Florais de Bach: uma ferramenta integrativa no atendimento a gestantes e puérperas

Números importantes sobre a saúde mental de gestantes e puérperas vêm sendo divulgados em diversos estudos, como mostra, por exemplo, uma pesquisa de Figueiredo e Costa(6), realizada em 2009: “ansiedade e depressão em mulheres, durante a gravidez e pós-parto, têm sido motivo de grande preocupação”. A pesquisa mostrou os impactos sobre a saúde da mulher.

As taxas de prevalência são altas: em um estudo com 1.555 mulheres suecas, realizado em 2006, 29,2% das gestantes apresentavam ansiedade e 16,5% das puérperas apresentavam depressão(15).

Da mesma forma, níveis elevados de cortisol também foram encontrados em mulheres com sofrimento psíquico durante a gestação, em vários estudos citados por Figueiredo e Costa(6). Mais especificamente, houve um aumento dos níveis desse hormônio durante a gravidez e uma diminuição após o parto.

Outros estudos mostram que práticas de medicina integrativa e complementares vêm sendo aplicadas no atendimento a gestantes e puérperas, com resultados positivos no que diz respeito à promoção de saúde e melhora da qualidade de vida: “redução de sintomas e desconfortos” e “sensação de bem-estar”, entre outras(1,7,8,11).

Um estudo de revisão, publicado em 2021, mostra que diversas terapias não farmacológicas “apresentaram desfechos positivos para o trabalho de parto, parto e puerpério, dentre eles, alívio da dor, aumento do pensamento positivo da mulher, redução da ansiedade”. Os autores acreditam que essas terapias permitem “qualificar a assistência à mulher por intermédio de medidas de alívio não invasivas e que estimulam sua participação ativa no processo gestacional”(2).

Uma das ferramentas utilizadas em práticas alternativas e complementares em saúde é, segundo a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC), de 2018, a terapia de florais(3).

Por definição, a terapia de florais utiliza essências de flores naturais que possuem a capacidade de modificar estados vibratórios, promovendo equilíbrio e harmonização da pessoa(3,4): “os florais atuam por meio da energia vital ou vibração que é transmitida das flores para o indivíduo, a fim de reequilibrar o consciente e o inconsciente para dissolver velhos padrões de comportamento, aliviando sentimentos negativos e levando à cura física ativada”(4).

A grande referência no desenvolvimento do uso de essências florais foi o médico inglês Edward Bach que, na década de 1930, “adotou a utilização terapêutica da energia essencial (energia sutil) de algumas flores silvestres que cresciam sem a interferência do ser humano, para o equilíbrio e harmonia da personalidade do indivíduo”(3,13).

“As essências florais são extratos líquidos naturais, inodoros e altamente diluídos de flores que se destinam ao equilíbrio dos problemas emocionais, operando em níveis sutis e harmonizando a pessoa internamente e no meio em que vive. São preparadas a partir de flores silvestres no auge da floração, nas primeiras horas da manhã, quando elas ainda se encontram úmidas pelo orvalho. A essência floral que se origina da planta em floração atua nos arquétipos da alma humana, estimulando transformação positiva na forma de pensamento e propiciando o desenvolvimento interior, equilíbrio emocional que conduz a novos comportamentos. Não é fitoterápico, não é fragrância, não é homeopatia, não é droga. Pode ser adotada em qualquer idade, não interferindo com outros métodos terapêuticos e/ou medicamentos, potencializando-os. Os efeitos podem ser observados de imediato, em indivíduos de maior sensibilidade”(3,13).

A proposta da terapia floral é “restaurar o estado positivo da personalidade do ser humano, cuidando de aspectos mentais, emocionais e comportamentais, por meio da ligação corpo-mente-alma e na busca pelo autoconhecimento para equilibrar essa tríade”(4).

A literatura acadêmico-científica tem mostrado que os florais de Bach são eficazes e apresentam um efeito positivo na perspectiva psicológica do controle das emoções, humor e sentimentos como ansiedade e estresse, promovendo relaxamento e pensamentos positivos. “Entre os outros benefícios, essa terapia eleva os níveis de consciência onde a pessoa amplia sua percepção sobre si mesma, sobre os eventos ao seu redor, sobre como interagir com seu ambiente, podendo aprender com as experiências do cotidiano”(4).

Um ensaio clínico randomizado, publicado em 2012, em que foram utilizadas essências florais em dois grupos de indivíduos identificados com ansiedade, comprovou que houve como resultado uma diminuição estatisticamente significativa no nível de ansiedade do grupo de estudo em comparação ao grupo placebo, corroborando sua eficácia no controle dessa manifestação clínica(10).

Um estudo qualitativo, transversal, descritivo e exploratório, publicado em 2022(14), mostrou depoimentos de mulheres atendidas em uma Unidade Básica de Saúde, em João Pessoa, na Paraíba, que foram tratadas com uso de florais de Bach. Os resultados foram muito comoventes, como se pode ver pelas transcrições abaixo.

“A terapia floral para mim foi a melhor coisa, porque quando me diagnosticaram a primeira vez com depressão e ansiedade me passaram um medicamento muito forte. Acho que eu tomei durante um ano, um ano e meio. E no momento eu nunca pensei em passar por uma depressão, você nunca se imagina cair nisso. E quando eu passei, não sabia e achei que quando eu tomasse e ele me desse alta (o médico) eu ia ficar boa e nunca mais ia sentir nada. Quando ele me deu alta, realmente, passei um bom tempo sem sentir nada, mas qualquer coisinha que tem e que abala seu sistema nervoso, aí você tem uma nova recaída… Uma ansiedade”.

(Com a participação no grupo terapêutico associada ao uso de florais de Bach) “eu fui voltando a ter aquela vontade de fazer as coisas, melhorando a minha autoestima. Fui já voltando a ficar mais, assim, mais criativa. Fui passando o que eu aprendia no grupo de mulheres e ele (esposo) foi começando a ter aquela visão da mulher. Então ele já olhava para mim de outra forma”.

“A partir do momento em que comecei a ficar com esse grupo de mulheres e com os florais, que eu já estava, foi antes do grupo, me energizou, a minha mente ficou mais ativa, a minha visão ampliou. Eu estou assim, dormindo bem e no outro dia já estou disposta para fazer as coisas”.

Importante ressaltar que as mulheres cujos depoimentos foram citados anteriormente, participaram de um grupo terapêutico semanal e receberam orientações para uso de técnicas de relaxamento/meditação e atividades artísticas, com o objetivo de estimular o autoconhecimento e a expressão das emoções.

Como resultado do trabalho de Pinheiro e colaboradores, “todas as usuárias avaliaram de forma positiva a terapia de florais e suas condições de saúde e bem-estar pós-tratamento. Observou-se a convergência dos resultados esperados com os relatos espontâneos de suas experiências”(14).

Existe, inclusive, um estudo que demonstrou efeitos antidepressivos e indutores de sono de alguns florais de Bach, quando aplicados em camundongos em laboratório. Os resultados mostraram que essas substâncias agem no sistema nervoso central desses animais, assim como medicamentos utilizados frequentemente na prática clínica (diazepam), o que comprova seus efeitos bioquímicos(9).

De acordo com a literatura encontrada sobre o tema, existem muitas demandas de gestantes e puérperas por um cuidado com saúde mental, bem-estar e equilíbrio ou manejo das emoções, bem como indícios de que a terapia de florais (uso dos florais de Bach) pode trazer benefícios comprovados para esse tipo de população. Portanto, no presente artigo buscamos, na literatura, como tem sido o uso da terapia de florais em gestantes e puérperas.

Metodologia e resultados

Foi realizada uma revisão bibliográfica nas bases de dados PubMed, Scielo e BVS, em relação ao período de 2000 a 2022, com cruzamento dos seguintes descritores: gestante/pregnant/puérpera/puerpério e florais/floral.

Foram encontrados apenas quatro artigos, sendo que dois deles se referiam ao mesmo estudo. Foram, portanto, considerados como o mesmo trabalho, somente publicados em revistas diferentes.

Tabela 1 – Estudos selecionadosUso de florais de Bach durante a gravidez e pós-parto

Apenas dois dos artigos selecionados estudam os efeitos dos florais de Bach especificamente no trabalho de parto.

1 – No estudo publicado em 2022, de Magaton, de um total de 164 parturientes, o grupo que utilizou essências florais, quando comparado ao grupo placebo, apresentou moderada elevação da pressão arterial sistólica (p=0,046), da frequência (p=0,055) e das intensidade das contrações (p=0,031), assim como redução do tempo ao nascimento (194 minutos), maior número de partos vaginais (p=0,038) e melhor padrão de vitalidade fetal. A conclusão foi de que existe uma “ação positiva da essência floral perante os fatores potencializadores do trabalho de parto, sendo efetiva nas repercussões clínicas e obstétricas maternas, bem como perinatais”(12).

2 – No artigo de Pitilin, também publicado em 2022, os autores afirmam que “a efetividade da terapia floral no equilíbrio emocional em alguns contextos é evidenciada em estudos clínicos”. Mulheres ansiosas e com medo, tensão e perda de controle tendem a sentir mais dor e a ter uma evolução lenta da progressão do parto. Além disso, o estresse e a ansiedade, usualmente presentes durante o trabalho de parto, resultam em sobrecarga dos sistemas respiratório, circulatório e metabólicos, podendo causar impacto no feto ou recém-nascido. No grupo que fez uso de florais, houve redução de 2,7 horas na evolução total do trabalho de parto(4).

Temos apenas um artigo que mostra a utilização de florais de Bach no atendimento a uma mulher puérpera, de 34 anos, com 37 dias de pós-parto, que foi ao ambulatório em busca de auxílio médico, com o diagnóstico de psicose pós-parto. Nesse artigo, os florais são apenas citados como terapia complementar à terapia medicamentosa. Interessante observar as definições de outros transtornos emocionais passíveis de ocorrer durante o puerpério e que podem ser tratados com os benefícios vibracionais. “Depressão pós-parto: muito comum, afeta entre 10% a 15% das mulheres nos dois ou três primeiros meses após o parto; quadro sintomático: sensação de culpa, distúrbios do sono, alterações de humor com grande tendência à tristeza e ansiedade”(5).

Com o intuito de compreender a necessidade de mais pesquisas sobre o assunto, aplicamos os descritores não combinados. Na busca por terapias integrativas para gestantes e puérperas, encontramos mais de 100 artigos na plataforma PubMed, mais de 30 artigos na Scielo e mais de 200 artigos na BVS. Na busca por florais de Bach, seis artigos na PubMed (descritor: bach flower therapy), sete artigos na Scielo (terapia floral) e mais de 100 artigos na BVS (florais de Bach).

Discussão e conclusão

A gestação e o puerpério são fases da vida da mulher, depois que ela engravida, que geram diversas alterações no seu organismo físico, na sua vivência cotidiana, nos seus pensamentos e no conceito filosófico de vida e seus significados e que, portanto, promovem impactos importantes na sua saúde mental, física e emocional(5,11,12,15).

Dentro das possibilidades de atuação dos profissionais que cuidam de gestantes e puérperas, hoje temos disponíveis diversas práticas de cuidados integrativos, dentre elas a terapia de florais.

Estudos realizados com terapia floral mostraram “eficácia na redução da ansiedade e estresse no grupo que sofreu a intervenção, quando comparado com o grupo placebo, desempenhando papel importante na perspectiva psicológica da dor. Uma análise retrospectiva com 384 clientes que sofriam com condições dolorosas revelou que os florais promoveram relaxamento, alívio do estresse, da ansiedade e dos pensamentos negativos quando comparados com o grupo-controle. Assim, a terapia floral, enquanto processo facilitador do autodesenvolvimento do ser humano, gera frequentemente a sensação de relaxamento ou de liberação do excesso de energia disfuncional, com consequente redução do estresse. A paz interior e a capacidade de solucionar seus próprios problemas tornam as pessoas protagonistas de suas histórias ao utilizar as essências florais. A harmonia da personalidade individual será melhor alcançada utilizando os métodos mais familiares na arte da cura. Para eliminar qualquer falha da natureza, nada melhor do que produtos da própria natureza que atuarão provocando a virtude oposta, que eliminará a falha”(4).

O manejo emocional é de extrema importância não apenas para a saúde dessas mulheres, mas especialmente quando se pensa no bebê que vai nascer. Cuidar da saúde mental desse bebê e da qualidade do cuidado que lhe vai ser ofertado pela mãe também é papel importante e, a nosso ver, fundamental, para os profissionais de saúde.

Figueiredo afirma que “a depressão da mãe previu um pior envolvimento emocional antes do parto, enquanto a mãe ansiosa predisse um pior envolvimento emocional com o bebê após o parto. É importante dar mais atenção ao pobre envolvimento emocional da mãe com a prole durante a gravidez, pois isso interfere futuramente no ajuste psicológico, três meses após o parto”.

Na presente pesquisa de revisão bibliográfica, encontramos muitos artigos que falam sobre as práticas integrativas e complementares em gestantes, mais do que em puérperas, e alguns artigos que estudam os efeitos dos florais de Bach, mas pouquíssimos que utilizavam essa ferramenta no atendimento a gestantes e puérperas.

Apesar de haver tantos argumentos mostrando os benefícios dos florais no manejo emocional e no alívio de sintomas negativos que podem acompanhar os processos gestacionais e de pós-parto, não encontramos nenhum artigo que faça estudos controlados e de qualidade associando o uso de florais durante a gestação.

Acreditamos que é muito importante incentivar a produção de mais estudos junto a essa população específica (gestantes e puérperas), por conta de se tratar de uma prática não medicamentosa, segura e de fácil acesso, que atua sobre a melhora do quadro emocional, trazendo equilíbrio e manejo das emoções, praticamente sem efeitos colaterais. Segundo Silva(13), os florais são “remédios vibracionais, que possuem princípios ativos nem químicos, nem biológicos… são recursos eficazes, econômicos e inócuos”.


Dra. Ana Laura Giudici – Fisioterapeuta dermatofuncional pela Unifesp, com especialização em Abordagem Integrativa pelo Hospital Israelita Albert Einstein.

Ariane Bazarin de Campos – Fisioterapeuta e terapeuta ocupacional pela USP – Universidade de São Paulo.

 

Referências bibliográficas

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