordado em livros e filmes e que costuma ganhar atenção popular, pois é facilmente verificada no cotidiano em maior ou menor grau, já que é uma questão que afeta o convívio entre as pessoas, perturbando o equilíbrio das relações. E, por isso, cada vez mais vem ganhando espaço no campo científico.

Quando um indivíduo apega-se excessivamente a outra pessoa (parente, amigo ou cônjuge, entre outros), de forma a investir nela a maior parte de seu tempo, pensamento e emoções, dentro de uma dinâmica envolta em possessividade e ciúmes e almejando continuamente ser o centro das atenções dessa pessoa, esse indivíduo é um dependente emocional, pois necessita do outro para manter seu equilíbrio psicológico.

Trata-se de uma situação que prejudica não só o dependente, mas também aquele que é o alvo das investidas, pois este pode acabar sentindo-se sufocado.

Em geral, as demandas do indivíduo que é dependente emocional aumentam com o tempo, porque os mecanismos neurológicos envolvidos nessas relações se dão pelas mesmas vias neurais envolvidas quando se usam substâncias psicoativas, ou seja, ativando sistemas cerebrais de recompensa e criando sintomas de dependência semelhantes.

Neurobiologicamente, seria por exemplo uma fixação na superativação neuronal – algo frequente no início de relacionamentos – quando o sujeito dependente precisa dessa atividade aumentada sempre para sentir-se bem no relacionamento atual.

Portanto, verifica-se que a etiologia e a sintomatologia da dependência emocional são similares às de outros tipos de dependência, caracterizando-se como um transtorno psicológico que merece ser objeto de tratamento e intervenção (Bution e Wechsler – 2016).

Transtorno multifatorial

Desde o nascimento, o ser humano depende de outra pessoa para sobreviver. Ele pertence a um grupo familiar, em que será cuidado por exemplo pelos pais durante a primeira infância.

Seus vínculos posteriores vão depender do conteúdo e qualidade das relações nessa fase, ou seja, através dessa vivência inicial em grupo os seres humanos vão construindo seu eu ao mesmo tempo em que verificam diferenças e semelhanças entre as pessoas com quem convivem.

Desse processo resulta a formação da consciência de si mesmo e da sua individualidade e identidade social.

Quando adulto, uma das causas para a dependência emocional é um vínculo mal formado com a principal figura de apego na fase de infante (Santos – 2020). A depender das situações vivenciadas durante a formação desse vínculo, podem ser gerados na criança traumas que vão repercutir por toda a sua vida adulta.

Diante disso, podem ocorrer prejuízos para os próximos relacionamentos. O indivíduo pode passar, por exemplo, a buscar em outras figuras uma atenção ou afeto que lhe faltou quando criança.

Situações como a perda ou distanciamento da principal figura que lhe dispensava os cuidados na infância – ou que deveria dispensar – podem lhe trazer no futuro o medo de perder ou a ansiedade da separação, fazendo com que se fixe futuramente em um relacionamento de dependência (Santos – 2020).

Também pode acontecer que a criança que presenciou ações de dependência por parte de pai ou mãe reproduza o mesmo quando adulta (Nonato, Santo e Silva – 2022).

Assim, estilos de apego vivenciados ou aprendidos durante a infância podem ser repetidos na idade adulta, com visão negativa de si mesmo e positiva do outro.

Pessoas com esse padrão de apego mostram maiores índices de culpa nos casos de rejeição social, maior dificuldade para lidar com frustrações e também cuidado e envolvimento excessivos com o outro.

Além disso, a dependência emocional pode estar ligada a transtornos alimentares e de ansiedade, somatizações e depressão, porque o sujeito pode apresentar outros distúrbios quando não obtém a atenção de um parceiro, trazendo maiores repercussões para os casos (Bution e Wechsler – 2016).

Até agora, não há consenso nas pesquisas quanto à prevalência de dependência emocional entre os gêneros. Mas, supostamente pelo fator cultural relacionado às tendências patriarcalistas na sociedade, a mulher poderia ser levada a esse transtorno com mais facilidade, pois é conduzida a crer que o namoro e casamento são essenciais para a felicidade e que deve obediência a seu companheiro, o que pode resultar em um relacionamento de dependência.

Dessa forma, esse transtorno deve ser pensado como multifatorial, porque podem estar relacionados fatores culturais, tipos de vínculos vividos na infância e mecanismos neurais e psicológicos, que levam o indivíduo a estabelecer relações patológicas (Bution e Wechsler – 2016).

Comportamentos autodestrutivos e comorbidades

Na dependência emocional, pode haver quatro tipos de elementos: (1) o motivacional, em que o dependente busca suporte, orientação e aprovação, (2) o afetivo, que está relacionado à ansiedade diante de situações em que o sujeito precisa agir de forma independente, (3) o comportamental, que é referente à tendência de sempre buscar a ajuda do outro e ser submisso em interações interpessoais e (4) o cognitivo, em que a percepção do dependente é de ser ineficaz e impotente (Bution e Wechsler – 2016).

A situação traz para o dependente prejuízos como não conseguir tomar decisões cotidianas ou iniciar projetos sem aconselhamento de outros, necessidade de que outra pessoa se responsabilize por partes de suas áreas de vida, dificuldade para demonstrar seu desacordo com situações por medo da desaprovação (falta de autoconfiança), ir a extremos para ter carinho e apoio de outros, sentir-se desamparado quando sozinho por medo de ser incapaz de se cuidar, buscar rapidamente um novo relacionamento após o término de um relacionamento íntimo anterior por medo de ficar sozinho, preocupação irreal com medo de ser abandonado e resolução de problemas do outro para ser valorizado, mesmo que isso implique em autonegligenciar-se (Santos – 2020).

O dependente emocional acaba, portanto, sendo visto como alguém que provoca um relacionamento tóxico, pois quer uma atenção disfuncional que preencha um vazio, sendo capaz de mudar seus projetos de vida para viver os do outro. Muitas vezes, não sabe lidar com a perda e tenta trazer de volta a pessoa perdida a todo custo, expondo sua vulnerabilidade, impulsividade e baixa tolerância à frustração (Nonato, Santo e Silva – 2022).

Muitas pessoas podem não ver esse tipo de comportamento como algo sério, mas tudo isso impossibilita a independência do sujeito e torna-se particularmente preocupante quando o dependente encontra-se em sofrimento psíquico, indo a extremos para ter sua ansiedade estabilizada ou quando a outra pessoa utiliza-se disso para controlar o sujeito dependente (Santos – 2020).

Relações de dependência emocional podem levar, por exemplo, a situações em que ocorrem abusos (como em casos de violência doméstica, cujos danos físicos, sociais e mentais na vítima podem chegar a extremos) e violação de direitos humanos (Nonato, Santo e Silva – 2022).

Também aumentam as chances de indivíduos dependentes cometerem suicídio ou parasuicídio (comportamento em que há risco de morte ou tentativa de suicídio mal sucedida), para impedir o abandono por parte de um parceiro. Portanto, fazem parte do quadro de dependência comportamentos autodestrutivos e comorbidades (Bution e Wechsler – 2016).

Decodificação biológica de traumas

Práticas para sanar situações de dependência emocional incluem tratamentos que envolvam levar o dependente a perceber o quadro patológico em que se encontra, entender os mecanismos de como se dá a dependência emocional e conscientizar-se sobre as consequências disso. Englobam também o conhecimento sobre os motivos que levam cada sujeito a esse quadro patológico, assim como o estímulo à autonomia e ao protagonismo sobre a própria vida e ações (Nonato, Santo e Silva – 2022).

Sendo assim, esse é mais um tipo de transtorno que pode ser minorado ou solucionado por meio da associação de tratamento psicológico com a técnica de decodificação biológica de traumas (DBT), porque se trata de um distúrbio em que traumas ou disfunções psicológicas e processos neurais podem ser verificados ou esclarecidos, ao mesmo tempo em que são tratados mediante a micropuntura por micropressão no pé (reflexologia podal). Para saber mais sobre a DBT, veja outros artigos da autora, publicados em edições anteriores.

Importa salientar que, durante o tratamento com a decodificação biológica de traumas, o terapeuta tem acesso ao sistema nervoso central e demais estruturas ou órgãos do corpo humano através do microssistema do pé, de forma não invasiva.

Mediante anamnese, inspeção e micropuntura por micropressão no pé, é possível clarificar os processos que levam o indivíduo à dependência emocional e transmitir estímulos às regiões orgânicas responsáveis por disfunções, a fim de que o organismo execute ações e dê respostas adequadas, modificando padrões.

Dessa forma, promove-se o equilíbrio da mente e corpo de forma integral (homeostase), compondo o arcabouço necessário para a superação da situação patológica com o protagonismo e autonomia do indivíduo.

Associar os preceitos e tratamentos da decodificação biológica de traumas com o tratamento psicológico é cuidar da pessoa a partir da origem de suas dificuldades, ao mesmo tempo em que se atua para a resolução das consequências do distúrbio. Assim, além de agir sobre as questões psicológicas, atinge-se e estimula-se o sistema nervoso central a trabalhar pelo equilíbrio do indivíduo.

Trata-se de dinamizar o processo de cura mediante a aplicação de uma terapêutica que pode inclusive auxiliar na diminuição ou exclusão do uso de medicamentos nos momentos de ansiedade ou nos casos de transtornos alimentares e depressão associados.

A decodificação biológica de traumas é uma aliada para tratamentos de patologias físicas e psicológicas diversas, revelando-se um contributo importante para a superação da dependência emocional e de todas as suas consequências.


Profa. Dra. Janine Soares Camilo – Master em Microsemiótica Irídea, bacharel em Cosmetologia e Estética pela Unitri – Universidade Integrada do Triângulo e pós-graduada em Acupuntura pelo IPGU – Instituto de Pós-Graduação de Uberlândia e em Homeopatia pela Faculdade Inspirar.

 

Referências bibliográficas

BUTION, Denise Catricala; WECHSLER, Amanda Muglia. Dependência emocional: uma revisão sistemática da literatura. Estudos Interdisciplinares em Psicologia, v. 7, n. 1, p. 77-101, 2016. Disponível em http://pepsic.bvsalud.org/pdf/eip/v7n1/a06. pdf. Acesso em 15 de maio de 2023.

CAMILO, Janine Soares. Decodificação Biológica de Traumas. Revista Medicina Integrativa. 2022. Disponível em https://revistamedicinaintegrativa.com/decodificacao-biologica-de-traumas/. Acesso em 30 de maio de 2023.

NONATO, Gabrielle Ribeiro Bottene; SANTO, Rafaela do Espírito; SILVA, Andressa Melina Becker da. Dependência emocional em relacionamentos amorosos: uma proposta de intervenção com mulheres. Semina: Ciências Sociais e Humanas, v. 43, n. 1, p. 55-70, 2022. Disponível em https://ojs.uel.br/revistas/uel/index.php/seminasoc/article/view/45146/32599. Acesso em 30 de maio de 2023.

SANTOS, Maria José Etelvina dos. Racionalidade Médica: a Nova Medicina Germânica na Prevenção e Cura das Doenças. REVISE – Revista Integrativa em Inovações Tecnológicas nas Ciências da Saúde, v. 1, n. 01-01, 2010. Disponível em https://www3.ufrb.edu.br/seer/index.php/revise/article/view/1525/874. Acesso em 30 de maio de 2023.

SANTOS, Thalita Cristina dos. Dependência Emocional nos Relacionamentos. Monografia (Bacharelado em Psicologia). Faculdade de Educação e Meio Ambiente – FAEMA. Ariquemes, 2020. 49 p. Disponível em https://repositorio.faema.edu.br/bitstream/123456789/2748/1/THALITA%20CRISTINA%20DOS%20SANTOS%20.pd. Acesso em 29 de maio de 2023.